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Por que invadir a intimidade do outro nos fascina tanto?

Por que tanta voracidade para invadir a vida alheia?

Não é novo o desejo de bisbilhotar a vida alheia, mas a pós-modernidade deu ferramentas incríveis para isso acontecer. 
O anonimato digital fez com que as pessoas pudessem devanear sobre a vida das celebridades e dos anônimos próximos com mais agilidade, diminuindo o sentimento de culpa (ou de ser flagrado).
Estranhamente, o momento mais sagrado, no qual raramente você será invadido é quando vai defecar. Parece haver um consenso universal que toda a pessoa tem o direito de se resguardar de qualquer intromissão na hora que senta no vaso e se despede dos seus excessos. 
Um outro cenário, menos escatológico, é o quarto do sexo. 
Exatamente por sabermos que essas situações são praticamente invioláveis, queremos invadir essas peculiaridades do comportamento e da mente. Somos capazes de pagar para adentrar essas regiões invioláveis. 
A intimidade é esse espaço onde existe a verdade oculta de uma pessoa, aquela dimensão quase intocada, que promete revelar se ela é única em sua excelência ou tão vil quanto todos os outros. 
Ao olhar pelo buraco da fechadura, há a quase certeza de se surpreender com algum podre que poderá chocar moralmente e, ao mesmo tempo, aliviar o próprio lado obscuro. 


Pro bem ou pro mal, você sabe tudo o que faz na sua intimidade, mas será que o outro faz o mesmo?
Há quem fique só com a primeira parte, se detendo em criticar o quão hipócrita, falsa ou perversa é a outra pessoa desmascarada. Nessa hora, projetamos nossa vergonha pessoal sobre o outro e vemos queimar na fogueira o nosso próprio constrangimento. 
Aquela sensação de que somos uma fraude vem à tona por meio do outro ao ter os seus segredos revelados e isso diminui o próprio medo de ser flagrado. A farsa dele caiu, a nossa (ufa!) continua.
Além de tudo isso, invadir a privacidade de uma pessoa parece nos dar uma sensação de controle, como se eu tivesse tomado a senha da mente dela e conseguido olhar o que só pertencia a ela, como se agora detivéssemos algum poder de barganha, quase que um convite para uma chantagem. 
Invadir a privacidade, nesse sentido, é um atestado de nossa fragilidade, de como nos sentimos pequenos à ponto de precisar constranger o outro para obter o que desejamos. Não é à toa que esse é um dos primeiros passos de todo ciumento.
A verdade é que, numa sociedade na qual se cultiva a inveja, olhar e ser olhado são faces da mesma moeda. 
Quem olha quer ser olhado, quem inveja quer ser invejado. O mecanismo que opera dentro dessa lógica é o da comparação. 
Ao olhar o outro e especular o que se passa na sua intimidade queremos espelhar o mito (para parecer tão importante quanto ele) e derrubá-lo para nos sentir pisando no mesmo chão que a Gisele Bündchen, o Bill Gates, a Gabriela Pugliese ou qualquer figura que teimamos não achar humana por ter mais beleza, dinheiro, fama ou poder que nós. 
Não pense que isso só é válido para celebridades. Vale também para vizinhos, parceiros sexuais e afetivos, amigos e parentes. 
Estranhamente, a intimidade que queremos ver estampada em vazamentos é a mesma que nos amedronta. 
Quando estamos no nosso cotidiano, naquele sábado à tarde, decidindo o que faremos do fim de semana, podemos ficar paralisados, achando que nossa rota está mais sem graça que a do vizinho. Essa identidade acha que a nossa intimidade é sempre menos brilhante do que daquele que admiramos. Não importa quanta agitação, riqueza, beleza ou poder coloquemos na nossa vida, se nos posicionamos dessa forma, o tédio virá nos ameaçar.
O fascínio pela intimidade alheia é um jeito de se distanciar dos próprios medos, tristezas, fracassos, fragilidades. Ao mergulhar na vida dos outros, nos afastamos morbidamente da nossa. 
Amargo, mas confortável, pois há quem não precise de muito e há quem não consiga mais do que isso.
O desejo voraz pela intimidade alheia é uma tentativa de apaziguar a nossa condição humana comum, falha e cheia de teatros e incoerências.
Autor: Frederico Mattos

Papo de homem

Amar e dar gargalhadas do amor
por  Jader Pires

E daí que, no meio do restaurante, começou o escândalo. Já fazia mais de um mês que estávamos saindo juntos, ela era a gatinha do trabalho, a gente parava pra conversar no corredor da cafeteria quase todos os dias. Aqueles encontros encenados, casualmente combinados. Eu a via passar pela minha sala, contava até oito e me levantava. "Olha só, justo você aqui, que coisa da vida, não é mesmo?". 
Rapidinho eu me apaixonei pela garota do trabalho. Quem diria, o papo bobinho ao lado da máquina de café foi virando uma conversa incrível e ela também estava adorando aquele Black Messiah do D'Angelo. No bar, eu tomava suco e ela a melhor cerveja da casa. Toda vez o cara trocava as bebidas e ela ria da minha cara. Eu, bobo, suspirava. A mãozinha dela pousou na minha com aquele vermelho tomate tomando conta das unhas dela e eu percebi que a queria pra sempre.
Manja amor?
Pois então. A gente trocava mensagens engraçadinhas e safadas, ela sabia ser sacana a beça e eu contava as horas pra me afundar na cama da casa dela. Nessas horas, ela era mandona e atlética, nada apressada. Dormia de bruços e pedia pra eu ficar. 
Naquele dia ela disse que precisava ir embora mais cedo, mas que me encontraria no restaurante, como combinamos. Pela janela eu a vi entrando no carro de alguém sem me contar onde ia e com quem ia. Aquilo me preocupou o dia inteirinho, mas eu não teria a audácia de perguntar com quem ela saíra, não queria dar chama a um ciúme que não poderia existir. Mas por dentro eu era só fumaça preta e brasa. 
Perder a gatinha do trabalho? Aquilo me matou um pouquinho no resto da tarde. Fui para casa, botei a melhor roupa, o perfume que ela pirava e arrumei os cabelos. No restaurante, ela estava linda metida em um vestido amarelo que fazia derreter o chocolate da pele dela. Sorridente de orelha a orelha, aparentemente satisfeita. Na outra ponta da mesa, eu, pequeno e duro. Dente apertando dente, segurando os intestinos. Um beijo gostoso, ela já estava tomando uma cerveja e pediu meu suco favorito, adoçou do jeito que eu gostava e tudo o mais. Carinhosa. De mais.
Contou alguma fofoca do trabalho que eu nem ouvi direito e percebeu meus movimentos rápidos, meus olhares estúpidos de um lado para o outro. Pegou minha mão como só ela sabia fazer pra me trazer de volta. Chegou mais perto e me beijou. Comigo no anzol novamente, sorriu e me contou uma piada bobinha, mas engraçada, algo sobre duas lhamas que fugiram e coisa e tal. 
E daí que, no meio do restaurante, desabei a rir. Gargalhava um riso desesperado, daqueles que não se consegue parar. Puxava o ar e mais risada, batia os braços na mesa, me chacoalhava todo. Virou um folguedo conjunto, ela ria comigo, dois tontos às lágrimas. Comecei até a suar, a barriga dela doía como há muito não sentia. A gente repetia a piada e mais gargalhadas chegavam, uma alegria sem igual no universo imaginado.
E daí acabou. A gente olhava de cabeça baixa para a mesa, chacoalhávamos nossas cabeças com um não e o sorriso já meio triste na boca. Soltamos aquele "ai ai" que vem depois de uma chacota incrível. Ela desenhava com a unha na toalha do restaurante, eu limpava os olhos e tirava poeira da minha camisa. A melancolia depois do gozo. Sem graça.
O amor é uma piada.

