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Tucanos de bico longo, o povo de bico seco, por Carlos Tautz
Fosse o Brasil uma república madura e São Paulo não estaria à beira de um racionamento de água ou, na pior hipótese, da falta absoluta do líquido. À essa altura, jogar a culpa pela crise do abastecimento apenas numa suposta má vontade de São Pedro é esperteza política e medo, às vésperas de eleições para os executivos estaduais e federal, de que fique ainda mais evidente a omissão do PSDB nessa área, após mais de 20 anos de administrações tucanas ininterruptas no mais rico estado da federação.
De Covas a Alckmin, passando por Serra, só aos tucanos deve ser imputada administrações tremendamente anti-ecológicas, em traição aberta às propostas ambientais que o PSDB dizia defender quando da sua fundação há quase 26 anos.
Tivéssemos um Executivo estadual dedicado somente à causa pública; o Legislativo, vigilante; o Judiciário, independente; o Ministério Público, corajoso; e a imprensa, apartidária, e há pelo menos 20 anos, quando os primeiros estudos apontavam os problemas na Cantareira, já se teria exigido que esses tucanos de bico longo compromissos legais e administrativos para garantir que a população não ficasse de bico seco.
Foto: Nelson Antoine / Fotoarena / Estadão Conteúdo
A Cantareira atende quase um terço da população paulista, já alcançando os 40 milhões, e merece muito mais do que tem recebido dos tucanos: um plano diretor (inclusive com reuso de sua água), despoluição, manutenção das áreas ciliares dos reservatórios, administração da ocupação do entorno. Além, é claro, da um controle democrático que impeça o uso do que resta do manancial de acordo com o calendário eleitoral, para que os atuais 10% dos reservatórios não se extingam até outubro e a falta de água influencie a eleição dos sucessores do governador paulista e de Dilma Rousseff.
Fossem estas instituições minimamente democráticas e o problema gerado há décadas por Covas, Serra, Alckmin sobre a Cantareira já teria ganho no Congresso e nos jornais a mesma dimensão que recebe a Petrobras, como merecem todos os escândalos provocados pelo PT.
Também estaria sob a lupa de parlamentares e jornalistas a opção – dos pontos de vista técnico, econômico e ambiental - de a Sabesp, empresa de recursos hídricos de São Paulo, comprar por R$ 80 milhões as bombas que vão sugar o “volume morto”, a água que resta no fundo da Cantareira, e que normalmente não é captada.
Mas, como o Executivo e o Legislativo paulistas só se prestam à estratégia nacional, o Judiciário é submetido ao governador, o MP prefere escândalos midiáticos do que causas estruturantes e a imprensa assumiu definitivamente partido, continuam blindados aqueles que precisam ser responsabilizados por colapso hídrico à vista.
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.