Clik no anúncio que te interessa, o resto não tem pressa...

Paulo Nogueira - O VERDADEIRO PECADO DE MARIO SERGIO CONTI

A entrevista com o falso Felipão entra na crônica do jornalismo brasileiro como uma das maiores besteiras já cometidas.
A pergunta que emerge para o autor, Mario Sergio Conti, é a seguinte: em que planeta ele vive?
Mas é algo no terreno da anedota.
Conti tem razão quando diz que ninguém morreu por conta do erro, e nem a bolsa se movimentou, ou coisas do gênero.
Conti, é verdade, vai passar para a história como aquele jornalista do Felipão.
Mas seu real pecado, na carreira, é algo muito mais sério.
Conti, como diretor de redação da Veja, comandou uma das coberturas mais abjetas e mais canalhas do jornalismo nacional:

Boa noite!

Pura verdade

Spotify, Deezer e Rdio: streaming de música avança no Brasil

Nas últimas semanas, experimentamos os 3 principais serviços disponíveis no Brasil. O Spotify é o maior em nível mundial e acaba de estrear por aqui. O Rdio foi dos primeiros a desembarcar no país. O Deezer também já está por aqui há algum tempo. Basicamente, os 3 oferecem a mesma coisa: música via streaming. Mas, há algumas diferenças. Confira!

Preço:

A primeira delas é o preço. Deezer e Rdio praticam o mesmo preço para seu pacote mais completo: 14,90 por mês. O Spotify chegou cobrando um pouco menos: seis dólares. O que dá mais ou menos uns 13 reais.

Acervo:
Se os preços são próximos, o acervo de cada serviço tem diferenças. O Spotify anuncia ter 40 milhões de músicas em seu acervo. O Deezer afirma contar com 30 milhões. O Rdio armazena 25 milhões. Com números como esses, é praticamente impossível que você não encontre a música que quer.


Qualidade do áudio:
Os mais exigentes dificilmente vão se satisfazer com a qualidade de áudio dos serviços de streaming. Mas, para os ouvintes, digamos, comuns, ela é bastante boa. Na nossa opinião, quem oferece a melhor solução nessa história é o Spotify. No aplicativo do serviço, você pode escolher se quer ouvir no módulo Extreme ou no modo Normal. No Extreme, o áudio é transmitido com uma taxa de 320 Kbps. Essa é a mesma qualidade de um CD comum. No modo normal, o arquivo é transmitido em 128 Kbps. Ou seja, quando você tem uma rede rápida, dá para ter qualidade de CD no streaming. Se não, você pode baixar a qualidade, para evitar que o arquivo “buferize”. O Rdio também oferece opção de escolher a qualidade do áudio. Mas, a interface é mais simples. No aplicativo do Deezer não há essa opção.

Aliás, por falar em rede à disposição, todo mundo sabe que esse é um problema no Brasil, com nosso 3G capenga. Mas, os 3 serviços oferecem a possibilidade de você armazenar arquivos off line, para poder ouvir mesmo que não haja conexão. Basicamente, os 3 funcionam do mesmo jeito: você pode montar playlists e pode escolher que essas playlists fiquem disponíveis off-line. Os aplicativos baixam as músicas no seu aparelho – é claro que você precisa ter espaço suficiente no smartphone ou no tablete... Nos nossos testes, os 3 serviços funcionaram muito bem, baixando as músicas rapidamente. De novo, tudo depende da conexão que você tem à disposição.

Interface:
A interface é bem diferente entre os 3 serviços. Do ponto de vista de facilidade de uso, o Deezer e o Spotify nos agradaram mais. O Rdio tem uma interface mais simples e menos intuitiva. Gosto não se discute, mas achamos a do Spotify a mais bonita, seguida pelo Deezer e pelo Rdio. Do ponto de vista de recursos, ele são mais ou menos os mesmos. Em todos, você pode procurar por uma música específica, ou por um artista, ou ainda por um álbum. As faixas são acompanhadas pela imagem do álbum de que fazem parte e, nos 3 casos, é super fácil passear pelas músicas do mesmo álbum ou do mesmo artista.

Conselho da Vovó Briguilina

Livre-se do stress e da responsabilidade de ser perfeito. Faça o seu melhor. Viva em paz. Tenha a consciência tranquila.

Paulo Moreira Leite

BARROSO SOB PRESSÃO

Sem ruborizar, vozes que pediam "celeridade"na AP 470 criticam novo relator, que prometeu uma decisão rápida aos réus

A pressão sobre o ministro Luiz Roberto Barroso, novo relator da AP 470, obedece a uma finalidade óbvia: eternizar o ambiente de perseguição política que Joaquim Barbosa construiu em torno de José Dirceu, José Genoíno e demais condenados pelo STF. Sentindo-se em posição de orfandade, agora que se forma uma nova maioria no tribunal,  aliados de Joaquim procuram chantagear o novo relator.

Critica-se Barroso por ter lembrado que quem está preso tem pressa – quando essa afirmação merece elogios, não só pelo aspecto humanitário, mas também por revelar uma compreensão adequada da natureza do Direito. No caso da AP 470, a crítica expressa uma incoerência de envergonhar. As mesmas vozes que passaram meses cobrando “celeridade” da Justiça, aceitando atropelos diversos em direitos e prerrogativas dos réus --  inclusive a manutenção do sigilo sobre o inquérito 2474 com o argumento que ele poderia contribuir para atrasar a decisão -- agora têm coragem de criticar Barroso porque ele prometeu rapidez aos condenados.

