Alex Castro: escolher a mediocridade

Escolher a mediocridade

Aos olhos do mundo, entretanto, o que eu e a Andréa mais temos em comum é nossa mediocridade: estamos ambos vivendo abaixo de nosso (pretenso) brilhantismo, desperdiçando nosso (suposto) potencial, jogando nossas ó-tão-incríveis vidas fora.

Uma menina brilhante. Formada por Princeton. Nota máxima em todas as matérias. Como pode se contentar em ganhar a vida chicoteando os outros? É isso que você quer fazer, Andréa? É assim que você se vê daqui a dez anos? Será que foi pra isso que você teve uma educação de nível internacional? Não tem vergonha de desperdiçar as oportunidades que deus lhe deu?

Afinal, a maioria dos nossos colegas de escola já está ocupando os lugares de destaque que a sociedade fatalmente destina aos homens brancos de classe média-alta oriundos as melhores escolas: donos de empresas, diretores de multinacionais e capitães de indústria, cheios de filhos criados por babás uniformizadas, fazendo leasing de carros e financiando apartamentos, investindo em portfólios diversificados de ações e contribuindo para sólidos planos de aposentadoria.




Enquanto isso, recém-falido na malfadada tentativa de viver a vida empreendedora que me tinha sido traçada, eu estava sobrevivendo de dar aulinhas de inglês em um curso de subúrbio, em Jacarepaguá.

O trabalho não pagava quase nada, mas ficava no mesmo quarteirão do meu apartamento, não me estressava, não ocupava a minha cabeça.

Os três anos nos quais trabalhei nesse curso foram os anos em que mais pensei, flanei, escrevi, transei, passeei. Nunca fui tão feliz, tão tranquilo, tão produtivo, tão contemplativo. Foi nessa época que me reinventei no homem que sou hoje.

Estranhamente, nada disso parecia ser suficiente para as pessoas que me amavam.

Amigas e parentes faziam questão de dizer quase todo dia que eu não tinha direito de desperdiçar assim meus talento (sic), logo eu, uma pessoa tão brilhante (sic!), que poderia estar fazendo qualquer coisa (sic sic!!), em qualquer lugar do mundo!! (SIC SIC SIC!!)

Mas não era verdade: claramente eu não podia dar aulas de inglês num cursinho de subúrbio.

Eu podia fazer qualquer coisa… que se enquadrasse na noção preconcebida que tinham de mim.

Eu era livre…. para preencher suas expectativas, não para viver minha vida nos meus próprios termos.

Minha vida aparentemente causava uma grande tensão entre amigas e parentes, um desconforto que sentiam necessidade de verbalizar de forma frequente, espontânea e nunca, nunca requisitada.




Por que se achavam no direito de ter opinião sobre minhas escolhas? Por que verbalizavam essas opiniões de maneira tão invasiva? Por que minhas escolhas as incomodavam tanto?

Diziam que eu estava desperdiçando a caríssima educação que recebi. Que tinha feito uma opção pela mediocridade.

Mas, de que vale tanta educação se, em vez de me dar asas, ela me serve de âncora? Se em vez de ampliar, ela limita minhas escolhas?

Muitos dos elogios mais efusivos que recebemos são tentativas de nos controlar e nos manipular.

Hoje, fujo ativamente de pessoas que me elogiam. Busco sempre ser a pessoa menos interessante de qualquer recinto: quando sou a pessoa mais interessante da sala, eu troco de sala.

Escolhi não ser mais refém de aspirações e expectativas alheias em relação à minha pretensa ó-genialidade.

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