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Artigo dominical de Marcos Coimbra


É Preciso Salvar a Oposição
2012 ainda não terminou, mas já se pode dizer que não foi um bom ano para a oposição. Certamente, não para a oposição institucionalizada, que disputa o jogo político e se expõe às suas incertezas.
Isso é mal para ela, especialmente por estar sendo outro ano desfavorável, depois de vários negativos.
Acresça-se a isso que suas perspectivas de curto e médio prazos também não são alvissareiras.
Passado complicado, presente difícil, futuro incerto.
Tudo isso poderia ser preocupante apenas para ela. Mas o problema, para o País, é que suas agruras deixam inquieta e açodada a outra parte da oposição.  
Em todos os países democráticos, existe uma oposição fora dos partidos e estranha ao mundo oficial da política. Ela é constituída por entidades de diferentes tipos: grupos de pressão, movimentos sociais e de opinião, associações de interesse, às vezes por sindicatos patronais ou de trabalhadores.  
Também pelas parcela mobilizada do eleitorado identificado com os partidos oposicionistas, nas elites, classes médias e no povo.     
O “lulopetismo” é o inimigo declarado das oposições extra-partidárias e informais de hoje em dia. Elas assim batizaram o fenômeno político mais importante deste começo de século XXI no Brasil, o crescimento e consolidação de um partido de origem popular, que chegou ao poder, organizou uma ampla coalizão, mostrou-se competente para governar e, por isso, tem chance de lá permanecer por muito tempo.
Enquanto esteve na oposição, o PT tinha suas “bases”, que iam para as ruas e se manifestavam. O governismo da época morria de medo de seus “tentáculos”: a CUT, o MST e assim por diante.
Mas nada de parecido ao que conhecemos hoje existia: quando a oposição era de esquerda, não havia uma “grande imprensa” para auxiliá-la. O PT e seus aliados dispunham, no máximo, de simpatizantes nas redações de alguns veículos da indústria da comunicação ou de pequenas tribunas na imprensa alternativa. 
O oposicionismo petista tampouco possuía uma articulação empresarial e institucional significativa. Contavam-se nos dedos os empresários maiores, os integrantes do Judiciário, os poderosos que simpatizavam com a esquerda – e os que o faziam eram ridicularizados por seus pares, como se ser petista, para gente de “alto nível”, fosse risível.
A atual oposição extra-partidária detesta o “lulopetismo”.
Os anti-lulopetistas radicais - na opinião pública, nas instituições, nos grupos de pressão e na imprensa - não poupam a tibieza que enxergam nos partidos de oposição. E não confiam em sua capacidade de derrotar o adversário.
Por mais que tenham procurado motivos para se alegrar com a eleição municipal, não há como apagar o que aconteceu em São Paulo. Ou negar que foi a terceira eleição seguida em que a oposição perdeu tamanho.
Por mais fichas que tenham colocado na aposta de que o julgamento do mensalão teria impacto destrutivo, por mais que achassem que o “lulopetismo” sairia dele golpeado de morte, o fato é que os prognósticos para a eleição de 2014 continuam largamente favoráveis ao PT.
Aonde a impaciência e a frustração levarão essas pessoas? 
Se fôssemos os Estados Unidos ou outros países democráticos estáveis, a resposta seria fácil. Mas não somos.
O Brasil precisa de uma oposição partidária e institucionalizada sólida. Sem ela, nunca estaremos livres dos que se acham capazes de “resolver a bagunça”, “acabar com a corrupção” e “limpar a política”. No bem bom, dispensando-se de conquistar um só voto.

Serra: sou candidato para derrotar o "Lulopetismo"!