     Discursos festivos à parte, é preciso cultivar um desprezo profundo pelo direito de homens e mulheres a viver em liberdade para não enxergar o caráter inaceitável de manter uma pessoa presa por  24 horas – ou mesmo uma hora, ou 15 minutos  – de forma injusta ou arbitrária. 
      O que se quer, é claro, não é defender a liberdade nem o direito das pessoas. A  caminho da mais disputada eleição presidencial desde 2002, pretende-se manter o ambiente de espetáculo e castigo, com a convicção de que será util nas urnas. O que se quer é impedir que críticas cada vez mais amplas sobre o julgamento, envolvendo vozes insuspeitas do judiciário e dos meios acadêmicos, despertem a curiosidade e a dúvida de cidadãos e eleitores.
      Em qualquer caso, não custa lembrar que, do ponto de vista da Justiça, a decisão já virá com atraso.
     Condenado ao regime semi aberto, José Dirceu já completou sete meses em regime fechado, situação que contraria uma jurisprudência de mais de quinze anos da Justiça brasileira. José Genoíno só retornou a Papuda depois que sucessivas juntas médicas foram convocadass a produzir laudos e mais laudos até que se chegasse a um documento cuja finalidade real não tem a ver só com a medicina, mas com a polícia -- um atestado médico de grande utilidade para evitar denúncias de responsabilidade caso venha a ocorrer um acidente ou mesmo tragédia durante sua permanência na prisão. Não por acaso, o procurador-geral, Rodrigo Janot, já se manifestou a favor de Genoíno. 
   Outros presos da AP 470 foram liberados e aprisionados de novo ao sabor de conveniencias de momento, a partir de denuncias absurdas de privilégios e regalias que jamais foram comprovadas.
    São estes casos que Barroso irá examinar nos próximos dias, com a intenção de chegar a uma solução antes do recesso do Judiciário, que começa a 1 de julho.  Preparando-se para deixar o STF numa saída que “não poderia ser menos gloriosa,” nas palavras de Merval Pereira,  Joaquim Barbosa já recebeu o pedido de colocar o assunto em pauta, na quarta-feira. Poderá fazê-lo, ou não. A pauta é uma decisão do presidente, diz o estatuto do STF. Se não o fizer, levará Barroso a tomar a decisão de forma monocrática, o que é direito do relator. Não surgiram, até agora, razões jurídicas capazes de fundamentar uma decisão contra os réus..
   Ao renunciar a posição de relator da AP 470 o ministro Joaquim Barbosa deu explicações que chamam atenção pelo  absurdo. O ministro acusou os advogados dos réus de “agir politicamente.” Antes fosse verdade.
     Ao longo de todo julgamento a defesa optou por uma atuação de caráter técnico, de quem acreditava que a AP 470 seria um processo igual a todos os outros, com a preservação dos direitos e garantias assegurados aos milhares de brasileiros que, todos os dias, com motivos justificaveis ou não, são levados a prestar contas a Juistiça. Os advogados cobraram fatos e provas robustas e, na medida em que eles nunca foram apresentados, apostavam na absolvição da maioria de seus clientes. Não estavam aptos para enfrentar uma ofensiva de conjunto contra os réus.  Não imaginaram que iram enfrentar uma força que pretendia arrancar condenações de qualquer maneira.
  Num dos momentos  culminantes da fase final do espetáculo, quando o recém-chegado Barroso lembrou a denuncia de que as penas haviam sido agravadas artificialmente para permitir condenações em regime fechado, o próprio Barbosa confirmou ao vivo e a cores que havia sido assim mesmo – e ninguém interrompeu o debate, nem pediu maiores explicações, nem achou que era muito estranho nem cobrou nada. 
   Quem agiu politicamente, no início, no meio e no fim, foi a acusação. A partir da noção de que o país precisava de “exemplos” para deter a corrupção do sistema político, aceitou-se abolir garantias importantes para a defesa dos réus. Negou-se o direito a um segundo grau de jurisdição a toda pessoa que não tem prerrogativa de foro, condição que atingia 90% dos acusados. Durante o julgamento, ocorrido em 2012, um ano eleitoral, os ministros permitiram-se fazer críticas de caráter político ao Partido dos Trabalhadores, chegando a denunciar que pretendia eternizar-se no poder graças a um sistema financeiro de “compra de votos” que “conspurcava” a vontade do eleitor. Contrariando documentos disponíveis nos autos, ministros falavam em desvio de dinheiro publico -- sem que fosse possível apontar um único centavo retirado dos cofres do Banco do Brasil, onde, conforme a acusação, ocorriam as falcatruas. 
   Derrotado nos embargos infringentes, a atuação recente de Joaquim Barbosa não passou  de uma tentativa de revogar, na prática, os benefícios a que os réus teriam direito depois que o plenário do STF retirou a condenação por quadrilha. Mais uma forma de “agir politicamente.”
É neste ambiente que Luiz Roberto Barroso terá a responsabilidade de fazer Justiça.