Papo de homem

Briguilinks>>>

Nosso melhor da semana

Bem-vindo ao novo PapodeHomem!

Um conto de sangue, bits & bytes, suor e lágrimas com a história por trás e guia completo para conhecer e usar o PdH do futuro! Entre no papo →

BASTA! | Como a gente se transforma? #3

Gustavo Gitti responde à pergunta: "Se todo mundo quer se transformar, por que demoramos tanto pra começar o trabalho sujo?" Entre no papo →

Cozinha pra quem nunca cozinhou, passo-a-passo

Acha que nunca vai conseguir fazer seu próprio almoço? Usando os novos Percursos do PdH, sugerimos um caminho pra você. Entre no papo →

Religião é ideologia

[...] Ideologia é religião.

Não é que a religião seja um tipo de ideologia. Não é que a ideologia funcione como se fosse uma religião.

É que religião e ideologia são a mesma coisa: teorias abrangentes que utilizamos para fazer sentido da realidade, sejam elas o cristianismo ou o candomblé, o neoliberalismo ou o marxismo, o método científico ou a psicanálise freudiana.

Todas as pessoas, inclusive eu e você, enxergamos o mundo através de uma ou mais ideologias, e não há nada de errado nisso. (Pelo contrário, é impossível ser a-ideológico.)

É só quando não conseguimos enxergar além das barras de nossa ideologia que ela pode se tornar uma prisão.

Infelizmente, quase ninguém consegue: a gente não acredita no que quer, mas no que PODE.




Um telescópio pode ser usado para enxergar galáxias a milhares de anos-luz de distância, mas nunca poderá ser usado para enxergar a si mesmo. Toda ideologia/religião dá conta de explicar o universo, mas não dá conta de explicar a si mesma.

A solução, como sempre, é mais empatia.

por Alex Castro - Papo de Homem

Papo de homem

Brucutus e mocinhos num mundo além do preto e o branco

O mundo das produções culturais em geral usa como matéria prima a vida cotidiana. O sofrimento e sua superação são os temas mais usados, assim como o modo como entendemos esse sofrimento. 
Esse jogo constitui um fluxo em que realidade e ficção moldam uma a outra, ficando pouco claro quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, embora saibamos que tudo se trata de uma via de mão dupla. É assim que nascem personagens que tanto nos influenciam. 
O entendimento sobre o que é o sofrimento e como lidar com ele, em suma, a filosofia de vida das pessoas, está intimamente ligada ao zeitgeist (termo que se refere às características do tempo e do local onde se vive; o espírito da época). Observando a linha do tempo de filmes dos anos 70 para cá podemos traçar essa mudança de padrões.


 

Se antigamente predominava o jeitão Clint Eastwood, com cara de mau e um pé sempre pronto para chutar o traseiro dos problemas, hoje temos um grupo mais misto, com homens que escolhem uma abordagem diferenciada (mais discursivos, mais empáticos).
Essa mistura indica que estamos numa época de transição, ou que encontramos um meio termo para agir.
Não estou presumindo que homens nos anos 80/70 eram brutamontes incultos e burros. Sim, eles podiam ser inteligentes, mas o estilo era muito mais pragmático. Soluções eram vistas muito mais como ação do que como mudança de perspectiva sobre a realidade circundante.
Quando via um problema o machão setentista/oitentista pensava no que poderia fazer para derrotar as adversidades; as gerações posteriores, entretanto, passaram a ter um olhar mais interno, se perguntando sobre como podiam mudar a perspectiva sobre o problema. Esse jeito de agir (o primeiro citado) moldou o cinema de ação e ao mesmo tempo esses homens foram moldados por ele. 
Esse padrão aparece em diversos personagens, como RamboRockyJohn McClane e outros. 
Imagine um desses sujeitos discutindo direito de minorias, filosofia, ou discutindo relacionamento com a esposa. Sairiam falando que são todos uns frescos tagarelas.
É o protótipo do macho que acha que tudo é simples e que quem reclama de algo não está exigindo um direito ou querendo uma negociação, mas sendo fresco e fracote. Na prática a coisa poderia não ser tão estereotipada quanto os filmes mostravam, claro, mas essa era a imagem passada. 
Isso é o que um brucutu dos anos 80 faz com os problemas. Aguenta seus golpes, mas no final manda-os para a lona
Isso é o que um brucutu dos anos 80 faz com os problemas. Aguenta seus golpes, mas no final manda-os para a lona
Por determinado ângulo é admirável um cara sisudo, com aquela marra de badass, capaz de proteger a si e aos que estão ao redor, sem medo de desafios nem do perigo. Isso deve fazer a cabeça de mulheres, que por mais independentes que sejam hoje, são atraídas por homens com recursos e meios capazes de protegê-las. 
Para esses caras, problemas são comidos no café da manhã, simples assim. 
Se restar algo pendente, uma boa dose de birita no bar com os amigos e falar bastante mal do chefe e do político da vez resolve as coisas. 
Essas características estão sumindo – para o bem ou para o mal, e isso tem a ver com o espírito de nossa época, que vem mudando desde o fim da Guerra Fria. 

A influência dos tempos de guerra sobre o cinema e sobre a personalidade

O afastamento progressivo dos tempos de guerra, que precisam, de fato, de homens belicosos e durões, nos deu uma amolecida. Isso é natural, já que as gerações hoje nascem em meio à relativa paz. Não temos mais um grande medo a compartilhar mundialmente, como a guerra. 
Num nível individual, pode ser que esse estilo esteja falhando como um solucionador de problemas. Ao invés de resolver pepinos, as pessoas acabam achando que é melhor reprimi-los. Talvez isso explique o motivo pelo qual, em homens, a agressividade possa ser um sintoma de depressão. 

O maniqueísmo está sendo deixado de lado

Vivemos também numa realidade muito mais complexa. Em tempos de Guerra Fria, um clima de dualismo rondava as esferas da moralidade e da política. Era o bem e o mal, o preto e o branco. 
Atualmente, num cenário internacional bem mais pacífico, demoramos mais para extrair um padrão moral (certo ou errado) da realidade. Vemos uma enorme gama de cores intermediárias, não apenas o preto e o branco. 
Se os próprios americanos começam a querer eliminar seu maior símbolo do “bem” contra o “mal”, é porque eles não sabem mais tão claramente o que é bom e o que é mau
Se os próprios americanos começam a querer eliminar seu maior símbolo do “bem” contra o “mal”, é porque eles não sabem mais tão claramente o que é bom e o que é mau
Esse, inclusive, é um dos dilemas do Capitão América, tanto nos quadrinhos quanto nos filmes. Ele, um soldado da Segunda Guerra Mundial, foi parar numa época totalmente diferente, cujozeitgeist refuta toda a sua filosofia de vida. 
A partir dos anos 90 passa a diminuir os personagens e as histórias maniqueístas e vem os enredos mais mistos. 
Nossas melhores produções hoje combinam essa confusão na bússola moral, antes apontada somente para o norte. Histórias que nos permitem questionar o que é a virtude e o que é o vício, quem está certo e quem está errado, são as que mais instigam. 
O estilo dos personagens mais atuais indica que estamos repensando a filosofia de vida do macho dos anos 80. A chegada dos brucutus-coração-mole, essa espécie que acaba de ser descoberta, combina elementos um tanto contraditórios entre si, mas cuja combinação resulta numa liga fortíssima quando entrelaçados adequadamente. 
Duas boas referências desse novo universo masculino é o Rocky Balboa do sexto filme da série Rocky e Rust Cohle, da série True Detective. Os dois mantém uma postura badass, mas o primeiro parece sábio, reflexivo e com disposição para os desafios que virão, enquanto o outro é mais pessimista e desorientado. Ambos estão muito mais articulados e falastrões do que o típico brucutu.
Sobre Rocky, basta assistir a esse discurso inspirador para entender o que estou falando. 
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Muitos outros filmes e séries poderiam compor um infográfico recheado de personagens e histórias que ajudam a contar o rumo da filosofia pessoal das pessoas desde a Guerra Fria até hoje. A sétima arte ajuda muito bem a traçar essa jornada na medida em que é espelho e ourives do mundo.
A julgar por esse critério, então, diria que o novo modo de viver e se relacionar com o mundo é estar disposto a ser  prático, rápido e objetivo como uma katana, mas ao mesmo tempo, analítico, disposto ao diálogo e à reflexão, adicionar uma dose de sensibilidade.
De fato, creio que um indivíduo que aprendeu a conciliar essa multiplicidade de traços está preparado para a maioria dos dilemas da vida.


