Economia - 20 anos do Real

A imprensa comemora as duas décadas do Plano Real. Pessoalmente, prefiro comemorar os 7 anos do livro de Luis Nassif que desvendou os mecanismos utilizados pelos gestores do Plano Real para enriquecer com a troca de moeda exatamente como Rui Barbosa e seus acessores fizeram durante o Encilhamento. Em homenagem aos 20 anos do Plano Real, portanto, republico aqui a resenha que fiz do livro "OS CABEÇAS-DE-PLANILHA".

Apesar de não ser celebridade da Rede Globo, Luis Nassif (http://luisnassifonline.blog.uol.com.br/ ) tem sido um dos jornalistas econômicos mais importante dos últimos 20 anos. Junto com Aloisio Biondi denunciou os abusos da privatização e apontou de forma clara, precisa e didática as falhas do Plano Real. Desafiando os consensos técnicos que preservam a desordem econômica e social brasileira, cuja única virtude é exatamente seu maior defeito (concentrar poder renda na mão de poucos), Nassif já tinha seu lugar garantido no Panteão de intelectuais honestos deste país. Em razão de seu novo livro, OS CABEÇAS-DE-PLANILHA (editoro, 2007), o jornalista merece uma atenção ainda maior.

Quais são as semelhanças entre a política econômica de Rui Barbosa de Fernando Henrique Cardoso? A resposta de Nassif pode ser resumida numa palavra: muitas. Nassif não só identificou as semelhanças como apontou como elas ocorreram e, principalmente, quem foram s maiores beneficiados.

Usando como referência teórica a obra de Friedrich List (Sistema Nacional de Economia Política), Nassif chegou a conclusão que o Brasil teve suas grandes janelas para se tornar um país desenvolvido. Perdeu ambas em razão da ganância oportunista dos responsáveis pela gestão econômica do país.

Antes da proclamação da República, Rui Barbosa se notabilizou em razão da critica a política econômica do Visconde de Ouro Preto. Rui escreveu muitos artigos para dizer que a mesma beneficiava escandalosamente o Banco Nacional do Brasil (que foi criado a partir do Banco Intercontinental, do Conde Figueiredo). Ouro Preto concedeu ao Banco Nacional o direito de emitir moeda e definir o cambio.

Após a proclamação da República, Rui Barbosa substituiu o Visconde de Ouro Preto com a missão de moralizar a administração financeira. Nassif sustenta que o novo ministro das finanças fez exatamente o oposto, ou seja, preservou a concentração do poder de emitir moeda e definir o cambio nas mãos dos Bancos privados. Fez isto sem consultar os demais colegas de ministério. Mas ao contrário de beneficiar apenas o Banco Nacional do Brasil, Rui Barbosa concedeu o privilégio a três Bancos: o primeiro no Rio de Janeiro, o segundo na Bahia e o terceiro em Porto Alegre.

A decisão de Rui Barbosa provou séria objeção dos outros ministros. A controvérsia acabou quando foi aprovada a criação de um banco emissor de moeda em São Paulo.

O dono do Banco emissor no Rio de Janeiro seria o Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, amigo pessoal de Rio Barbosa. Mas o Banco dos Estados Unidos do Brasil criado por Mayrink nasceu sob suspeita de fraude, de falsificação de seu capital. O Encilhamento (como foi chamada a política econômica de Rui Barbosa), foi usado com maestria para alguns poucos brasileiros enriquecerem enquanto o país era levado à bancarrota.

Nassif é enfático ao afirmar que "...os golpes foram montados em cima de emissões primárias de ações. O comprador pagava 10% do valor da emissão; a empresa era lançada. Quando necessitava de mais capital, procedia a novas chamadas. Se o investidor não subscrevesse a nova chamada, perdia direito ao que já havia pago." O resultado da jogada era sempre o mesmo "...as empresas não tinham como reduzir o valor das ações, que estavam amarradas ao valor nominal dos vencimentos. Resultava disso o encalhe dos lançamentos posteriores, inviabilizando as empresas e dando prejuízo integral aos acionistas."

Ainda segundo o autor depois da "...especulação com ações, seguiu-se uma muito mais ampla, sofisticada e intensa com o câmbio, em geral pouco estudada, principalmente após a quebra do Banco Baring Brothers, inglês, especulando com câmbio na Argentina." No Brasil de "...janeiro a abril, tal como Demétrio havia previsto, houve intensa desvalorização cambial, de cerca de 25%, seguida da volta da inflação. De uma taxa negativa de 16,1% em 1887, a inflação chegou a alcançar 84,9% em 1891, quando a especulação atingiu o seu auge."

Luis Nassif esclarece que na verdade "... tinha havido um volume considerável de vendas cambiais a descoberto antes da safra. Os tomadores dos papéis passaram a atuar para forçar a baixa do câmbio. No momento da liquidação, quem tinha vendido a descoberto (isto é, sem dispor da mercadoria) foi obrigado a ir ao mercado adquirir cambiais a preços mais elevados. A corrida dos vendedores a descoberto deflagrou um jogo especulativo pesado, em que as somas jogadas eram sucessivamente elevadas."

A especulação guarda muitas semelhanças com o jogo organizado. Em ambos só os grandes apostadores ganham sempre. No caso do jogo, quem o banca embolsa todas as apostas e paga os prêmios (que geralmente são inferiores ao arrecadado dos apostadores). Num surto de especulação, os grandes Bancos acabam se beneficiando das vulnerabilidades de cada um dos especuladores. Foi o que ocorreu no princípio da República. "Com a dinheirama inundando a economia e as reservas de ouro dos bancos podendo influenciar o mercado de câmbio, o movimento especulativo em torno da Bolsa de Valores atingiu ao máximo."