Crônica dominical de A. Capibaribe Neto

O fantasma das vaias guardadas

Reis cruzaram o Atlântico em suas caravelas aladas, trazendo suas comidas especiais e fazendo suas exigências exóticas. Esnobaram as paisagens, torceram o nariz para a periferia e posaram de superiores.
Estufaram o peito, cheios de orgulho com o tocar de seus hinos cheios de lanças, guerras, guerreiros, batalhas, vitórias, etc. Até aqui, diga-se de passagem. Times da Copa do Mundo. No dia em que escrevo esta crônica, quarta-feira, um rei laranja sofreu esfalfado para vencer um time canguru. Logo a seguir, os toureiros, cheios de bossa selvagem ainda lambiam suas feridas profundas; cinco, mais precisamente, quando entraram na arena luxuosa e contestada pelos protestos inócuos de meia dúzia de oportunistas arruaceiros, que abriram espaço para marginais, ladrões de galinha e bandidos de periferia darem o ar da graça do lado de fora.
Não "adentraram ao gramado", com a costumeira empáfia, mas ainda eram elegantes e esperavam furar as costas dos índios andinos para arrancar os "olés" de seus iguais. Não deu. Pelo contrário, eles é que ficaram na outra ponta do "olé" em desenvolvimento. Mais duas feridas profundas e como foram letais moralmente, eles agora eram o touro avacalhado, com o rabo entre as pernas, voltando para o hotel para o derradeiro check in e tomar o rumo de casa, sem espaço para desculpas esfarrapadas porque agora a terra selvagem pode se mostrar, via satélite, em tempo real, que o rei estava nu e era feio, magro, só fez um gol.
Neste capítulo, encerra-se uma guerra particular. E nem existe mais um Dom Quixote para enfrentar os moinhos de vento que sopraram um verdadeiro furacão sobre eles. "Que pasó?" Perguntavam entre si. Talvez culpem Diego Costa, porque é brasileiro. É, talvez façam isso, mas quem vai engolir, se nem mesmo a sua famosa paella agora é palatável.
O time do Brasil está cheio de europeus tupiniquins que deixaram suas origens humildes nos bairros pobres de lugares que preferem esquecer. David Luis, até agora, é uma grata exceção. Talvez porque teve berço e deve ter lido alguma coisa sobre humildade. Tirante ele e o Tiago Silva, fica difícil encontrar outro exemplo que não exagere nas plumas do pavão.
Hoje mesmo, quarta-feira, o time deve estar roendo as unhas para ver o que vai acontecer entre Camarões e Croácia. Tristes expectativas para um time de milionários empavonados sobre cujas costas começam a pesar os fantasmas de sonoras vaias se não souberem o significado de EQUIPE! Fred já foi motivo de gozação. Fez nada! Neymar ainda chorou, mas não conseguiu ser mais agressivo que o goleiro que pareceu jogar com um sombrero enorme.
Se pudéssemos viajar no tempo já saberíamos quem ganhou a Copa 2014, mas como isso é impossível, o negócio é contar com uma mãe de santo, preparar uma galinha preta e outras mandingas e torcer muito para que os fantasmas das vaias não atormentem suas cabeças coloridas e acabem com a esperança de milhões de fanáticos, com a reeleição da presidenta e encham a bola, por enquanto murcha, de meia dúzia de mascarados que continuam protestando sem bandeira definida e fazendo molecagens sem sentido pelas ruas, onde os esperam muitas balas de borracha, spray de pimenta e muita truculência orientada. Por enquanto.

Para os que amam Nova Yorque...

E detestam o Brasil

ryanshelley
Se a nossa elite  mentalmente colonizada tivesse um pingo de lucidez e um grama de compaixão (ou apenas um dos dois) olharia  para o Brasil com um sentimento de paz e esperança, em meio a um mundo que regride à miséria das primeiras décadas do século passado.
Mas teimam em ver o exterior como um mundo ideal, onde tudo é limpo, lindo e tecnológico.
O mundo, em todas as partes, é simplesmente feito de pessoas.
Quando elas vivem reduzidas à condição de bichos, nem a cosmopolita Nova York é civilizada.
Leiam o trecho que reproduzo desta matéria de hoje em O Globo.
E a foto que copio acima, de Ryan e Shelley, um casal de moradores de rua.
Um ex-casal, aliás, porque Ryan, agora, está morto.
É bom para lembrar o que esquecemos depois que passamos a achar Charlie Chaplin apenas um comediante antigo, não um intérprete de gente sem cuidado e sem esperança.
E que o drama humano é só existencial e não também pela sobrevivência.
Talvez com isso os que praguejam contra as nossas alegrias e desprezam os nossos progressos possam entender o quanto caminhamos.
E, por isso, o quanto acreditamos que temos de continuar a caminhar.
Mas sempre assobiando, alegres, como Carlitos.

A Nova York dos excluídos

Isabel Deluca
O número de sem-teto em Nova York atingiu, este ano, o maior nível desde a Grande Depressão nos anos 1930. Segundo as últimas estatísticas federais, a população sem moradia aumentou 13% em comparação com o ano passado, apesar da suposta recuperação da economia — e enquanto a média nacional só faz diminuir. A tendência cresce sobretudo entre famílias e virou um dos maiores desafios do prefeito Bill de Blasio, que fez da habitação acessível um dos pontos centrais do seu discurso de campanha, para comandar uma cidade onde os aluguéis não param de subir.
Os nova-iorquinos que passam a noite em abrigos ou nas ruas chegaram a 64.060, de acordo com o relatório anual do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD, na sigla em inglês), que compila dados de três mil cidades americanas.
Só Los Angeles teve aumento maior: lá, os desabrigados cresceram 27%, embora o total ainda seja menor que o de Nova York. No resto do país, o número caiu 4% desde 2012: hoje são 610.042.
— A maior parte dos EUA mudou a tática de reagir ao problema, e está funcionando — explica o professor de Políticas Sociais da Universidade da Pensilvânia Dennis P. Culhane, autor do relatório do HUD. — O foco tem sido no realojamento imediato, muitas vezes na forma de mediação de conflitos, mas também com ajuda financeira. O modelo de botar num abrigo e esperar até que se consiga encontrar uma moradia, ou que o cidadão consiga juntar dinheiro para sair, não é o novo modelo que emerge no país. Mas é o de Nova York.
Na cidade mais rica do mundo, a crise é resultado sobretudo do aumento no número de famílias que já não podem pagar aluguel. O último censo registrou um declínio no número de apartamentos acessíveis em Nova York, enquanto a renda da classe média baixa só faz cair. Para Culhane, parte do problema ainda pode ser creditado à crise econômica:
— Há desemprego excessivo, afetando a capacidade de pagar o aluguel. Há mais jovens adultos e suas famílias com pais ou avós. Isso cria um ambiente estressante que pode levar ao despejo. É o que acontece em dois terços dos casos. A razão mais comum que os novos sem-teto reportam é conflito familiar na casa superlotada.
Em Nova York, as famílias já representam 75% da população dos abrigos. Há menos sem-teto nas ruas do que há uma década, mas a lotação nos dormitórios é recorde — 52 mil, sendo 22 mil crianças. Relatório divulgado em maio pela ONG Coalizão para os Desabrigados aponta outro recorde: o tempo médio que uma família permanece num abrigo atingiu 14,5 meses.
O Departamento de Serviços para Desabrigados disponibiliza diariamente dados sobre os abrigos. Na última quarta-feira, eram 30.540 adultos e 23.227 crianças. O número de sem-teto que pernoitam em refúgios municipais é, hoje, 73% maior do que em janeiro de 2002, quando o ex-prefeito Michael Bloomberg tomou posse. Ele tentou driblar a questão com uma série de políticas, mas o resultado foi a superlotação dos dormitórios públicos.
— Prefiro dormir na rua do que num abrigo — relata Elliot, um sem-teto de 52 anos que costuma passar as tardes na esquina da Rua 72 com a Broadway. — A comida é pavorosa. Os banheiros são imundos. Há ratos e baratas por todo canto.