por Felipe Carvalho



Papo de mulher

Ele broxou! O que eu fiz de errado?
“Fred
Tô confusa… mas vou explicar a situação. Conheci um rapaz que me chamou muito atenção. Conversamos bastante até rolar o primeiro encontro, durante conversa vai e conversa vem, descobrimos que, por muita coincidência, ele mora em uma rua por trás da minha.
Então ficamos, muito bom o beijo dele… e, nisso, os dias passaram, a gente ficando e o clima esquentando. No sofá da minha casa, mão vai, mão vem… tudo ótimo. Até que um dia a gente marcou de sair pra casa dele. Eu fui, linda cheirosa, depilada, sabia que ali era o momento e que iria rolar. Foi rolando, nos beijamos, tiramos a roupa, até que ele fez um oral tão bom, que me fez gozar. Mas aí vem a parte pior.
Quando eu ia tirar a cueca dele, estava murcho. Ele havia broxado e me senti péssima.
Fiquei triste e ele mais ainda, nervoso, ansioso, mal olhou pra mim com vergonha. Tentei, de várias formas, levantar o “bicho”. Fui muito compreensiva, ficamos deitados jogando conversa fora, depois tentava novamente com massagens, beijos, carícias e nada.
Mas aí é a questão, no sofá da minha casa só em me beijar ele fica maluco, rapidinho ereto. Por que na hora ele não conseguiu?
Me ajuda, isso não sai da minha cabeça. Conversamos e ele falou que o problema não era comigo. Fico pensando se o problema foi comigo. A mente fica martelando.
Obrigada, Hannah”


Querida Hannah,
Quero tirar essa sobrecarga do seu coração. Não há nada de errado com você e nem com ele, exceto os pensamentos que podem estar oprimindo o rapaz. Mas já adianto, isso não é exclusividade dele. Muitos homens broxam. Em especial quando estão minimamente envolvidos emocionalmente. Então, quero levantar vários pontos que podem ou não ter relação com seu caso específico, mas que valem a reflexão.

A pressão da gostosura e paudurescência

Tenho uma tese que compartilho com os amigos mais próximos. No Brasil, diferente dos EUA, parece haver um pré-requisito para o sujeito abrir o zíper: o pau já tem que estar duro.
É como se fosse um crédito pré-aprovado para deixar a guria tranquila de que é desejável e gostosa. Você mesma comprova isso. Já ouvi de muitas pessoas que se relacionaram com americanos (e os filmes pornôs não me deixam mentir) o pau deles pode sair bem murcho da calça na hora da transa. Essa diferença sutil implica numa não exigência prévia, o pau vai subindo na medida em que a nudez, o toque, o trabalho operacional feminino surge.
Creio que nossa pressão latina – um pouco afobada – criou uma subcultura sexual do pau duro logo de cara e isso pressiona o sujeito naquela fase que ele está tão desajeitado quanto ela para tirar a roupa.
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Outra coisa pouco revelada e que já ouvi de muitas mulheres lindas e altamente desejáveis, é que esse excesso de gostosura muitas vezes cria uma pressão extra por desempenho. É como se o sujeito se sentisse mais confortável num carro popular do que numa Ferrari: se ele derrapar ou não souber dar a partida, isso vai macular sua reputação. O homem não confessa, mas quando a gostosa dos sonhos dele abre as pernas, ele curte a paisagem, mas sente a responsabilidade pesar, pois sabe que é muita areia para o caminhão dele.
Além disso, se a mulher é linda e ele broxa o que isso pode provar sobre a masculinidade dele? Nada, a não ser que ele é ansioso, mas na cabeça do sujeito médio, isso é um medidor da macheza dele. Se a Ferrari engasga, a culpa é do piloto.

O desejo feminino intimidatório

O sonho de todo homem, supostamente, é encontrar uma mulher que não tenha frescuras sexuais e “compareça” sempre que ele quiser, como se fosse preciso apertar apenas um botão. O problema é que ele não sabe lidar com uma “sex machine”, pois a capacidade orgástica dela pode ser ameaçadora perante as limitações do seu pinto.
Aqueles caras compulsivos, que transam até com poste não entram nessa métrica, mas na média, o homem prefere ter a sensação de controle sobre o desejo feminino.
Note que no sofá da sua casa o pau fica duro fácil, mas na hora que o sexo é mais possível não rola. Não há nada de físico que explique isso a não ser a pressão emocional por desempenho que cria um ciclo de cobrança numa personalidade rígida e pouco fluida. Ele fica intimidado exatamente no ponto que poderá ser requisitado para o ato concreto. Enquanto está só na fase de ameaça, não parece haver impedimento.

O ciclo de ansiedade

A broxada é como uma síndrome do pânico. Depois de ter uma primeira crise espontânea, a segunda ocorre por medo de recorrer na anterior e assim interminavelmente, num ciclo de ansiedade que predispõe à próxima broxada. Normalmente, isso se deve a um perfil de personalidade carregada de cobrança, rigidez e certa obsessividade. O pensamento catastrófico é a marca registrada de quem não admite nada fora de seu controle e exige de si e dos outros (secretamente) a perfeição.
Normalmente, é aquele tipo de pessoa que não abre a boca quando contrariado, por polidez, mas que internamente fica se remoendo e repassando o problema interminavelmente numa processadora moral. Não raro se compraz em detonar a própria autoestima porque seu desempenho foi supostamente condenável. É o tipo que não mata nenhum mosquito, mas se cobra com uma disciplina espartana como se fosse um assassino foragido.
É esse ponto que o homem broxado precisa atacar, sua rigidez e vulnerabilidade em falhar, fracassar, adoecer, falir e morrer. O homem que broxa é alguém que, em um sentido profundo, não aceita os limites da existência e da morte.

O performático vaidoso

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Há outro segredo pouco compreendido, mas para validar sua auto-reputação de garanhão, o homem precisa de uma mulher que ateste que ele mandou bem na cama. Para isso, ele usa medidores orgásticos para validá-lo como gemidos, tremores, vagina lubrificada (motivo pelo qual muitos se incomodam com a camisinha). Uma mulher que não corresponde imediatamente ao seu apelo subliminar por feedback já coloca em xeque toda a confiança que ele tem. O que comprova que sua autoestima sexual é sempre muito frágil e facilmente rompida.
Inconscientemente, está brigando com a própria imagem e usa a mulher como um regulador de sua potência. Se ela não está super empolgada, excitada e molhada, ele avalia mal sua performance e não consegue virar o jogo sem implicar numa sucessão de cobranças e ansiedade que os levam à broxada inevitável.
Quanto mais esse homem se exige, por sentir que tem uma boa reputação, mais propenso a broxar, caso algo saia fora do script.