Ao invés de estancar a sangria da economia real, Rui Barbosa patrocinou a fusão entre o Banco do Conselheiro Mayrink com o Nacional de Figueiredo. A medida agravou a crise. Pessoalmente, entretanto, Rui não foi prejudicado. Em virtude de suas relações perigosas com os banqueiros ele abocanhou a Presidência da Companhia Frigorífica e Pastoril Brasileira e o posto de consultor jurídico da Light and Power Co. Ltda. Em 1893 "...dois anos depois de deixar o governo, Rui estava suficientemente rico para comprar o palacete neoclássico na rua São Clemente, em Botafogo, que pertencera ao Barão da Lagoa".

Durante o Encilhamento, Carlito, o jovem cunhado de Rui Barbosa também ficou rico. Registrou em suas memórias as seguintes palavras, que foram reproduzidas por Nassif:

"Minhas atividades em torno da Bolsa proporcionavam-me resultados que me faziam nadar em dinheiro. Os sucessos eram expostos na nossa rodada como tacadas. De quando em quando, uma de 20, 30, de 50 contos."

As possibilidades do Real eram muito boas. A sociedade havia produzido uma série de consensos que culminou na elaboração da nova política econômica. O quadro internacional era favorável à modernização do país. "A remonetização era um jogo de xadrez com inúmeras possibilidades. Os economistas do Real poderiam ter escolhido o caminho da chamada monetizarão da dívida pública. No vencimento, em vez de títulos, o investidos receberia reais. A dívida seria monetizada, desapareceria, e o mercado teria que se reorganizar para reciclar os recursos, abrindo espaço para investimentos na atividade real."

Não foi o que ocorreu. A exemplo do Encilhamento, o Plano Real foi usado pelos seus idealizadores mais para enriquecer do que para sanar as graves deficiências da ordem econômica e social brasileira. Quando ocorreu a troca de moedas a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso permitiu "...ganhos extraordinários para os grupos que foram antecipadamente informados sobre a lógica de apreciação do real. Era uma jogada irresponsável, mas que aconteceria apenas uma vez, permitindo uma 'tacada' - no jargão do mercado financeira, o golpe aproveitando a oportunidade única, termo, aliás, bastante utilizado por Carlito, o cunhado de Rui, para explicar suas operações." Curiosamente, quando era estudante, Gustavo Franco, que foi o ideólogo do Real, chegou a escrever uma monografia sobre a política econômica de Rui Barbosa.

Em OS CABEÇAS-DE-PLANILHA o jornalista Luis Nassif demonstra as artimanhas empregadas pelos gestores do Plano Real para encher suas algibeiras e corajosamente afirma que:

"Pérsio Arida era eminentemente técnico, via o plano como uma revanche do Cruzado e se preocupava com sua consistência. Só depois que saiu do governo se envolveu com o mercado, enriquecendo-se como sócio do complicadíssimo banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity. A gratidão dos colegas para com ele, e o reconhecimento de que perdera a chance de enriquecer, ao contrário dos demais, foram elementos centrais nas facilidades que encontrou para mobilizar fundos de pensão que permitiram a Daniel Dantas tornar-se um dos vencedores do processo de privatização brasileiro."

"André Lara Resende via o plano como uma forma de enriquecimento e ascensão social."

"Gustavo Franco era o ideólogo, mas casava com brilhantismo conhecimentos históricos, teóricos e de mercado. Era um personagem mais interessante que os demais - Pércio com seu rigor técnico, André com sua ambição de enriquecer."

A obra de Luis Nassif aponta os descaminhos do Plano Real e da privatização. Demonstra como os gestores do mesmo desperdiçaram a segunda oportunidade para o país se tornar desenvolvido (exatamente como ocorreu na época do Encilhamento). O livro desmantela cada uma das mentiras, simplificações, distorções e meias-verdades que foram empregadas na década de 1990 para preservar os juros altos e câmbio superestimado apesar dos seus malefícios para o país (ou por causa dos benefícios pessoais que alguns auferiam). Mas não vou descer aos detalhes. Os interessados devem consultar OS CABEÇAS-DE-PLANILHA.

Do Blog de Fábio de Oliveira Ribeiro

Mensagem da Vovó Briguilina

Sorria, mesmo estando triste
Levante-se, depois de cair
Seja sempre persistente, forte e acima de tudo...
Feliz!