Saul Leblon - cinco derrotas e um lance decisivo

Da ampliação da democracia depende a sorte das famílias assalariadas, a repartição da renda e a cota de sacrifícios em um novo ciclo de crescimento.

Muitas vezes, a janela mais panorâmica de uma época não se materializa no indispensável esforço conceitual para descortinar a sua essência, mas em um evento simbólico catalisador.

O passo seguinte da história brasileira carece ainda dessa síntese que contenha as linhas de passagem para um novo ciclo de desenvolvimento.

A simplificação analítica, o simplismo ideológico são incompatíveis com essa sinapse entre o velho e o novo, projetando-se mais por aquilo que dissipam do que pelo que agregam.

Nenhum polo do espectro político está imune a essas armadilhas. Mas até pela supremacia do seu poder emissor é o conservadorismo que tem liderado o atropelo da tentativa e erro nesse embate.

Durante meses, por exemplo, o imperativo 'não vai ter Copa' –e tudo aquilo que ele encerra de denuncismo derrotista - reinou soberano na mídia como uma metáfora esperta do 'não vai ter Dilma'.

Quando os fatos desmentiram a pretensa equiparação do Brasil a um Titanic - a Copa ,independente da seleção, é um sucesso de público, de infraestrutura e de qualidade esportiva - partiu-se para algo mais explícito.

O camarote vip do Itaú –o banco central do conservadorismo – entrou em cena para mostrar os sentimentos profundos da elite em relação ao país.

Repercutiu, mas não pegou.

Embora o martelete midiático tenha disseminado a bandeira do antipetismo bélico, a ponto de hoje contagiar setores populares, como admite --e sobretudo adverte-- o ministro Gilberto Carvalho, o fato é que esse trunfo conservador não reúne a energia necessária para inaugurar uma nova época.

A grosseria dos finos exala, antes, seu despreparo para as tarefas do futuro.

Não quaisquer tarefas.

O país se depara com uma transição de ciclo econômico marcada por uma correlação de forças instável, desprovida de aderência institucional , ademais de submetida à determinação de um capitalismo global avesso a outro ordenamento que não o vale tudo dos mercados.

Um desaforo tosco é o que de mais eloquente as 'classes altas' tem a dizer sobre a sua capacitação para lidar com esse supermercado de encruzilhadas históricas.

Não é o único senão.

Nas últimas horas ruiu também a simbologia conservadora da retidão heroica e antipetista, atribuída à figura de Joaquim Barbosa.

Na última 3ª feira, o presidente do STF jogou a toalha respingada de ressentimentos, ao abandonar a execução da AP 470.

Não sem antes grunhir, em alemão, o menosprezo pelas questões mais gerais da construção da cidadania no país.

'Es ist mir ganz egal' , sentenciou sobre as cotas reclamadas por negros e índios no Judiciário.

'Para mim é indiferente; não estou nem aí'.

Esse, o herói dos savonarolas de biografia inflamável.

Seria apenas o epitáfio de um bonapartismo destemperado, não fosse, sobretudo, a versão germânica da indiferença social.

A mesma inscrita no jogral dos que se avocam à parte e acima daquilo que distingue uma nação de um ajuntamento humano: a pactuação democrática de valores e projetos que selam um destino compartilhado.

O particularismo black bloc enfrenta agora seu novo revés no terreno da inflação. Seja pela eficácia destrutiva da maior taxa de juro do planeta (em termos nominais o juro brasileiro só perde para o da Nigéria), seja pelo espraiamento das anomalias climáticas no mercado de alimentos, o fato é que os principais índices de inflação desabam.

E com eles a bandeira 'popular' de Aécio e assemelhados.

Mas há uma variável ainda mais adversa ao conservadorismo no plano da economia política.

O fato de o país viver um quadro de pleno emprego dá ao campo progressista um trunfo inestimável na negociação de um novo ciclo de crescimento.

Uma coisa é negociar com trabalhadores espremidos em filas de desempregados vendendo-se a qualquer preço. Outra, faze-lo em um mercado em que a demanda por mão-de-obra cresceu mais que a população economicamente ativa nos últimos anos.