O pinto-rei

Homens não admitem, mas são enlouquecidamente apaixonados por um pinto: o seu. Tire o pinto de um homem e verá a personalidade dele murchar. Pintos moles ou pequenos movimentam uma industria milagreira de machos em crise com o seu valor pessoal. O homem sem seu pinto se sente como um soldado sem um revolver no meio de uma guerra. É como se ele nem existisse.
Chamamos as “preliminares” desse jeito porque elas representam tudo o que vem antes do pau na vagina, é exclusivamente em torno dele que a mágica aconteceria. Os homens não sabem brincar sem pinto, mas as mulheres homossexuais já aprenderam que o grande falo masculino pode ser dispensável e ainda assim tudo rolar lindamente. Só os homens não notaram isso.
Nesse sentido, desconhecem profundamente o que faz uma mulher feliz na cama. Já ouvi mulheres relatarem sexos incríveis com homens impotentes por questões orgânicas (câncer de próstata, diabetes, queda de testosterona). A maneira como nossa cultura apresenta o sexo para as mulheres se converge para uma experiência mais complexa e com várias nuances emocionais que é reforçada na cama, mas não exclusivamente dependente de um pinto funcional. A mulheres menos conservadoras querem alegria, ousadia, desprendimento e interesse genuíno, o pinto duro é só uma entre muitas manifestações possíveis disso.
O casal que eventualmente quiser fazer o teste basta se propor a transar sem que o pinto seja utilizado em nenhum momento e veja milagres de criatividade e empenho acontecendo. A mulher agradecerá e pedirá bis.
Não quero rogar praga em ninguém, mas uma dose de ausência de pinto até ajudaria muitos homens a aumentar o repertório sexual, reforçando uma busca mais profunda por outras dimensões de sua mente e desejo. Quando um homem procura terapia por causa de sua impotência costuma descobrir muito mais do que foi buscar, pois se abre para sua prepotência em suas aspirações sexuais e para a fragilidade perante seus medos, tristezas e receios.

O excesso de preocupação com o outro

Curiosamente as mulheres estranhas, que o homem tem pouca preocupação em agradar são aquelas que menos o ameaçam sexualmente e com as quais menos se preocupam e geram ansiedade. Como ele está mais conectado com seu desejo e pouco incomodado com o que ela gosta ou deixa de gostar, sua performance costuma ser mais desprendida, leve e pouco ansiosa. Broxadas acontecem com menos frequência nesses casos.
Qual costuma ser o subterfúgio de muitos homens na balada para diminuir a pressão sobre si mesmos? O álcool, pois ele atua inicialmente sobre o córtex pré-frontal, responsável entre outras coisas pelo planejamento futuro, senso de consequência e julgamento moral. O que acaba diminuindo o excesso de preocupação com a opinião dos outros.
Paradoxalmente, a empatia, que é uma virtude fora da cama pode se transformar num obstáculo se mal utilizada na hora do sexo. O excesso de checagem obsessiva da satisfação da parceira pode deformar a empatia e transformá-la numa arma contra a própria mente do sujeito. Ao ficar neuroticamente querendo saber, minuto a minuto, como anda ele se desconcentra da real sensação e perde a naturalidade e alegria da situação concreta.
Checar o ibope pode fazer sua audiência cair exatamente porque tentará colocar mais força ou explosão na coisa toda. Sexo, antes de tudo é um espaço de fluidez e pessoas com personalidades rígidas perdem nesse quesito.

A brava e o broxa

Homens e mulheres podem ser tóxicos em suas relações, mas há uma dinâmica sutil particularmente problemática que costuma surgir em casais nos quais o homem entra num ciclo de fragilidade sexual. Aquele casal disfuncional que segue junto repetindo um script onde ele se mostra distante emocional e ela brava, insatisfeita e controladora.
Quanto mais brava ela fica, mais ele se afasta. Então, mais insatisfeita e controladora ela age, e ele recua ainda mais. A impotência dele é um manifesto inconsciente de sua raiva passiva e medo desta mulher, a qual ele não consegue compreender, apesar de fantasiar atender a todos os pedidos insaciáveis dela. Para ele, falta vigor e presença pessoal. Para ela, clareza e capacidade de se saciar emocionalmente com autonomia. Nessa busca por fusão ele recua, não conseguindo se manifestar sexualmente com a pujança que gostaria. Esse não parece ser seu caso, Hannah, mas é bom lembrar os demais leitores.
Então, Hannah, não se martirize e nem cobre dele uma posição final. Muitos caras não voltam a procurar uma garota depois de uma broxada (muitos!) porque simplesmente não conseguem tolerar a ideia de sua fama se espalhar e ele ser conhecido como o fracasso do bairro.
Fique tranquila, saiba acolher esse tipo de derrota imaginária do homem, seja cúmplice na reabilitação moral dele. Jamais culpe a si mesma ou a ele, pois broxar tem pouco a ver com vontade, mas com o desejo de controlar o imaginário sexual, de si e do outro.
Relaxa, de verdade, e faça o mesmo com ele.
* * *

Encontros com o Frederico Mattos

O Fred Mattos realizará um encontro de fim de semana em São Paulo para tratar sobre as emoções e construção de maturidade. Se você quiser conhecer o trabalho dele, é só se inscrever em seu site, o Sobre A Vida.
* * *
Nota: A coluna ID não é terapia (que deve ser buscada em situações mais delicadas), mas um apoio, um incentivo, um caminho, uma provocação, um aconselhamento, uma proposta. Não espere precisão cirúrgica e não me condene por generalizações. Sua vida não pode ser resumida em algumas linhas, e minha resposta não abrangerá tudo.
A ideia é que possamos nos comunicar a partir de uma dimensão livre, de ferocidade saudável. Não enrole ou justifique desnecessariamente, apenas relate sua questão da forma mais honesta possível.
Antes de enviar sua pergunta olhe as outras respostas da coluna ID e veja se sua questão é parecida com a de outra pessoa e se mesmo assim achar que ela beneficiará outras pessoas envie para id@papodehomem.com.br.


por Frederico Mattos



Como eu faço para conquistar aquela gatinha?

Vinte minutos e onze metros. Era o tempo e distância que eu tinha para conseguir conquistar a Ana Carolina, a menina nova da oitava B. Havia duas semanas que ela fora transferida de uma escola do interior de São Paulo para a nossa escola, chamando a atenção imediata do colégio todo.

Parecia uma índia, a pele castanha, olhos levemente puxados para cima, maçãs do rosto fortes, cabelo escuro e liso e bem grosso, reto. Uma franja cortada bem rente às sobrancelhas negras que davam ainda mais destaque aos olhos verdes. Era uma divergência de claro e escuro que deixava intrigada todas as turmas de todas as séries. Quando a Ana Carolina chegou ao colégio, o sossego acabou. Inclusive o meu.
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Papo de homem

Antes de mais nada, tenho aqui um vídeo bem bonito do TED, de uma conversa oferecida pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, sobre os perigos da “história única”.

Quando criança, lia os livros de autores britânicos e, por ter apenas essa referência — a história única — em mãos, quando escrevia suas próprias histórias, contava as tramas de crianças brancas que corriam pela neve e todas referências daquela cultura saxã e distante da sua, nigeriana. depois de tempos, ela teve contato com a literatura africana e compreendeu, enfim, que poderia contar em seus romances o que acontecia com pessoas como ela.

Já na faculdade, nos Estados Unidos, ela ficou impressionada com a falta de conhecimento de sua colega de quarto, que queria saber da música tribal que ela ouvia (e ela sacou da bolsa um disco da Mariah Carey), queria saber como ela — uma africana — aprendeu a língua inglesa para falá-la tão bem, sem saber que a língua que se fala oficialmente na Nigéria é o inglês.




E se a rua fosse um espaço de aventura e exploração?