Neymar sugere terapia para imprensa

Fiquei bem mais tranquilo com o jogo de sexta entre Brasil e Colômbia.
Pedreira, como têm sido pedreira todos os jogos, exceto, talvez, o da própria Colômbia frente ao Uruguai.
No resto das partidas todo mundo sofreu,  se descabelou e até chorou, também.
Aliás, empatamos com os argentinos até em bola na trave no finalzinho.
E, francamente, o que tinha de dúvidas sobre a seleção brasileira ter um líder se desfez hoje.
O garoto que era, na bola, este líder, mostrou que pode ser também nas palavras.
A entrevista de Neymar, em nome do time, foi um espetáculo.
Primeiro, pelo mais importante:
- Estou recuperado, não sinto dor.
E a dor tirou 80% dele durante aquela partida. 80% de Neymar não é pouca coisa, não.
Depois, o guri rebarbou o "mi-mi-mi" sobre a "crise  psicológica" da seleção.
- Não temos de ficar pensando em pressão. Estamos jogando no quintal de casa, a torcida é nossa e temos de estar felizes dentro de campo.
Recusou o vedetismo:
- Na minha primeira entrevista coletiva na Copa, eu falei que não queria ser artilheiro da competição, craque, nada disso, só quero o título.
Defendeu o companheiro mais questionado:
-"Fred é jogador que necessita de bola, é o nosso centroavante, o goleador, temos nos cobrado muito para que a gente possa deixá-lo mais na cara de gol. Espero que nesse jogo possa deixá-lo 50 vezes na cara do gol porque sei que ele vai marcar 51 gols".
E a equipe inteira:
-Ninguém está com problema emocional, foi um jogo emocionante e todos ficaram emocionados.
O garoto que não tremeu no pênalti decisivo, que marcou quatro de nossos seis gols e que recebe a carga de 200 milhões de esperanças se portou melhor que muito "sabichão" que espalha regras e desculpas.
Pelé chorou em 1958, ao vencer, chorou em 62 ao se machucar e não poder jogar e foi chorando abraçar Amarildo, que jogou em seu lugar, Amarildo que também se debulhou em lágrimas ao vencer o campeonato.
Que diabos tem de errado em chorar numa decisão?
E o jogo foi uma decisão, todos serão. Daquelas dramáticas.
Chorar só seria um problema se fosse no meio do jogo, quando o desequilíbrio emocional atrapalha o conjunto. Neste quesito, estamos empatados: tivemos uma superação no gol contra de Marcelo logo na estréia e um "apagão" temporário na pixotada de Hulck que deu o gol aos chilenos.
É do jogo.
Tem muita onda com esta história de psicóloga da seleção, até porque este tipo acompanhamento  não tem nada de original, é usado pelas equipes do mundo inteiro, há muito tempo.
O time tem problemas em muitas áreas, inclusive nesta. E pode conviver com eles.
Mas não existe problema psicológico mais evidente do que o daqueles que "entregam a rapadura".
Os mais novos talvez não saibam, mas nosso glorioso time de 1970 estava levando um banho de bola da Inglaterra em 1970, embora o goleiro inglês, Gordon Banks, tivesse feito uma espetacular defesa numa cabeçada fortíssima de Pelé.
Milagre lá, milagre cá, porque Félix, nosso goleiro, também fez o impossível, abafando um "peixinho" doo inglês Lee, da risca da pequena área. Ao defender definitivamente, a perna de Lee o atingiu.
O lance que se seguiu definiu o jogo. O capitão Carlos Alberto Torres deixou a bola e "catou" o inglesinho, que sumiu do jogo.
Acabou o papo de que "não tínhamos defesa".
Coloquei os lances no vídeo abaixo.
Podia ter sido um desastre, uma expulsão que talvez arruinasse o jogo para nós.
Hoje o "capita" seria execrado pelos nossos politicamente corretos cronistas esportivos (inclusive por ele mesmo, que agora está neste papel, embora menos "light") como um "desequilibrado" emocionalmente.
Pois o que eu acho é que o Neymar hoje "catou" a imprensa brasileira, de uma maneira muito mais elegante, quando terminou a entrevista dizendo que não tinha ninguém jogando deprimido, que acha bom o trabalho da psicóloga e sugerindo que os jornalistas também procurassem uma terapia…
Porque numa Copa como esta, onde ninguém ganha ou perde senão no último minuto do jogo, a gente só sabe uma coisa que vai dar.
Var "dar nervoso" em todo mundo.
O Neymar, hoje, foi mais gaúcho que o Felipão.

Autor: Fernando Brito

Musssum vive, na internet

O ex-trapalhão Mussum morreu há duas décadas, mas nos últimos anos virou fenômeno nas redes sociais. Ganhou montagens em que toma o lugar de celebridades ou personagens de filmes. Há memes do "Steve Jobis", "James Bondis", "Sexto Sentidis", "Pink Floydis",  "Nirvanis", "Harry Potis", só para citar alguns. A maioria deles são bem inspirados e divertidos, graças ao carisma e ao rosto fotogênico do finado trapalhão. Não me espantarei se alguém me disser que viu montagens da própria sogra transformada em Mussum.

Não se sabe ao certo quando esses memes começaram, mas uma data serve de marco na atual idolatria ao Mumu da Mangueira. Em 29 de julho de 2009, usuários do Twitter homenagearam os 15 anos da sua morte com o #mussumday, cujo trend topic ficou entre os primeiros do dia naquela rede social.

O #mussumday foi uma homenagem autêntica e comprova as qualidades do artista, que ainda hoje provoca risadas com piadas de 30 anos atrás. Mas as imagens do Mussum compartilhadas pelas redes sociais e estampadas em camisetas da grife Reserva deixam no ar uma dúvida: onde termina a homenagem e começa o achincalhe? Seriam os memes do Mussum um caso de blackface?

Blackface significa pintar o rosto de preto para interpretar um personagem negro, geralmente em performances jocosas ou estereotipadas. Foi muito utilizada nos Estados Unidos no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX por atores brancos que faziam papéis de negros em espetáculos de vaudeville e, mais tarde, no cinema. No primeiro filme falado da história, "O cantor de Jazz", de 1927, há uma blackface clássica.

