Em 99% da web, tentar dialogar na caixa de comentários é como jogar xadrez com pombo. Não adianta, no final ele vai cagar no tabuleiro, derrubar tudo e sair voando.
Em alguns pouquíssimos locais, é diferente.
No curso sobre como cultivar comunidades digitais que ofereço (“Círculos de confiança“), explico sempre: um comentário é bem mais do que aparenta.
Ele é uma janela por meio da qual podemos acolher, escutar e nos conectar a outras pessoas de modo bastante concreto. Não raro gasto dez ou quinze minutos redigindo apenas uma única resposta, assim como fazem os outros caseiros. Essa disposição transparece na fala, que tende a ser respondida de outro modo e o exemplo gera um efeito cascata positivo. O que pode parecer tempo perdido logo torna todo o ambiente mais favorável.
No entanto, só sabemos que a coisa toda realmente vale à pena quando recebemos emails como esse do Daniel Chaim, escrito depois de participar dos comentários no artigo “Room to breathe: é de meditação que as escolas precisam?“:
Olá, Gitti!
Tô aqui pra agradecer muito a sua resposta ao meu comentário.
Quando fiz esse comentário, eu estava passando por dificuldades durante a prática de meditação (e por isso andava cético). Pensava que para conseguir resultado durante a cultivação, eu deveria aplicar um esforço tremendo pra manter minha mente sem pensamentos. Literalmente brigava com eles. E de tempo ao tempo, fui pesquisando mais sobre, li textos budistas, comprei um livro do Padma Samten de um sebo perto de casa e por conta própria comecei a meditar novamente. Desta vez, estou sentindo os benefícios que a familiarização da mente está me providenciando. Finalmente encontrei um jeito de encarar minha ansiedade, sem brigar com meus pensamentos, mas reconhecê-los como fruto da mente.
Sei que corri um risco de não praticar do jeito certo o shamatha, mas li e me informei o bastante pra poder finalmente sentir os efeitos da meditação. Realmente, teria sido mais fácil recorrer a um professor, e realmente procurei. Só que, vou ser sincero: não possuía a grana pra poder frequentar o tal curso de meditação. Por essa razão, fiz por conta própria.
Independentemente, sempre corremos atrás da nossa paz, e corremos ainda mais durante tempos difíceis, certo? A prática me ajudou em todos os sentidos, seja na relação que eu tenho com a minha vida, tanto quanto na relação que eu tenho com a minha namorada. E por isso eu agradeço pela educação de ter me respondido, há 2 meses atrás, pois me impulsionou a ter mais conhecimento sobre a prática. E agradeço pelo post do “Para começar a meditar…” também.
Se não fosse pedir demais… Mas já pedindo: teria algum livro em especial pra aprimorar a prática do silêncio? Ou algum livro que indicasse a prática de outras meditações, como a metta ou a vipassana?
Obrigado de novo e perdão pelo tempo perdido!
Nós que agradecemos, Daniel.
Aproveito pra compartilhar boas práticas básicas adotadas por nós ao comentar:
lembrar que a maior parte da comunicação é não-verbal e nos comentários só temos isso, o verbo
perguntar e checar antes de pressupor e julgar – a sua interpretação é apenas isso: uma interpretação baseada em pressupostos, limitada
valorizar os pontos interessantes da fala do outro e faça melhores críticas para ser melhor ouvido
usar foto e nome reais
ao invés de enxergar um apelido e fotinha, pensar na pessoa inteira do outro lado
escrever de modo que não seja um problema se o que você disser se tornasse capa do G1 amanhã
se estiver em surto, não responder nada – faça o teste de esperar um dia e volte na mesma discussão, você vai rir com o gravidade com que a tratou um dia antes
evitar ironia e sarcasmo, ambos são mais tóxicos do que aparentam em contextos de diálogo digital
falar de coração
escutar além das palavras
Basicamente isso | crédito: http://rafaelsica.zip.net/
E a melhor e mais básica de todas | crédito: http://rafaelsica.zip.net/
E com você, algum comentário no PdH ou em outro site já o afetou profundamente? O que poderíamos fazer para nossas conversas por aqui serem mais significativas e úteis?
Guilherme Nascimento Valadares
Interessado em boas conversas, desenvolvimento humano, em criar negócios que não se pareçam com negócios e no futuro do conteúdo. Trabalha com comunidades digitais há nove anos. Nessa encruzilhada surgiram o PdH, o Escribas e o lugar. No G+ e no Twitter.