Às 20h30 em ponto estava na praça da Barra Funda, portando o estranho relógio de bolso que seria meu convite para a aventura, conforme orientado pelo email recebido um dia antes.

Famílias se amontoavam aguardando a partida dos vários ônibus encostados nos arredores, todos com destino a um presídio próximo. Aquelas eram as famílias dos detentos, me explicava o sujeito de chapéu e blazer que desceu de uma kombi branca para me levar ao começo da experiência.

Junto comigo estava minha namorada – o convite dava direito a levar consigo outra pessoa, enfatizando que seria importante não ter medo de altura e estar com calçado próprio para aventura.

Dentro da kombi, recolheram nossos celulares e nos instruíram a sentar no chão do veículo – cuja traseira havia sido modificada e continha apenas um assento dos três originais – para não sermos vistos. A instrução curta não parecia conter dúvidas, apesar de nos gerar várias outras sobre o que viria a seguir.

Após alguns sacolejos e longos minutos, o carro parou e a porta se abriu. Uma mulher esguia vestida de preto, cabelo curto, com um walkie-talkie em mãos, fez com o dedo para ficarmos em silêncio e que a seguíssemos. Os dois homens de chapéu manobraram a kombi e partiram. À nossa esquerda, havia uma espécie de galpão industrial e um enorme esgoto à ceu aberto, que avançava até um grande muro, na base do qual havia uma grade de ferro impedindo a passagem.

À direita, um matagal bastante escuro e uma suspeita trilha de terra, pela qual nossa guia se apressava a deslocar antes que houvesse tempo para qualquer pergunta.

Em poucos minutos estávamos em mato fechado, descendo um pequeno morro em direção ao esgoto, com seu fedor invadindo nosso olfato. Parecia que o caminho era, quer meu senso de nojo gostasse ou não, por dentro dele. No último momento a guia se esgueirou por entre um pedaço de grade aberto e sumiu de nossa vista. Atravessar aquela passagem foi um voto de confiança no desconhecido.

Do outro lado, retomamos contato com a guia e precisamos sujar as mãos para subir o trecho a seguir, nos enfiando em uma mata ainda mais fechada, na qual avançamos por mais alguns minutos, para depois atravessarmos uma pesada portinhola de ferro que dava acesso a um amplo terreno baldio.

Aquilo não tinha cara de diversão e ninguém estava sorrindo. Estávamos atentos a cada passo dado e ao caminho, apenas.

Ela parou por alguns instantes, pouco antes de uma clareira, checando o movimento de guardas(?!) do outro lado do esgoto, cujas luzes de suas lanternas podíamos ver se mexendo ao longe. Nos deu um sinal para avançarmos com rapidez no momento exato e retomamos a trilha, que se tornava progressivamente mais fechada e perigosa, com buracos, espigões de ferro e o escuro engolindo as últimas nesgas de claridade.

Não sabia há quanto tempo caminhávamos, mas já suava bastante quando demos de cara com uma imensa árvore, na base da qual havia uma pequena escada de madeira. Subimos até alguns galhos mais acima e nos apoiamos em uma superfície de madeira instalada por alguém naquele local.

Em frente se colocava uma ponte feita de rede, como se usa na prática de arvorismo. Se estendia até o outro lado do esgoto, com cerca de vinte metros de comprimento e uns bons quinze metros acima do rio cheio de esgoto.

A ponte dependia do peso do corpo e de tranquilidade para se estabilizar. Ficar nervoso no meio da travessia não parecia nem um pouco aconselhável.

O pequeno sorriso da guia, como que dizendo “confia”, foi o sinal para respirar fundo e atravessar.

2.1the bridge

Do outro lado era possível escutar alguns sons. Escalamos uma outra escada rumo ao topo da árvore, escutando o que agora distinguimos como música, ganhar mais vida. Luzes emitidas por algum tipo de chama bamboleavam por entre os galhos e folhas. Ao fim da escada, uma mão nos puxa para o alto e somos recebidos por um homem de fraque, bigode, cartola e sorriso acolhedor.

Outras seis pessoas estão lá, nessa improvável casa na árvore, sem teto ou paredes.

Encarrapichada num canto, uma simpática dama tira o agradável som de acordeon que escutamos momentos antes. Há velas, uma decoração com objetos indecifráveis e bebida é servida à medida em que nos instalamos no banco improvisado.

Respiro fundo e tiro o casaco. Dou uma golada farta enquanto absorvo a paisagem e recobro o fôlego, sem ter a menor ideia de onde estamos.

Aliás, o que é mesmo que estava acontecendo?

* * *

N. D. Austin foi criado por seus pais em uma pequena ilha isolada no Alaska, distante centenas de milhas do centro urbano mais próximo. Ele acredita que seu trabalho é levar um pouco de amor para partes esquecidas das cidades, é criar experiências que possam tocar as pessoas.

Sentado à minha frente na Merceria São Pedro, ele era também o acolhedor sujeito de fraque a nos receber no alto da árvore e criador da experiência na qual eu estava poucos dias antes.

Trata-se do The Night Heron (é o nome em inglês para o pássaro “savacu”, comum no estados unidos), um projeto trangressivo de exploração urbana, intimidade e aventura.

Parte do que me manteve intrigado, no entanto, foi o modo como rigorosamente nada além do mínimo necessário nos foi explicado antes, durante e após. Atravessar a experiência, em certa medida, foi um ato de fé – em especial na pessoa que me permitiu estar lá.

O trajeto claramente envolvia riscos físicos, parecia flertar com a ilegalidade ao nos levar por zonas proibidas, não tinha marcas ou corporações por trás e com certeza não gerava dinheiro suficiente para se pagar – são um grupo de dez envolvidos e um mês de trabalho para tornar o percurso viável, e cerca de cem pessoas viveram a edição realizada em São Paulo.

Não é arte, não é negócio, não é entretenimento. O quê então?

Nathan diz que prefere apenas oferecer a experiência às pessoas e deixar que cada uma a interprete como achar melhor. “É claro que nos importamos com a cidade, com os rios, com a poluição, com a política e com o espaço urbano, mas não dizemos nada disso para as pessoas. Achamos melhor não condicionar as percepções.”, explica.

O intuito é deixar os convidados presentes no momento, não super-intepretando o contexto ao invés de estar ali, com os cinco sentidos.

* * *

Após uma hora de conversas e festa no alto da árvore, era chegado o fim.

O anfitrião nos perguntou se gostaríamos de oferecer a experiência a outra pessoa. Caso sim, pagaríamos duzentos reais para receber um pequeno relógio de bolso com um número inscrito à mão, ele seria o acesso de outro convidado junto a um acompanhante. Quem desejasse, não precisava pagar nada por ter estado ali.

Descemos, circundamos a base da árvore, caminhos até uma grade de frente pra rodovia, com um buraco aberto no local onde se juntava à parede. Alguns metros adiante, a kombi branca e os dois motoristas de chapéu igualmente branco e blazer estavam nos esperando. O anfitrião e sua equipe ficaram do lado de dentro da grade, se despedindo de nós com um breve aceno e um largo sorriso.

Os seis convidados entraram na kombi e fomos embora.

Uma impossibilidade urbana
Em minha opinião, o mais poderoso de todo o processo foi ser “sequestrado” sem saber a que me propunha, se eu deveria ir com minha identidade que busca se entreter, com a que busca aventura, com a que quer mostrar que é antenado e participa de algo supostamente raro ou, ainda, com aquela engajada politicamente no futuro da cidade.

Me senti torto e sem rumo e isso é uma coisa ótima. Normalmente se pergunta a alguém o quão divertido ou útil foi certa atividade, pra saber se vale ou não à pena irmos também.

The Night Heron me deu boa noite com uma gigantesca interrogação.