O conjunto fragiliza um certo fatalismo com devotos dos dois lados da polaridade política, que encara as eleições como uma formalidade incapaz de alterar o calendário do arrocho, com o qual o país teria um encontro marcado após as eleições.

Tudo se passa, desse ponto de vista, como se houvesse uma concertación não escrita à moda chilena que tornaria irrelevante o titular da Presidência, diante dos limites impostos pela subordinação do Estado aos imperativos dos mercados local e global.

É essa, um pouco, a aposta da candidatura Campos, que se oferece à praça e à banca como a cola ambivalente capaz de dissolver os dois lados da disputa em um tertius eficiente e confiável.

O fato de ter fracassado até agora não implica o êxito efetivo do campo progressista em se libertar da indiferenciação que rebaixa o papel da democracia na definição do futuro.

Os desafios desse percurso não podem ser subestimados.

De modo muito grosseiro, trata-se de modular um estirão de ganhos de produtividade (daí a importância de se fortalecer seu principal núcleo irradiador, a indústria, ademais da infraestrutura e da educação) que financie novos degraus de acesso à cidadania plena.

A força e o consentimento necessários para conduzir esse ciclo --em uma chave que não seja a do arrocho-- requisitam um salto de discernimento e organização social que assegure o mais amplo debate sobre metas, prazos, compromissos, concessões, conquistas e salvaguardas.

Não se trata, portanto, apenas de sobreviver à convalescência do modelo neoliberal.

O que está em jogo é erguer linhas de passagem para um futuro alternativo à lógica do cada um por si, derivada de determinações históricas devastadoras que se irradiam da supremacia global das finanças desreguladas, para todas as dimensões da vida, da economia e da sociabilidade em nosso tempo.

A dificuldade de se iniciar esse salto advém, em primeiro lugar, da inexistência de um espaço democrático de debate em que os interesses da sociedade deixem de figurar apenas como um acorde dissonante no monólogo da restauração neoliberal.

Cada um por si, e os mercados por cima de todos, ou a árdua construção de um democracia social negociada?

É em torno dessa disjuntiva que se abre a janela mais panorâmica da encruzilhada brasileira nos dias que correm.

Da ampliação da democracia participativa depende o futuro dos direitos trabalhistas, a sorte das famílias assalariadas, a repartição da renda e a cota de sacrifícios entre as classes sociais na definição de um novo ciclo de crescimento.

É essa moldura histórica que magnifica a importância da Política Nacional de Participação Social anunciada agora pelo governo.

Para que contemple as grandes escolhas do nosso tempo, porém, é crucial que o governo não se satisfaça em tê-la apenas como um aceno de participação ou um ornamento da democracia.

Os desafios são imensos. Maior, porém, é a responsabilidade do discernimento que sabe onde estão as respostas e tem o dever de validá-las.

Ministro Barroso sofre pressão na AP - 470

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

A pressão sobre o ministro Luiz Roberto Barroso, novo relator da AP 470, obedece a uma finalidade óbvia: eternizar o ambiente de perseguição política que Joaquim Barbosa construiu em torno de José Dirceu, José Genoíno e demais condenados pelo STF. Sentindo-se em posição de orfandade, agora que se forma uma nova maioria no tribunal, aliados de Joaquim procuram chantagear o novo relator.

Critica-se Barroso por ter lembrado que quem está preso tem pressa – quando essa afirmação merece elogios, não só pelo aspecto humanitário, mas também por revelar uma compreensão adequada da natureza do Direito. No caso da AP 470, a crítica expressa uma incoerência de envergonhar. As mesmas vozes que passaram meses cobrando “celeridade” da Justiça, aceitando atropelos diversos em direitos e prerrogativas dos réus -- inclusive a manutenção do sigilo sobre o inquérito 2474 com o argumento que ele poderia contribuir para atrasar a decisão -- agora têm coragem de criticar Barroso porque ele prometeu rapidez aos condenados.

Discursos festivos à parte, é preciso cultivar um desprezo profundo pelo direito de homens e mulheres a viver em liberdade para não enxergar o caráter inaceitável de manter uma pessoa presa por 24 horas – ou mesmo uma hora, ou 15 minutos – de forma injusta ou arbitrária. 

O que se quer, é claro, não é defender a liberdade nem o direito das pessoas. A caminho da mais disputada eleição presidencial desde 2002, pretende-se manter o ambiente de espetáculo e castigo, com a convicção de que será útil nas urnas. O que se quer é impedir que críticas cada vez mais amplas sobre o julgamento, envolvendo vozes insuspeitas do judiciário e dos meios acadêmicos, despertem a curiosidade e a dúvida de cidadãos e eleitores. 

Em qualquer caso, não custa lembrar que, do ponto de vista da Justiça, a decisão já virá com atraso. 

Condenado ao regime semi-aberto, José Dirceu já completou sete meses em regime fechado, situação que contraria uma jurisprudência de mais de quinze anos da Justiça brasileira. José Genoíno só retornou a Papuda depois que sucessivas juntas médicas foram convocadas a produzir laudos e mais laudos até que se chegasse a um documento cuja finalidade real não tem a ver só com a medicina, mas com a polícia -- um atestado médico de grande utilidade para evitar denúncias de responsabilidade caso venha a ocorrer um acidente ou mesmo tragédia durante sua permanência na prisão. Não por acaso, o procurador-geral, Rodrigo Janot, já se manifestou a favor de Genoíno. 

Outros presos da AP 470 foram liberados e aprisionados de novo ao sabor de conveniências de momento, a partir de denuncias absurdas de privilégios e regalias que jamais foram comprovadas. 