[...] Qual é o problema disso?...
Leia o artigo de Marcos Coimbra - sociólogo e presidente do instituto de pesquisas Vox Populi -, abaixo com atenção e saiba qual é. 
Boa leitura. Boa reflexão


Nacionalizando São Paulo

Chega a ser comovente a satisfação com que alguns setores da sociedade paulista receberam a decisão de Serra de disputar as eleições este ano. Desde o dia em que fez o anúncio, estão em êxtase.
Foi nítido o aplauso de alguns veículos da grande imprensa da cidade. Editoriais e colunistas celebraram o gesto “de estadista” do ex-governador, com o entusiasmo de quem noticia um fato de importância capital para o Brasil.
Na internet, seja nos blogs da direita, seja nas manifestações “espontâneas”, viu-se um clima que misturava júbilo e animosidade. Vinha daqueles que se sentiam órfãos de uma candidatura que “enfrentasse” o “lulopetismo”. Ficaram felizes quando seu campeão se dispôs a entrar no páreo.
Serra - não fosse ele quem é - parece estar se sentindo bem no papel que lhe está sendo oferecido. Tudo que mais quer é (re)assumir o posto de “líder nacional que luta contra Lula e o PT”.
É como se o passado recente, o presente e o futuro se entrelaçassem em uma só história. Nela, 2012 é apenas uma etapa - em si desimportante - no meio do caminho entre 2010 e 2014.
No discurso em que comunicou a decisão de concorrer, foi explícito: seria candidato para, eleito, impedir, com o “peso e a importância que tem São Paulo”, o “avanço da hegemonia de uma força política no país”, assim solucionando os “dissabores que o processo democrático tem enfrentado” (seja lá o que for que chama “dissabor”).
A proclamação de que entrou na disputa para “conter o avanço do PT” foi logo recompensada. No dia seguinte, o maior jornal conservador da cidade saudou a “federalização” da eleição, dizendo que o gesto de Serra “reanima (sic) a possibilidade (...) de existência de uma alternativa ao lulopetismo no comando dos destinos nacionais”.
Para o ex-governador, rasgou seda: “José Serra cria um fato político que transcende os limites do Município”.
Enquanto prosperava essa troca de amabilidades sob a luz dos holofotes, nos desvãos da internet o tom era mais pesado, ainda que com conteúdo semelhante.
Depois de meses amuados, também os ciber-brucutus do serrismo se sentiram “reanimados” pela perspectiva de derrotar os adversários. Os radicais se alvoroçaram.
Parece perfeito: um político que se oferece para fazer aquilo que um segmento da sociedade almeja e diz o que essas pessoas querem ouvir. Serra deseja ser candidato para derrotar o “lulopetismo” e há quem torça para que a eleição de São Paulo seja isso. Qual o problema?
O problema é que nem ele, nem seus amigos veem a eleição de prefeito como um fim (mas os eleitores sim). 

Ou faria sentido “enfrentar o lulopetismo” tomando conta da prefeitura? Administrando a Guarda Municipal, a merenda escolar, o transporte público? Lidando com camelôs e perueiros? Distribuindo uniformes escolares? Tentando acabar com os congestionamentos no trânsito? Construindo piscinões?

Pode haver - e há - quem queira ver sangue no embate PSDB vs. PT. A dúvida é se o ringue apropriado é uma prefeitura - mesmo a de São Paulo que é, apenas, maior que as outras.
Na hora em que a campanha levar o ex-governador ao Jardim Elba, em Sapopemba, o que ele vai dizer aos moradores? Que vai conter o “avanço do PT”? Como? Brigando com o governo federal, com Dilma e seus programas?
Ou vai fazer como em 2010, prometendo que manterá e melhorará iniciativas como o Bolsa-Família, o Prouni, o Minha Casa, Minha Vida? Que vai fazer tudo aquilo com que Fernando Haddad se comprometerá, só que com mais “competência”, pois tem mais “experiência”?
E na hora em que seu vigor anti-lulopetista arrefecer? Na hora em que voltar a ser o Serra de 2010, o “Zé que vai continuar a obra do Lula”?
Só há um jeito de Serra manter a contundência oposicionista que tanto agrada a seus amigos: convencer-se de que a eleição está perdida. Só nessa hipótese será coerente com o que esperam dele.