Inclusive atores negros eram obrigados a usar tinta preta e pintar os lábios de vermelho ou branco para acentuar traços caricaturais.

O termo também é utilizado para designar arquétipos como mammy (criada negra, gordinha, assexuada e dedicada) ou Uncle Tom (o negro gentil, subserviente, religioso e resignado), bem como ilustrações jocosas de negros. A era de ouro dos quadrinhos, entre 1930 e 1950, e as histórias de Tintim, do belga Hergé, produziram inúmeros exemplos de blackfaces.

Às vezes elas aparecem em festas à fantasia ou manifestações populares. Como agora, na Copa, quando torcedores da Alemanha pintaram o rosto de preto imitando ganenses. As fotos teriam sido tiradas durante a partida contra Gana e, segundo a Fifa, serão investigadas para saber se configuram racismo.

É difícil afirmar se os memes são uma homenagem sincera ou se foram criados para provocar risadas e nada mais. Eles têm milhões de autores, cada um com as suas intenções.

A única certeza é que Mussa foi um dos grandes do humor nacional. Seu estilo era espontâneo e qualquer esquete dele é mais engraçado que toda a obra do Porta dos Fundos. Apesar do viés preconceituoso dos Trapalhões e de quase todo humor brasileiro da época, ele não era um personagem arquetípico. Era sambista e beberrão, porém fazia tanto papel de desempregado quanto de homem de negócios e o personagem respondia com firmeza as agressões racistas. "Negão é seu passadis" era uma das respostas que costumava usar.

Resposta à altura de quem não ficaria contente em inspirar blackfaces.

Autor - Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

José de Abreu - Desculpe Dilma


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Copa "esquenta" paquera virtual

Aplicativos com o Tinder e o Grindr tiveram aumento de mais de 50% de público desde o início da Copa

O canadense Clayton James, de 22 anos, está no Brasil com mais três amigos para a Copa do Mundo. Eles vieram não só para acompanhar algumas partidas do torneio e aproveitar o clima de festa, mas também para matar a curiosidade sobre as brasileiras. Para isso, James lançou mão de um aplicativo.
Há um ano, ele usa o Tinder, um programa para celular em que pessoas avaliam os perfis umas das outras e indicam aquelas que despertam seu interesse. Se a atração for mútua, os usuários trocam mensagens entre si para se conhecerem melhor e até marcar um encontro.
"Como a Copa do Mundo atrai um público predominantemente masculino, assim fica mais fácil conhecer garotas", diz James, que chegou a sair com algumas brasileiras que conheceu pelo aplicativo.
"O meu perfil diz que sou do Canadá, e isso parece atrair muitas meninas. Uma delas inclusive parecia mais disposta a me encontrar do que o normal porque disse que nunca tinha conhecido um canadense."
Paquera
James não é exceção. Muitos dos brasileiros e dos 600 mil estrangeiros esperados no país durante a Copa do Mundo estão recorrendo a aplicativos de paquera. O número de usuários só do Tinder no Brasil aumentou quase 50% desde o começo da competição.
"Esperávamos um aumento, mas não tão alto assim", diz Rosette Pambakian, porta-voz do Tinder, que não divulga números exatos.
"Isso fez com que o país superasse a Austrália como o nosso terceiro maior mercado, atrás dos Estados Unidos e do Reino Unido".
Foi por causa da Copa que a paulista Valentina (nome fictício), de 33 anos, resolveu dar mais uma chance ao programa. Ela conta que usou o Tinder quando o aplicativo ficou conhecido por aqui no ano passado, mas que estava quase abandonando o programa porque "o nível caiu muito de uns tempos para cá".
"Adoro conhecer pessoas de outros países e ajudá-las quando estão por aqui. Tentei ser voluntária. Como não consegui, resolvi usar o aplicativo.""Mudei de ideia porque a Copa do Mundo é uma chance de conhecer gente do mundo inteiro", diz ela.
Valentina se encontrou com um suíço e um americano, mas diz ter ficado só no bate-papo nas duas ocasiões.
"Não tem tanto aquela coisa de pegação. Com o suíço, ele levou um amigo e eu, uma amiga, para assistirmos a um jogo num bar. A noite acabou só de manhã, mas na padaria, com todo mundo tomando café da manhã junto", diz.
Superando barreiras
O inglês Stuart Pennycook, de 25 anos, considera que uma das vantagens de um programa de paquera é superar a barreira do idioma.
Isso porque é possível usar um tradutor online para traduzir mensagens e se comunicar com pessoas em outra língua, algo nada prático em um encontro cara a cara.
"Fica bem mais fácil bater papo, mas não resolve tudo. Demorei para entender que 'rsrs' significa 'risos'", diz ele.
Arquivo pessoal/BBC Brasil
O inglês Stuart Pennycook (dir.) diz que o aplicativo ajuda a superar a barreira do idioma
Pennycook se inscreveu no Tinder em março e resolveu usá-lo por aqui não só para conhecer brasileiras, mas também para descobrir os melhores lugares para sair à noite. A estratégia vem dando certo.
"Bem mais meninas retribuíram meu interesse aqui do que na Inglaterra", diz ele.
Pennycook nunca tinha se encontrado com uma mulher que conhecera pelo programa até vir ao Brasil para a Copa. Quando estava em Brasília, levou seus amigos para seu primeiro encontro com uma moradora da cidade e suas amigas. Mas nem sempre a tecnologia garante uma boa noite.
"Foi divertido. Mas também foi mais estranho do que pensava que seria quando conversávamos pela internet. Uma das meninas disse que meu amigo era a cara do príncipe Charles, o que deixou ele bem bravo. Na verdade, ela queria dizer príncipe William, o que é só um pouquinho melhor", diz Pennycook.
"Também tive problemas porque só tinha internet wi-fi no celular, então, quando uma menina marca com você na Vila Madalena (bairro boêmio de São Paulo escolhido com ponto de encontro de muitos torcedores durante a Copa), fica inviável."
A paulista Loana Alves, de 32 anos, também tentou a sorte no Tinder, mas acabou não se encontrando com ninguém. Ela diz que os estrangeiros "são mais lentos" do que os brasileiros.
"Ou estão muito bêbados quando você fala com eles", diz ela.
Fora do armário
Não foram só os torcedores heterossexuais que recorreram a programas de celular durante a Copa. Aplicativos como o Grindr e o Hornet são voltados para o público gay. O Grindr teve um aumento de 31% de usuários no Brasil nas últimas duas semanas.
"Isso não me surpreende", diz Joel Simkhal, criador do Grindr. "Há cada vez mais jogadores saindo do armário, então, sejam torcedores ou atletas, há gays entre eles."
Que o diga o gaúcho Douglas Rodriguez, de 22 anos. Ele diz que, desde que a Copa começou, tem saído "três ou quatro vezes por semana" com homens que conheceu pelo Grindr.
"Tem argentino brotando do chão em Porto Alegre, mas também muitos franceses e americanos, todos muito gentis e bonitos", diz ele.
Arquivo pessoal/BBC Brasil
Para Douglas Rodriguez, o aplicativo é 'cômodo
"Não sou de sair para a balada nem para bar, então, usar o aplicativo pra mim é mais cômodo."
Nesse encontro com diferentes nacionalidades, Rodriguez notou algumas diferenças em relação aos estrangeiros.
"Os brasileiros enrolam demais antes de um encontro, mas depois somem e nem querem saber seu nome. Os estrangeiros são mais objetivos, mas trocam contatos, convidam você para conhecer o país deles. Parecem menos preocupados com o que os outros vão achar."
* Por Rafael Barifouse