São estes casos que Barroso irá examinar nos próximos dias, com a intenção de chegar a uma solução antes do recesso do Judiciário, que começa a 1 de julho. Preparando-se para deixar o STF numa saída que “não poderia ser menos gloriosa,” nas palavras de Merval Pereira, Joaquim Barbosa já recebeu o pedido de colocar o assunto em pauta, na quarta-feira. Poderá fazê-lo, ou não. A pauta é uma decisão do presidente, diz o estatuto do STF. Se não o fizer, levará Barroso a tomar a decisão de forma monocrática, o que é direito do relator. Não surgiram, até agora, razões jurídicas capazes de fundamentar uma decisão contra os réus.. 

Ao renunciar a posição de relator da AP 470 o ministro Joaquim Barbosa deu explicações que chamam atenção pelo absurdo. O ministro acusou os advogados dos réus de “agir politicamente.” Antes fosse verdade. 

Ao longo de todo julgamento a defesa optou por uma atuação de caráter técnico, de quem acreditava que a AP 470 seria um processo igual a todos os outros, com a preservação dos direitos e garantias assegurados aos milhares de brasileiros que, todos os dias, com motivos justificáveis ou não, são levados a prestar contas a Justiça. Os advogados cobraram fatos e provas robustas e, na medida em que eles nunca foram apresentados, apostavam na absolvição da maioria de seus clientes. Não estavam aptos para enfrentar uma ofensiva de conjunto contra os réus. Não imaginaram que iram enfrentar uma força que pretendia arrancar condenações de qualquer maneira. 

Num dos momentos culminantes da fase final do espetáculo, quando o recém-chegado Barroso lembrou a denuncia de que as penas haviam sido agravadas artificialmente para permitir condenações em regime fechado, o próprio Barbosa confirmou ao vivo e a cores que havia sido assim mesmo – e ninguém interrompeu o debate, nem pediu maiores explicações, nem achou que era muito estranho nem cobrou nada. 

Quem agiu politicamente, no início, no meio e no fim, foi a acusação. A partir da noção de que o país precisava de “exemplos” para deter a corrupção do sistema político, aceitou-se abolir garantias importantes para a defesa dos réus. Negou-se o direito a um segundo grau de jurisdição a toda pessoa que não tem prerrogativa de foro, condição que atingia 90% dos acusados. Durante o julgamento, ocorrido em 2012, um ano eleitoral, os ministros permitiram-se fazer críticas de caráter político ao Partido dos Trabalhadores, chegando a denunciar que pretendia eternizar-se no poder graças a um sistema financeiro de “compra de votos” que “conspurcava” a vontade do eleitor. Contrariando documentos disponíveis nos autos, ministros falavam em desvio de dinheiro publico -- sem que fosse possível apontar um único centavo retirado dos cofres do Banco do Brasil, onde, conforme a acusação, ocorriam as falcatruas. 

Derrotado nos embargos infringentes, a atuação recente de Joaquim Barbosa não passou de uma tentativa de revogar, na prática, os benefícios a que os réus teriam direito depois que o plenário do STF retirou a condenação por quadrilha. Mais uma forma de “agir politicamente.”

É neste ambiente que Luiz Roberto Barroso terá a responsabilidade de fazer Justiça.

A Linha (Lula) a Agulha (Dirceu)

A agulha passa por vários estágios de sofrimento até aprender sua função: o forno abrasador da metalúrgica, o frio intenso da água em que é temperada, o peso esmagador da prensa que a faz atingir sua forma ideal.
A partir daí, precisa estar sempre dura, brilhante, e afiada. Depois de todo este aprendizado, ela encontra sua razão de viver: a linha.
E faz o possível para ajudá-la: enfrenta os tecidos mais resistentes, abre os buracos nos locais certos. Mas, quando termina seu trabalho, a misteriosa mão da costureira torna a colocá-la em uma caixa escura; depois de tanto esforço, sua recompensa é a solidão.
Com a linha, entretanto, a história é diferente: a partir deste momento, passa a ir a todos os bailes e festas.
by Machado de Assis