Foi um alivío ver como a experiência não se deu em mais um espaço cool, inovador e disruptivo de São Paulo, com as mesmas pessoas cool, inovadoras e disruptivas falando as mesmas coisas para o mesmo grupinho. Fomos para um esgoto fedido e terrenos abandonados. E os convidados seguintes dependeriam dos anteriores.

Questionei N. D. Austin se era um projeto feito pensando em exclusividade e fiquei feliz em escutar que “não, de modo algum, é acima de tudo sobre confiança e abertura. Você não iria em uma experiência desconhecida se não confiasse em quem o convidou antes. É disso que estamos falando aqui, pessoas se relacionando diretamente com outras pessoas.”

Em sua visão “turistas são chatos, eles ficam escutando outras pessoas dizendo a eles como é viver onde vivem e fazer o que fazem. Mas não é real (para os turistas), não é a vida deles.”. Pior, diz também que nós somos como turistas apáticos em nossas próprias cidades, andando pelos lugares sem nos importar com eles, tratando os locais públicos como se não pertencessem a ninguém.

Nassim Taleb, em seu livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos“, nos apresenta o termo “turistificação“:

“Turistificação castra sistemas e organismos que apreciam a incerteza ao sugar deles toda a aleatoriedade enquanto gera a ilusão de benefício. (…) Esse é o meu termo para um aspecto da vida moderna que trata humanos como máquinas de lavar, com respostas mecânicas simplificadas e um manual do usuário detalhado.

É a remoção sistemática de incerteza e acaso das coisas, tentando torná-las cada vez mais previsíveis em seus menores detalhes. Tudo em prol do conforto, conveniência e eficiência.”

Esse fenômeno tem invadido todos os cantos de nossas vidas e faz com que os espaços urbanos se tornem locais transacionais, nos quais vamos basicamente para gastar dinheiro (nos entreter) ou ganhar dinheiro (trabalhar).

Ao enxergarmos a cidade de modo tão seco e utilitário, ela de fato se torna hostil e pouco acolhedora.

“Transformação na cidade não vai acontecer com alguém chegando e dizendo, “aqui está como resolver seus problemas de trânsito”, vai acontecer com as próprias pessoas mudando seu comportamento, o modo como vivem e se movimentam fisicamente dentro das cidades.”, N. D. Austin contextualiza.

“Mas é claro que não dá pra garantir transformação nenhuma. O ponto é: se a experiência puder ser intensa o suficiente para deixar uma marca com a qual a pessoa se relacione e questione como ela vê os espaços por onde caminha com outros olhos, meu dever estará feito.”, ele completa casualmente.

Encerramos a conversa, pagamos a conta e nos despedimos.

Obrigado, Nathan e a todos seus amigos sem os quais nada disso teria acontedio, por me levarem numa aventura em minha própria cidade.

Estamos acostumados a frequentar passivamente sempre os mesmos lugares, com as mesmas pessoas e as mesmas expectativas. Mas que tal trocar sua lente? A Heineken faz um convite para nós explorarmos um lugar que pode surpreender: a nossa cidade

Se você mora em São Paulo, a Heineken te encoraja a descobrir novos lugares com o Guia #OpenSP.

Explore sua própria cidade.

GUILHERME NASCIMENTO VALADARES
Interessado em boas conversas, desenvolvimento humano, em criar negócios que não se pareçam com negócios e no futuro do conteúdo. Trabalha com comunidades digitais há nove anos. Nessa encruzilhada surgiram o PdH, o Escribas e o lugar. No G+ e no Twitter.

Papo de homem

Entre o caos e o solzinho do meio da tarde

A gota era de encher copo d’água. Foi uma dessas que acabou de cair em mim, saltitada de alguma goteira na velha telha de plástico que nesse momento me abriga. Ou tenta.

Em casa, as coisas também não vão nada bem. Uma reforma para fazer, o atraso, a poeira, as conversas, a gastança, as desculpas. Xícaras de café se acumulam na pia e, hoje, lavar louça suja é luxo. Pobre de mim. Pior está meu vizinho que foi largado pela mulher. Foi-se embora com o açougueiro que passou também o ponto e agora não dá mais para comprar carne fiado.

Lá se foram mais de três anos de um relacionamento quase perfeito. Era lindo de se ver, eu juro para vocês. Eu chegava e podia pedir qualquer coisa. De músculo a filé mignon. Batia um papo enquanto me cortavam as peças, embrulhavam tudo à vácuo, aquela coisa toda. Ele não cobrava a mais de mim, eu sempre dava o que ele precisava e a convivência era das melhores. Se o ritual não fosse dos mais batidos, acho que até tatuaria o nome dele.

Pobre de nós, do vizinho e de mim.

E deve estar foda para você também, vai, diz pra mim. Trabalho chato da porra, voo atrasado, as reviravoltas das eleições presidenciais que não dão mais sossego e ainda por cima vai ter lei-seca. De novo. Os ateus e os maconheiros e as vagabundas e os pederastas e as sapatões e os travestis do mundo também estão na merda, convocados pelo Gregório e impossibilitados por armários de exercer a mais simples das liberdades que seria a de ser.

Pobres putas tristes, povo desamparado em um doi mil e quatorze que não perdoa. Não deve estar fácil ser da velha guarda nesses últimos tempos. Poetas, escritores, mestres da composição e grandes contribuidores da cultura popular brasileira da segunda metade do último século, aqui não parece mais ser um lugar seguro para vocês. Apresentadores, narradores, dançarinas, profissionais da era de ouro e figurões de outrora. Não está escapando ninguém.

Será que eu estou ficando velho?

Vejamos. Os lugares que eu frequentava já não existem mais, as crianças nascidas nos anos 90 hoje ganham mais que eu e ainda uso um iPhone. Mais retrógrado, só se eu botasse a polícia na rua pra descer o cacete em quem tem novas ideias como usar um Android que não risca ou quem gosta de Tinder e Secret.

Pobre de mim. Caramba, como está fácil reclamar.

O trânsito, as explosões em Gaza e a decapitação no Iraque, o desfile forçado de soldados ucranianos prisioneiros de guerrilheiros pró-russos em Donetsk, a crise energética mexicana, o ebola na África, os prédios que segregam em Londres — ricos pela requintada entrada da frente e pobres pela portinha do beco nos fundos, a cantareira minguando, o Acre inundando, Gilmar Rinaldi, Xuxa Meneghel. Até quando?

Breaking Bad acabou, a taxa de juros, rebelião no Paraná, ser argentino, o Palmeiras vai cair de novo, condomínio fechado, cracolândia, Datena, Arnaldo Jabor, suicídio.

Está tudo a beira do buraco e o que parecia cocaína era mesmo só tristeza.

Menos pro Miguelzinho.

Pra ele, tá tudo bem e o dia foi legal.

* * *

Sim, Miguelzinho é um nome fictício e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.

Jader Pires
É escritor e editor do Papo de Homem. Lançou, nesse ano, seu primeiro livro de contos, o Ela Prefere as Uvas Verdes e outras histórias de perdas e encontros.


Papo de homem

Precisamos falar de pornô

Você chega em casa e abre o computador. Acessa a internet, olha o Facebook, e vai pra um site qualquer, um desses de filmes pornôs. Escolhe o vídeo que tem a imagem mais interessante, bate uma, toma uma água e liga a TV… Normal. Inofensivo. Muitos diriam: saudável.

Mais um dia. Você chega em casa, vai pro computador, acessa a internet e, desta vez, clica em uma dessas reportagens que aparece na timeline. Na imagem que chama para o texto, destaque para uma mulher americana de meia idade: o nome dela é Shelley Lubben.