Ceará - Eleição 2014

Petistas destacam a candidatura de Camilo Santana

A bancada petista da Câmara Municipal de Fortaleza reforçou, por meio de pronunciamentos na sessão de ontem, apoio à candidatura do deputado estadual Camilo Santana (PT) ao Governo do Estado. Embora os parlamentares representem a maioria da oposição da Casa ao prefeito Roberto Cláudio (PROS), eles afirmam que a nova configuração eleitoral não irá alterar a postura da bancada mediante a gestão do prefeito, pelo fato de o candidato petista ao Governo ter sido indicado pelo governador Cid Gomes (PROS).
"Se nós tivéssemos que decidir ser oposição ou não por conta dessa decisão (de apoio a Camilo), já não seríamos oposição quando o prefeito assumiu, já que o PROS e o PT faziam parte da mesma aliança nacional. Não é pelo fato de Roberto Cláudio apoiar o nosso candidato que vamos mudar de postura. Somos oposição", assegurou Deodato Ramalho (PT) a Carlos Mesquita (PMDB), que especulou que a oposição ficaria calada até o fim do processo eleitoral para retribuir o apoio do PROS a Camilo.
Para o vereador Acrísio Sena (PT), a razão para a existência de um imbróglio de alianças são falhas da legislação eleitoral. Ele utilizou seu discurso para cobrar uma reforma, argumentando que a configuração dos palanques regionais não corresponde à realidade nacional, o que confundiria os eleitores. "Essa configuração não faz com que as pessoas votem em um projeto, mas em figuras individuas por simpatia a A, B ou C", apontou.
O parlamentar destacou que o fim da verticalização dos partidos, isto é, da manutenção das alianças regionais criou "uma verdadeira confusão generalizada nos palanques do Brasil".
Diário do Nordeste

Arte na rua

Ponto cruz enfeita a cidade de Lyon
Também poderia enfeitar as nossas, não é mesmo?
:D

Para acompanhar mais curta a página no Facebook “Urban X Stich“.