Sobre a Daspu, o Putas Dei e o respeito que merecemos

Eu estava procurando alumas garotas de programa pra comentar como ficaria o mercado delas durante a Copa. Dezenas de garotas desligaram o telefone na minha cara. Há um medo grande em se assumir puta, em colocar um nome qualquer e em falar como puta, porque puta não tem voz. Tem corpo, mas não tem voz.
Ao contrário de quase todas as outras, a Naty Harper, quis se fazer ouvir e me convidou para o desfile da Daspu. O assunto da Copa ficou pra trás. Sexta feira, 13, era a comemoração do dia das Prostitutas, o Puta Dei. E o desfile não era apenas uma passarela montada pra mostrar novas tendência de roupas curtas e provocantes. O desfile é uma forma de se mostrar prostituta sem vergonha de ser puta.
Quando a apresentadora anuncia o desfile, não se vê aquela fila de mulheres andando em linha reta. Entram todos juntos, mulheres, homens, putas, artistas… A ordem é quebrar a ordem. Quem quis, tirou a roupa. Quem quis, dançou o funk. Quem quis, se divertiu. Eu tive vontade de deixar minha câmera com alguém e ir lá em cima dançar e reforçar o orgulho de liberdade que se via brilhando nas calcinhas, camisetas e seios nus.
Quem fundou a Daspu foi Gabriela Leite, filha, mãe, avó e puta. Uma mulher que não teve medo de dar as caras, que lutou até o último dia da sua vida pelo reconhecimento da profissão. Quem conheceu Gabriela, me falou dela com um brilho no olho. Betânia Melo, puta feliz, conta que sua vida nunca mais foi a mesma depois de Gabriela, que foi com ela que aprendeu a ter orgulho da profissão, parou de se esconder e entrou na briga pelo reconhecimento.
SONY DSC
A falta de respeito e a falta de direitos das putas cruzou comigo na rua, a caminho do desfile. Eu estava ali na Luz, perto da estação Julio Prestes, uma velha área de prostituição. Parei num posto policial pra pedir informação e vi uma senhora de seus 50 anos reclamando pro policial. Ela contava que tinha combinado o programa com o cliente, fez conforme o combinado e logo em seguida ele saiu sem pagar. A mulher ainda ficou com a dívida do motel.
O policial concordava como quem não quer contrariar um louco. Mas não havia o que fazer. Ela não era uma mulher de bem que fora assaltada, ela era um puta. Essas mulheres não tem direitos, é como se ao colocar-se na esquina à procura de clientes, elas abrissem mão de tudo que lhe cabe: a dignidade, a integridade física, e o reconhecimento pelo trabalho feito.
Naquela noite, com as meninas das Daspu, eu aprendi muitas coisas, uma delas é que a puta não vende o corpo. Ela presta serviços sexuais. Essa mudança de vocabulário representa muito porque assegura à mulher que é profissional do sexo, o poder sobre o próprio corpo.
Mesmo que o cara pague, ela ainda é dona do seu corpo e tem poder sobre ele. Ela é uma profissional como qualquer outra e tem direitos. Afinal, trabalhadores não sexuais, como eu, também submetem o corpo a um tipo de serviço, seja ele intelectual ou braçal, para receber o ordenado no final do mês.
O Puta Dei mostra que puta é tão mulher como todas as outras, tão trabalhadora como todas as outras. Betânia fala pra mim, com o queixo pra cima e um sorriso no rosto, que a única diferença é que “nós [prostitutas] temos o ganho que nós mesmas fazemos, nós negociamos o nosso salário. Se você está em um escritório ou em um outro espaço, você não tem toda a liberdade que você tem na prostituição”.
SONY DSC
Quando o time da Daspu sobe no palco pra mostrar sua cara, elas querem reconhecimento, respeito. Naquele momento o verde e amarelo que elas vestiam era o simbolo da briga pelo direito de ser parte do Brasil na Copa.
No Rio, principalmente, o governo tirou garotas de programas do seu local de trabalho e prendeu algumas mulheres, como se o trabalho delas fosse um crime. Não é. Tráfico de pessoas é crime, abuso de menores é crime. Prostituição, não. Quando a mídia e as pessoas criticam o turismo sexual, elas colocam a prostituição no mesmo pacote do abuso sexual. As meninas brigam pelo reconhecimento da profissão, justamente para que elas possam sair dessa margem, desse espaço sempre ligado a crimes, tráfico e abusos.
Enquanto se maquiavam e penteavam os cabelos umas das outras, elas e eles proclamavam seu direito de se prostituir sem  recriminação. “Somos maiores de idade, donas do nosso corpo, e não estamos prejudicando ninguém ao nos prostituir. Temos direito de lucrar como qualquer outro prestador de serviço. Nos deixem trabalhar”. Esse é o resumo de muitas falas.
“Por que a gente é sempre vista como a coitada ou como a pessoa que esta ali pra destruir a sociedade, pra incomodar?” Betânia fala com a ânsia de quem não aguenta mais ficar na sarjeta imaginária das pessoas. As prostitutas foram as primeiras mulheres no mundo a conquistar a independência feminina financeira, a pagar suas próprias contas. Enchendo a boca, a Betânia fala da sua revolta quando ouve as pessoas falarem das prostitutas como coitadas, ou como mulheres prostituídas, que não tiveram outra escolha. “Quem fala isso não é Puta. Meu bem, se você não tá dentro da profissão, então não conta”.
Naquela noite, eu conheci mulheres que tiveram opção. Uma das que estavam lá era Lola Benvenutti, estudante de letras na Universidade Estadual de São Carlos, optou pela prostituição por livre e espontânea vontade e hoje é um dos grandes nomes do mercado.
SONY DSC
Conversando com a Naty, aquela que me chamou pro desfile, ela me conta que se formou em jornalismo, trabalhava com noticias automobilísticas. Naty me apresentou pro seu namorado, “hoje ele veio”. E ainda me falou da sua filha de 14 anos, que sabe da sua profissão e que não tem problemas com isso. “Se for bom pra mim, ta bom pra ela… Tem dia que fica cheio de amiga dela lá em casa me perguntando sobre as coisas.”
“É tudo mulher igual, é tudo mãe, é tudo filha. Tem que parar com isso de achar que é diferente.”Karina Buhr estava no camarim conversando com a gente e, para ela, essa é a mensagem que tem que ficar.
Gabriela já dizia “a prostituta não é uma vagabunda ou então o resultado do capitalismo selvagem, mas sim a linha direta de uma sociedade que morre de medo de mostrar sua sexualidade e consequentemente se sente profundamente ameaçada quanto uma prostituta mostra seu rosto. Como um dia eu mostrei o meu rosto de prostituta, todos ficaram chocados pois perceberam que não era diferente do de outras mulheres.”
Eu confesso que não li o livro de Gabriela Leite Filha, mãe, avó e puta. Mas agora a vontade é inevitável, depois de tantas pessoas falando de Gabriela com o peito erguido, com o orgulho de se saberem privilegiado por terem conhecido essa mulher que lutou tanto pra que a profissão finalmente seja reconhecida no papel e nas ruas.
Ah… Gabriela também não foi puta por falta de opção, ela cursava sociologia na USP e trabalhava em escritório quando largou tudo para viver do próprio corpo.
Mas infelizmente, estando lá, naquele evento incrível, eu senti o que me disse a Naty – que ninguém enxergava o problema delas. Lá, com toda a estrutura, não tinha ninguém de nenhum veículo de mídia. Só eu.
No dia seguinte, muitos veículos soltaram a notícia do acontecimento do desfile, com fotos de arquivo que nem sequer eram do lugar ou do dia do evento. Para o resto das revistas, sites e jornais, o assunto não tinha importância. Pra mim tinha. Talvez  por eu ser uma Gabriela, assim como a Gabriela Leite, assim como a Gabriela Natalia (nome verdadeiro da Lola), veja importância nisso que elas tem pra dizer.
Se eu precisasse resumir em uma frase tudo isso, eu diria apenas que é preciso parar de usar “puta” para ofender, porque essa palavra é um dos melhores adjetivos. “Ela é uma puta mulher, e merece um puta respeito”.
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
SONY DSC
Gabriella Feola