Bastante revoltada, ela fala de garotas que, durante a gravação de pornôs, foram forçadas a fazer o que não queriam. A reportagem mostra vídeos de mulheres chorando de dor, enquanto os parceiros de atuação não param de meter e machucá-las. Em seguida, ela fala sobre dados de atores e atrizes que morreram de AIDS – afinal, não é aceitável gravar pornô usando preservativos. Shelley mostra também a lista das muitas atrizes que se suicidaram por depressão ou morreram de overdose.

Para ela, tudo isso é reflexo de uma indústria pornô hardcore que vitimiza e danifica permanentemente aqueles que fazem parte dela.

Inclusive ela mesma.

Shelley atuava em pornôs nos anos 90. Depois de ser expulsa de casa e ir trabalhar em uma boate de strip, viu nos filmes uma oportunidade de ganhar mais dinheiro e dar uma boa vida à filha pequena.

Durante os 4 anos de carreira, sofreu agressões. Chegou a perder metade do útero por um câncer causado pelo HPV. Mesmo assim, a atriz só largou a indústria quando contraiu herpes e teve grandes problemas de saúde por que esta se espalhou pelo resto do corpo. Se enxergou alcoólatra e só deu uma guinada na vida pessoal ao casar com um filho de pastor e construir a família tradicional com que sempre sonhou.

Hoje é presidente da Pink Cross Foundation, organização voltada para os trabalhadores do pornô americano, acusa a indústria pornográfica de realizar tráfico sexual e acobertar estupros, além de exibir alguns deles na íntegra.

Eu a conheci clicando em um destes links, e fiquei com isso na cabeça. Ela te mostra uma lado tão feio e tão perturbador do pornô que fica difícil navegar pelos sites ou pensar em assistir aos filmes da mesma maneira. Todas as vezes em que um cara apertar o pescoço da garota, você pensará: “Será que isso é uma expressão de tesão ou de dor? Será que nós, espectadores voyeristas, continuamos consumindo porque é justamente a dor alheia que alimenta o nosso prazer? Será que eu tô contribuindo e sendo conivente com a destruição da vida de algumas dessas pessoas?”

Trabalhando na TV USP, eles me deram a liberdade de fazer uma reportagem sobre o assunto. Afinal, será que no Brasil é assim também? Será que os mesmos problemas da maior indústria pornográfica do mundo também são problemas aqui, na nossa pequena fábrica de pornôs?

Eu fui atrás da Shelley Lubben, de algumas atrizes brasileiras e de mais um monte de gente interessante pra falar sobre o assunto. Foram poucos os que toparam me dar entrevista. O vídeo a seguir, uma reportagem feita e exibida pela TV USP, é o resultado dessa busca.

No Brasil, a indústria pornô não reserva luxos.

Apesar de ser um diretor (e representar a figura do “acusado”), Valter não teve cerimônias em se abrir. Contou sobre os pagamentos miseráveis, sobre as garotas que topam fazer de tudo sem questionar, porque precisam de dinheiro a qualquer custo. O diretor falou ainda sobre a prostituição que anda de mãos dadas com o estrelato na indústria dos filmes. “Há 20 anos, uma atriz entrava num set de filmagem e saia com dinheiro pra comprar um carro novo. Hoje, o dinheiro só dá pra pagar as contas.”

Não é por acaso, portanto, que os entrevistados foram unânimes em afirmar que quase todas as atrizes brasileiras do gênero trabalham como garotas de programa. “Eles me veem num vídeo e aí ligam porque querem sair com aquela mulher do filme”, explicou Patrícia.

A atriz, aliás, foi outra que também conversou conosco sem pudores. Falou dos problemas que teve com algumas produtoras que agem de maneira abusiva, mas deixou igualmente claro que tinha outras opções na vida. Não era de família rica, nem de classe média alta, mas dava aulas de inglês e queria fazer um curso universitário de secretariado. Mesmo assim, escolheu a indústria do sexo: se identificou com a profissão, se sentiu bem sendo desejada, recebendo atenção e não reclama do dinheiro que a atividade rende.

No final das entrevistas, depois de apresentarem todos os problemas, ambos sorriram e explicaram, de maneira bem semelhante, por que continuam na área – a repulsa à rotina de bater cartão e trabalhar de 8h às 18h.

Patrícia disse: “Eu não trocaria pra trabalhar em uma outra coisa, numa dessas salas fechadas…” No dia de sua conversa, Valter, depois de explanar todos os problemas pelos quais as atrizes passam, completou: “É… ainda assim, é bem melhor que trabalhar em escritório, né?”.

Elas estão fingindo
Patrícia garante que gosta da profissão e que até sente prazer em algumas cenas. Por sua vez, Shelley não acredita que seja possível ter prazer fazendo filmes. Shelley é enfática.

“Elas estão atuando! Elas são atrizes, tudo que elas fazem é atuar. – Ahhhhhh eu adooooro. Ahhh eu amo! – MENTIRA!”.

E o desejo e as referências a sexo que vemos na vida das profissionais mesmo quando estão fora das telas – no Twitter por exemplo? Shelley diz que as atrizes precisam se vender como personagens que vivem pro sexo mesmo na vida real, e por isso nunca saem por completo de seus papéis.

Na visão da ex-atriz, a degradação psicológica e a pressão causada pelos desempenhos humilhantes e fisicamente difíceis obriga as garotas a recorrerem ao álcool e às drogas. “Você quer saber se uma estrela pornô é feliz mesmo? Então não escute o que ela diz, só olhe pra vida real dela: indo e voltando de clínicas de reabilitação, flagrada bêbada chorando, perdendo a guarda de seus filhos num tribunal”.

Com essas situações em mente, a ativista não quer apenas que sejam garantidos direitos básicos e segurança aos profissionais que trabalham com filmes. Ela quer o fim da indústria pornô. “Shelley tem muita razão em algumas coisas que diz, mas é uma fanática religiosa. Esse é o problema dela”, diz Valter, católico praticante. Fanática ou não, fizemos o teste que ela propôs: olhamos para a vida real de Patrícia.

Em uma conversa informal, ela contou sobre a relação com a família. Sua mãe e seus irmãos sabem da sua carreira: “minha mãe não deixou de me apoiar”. Nos dias de lazer vive normalmente, conta histórias corriqueiras da sua relação com a família, como ir em quermesse de igreja na época das festas juninas. Ela conta que alguns garotos e homens a reconhecem. Quando está em família, pede pra eles respeitarem seu momento.

Apesar de demonstrar que é possível viver de sexo sem ser emocionalmente demolida, Patrícia sabe que sua situação não é a de uma atriz qualquer. Ela tem nome, fama e 10 anos de carreira. Para as novatas, é muito mais difícil impôr respeito. E essa é a grande diferença.

Meu corpo, minhas regras
Ainda que aquela garota de que você gosta aceite ir ao motel contigo, isso não significa que você pode fazer o que quiser com ela. Mas por que ainda soa estranho ouvir que uma atriz pornô se recusou a fazer sexo anal? E que ela não aceitou apanhar durante uma cena? Ou, em um exemplo mais severo, classificar como estupro o desrespeito a qualquer um desses limites?

Decidir sobre como dispor do próprio corpo é um direito básico de cada um de nós – incluindo as atrizes pornôs e as prostitutas. A impressão de glamour que envolve algumas superproduções faz parecer que todas as garotas são bem tratadas, pagas e protegidas como se deve, mas ainda que o pagamento que ambos os tipos de trabalhadoras do sexo seja relevante, isso não é algo que tire delas a garantia à integridade física e psicológica.

E apesar do foco dessa reportagem recair sobre a questão da mulher na indústria do pornô, isso não quer dizer que são só elas que sofrem. Muitos atores são constantemente submetidos a injeções e remédios para manterem ereção por um período que a natureza não permitiria. Os atores homens, inclusive, são as maiores vítimas da Aids no universo pornô.

