Papo de homem

Amar e dar gargalhadas do amor
por  Jader Pires

E daí que, no meio do restaurante, começou o escândalo. Já fazia mais de um mês que estávamos saindo juntos, ela era a gatinha do trabalho, a gente parava pra conversar no corredor da cafeteria quase todos os dias. Aqueles encontros encenados, casualmente combinados. Eu a via passar pela minha sala, contava até oito e me levantava. "Olha só, justo você aqui, que coisa da vida, não é mesmo?". 
Rapidinho eu me apaixonei pela garota do trabalho. Quem diria, o papo bobinho ao lado da máquina de café foi virando uma conversa incrível e ela também estava adorando aquele Black Messiah do D'Angelo. No bar, eu tomava suco e ela a melhor cerveja da casa. Toda vez o cara trocava as bebidas e ela ria da minha cara. Eu, bobo, suspirava. A mãozinha dela pousou na minha com aquele vermelho tomate tomando conta das unhas dela e eu percebi que a queria pra sempre.
Manja amor?
Pois então. A gente trocava mensagens engraçadinhas e safadas, ela sabia ser sacana a beça e eu contava as horas pra me afundar na cama da casa dela. Nessas horas, ela era mandona e atlética, nada apressada. Dormia de bruços e pedia pra eu ficar. 
Naquele dia ela disse que precisava ir embora mais cedo, mas que me encontraria no restaurante, como combinamos. Pela janela eu a vi entrando no carro de alguém sem me contar onde ia e com quem ia. Aquilo me preocupou o dia inteirinho, mas eu não teria a audácia de perguntar com quem ela saíra, não queria dar chama a um ciúme que não poderia existir. Mas por dentro eu era só fumaça preta e brasa. 
Perder a gatinha do trabalho? Aquilo me matou um pouquinho no resto da tarde. Fui para casa, botei a melhor roupa, o perfume que ela pirava e arrumei os cabelos. No restaurante, ela estava linda metida em um vestido amarelo que fazia derreter o chocolate da pele dela. Sorridente de orelha a orelha, aparentemente satisfeita. Na outra ponta da mesa, eu, pequeno e duro. Dente apertando dente, segurando os intestinos. Um beijo gostoso, ela já estava tomando uma cerveja e pediu meu suco favorito, adoçou do jeito que eu gostava e tudo o mais. Carinhosa. De mais.
Contou alguma fofoca do trabalho que eu nem ouvi direito e percebeu meus movimentos rápidos, meus olhares estúpidos de um lado para o outro. Pegou minha mão como só ela sabia fazer pra me trazer de volta. Chegou mais perto e me beijou. Comigo no anzol novamente, sorriu e me contou uma piada bobinha, mas engraçada, algo sobre duas lhamas que fugiram e coisa e tal. 
E daí que, no meio do restaurante, desabei a rir. Gargalhava um riso desesperado, daqueles que não se consegue parar. Puxava o ar e mais risada, batia os braços na mesa, me chacoalhava todo. Virou um folguedo conjunto, ela ria comigo, dois tontos às lágrimas. Comecei até a suar, a barriga dela doía como há muito não sentia. A gente repetia a piada e mais gargalhadas chegavam, uma alegria sem igual no universo imaginado.
E daí acabou. A gente olhava de cabeça baixa para a mesa, chacoalhávamos nossas cabeças com um não e o sorriso já meio triste na boca. Soltamos aquele "ai ai" que vem depois de uma chacota incrível. Ela desenhava com a unha na toalha do restaurante, eu limpava os olhos e tirava poeira da minha camisa. A melancolia depois do gozo. Sem graça.
O amor é uma piada.

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