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Isabel Lustosa: um Brasil para os brasileiros


Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste/ Criança, não verás, nenhum país como este. Creio que eram esses os versos de Olavo Bilac que os cadernos marca Avante que usávamos na escola traziam na capa. Naquele tempo de nacionalismo ingênuo essas simples palavras calavam fundo no coração dos pequenos brasileiros. Pareciam referir-se à grandeza continental do país e também às suas incomensuráveis riquezas. Hoje, vejo-as apenas em sua exata medida: não veremos nenhum país como este, não só porque suas características e sua história são exclusivas, como também porque este é o nosso país e só nele nos sentimos em casa, nos sentimos "chez nous", como dizem os franceses.

Certa vez, em um boteco da Tijuca um garçom, desses tantos conterrâneos nossos que desembarcam no Rio de Janeiro para tentar a sorte, enquanto se virara para atender a freguesia, comentava matéria na TV sobre a tsunami que tinha arrasado com a Indonésia: "é por isso que eu gosto desse meu brasilzinho". Naquele tempo, o salário mínimo ainda não tinha se elevado tanto, nem a taxa de desemprego tinha caído tanto. Aquela era apenas uma manifestação espontânea de amor ao Brasil, de amor à Pátria em que nasceu por parte de um homem do povo que, mesmo sem ter conhecido outras terras, preferia a sua. Mesmo tendo sido criado em uma realidade em que catástrofes climáticas como a seca que castiga periodicamente o nordeste e as enchentes que destroem o sul acontecem, ele conservava a ilusão de que aqui nada de terrível acontece, porque estava convencido que Deus é brasileiro.

Talvez esse nacionalismo popular ainda seja uma herança do passado, do tempo do Caderno Avante, talvez esteja mesmo na alma do povo essa vontade de pertencimento, essa necessidade de se orgulhar da pátria em que nasceu.

Fortaleza, Rio, Paris

Nunca pensei em morar no exterior. Aquele sonho que para tantos amigos e colegas parece algo de incrível nunca ocupou minha mente. Também não viajei muito, ao contrário da Clélia, que é uma estradeira e que conhece Oropa, França e Bahia. Tão animada que toda hora percorre de ônibus o sertão brabo do Ceará, em várias direções, à frente de um grupo de alunos. Durante os quatro anos em que viveu na Europa, Clélia também visitou todos os lugares possíveis: foi à China, ao Marrocos, à Grécia, levando a reboque e por vezes, a contragosto, o seu Valmir.



Eu, não. Eu vim para o Rio em 1977 e aqui fiquei. A viagem que faço sempre que posso é a Fortaleza. Na semana passada, quando ia de taxi do aeroporto para a casa da mamãe olhando pela janela a paisagem tão conhecida, lembrei daquela frase bonita que abre um dos livros do Lustosa: "Fortaleza, voltei, meu lugar é aqui. Além de Messejana estou no exílio".



Mas essa frase não serve para mim. Fui embora aos 21 e hoje, passados 33 anos, o Rio é que é a minha cidade. Se em Fortaleza ainda estão meus maiores afetos, mãe, filho, irmãos, alguns poucos amigos e as melhores lembranças, o Rio foi a cidade que eu plantei para mim, como naquela música. Aqui, amarguei solidão, angústia e medo; desilusões amorosas, decepções pessoais e ambientes de trabalho hostis. Mas foi aqui também que vivi as maiores aventuras da minha vida, as maiores paixões e fiz minhas maiores conquistas profissionais. Foi aqui que nasceram meu filho, Chico Bento, e meu marido, Mario Bag. Meu filho, Chico Bento, apesar de nascido e criado no Rio de Janeiro, escolheu ser cearense e hoje vive muito feliz em Fortaleza, entre amigos que meus amigos seriam se eu tivesse a sua idade. Já em Mario Bag, que é também meu melhor amigo, talento, inteligência e senso de humor são a mais perfeita encarnação do Rio de Janeiro no que tem de melhor.



Lembro que quando fui embora de Fortaleza a música que para mim mais simbolizava essa partida era "Além do Cansaço". Com letra do Brandão e música do Petrúcio Maia, essa linda e amargurada canção dizia: 



Engraçado pensar que aos 20 anos a gente se sentisse assim. Creio que são os exageros naturais da juventude, a vontade de dramatizar tudo. Isto ou aquilo, o fato é que, aos 21, eu acreditava que "uma cidade sozinha" não comportava a procura da vida e vim. Foi uma experiência dura e creio que, por causa dela, nunca pensei em fazer um segundo movimento em direção a outra cidade. É verdade também que o Rio é a capital cultural do País e continua a ser uma cidade maravilhosa, talvez por isso não me tente a ideia de trocá-la por outra. Os estudos que venho realizando ao longo de minha carreira se centram basicamente em histórias que se passaram no Rio ou que tiveram o Rio como referencia. Mais um motivo para me prender aqui.



No entanto, agora, resolvi arriscar uma temporada mais longa em Paris. Afinal, não se vive duas vezes. E depois da virada do meio século a gente começa a avaliar essas coisas. Ainda é cedo para encostar as chuteiras, mas daqui a pouco vai ser tarde para empreender aventuras mais ousadas. Uma coisa que foi básica para tomar essa decisão foi a estabilidade emocional. Uma zona de conforto que uma relação estável e um filho bem criado proporcionam. Mas também um momento bom na vida profissional, que fez com que ao invés de ir como aluna fosse como professora.



Isto tudo posto, lá vou eu passar quatro meses dando aulas em francês na Cidade Luz. De lá, dou notícias. Torçam por mim.

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