Camisinha: usar ou não usar?
A proteção é uma peça chave na discussão sobre o respeito e segurança dos profissionais do sexo. Aqui no Brasil, depois de alguns anos de pressão do Ministério da Saúde, a maioria dos filmes são gravados com preservativo – mas muitos empresários da pornografia alegam que esse modelo não é rentável.

Produtores americanos acreditam que não é isso que o público quer ver e, por isso, garantem que os consumidores não compram filmes do tipo. Shelley rebate dizendo que são os produtores que determinam o que o público vai assistir: se só houver filmes com preservativos, os espectadores só assistirão a filmes com preservativos. E não adianta ficarmos alheios à discussão, pois a decisão dos EUA afeta o mundo todo. Os filmes gravados “para exportação” aqui no país, por exemplo, também são gravados sem preservativo.

Atualmente, as produtoras dos Estados Unidos estão sendo pressionadas a aderir ao uso de camisinha por causa da Medida B, lei aprovada no Estado da Califórnia, coração da indústria pornográfica.

A legislação trabalhista americana já determinava que empresas que submetam profissionais a entrar em contato com fluídos potencialmente contaminantes devem fornecer e aplicar toda a proteção necessária, mas a nova regra especifica que atores e atrizes pornôs estão inseridos nessa legislação.

Para evitar que a camisinha seja obrigatória, as produtoras recorreram à primeira emenda da Constituição americana: acusam a medida B de interferir na liberdade de expressão artística de seus contratados.

Parece muito razoável exigir o uso de preservativos na gravação de filmes. Mas para dimensionar a polêmica, é importante lembrar que a proteção não seria apenas no momento da penetração: de acordo com a Medida B, homens e mulheres deveriam usar camisinhas masculinas ou femininas no sexo oral também.

Pense consigo. Se usar uma camisinha feminina para fazer um sexo oral numa mulher não é algo que normalmente se pratica na vida real, será que a prática deveria mesmo ser obrigatória nos vídeos? Ou seria uma prova de que usar camisinha, não importa em que circunstância, pode ser excitante? É parte da função de um filme pornô participar de um processo educativo para mudar nosso hábito e cultura?

Que outro pornô é possível?
Quantos clichês você vê numa só imagem?
Quantos clichês você vê numa só imagem?
Se como espectadores nós encaramos a questão da segurança, as agressões, cenas extremas e a falta de reconhecimento dos direitos como parte da causa dos danos que podemos perceber entre os membros e ex-membros da indústria pornográfica, também precisamos entrar no debate.

Ao contrário do que pensa Shelley, que quer acabar de vez com os pornôs, eu acredito que a solução não é eliminar os filmes, e sim, a violência e as opressões cometidas dentro de um set.

“O pornô é um microcosmos do mundo em que a gente vive. O que se vê nos filmes é o que se vê no mercado. É como a marca de cerveja competindo pra ver quem faz o comercial mais babaca. Um diretor faz um filme de anal, aí vai o outro e tem que fazer o super super anal e assim por diante…” –Valter

“Não dá pra voltar pro pornô arroz com feijão. (…) Elas usam álcool e drogas porque sabem que não dá pra cumprir certas exigências sóbrias.” –Shelley

Tanto na fala da Shelley quanto na do Valter pode-se perceber a falta de perspectivas que amenizem o problema. Os dois falam sobre a competição cada vez mais agressiva e mais distante do sexo comum: é a cultura do sexo hardcore. As orgias têm que ser cada vez mais numerosas; o freak, cada vez mais freak; e assim o sexo “comum” se torna cada vez menos atrativo comercialmente e, portanto, inviável.

Diretor das antigas, Valter critica a estrutura comum, não concorda com o modelo de produção atual e tem saudades da época em que os filmes eram mais eróticos, mais únicos e feitos em escala menor. “Se você for observar, os filmes seguem todos uma mesma estrutura, 4, 5 posições, ângulos de câmera muito parecidos, e até o ponto de corte chega a ser o mesmo”. Será que não é mesmo possível apostar em um modelo que não seja esse?

Será que não é possível fazer um filme que excite, que instigue, sem machucar? A maior parte da indústria pornô atende determinados grupos de homens héteros e outros grupos de homens gays. E digo ‘determinados grupos’ porque nem todos os homens héteros tem como fetiche ver mulheres com um padrão de beleza questionável, gemendo de maneira mais questionável ainda. Nem todos os homens héteros ou gays acham que os filmes com aquele sexo exagerado e tão claramente atuado é o que se pode ter de melhor num filme pornô.

Que tal pensar em algo que possa valorizar mais o casal, em que a interação e fetiches sejam mútuos e não levem em conta só o prazer masculino? E se fossem produzidos filmes em que o homem também seja objeto de prazer (não necessariamente voltados para o público gay)? Será que não é possível que o público lésbico seja de fato atendido, sem ficar refém do pornô em que duas mulheres se tocam com o claro objetivo de satisfação hétero-masculina?

Há até um vídeo em que garotas homo fazem comentários sobre o pornô lésbico main stream:

É possível encontrar filmes e produtoras alternativas, claro, mas ainda em uma quantidade muito pequena, com dificuldade para se manter e, por muitas vezes, com custo acima do pornô comum. Se você não é uma pessoa que se sente plenamente atendida pelo modelo atual e resolver procurar outro tipo, muito provavelmente vai levar três vezes mais tempo buscando um vídeo do que se masturbando.

Uma das alternativas atuais é o site “Make Love, Not Porn”. Criado por Cindy Gallop, pessoa chave na briga por novos modelos de pornô, o site tenta trazer o sexo da vida real para as telas. A criadora incentiva que casais normais façam filmes amadores reais e forneçam esse material para o site. Os visitantes pagam um taxa para assistir ao vídeo por um período determinado (algo em torno de US$5 por 3 semanas) e os usuários que fizeram a filmagem ganham metade dos lucros que o filme arrecadar.

No Brasil, a X-Plastic tem um trabalho relevante – até por ser a única grande produtora de pornô alternativo. Fundada por três integrantes de uma banda de rock, tem nas músicas um forte atrativo, assim como a inspiração na pornochanchada. A fotografia bem cuidada também chama atenção, e as garotas fazem o estilo de pin-ups modernas: tatuadas, com corpo natural e cabelos cuidadosamente diferentes (Patrícia Kimberly, nossa entrevistada, é uma das profissionais que gravam com a X-Plastic).

Alt Porn ou amador. Gonzo ou super produção. Tapas, apertões, puxadas de cabelo… Orgias, vários homens e uma só mulher… todas essas opções podem ser muito excitantes e não têm nada de errado, mas pra isso, é preciso que os envolvidos estejam gostando. Sentir prazer com algum desses tipos de interação é diferente de sentir prazer vendo uma mulher gritar aflita porque a penetração em grupo, os tapas, os puxões estão doendo sem lhe dar nenhum prazer.

Acredito que o ponto não é criar uma cartilha de “pode” e “não pode” dentro do pornô. A intenção desse texto, inclusive, é levantar o questionamento sobre os padrões que temos hoje. Creio que seja preciso encontrar um ponto de equilíbrio que garanta o bem estar dos profissionais, seja economicamente rentável e que, ao mesmo tempo, não criminalize as práticas sexuais de alguém.

O sexo agressivo não é, necessariamente, errado. O sexo com abuso é.

Como a Patrícia disse pra gente: “Enquanto eu estiver gostando e enquanto eu estiver tendo prazer, tudo vale.”

Gabriella Feola
Estudante de jornalismo da USP, apaixonada por músicas latinas, acredita que 'sexo' deveria ser uma editoria, assim como esporte.