Estudante de jornalismo da USP, apaixonada por músicas latinas, acredita que 'sexo' deveria ser uma editoria, assim como esporte.


Outros artigos escritos por 

O desabafo de Trajano

E eis que José Trajano, da ESPN Brasil, viralizou.

Um vídeo em que ele cita quatro colunistas que instigam ódio circula freneticamente pela internet nestes dias.

Ele enxergou, com razão, uma relação espiritual entre os que xingaram Dilma no estádio e os colunistas que mencionou.

Trajano falou de Demetrio Magnolli, Augusto Nunes, Mainardi e Reinaldo Azevedo, mas poderia falar de muitos outros.

Outro dia li uma expressão do Nobel de Economia Paul Krugman e pensei exatamente no tipo de jornalista da pequena lista de Trajano.

São os “sicários da plutocracia”. São pagos, às vezes muito bem pagos, apenas para defender os interesses de seus patrões.

Os Marinhos, ou os Frias, ou os Civitas, ou os Mesquitas, não podem, eles mesmos, assinar artigos em defesa de suas próprias causas. Então contratam pessoas como as de que Trajano trata.

Muitos leitores, em sua ingenuidade desumana, vêem alguma coragem nos “sicários da plutocracia”.

É o oposto. Ao se alinhar aos poderosos – aqueles que fizeram o Brasil ser um dos campeões mundiais da desigualdade – eles têm toda a proteção que o dinheiro é capaz de oferecer.

Não correm risco de ficar sem emprego, por exemplo. Podem cometer erros grosseiros de avaliação, de prognóstico, de estilo, do que for.

Mesmo assim, estarão seguros porque cumprem o papel de voz dos que podem muito.

Vi em Trajano um desabafo, uma explosão, e entendo por duas razões.

Primeiro, Trajano sempre foi explosivo, temperamental. É um traço seu desde sempre, bem como a paixão pelo Ameriquinha.

Depois, Trajano ecoou um sentimento que representa o espírito do tempo.

Há um cansaço generalizado, uma irritação crescente com os “sicários da plutocracia”. Não apenas pela soberba vazia, pela arrogância de quem sabe que terá microfone em qualquer circunstância, não apenas pela vilania constante.

Mas pela compreensão de que eles representam um obstáculo brutal ao avanço social brasileiro.

Eles estão na linha de frente da resistência a um Brasil menos desigual.

Eles surgem em circunstâncias especiais. Seu papel é minar, perante a opinião pública, administrações populares.

O maior da espécie, Carlos Lacerda, se notabilizou ao levar GV ao suicídio e Jango à deposição.

Eles sumiram nas décadas que se seguiram ao Golpe de 64, por serem desnecessários. O Estado – com os incríveis privilégios e mamatas à base de dinheiro público — estava ocupado pela plutocracia. Já não tinham serventia.
Voltaram quando Lula ganhou, a despeito de todas as concessões petistas fixadas na Carta aos Brasileiros.

Voltaram com o PT, assim como voltariam com qualquer outros partido que representasse ameaça às vantagens de séculos, como livre acesso aos cofres do BNDES e outras coisas do gênero.

Neste sentido, é bom entender que não é algo contra o PT e sim contra o risco, real ou imaginário, do fim das regalias.

Você pode identificar claramente o processo de retorno dos sicários.

O primeiro deles foi Diogo Mainardi, na Veja. Logo depois, também na Veja, mas na internet, apareceu Reinaldo Azevedo.

Não eram conhecidos na elite dos jornalistas, mas ganharam um espaço privilegiado porque se dispuseram a fazer a propaganda, disfarçada de jornalismo, das causas de quem quer que o Brasil continue do jeito que sempre foi.

Aos poucos foram chegando outros, e hoje são muitos.

É um processo curioso: quanto menos votos têm os representantes da plutocracia, mais colunistas da direita vão aparecendo. É como se houvesse a esperança de, uma hora, aparecer um novo Lacerda e resolver o problema.

Mas a sociedade brasileira está cansada de tanta desigualdade, e é difícil acreditar que as lorotas dos sicários vão ter algum resultado parecido com o que houve em 54 ou 64.

O Brasil merece ser uma sociedade nórdica, escandinava, em que ninguém seja melhor ou pior que ninguém por causa do dinheiro, e na qual não haja os abismos de opulência e de miséria.

Os sicários aos quais Trajano se referiu simbolizam o oposto de tudo que escrevi acima.

Desta vez, ao contrário de 54 e 64, não triunfarão – até porque a internet deu voz a quem não tinha e retirou a exclusividade monopolística e predadora dos que favelizaram o Brasil enquanto acumulavam fortunas extraordinárias.

por Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo