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A carne não é fraca, fraca é a ideologia neoliberal

por Fábio de Oliveira Ribeiro

No GGN fiz referência ao filme Conan, o bárbaro para explicar o complexo Thulsa Doom do usurpador http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/divagacoes-sobre-o-complexo-thulsa-doom-do-usurpador. Volto ao assunto por causa da contradição ideológica exposta pela operação Carne Fraca da Polícia Federal. Sobre a própria operação nada precisa ser dito. O tema está sendo intensamente discutido na imprensa e cada leitor pode escolher sua fonte e enfoque. O que me chamou a atenção foi um aspecto pouco explorado até o presente momento.

O neoliberalismo defendido pelo usurpador Michel Temer e pela imprensa que o levou à presidência se caracteriza pela desregulação do mercado. As funções do Estado devem ser reduzidas ao mínimo. Não cabe aos agentes públicos fixar preços e salários, nem fiscalizar as atividades empresariais. Os agentes econômicos devem cuidar de seus próprios interesses, caso contrário eles serão colocados para fora do mercado.
Para os defensores do bem estar social, a qualidade dos produtos colocados à venda deve ser fiscalizada pelo Estado e ninguém poderia comercializar ou consumir excrementos. Num Estado neoliberal perfeito os consumidores podem até mesmo consumir merda, pois a demanda de excrementos será suprida com lucro pelos empresários interessados em embalar e distribuir esta mercadoria. O abismo entre o filme Salò (1975) de Pasolini e o filme The Smell of Success (2009) duplica aquele que existe entre a concepção socialista e capitalista do valor ideológico/comercial da merda.
Em que registro atua a operação Carne Fraca? Os agentes da PF reprimiram com rigor (exagerado e desnecessariamente espetacularizado para alguns analistas) a produção e comercialização de carne fora dos padrões legais admissíveis. Portanto, a PF certamente não atuou dentro de um registro neoliberal. Se o povo estava consumindo carne podre e misturada com papelão sem reclamar, num contexto neoliberal perfeito, não compete ao Estado punir os empresários que fornecem estes produtos.
Antes e durante as prisões realizadas por causa da operação da PF, a imprensa, que lucrou fazendo propaganda da Friboi, Perdigão, Seara, Big Frango, Sadia, etc..., passou a atacar ferozmente as empresas e não o Estado. Curiosa inversão ideológica, os jornalistas neoliberais agem agora como se o mercado de carnes tivesse que ser regulado e fiscalizado por agentes estatais. Se realmente fossem neoliberais, os formadores de opinião não estariam destruindo a imagem das empresas que eles mesmos ajudaram a construir.
No filme Conan, o bárbaro duas ideologias entram em conflito. Thulsa Doom crê que a vontade é mais forte do que o aço. Para provar sua tese, ele faz uma moça se suicidar apenas hipnotizando-a e fazendo-a pular de uma plataforma. Conan, o protagonista, confia apenas no aço, metal com o qual é fabricada a espada que ele usa para derrotar e matar seus inimigos. Quando ficam frente a frente na cena final, o portador do segredo do aço vence a vontade de potência do vilão.
Quem é o vilão no Brasil: as indústrias de alimentos, a Polícia Federal, a imprensa ou o mercado? A imprensa lucra construindo e destruindo as imagens das empresas que produzem e comercializam carne. Portanto, na parte que me toca creio que os barões da mídia, os depositários da fraca ideologia neoliberal, são tão ou mais responsáveis pelos abusos que foram cometidos do que o mercado, a PF e as indústrias de alimentos. 

Chantagem global


Ontem um passarinho me falou que:
 Você e Mais
Algumas pessoas iriam "ressaltar" que embutidos causam câncer
Afirmam pesquisadores da OMS
- Organização Mundia da Saúde -.

Outro passarinho me falou que as grandes marcas brasileiras que produzem embutidos
Não querem mais renovar contratos de publicidades na tv aberta.
Juntando os pios de um passarinho, com os pios do outro
Ficou uma pergunta no ar:
Isso é chantagem?
...
Sei não, mas tenho a impressão que sei lá



Brazil Foods

[...] e o CADE 

A decisão do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) de impor exigências para a fusão da Sadia com a Perdigão – na empresa Brazil Foods – repõe no direito brasileiro a questão da concorrência.
Desde a criação da Standard Oil, no século 19, a questão da concentração de mercados preocupava os legisladores. A empresa entrava em determinados mercados e esmagava a concorrência com práticas desleais (redução de preços) até jogadas políticas e outras mais pesadas. Destruído o competidor, impunha seus preços aos consumidores.
Esse histórico acabou produzindo uma aliança política que acabou obrigando a super-empresa a se dividir entre várias empresas menores.
Até as últimas décadas do século 20, todo processo de concentração era visto com desconfianças. O foco sempre era o consumidor: se a prática pudesse significar prejuízos futuros, seria vetada.
Depois, a partir de estudos da Universidade de Chicago, mudou-se a concepção sobre concentração e fusões. Considerou-se que a competição global exigir empresas mais fortes. E que o conceito de mercado relevante (para analisar a competição) não podia mais ficar restrito aos mercados nacionais. Com o avanço da logística e do mercado de capitais, se uma empresa cometesse abusos de preços, imediatamente atrairia ou importações ou novos investimentos que rapidamente ocupariam o espaço no mercado.
Partia-se da lógica que a concentração permitiria ganhos de escala e que as empresas sempre procurariam reduzir preços e custos para conquistar a maior fatia de público e fechar as portas para novos competidores.
Quando o CADE foi revigorado, no governo Fernando Henrique Cardoso, um episódio vergonhoso acabou comprometendo os princípios do órgão. Foi quando o presidente, Gesner de Oliveira, aceitou a compra da Antárctica pela Brahma – para a constituição da AMBEV – atropelando princípios básicos de análise de concentração.
O voto de Gesner, em favor da aquisição, manchou na origem a nova estrutura do órgão. Foi um paper com poucos argumentos, falaciosos.
Depois, o episódio da compra da Garoto pela Nestlé trouxe mais desgastes ao órgão, principalmente quando o presidente do CADE, José Grandino Rosa, insurgiu-se contra o voto dos conselheiros, condenando a compra – mas que, pela demora na decisão, configurava-se irreversível.
Agora, o caso Sadia-Perdigão traz novos ingredientes, mostrando a nova fase do órgão de tentar recuperar a legitimidade.
A fusão é irreversível, pois sua anulação significaria a quebra da Sadia. Por outro lado, significou o controle de vários mercados pela nova empresa. O que levou o relator do CADE a sugerir a venda de uma das marcas e de fábricas específicas.
Certamente haverá uma negociação, uma avaliação do Conselho do CADE, já que o relatório é apenas uma peça a mais para análise.
Mas há vários pontos suscitados. Por exemplo, um produto específico – digamos massa de pizza – deve ser analisado em si ou na competição com outros alimento? Se a empresa aumenta o preço da massa, os consumidores não podem simplesmente deixar de comprar e escolher outros produtos?
É um bom momento para rever conceitos que foram desmoralizados por Gesner.