Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste/ Criança, não verás, nenhum país como este. Creio que eram esses os versos de Olavo Bilac que os cadernos marca Avante que usávamos na escola traziam na capa. Naquele tempo de nacionalismo ingênuo essas simples palavras calavam fundo no coração dos pequenos brasileiros. Pareciam referir-se à grandeza continental do país e também às suas incomensuráveis riquezas. Hoje, vejo-as apenas em sua exata medida: não veremos nenhum país como este, não só porque suas características e sua história são exclusivas, como também porque este é o nosso país e só nele nos sentimos em casa, nos sentimos "chez nous", como dizem os franceses.
Certa vez, em um boteco da Tijuca um garçom, desses tantos conterrâneos nossos que desembarcam no Rio de Janeiro para tentar a sorte, enquanto se virara para atender a freguesia, comentava matéria na TV sobre a tsunami que tinha arrasado com a Indonésia: "é por isso que eu gosto desse meu brasilzinho". Naquele tempo, o salário mínimo ainda não tinha se elevado tanto, nem a taxa de desemprego tinha caído tanto. Aquela era apenas uma manifestação espontânea de amor ao Brasil, de amor à Pátria em que nasceu por parte de um homem do povo que, mesmo sem ter conhecido outras terras, preferia a sua. Mesmo tendo sido criado em uma realidade em que catástrofes climáticas como a seca que castiga periodicamente o nordeste e as enchentes que destroem o sul acontecem, ele conservava a ilusão de que aqui nada de terrível acontece, porque estava convencido que Deus é brasileiro.
Talvez esse nacionalismo popular ainda seja uma herança do passado, do tempo do Caderno Avante, talvez esteja mesmo na alma do povo essa vontade de pertencimento, essa necessidade de se orgulhar da pátria em que nasceu.