Cultura

Palatinik e suas máquinas de criar arte
Abraham Palatnik
Objeto Cinético - 1966

Em 1951, a primeira Bienal Internacional de São Paulo contemplava o dilema. Como considerar as obras de Abraham Palatnik a partir das propostas convencionais de pintura e escultura se estas não se filiavam a nenhuma delas, mas flertavam com ambas?
A questão, em parte, ainda faz sentido e parece ser a vocação de um trabalho original e pioneiro. No caso do artista de 86 anos, potiguar radicado no Rio de Janeiro, ele inventou, mas também demandou que muito se inventasse, desde nomes, qualificações e uma nova compreensão artística.
O legado dessa inovação que se consumou como a arte cinética pode ser apreciado numa retrospectiva de 97 trabalhos no Museu de Arte Moderna paulista, a partir de quinta-feira, 3.
A uma tendência inovadora também em outros países nas experiências dos venezuelanos Jesús Soto e Carlos Cruz-Díez ou do húngaro Vasarely, por exemplo, requeria-se a análise de especialistas.
Foi o crítico Mário Pedrosa, não por acaso um interlocutor frequente, um dos primeiros a atentar para a singularidade do método do artista, este que tornaria as máquinas “aptas a gerar obras de arte”. O pressuposto dos Aparelhos Cinecromáticos, que em 1964 levou aos Objetos Cinéticos, confundiu a Bienal.
Palatnik envolveu-se com o universo matemático e industrial desde o trabalho numa fábrica de motores de explosão em Israel. Tais objetos, impulsionados por eletricidade e semelhantes aos móbiles de Alexander Calder, dos quais se verão vários exemplares na mostra, sintetizam a noção fundamental de movimento, cor, luz e tempo que estabelece não apenas o conceito de sua produção, como também de toda a corrente artística.
Ao longo das décadas e ainda na atividade atual, Palatnik testou e variou as linguagens sem se distanciar do preceito. Depois de rápida passagem pelo figurativo, iniciou a sérieProgressões, com faixas de efeitos ópticos, e a desdobrou com o uso de finas lâminas de madeira jacarandá.
Produziu também mobiliário em que aplicava suas modulações, na tentativa tão habitual nos anos 1950 de popularizar o consumo da arte, a exemplo do que fez Geraldo de Barros. Preocupava-o, mais que o contexto precursor, o do inventor que quer seus feitos partilhados.
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Trânsito

Espaços urbanos são para atender - prioritariamente - o interesse coletivo, não o particular


O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, toma a segunda medida importante para garantir a melhoria do trânsito – e da vida – na cidade. A primeira foi ampliar e fiscalizar o uso de corredores exclusivos de ônibus, medida iniciada por Marta Suplicy e descontinuada por Serra e Kassab. A segunda, eliminar cerca de quarenta mil estacionamentos de automóveis nas vias, para garantir espaço para ciclovias.
 
Sem precisar entrar em detalhes em relação ao problema, que é do conhecimento de todos, temos convicção em afirmar que a política a ser adotada, para melhorar o trânsito e a vida das pessoas em São Paulo, é a de restringir a circulação de automóveis particulares e - no curto, médio e longo prazo - investir em infraestrutura e legislação que priorize o transporte público. Essa restrição não é temporária, mas um caminho sem volta, em cidades como São Paulo. Fugir disso é querer aumentar o problema.
 
Os milhões de carros particulares que circulam diariamente em São Paulo se apropriam de grande parte dos espaços viários e urbanos, muitas vezes com apenas uma pessoa no seu interior. Enquanto isso, milhões de pessoas, nos transportes coletivos, são espremidas nos reduzidos espaços deixados por aqueles.
 
As tentativas de soluções, implantadas nos últimos quarenta anos, como viadutos, mergulhões, elevados e estacionamentos subterrâneos só fazem sentido se dentro de uma política de restrição ao automóvel e favorecimento dos ônibus, táxis, caminhões, motos, bicicletas e pedestres. Fora dessa política, é dinheiro jogado fora, já que a principal causa do problema não é atacada de frente. Quanto mais automóvel em circulação, mais congestionamento, mais obras para permitir a maior circulação de automóveis, mais automóveis em circulação. Esse é o ciclo vicioso que precisa ser quebrado, já que é finita e bastante limitada a capacidade de alocação de recursos pelo poder público.
 
Quais as principais ações, em nossa opinião e de muitos especialistas, a serem desenvolvidas pela Prefeitura e pelo Governo do Estado de São Paulo, tendo como referência o que foi realizado em grandes cidades, como Londres e Paris?
 
- Implantação do pedágio urbano, com a aplicação dessa receita na conclusão dos corredores de ônibus, ciclovias e melhoria das condições para o pedestre
 
- Completar a implantação de corredores exclusivos de ônibus
 
- Elevar as tarifas de estacionamento nas áreas centrais e redução das áreas disponíveis
 
- Ampliar a capacidade da malha física e as operações ferroviárias (trens e metrô)
 
- Implantar malhas de ciclovias e projetos semelhantes ao que existe no Rio e no DF, com a disponibilização de milhares de bicicletas para circulação nas áreas centrais
 
- Ampliar as restrições via rodízio, até a completa implantação do pedágio urbano
 
- Aumentar o rigor na fiscalização e retirar veículos irregulares de circulação
 
- Racionalizar a circulação e os horários de carga e descarga dos caminhões, lembrando sempre que eles são vitais para o funcionamento da cidade
 
- Concluir todo o anel rodoviário de São Paulo, já que uma grande quantidade de veículos tem origem e destino fora da cidade e que não há motivo para circular pelas suas ruas e avenidas
 
As medidas restritivas causarão algum incômodo inicial, especialmente naqueles que acabaram de ascender ao privilegiado círculo dos proprietários de automóveis. No entanto, como elas serão eficazes, não só melhorará muito o transporte público como essas pessoas poderão utilizar seu carro em inúmeras situações, regiões, dias e horários não atingidos pelas restrições e ter a sua mobilidade e conforto em grande parte atendida.
 
O principal: a vida melhorará para todos e a indústria automobilística poderá continuar seu atual nível de produção, sem levar a parcela de culpa que tentam, erroneamente, lhe imputar.
 
Há um entendimento – equivocado - de que primeiro os governos têm que providenciar transporte de massa para, só então, restringir a circulação de veículos particulares. É uma proposta bonita, mas inviável no médio prazo, por ser muito caro e demorado para viabilizar.
 
 
Em cidades como Londres, que têm extensa malha metroferroviária, muito pouca gente deixava o automóvel em casa para usar o transporte coletivo. Somente a restrição aos carros particulares poderia garantir mais espaço para o coletivo. O pedágio urbano e a restrição de estacionamento, em áreas de muito trânsito, foi o que resolveu.
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José Augusto Valente é especialista em Transportes e Logística.
 
Para ler mais de José, clique aqui.

by Augusto Valente - Carta Maior

Brasil - Copa 2014


Mais que Londres

"A Copa do Brasil é bem mais organizada que os os Jogos de Londres de 2012, quando falharam as telecomunicações, a segurança, etecetera..."
David Ranc - especialista francês - em grandes eventos esportivos - 

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Luis Nassif - Economia

Os vinte anos do Real

Há muitas histórias a serem contadas sobre o Plano Real.
O sonho de todo economista financista é comandar um processo de troca de moeda em um país. Ele passa a ter o poder de arbitrar as regras de conversão da moeda velha para a nova. Dependendo da maneira como proceda, poderá criar fortunas do nada.
Foi assim nas Guerras Napoleônicas, com o financista que instituiu o papel-moeda na França, em lugar do padrão ouro. Tornou-se um dos homens mais ricos do mundo, chegou a adquirir alguns estados norte-americanos, antes da bolha explodir.
Foi assim no início da República, quando Rui Barbosa comandou a mudança do padrão ouro para o papel moeda. Beneficiou um banqueiro da época, o seu Daniel Dantas, o Conselheiro Mayrink, conferindo-lhe o monopólio virtual da emissão da nova moeda.
Quando o banqueiro entrou em crise, acabou impondo tantas mudanças no plano original - para não quebrar seu parceiro e sócio - que acabou quebrando o país, no episódio conhecido como O Encilhamento.
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No campo dos negócios, o Plano Real foi inteiramente inspirado no modelo de Ruy Barbosa - mas com a sofisticação permitida pelos novos tempos e novas engenharias financeiras. Aliás, o melhor trabalho sobre o Encilhamento foi do jovem economista Gustavo Franco, ainda nos anos 80. E sua grande interrogação era como Ruy poderia ter montado todas suas operações privadas sem comprometer o plano.
O Real foi implementado por um grupo brilhante de operadores de mercado, dominando as estratégias financeiras e firmemente empenhados em aproveitar o momento para a grande tacada de sua vida.
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Com o fim do Cruzado Novo, havia várias formas de irrigar a economia com a nova moeda. A mais óbvia seria no vencimento dos títulos públicos: em vez de emitir novos títulos e rolar a dívida, o governo poderia determinar seu resgate, entregando reais aos titulares. O país zeraria sua dívida pública e, com a falta de títulos públicos, os reais seriam investidos em papéis privados, ajudando a estimular os investimentos.
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Em vez disso, optou-se por fazer entregar reais só a quem trouxesse dólares de fora. Os economistas do Real se prepararam antecipadamente para fazer essa reciclagem, adquirindo instituições que, assim que o Real foi lançado, saíram na frente captando dólares baratos, convertendo em reais e aplicando em títulos públicos que pagavam juros expressivos.
Por isso, essa reciclagem já seria um grande negócio.
Mas foram além.
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A lógica do Real era conservar a paridade de um por um na relação com o dólar. Quando foi lançada a URV, a ideia era convergir o valor real de todos os produtos para o novo índice, reduzindo as oscilações de preços relativos ao mínimo, para o momento em que o real entrasse na economia - e os preços passassem a ser expressos na nova moeda.
Mas o BC fixou uma regra que, na prática, derrubou o dólar para 85 centavos. Consistia em garantir um teto para o dólar (de R$ 1,00) mas não garantir um piso. O piso seria determinado pelo diferencial entre as taxas externas de juros e as internas.
Lançado o real, imediatamente o dólar caiu para R$ 0,85, encarecendo da noite para o o dia todos os produtos brasileiros, em relação aos importados.
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Alguns meses antes do lançamento do real, um dos economistas, Winston Fritsch, procurou bancos estrangeiros para encontros reservados, no qual descreveu o movimento que o dólar faria quando o real fosse implementado. Convidava-os a entrar no jogo para reforçar o movimento baixista do dólar já que na outra ponta haveria multinacionais comprando dólares para se prevenir contra o medo da desvalorização do real.
Menos de três meses depois, no entanto, o país já exibia déficits externos relevantes. Se houvesse desvalorização cambial, quebraria grande parte das instituições aliadas dos economistas.
Essa armadilha levou o BC a manter por tempo indeterminado a apreciação do real e a segurar a crise das contas externas com as mais altas taxas de juros do mundo. Como conseqüência, matou o mercado de consumo pujante que estava se formando com o fim da inflação; e gerar a maior dívida pública da história.
Mais que isso, matou o próprio sonho do PSDB de governar o país por 20 anos - no cálculo de seus operadores.
Com o fim da inflação, milhões de brasileiros ascenderam ao mercado de consumo. O governo FHC poderia ter antecipado em quatro anos o fenômeno da nova classe C. Mas as taxas de juros praticadas, para segurar o câmbio, mataram totalmente o dinamismo da economia, obrigando os novos consumidores a refluírem para a zona cinzenta do subconsumo.
Os quatro primeiros anos de FHC foram sufocados pela dívida criada no setor público e privado e pelo câmbio apreciado, criando um enorme déficit externo, expondo o país a qualquer crise internacional. Bastava uma crise na Rússia para um terremoto se abater sobre o Brasil.
Quatro anos depois, o câmbio cobrou a conta na crise da dívida externa que praticamente acabou com o segundo mandato de FHC.
Em 2002 Lula foi eleito, o PSDB alijado do poder e, já extremamente ricos, os economistas do Real trataram de procurar outros barcos para remar.
Vinte anos depois, o PSDB serve de novo de mula para o retorno dos financistas que liquidaram com o partido.
Leia Também: Os muitos pais do Real

É Petrobras, é pré-sal é, PT, é Brasil

Ressaca: pré-sal já despeja mais de 500 mil barris/dia goela abaixo na goela conservadora


No momento em que a Petrobrás alcança meio milhão de barris de petróleo extraídos do pré-sal, ouve-se um silencio sepulcral das goelas conservadoras (leia a reportagem de Maurício Thuswohl; nesta pág)

As mesmas que amargam a ressaca  da Copa das Copas.

As mesmas que, há menos de uma semana, trovejavam  contra a cessão de novos  campos à estatal, com mais de 15 bilhões de barris, decidida pela Presidenta  Dilma.

O desconforto é enorme.

A eficiência da empresa em extrair  --aceleradamente-- o óleo existente a seis mil metros abaixo da linha do mar,  comprova o acerto da cessão onerosa.
 
Mas reitera também o regime de partilha que ordena toda a exploração das maiores reservas descobertas no planeta no século XXI – decisão exitosa igualmente  bombardeada pelo conservadorismo e seu dispositivo emissor.

A República dos acionistas,  que pauta o jornalismo  isento, tem alergia a novos investimentos em exploração.

 Explica-se: momentaneamente,  eles podem reduzir o caixa dos dividendos.

 O fato de a cessão ter  transformado a estatal na detentora da segunda maior reserva de óleo do mundo, é desprezível aos olhos do interesse particularista que avoca sua supremacia em detrimento da nação e do futuro de sua gente.

Graças à decisão de Dilma,  a estatal criada por Getúlio Vargas  –cujo legado FHC prometeu dissolver—  passou a dispor de um estoque de 31 bilhões de barris exploráveis.
Pouco abaixo apenas da Rosnet (russa), com 33 bi/barris, mas que será certamente ultrapassada pela Petrobrás, que levita num oceano de reservas estimadas em 100 bilhões de barris.

 Não estamos falando de um detalhe tangencial à luta pelo desenvolvimento brasileiro.

O pré-sal, é forçoso repetir, quando tantos preferem esquecer, mudou o peso geopolítico do Brasil.

É como se o país ganhasse quatro  anos de PIB em petróleo, a preços de hoje  --sob  controle político da sociedade.

Graças ao regime de partilha, essa riqueza será estatalmente direcionada para reverter mazelas seculares incrustradas em seu tecido social.

Não se trata de um futuro remoto, como o demonstra o marco de meio milhão de barris de óleo atingido agora.

O pré-sal já alterou a curva de produção da Petrobras.

 A estatal, que levou 60 anos para chegar à extração  de dois milhões de barris/dia, vai dobrar essa marca em apenas sete anos.

Talvez menos.

A ignorância tudo pode, mas quem desdenha dessa mutação em curso sabe muito bem  o que está em jogo.

Dez sistemas de produção do pre-sal entram em operação até 2020.

Hoje, apenas oito anos após as descobertas, os novos reservatórios já produzem 500 mil barris/dia.

Em 2020 serão mais dois milhões de barris/dia.

A curva é geométrica.

Para reter as rendas do refino  na economia brasileira, a capacidade de processamento da Petrobras crescerá proporcionalmente: de pouco mais de dois milhões de barris/dia hoje, alcançará  3,6 milhões de barris/dia em seis ou sete anos.

Para isso estão sendo erguidas quatro refinarias, simultaneamente.

O conjunto requer  US$ 237 bilhões em investimentos até 2017.

É o maior programa de investimento de uma petroleira em curso no mundo.

E será assim por muitos anos –o que explica os surtos recorrentes de urticária da República dos acionistas e de seu jornalismo operoso.

Os desdobramentos desse ciclo não podem ser subestimados.

A infraestrutura é o  carro-chefe do investimento nacional no próximo estirão de crescimento a ser pactuado com toda a sociedade.

 Mais de 60% do total de R$ 1 trilhão em projetos serão investidos na cadeia de óleo e gás.

Objetivamente: nenhuma agenda política relevante pode negligenciar aquela que  é a principal fronteira crível de um salto do país em cadeias tecnológicas que viabilizem a sua inserção soberana no mercado mundial.

Mas foi  exatamente esse sugestivo lapso que o candidato ‘mudancista’, Aécio Neves, cujo coordenador de campanha será o não menos ‘mudancista’ presidente dos demos, Agripino Maia, cometeu em dezembro de 2013, quando lançou sua agenda eleitoral, já como presidenciável do PSDB.

Como observou Carta Maior naquela oportunidade, em oito mil e 17 palavras encadeadas em um jorro espumoso do qual se extrai ralo sumo, o candidato tucano  não mencionou uma única vez o trunfo que mudou o perfil geopolítico do país.

Repita-se, Aécio Neves lançou uma agenda eleitoral sem a expressão pré-sal.
O tucanato espojou-se no caso Pasadena; convocou fanfarras para alardear ‘o desgoverno’ dentro da estatal, mas não reservou um grão de areia de espaço em sua agenda eleitoral para tratar da grande alavanca estratégica representada pelas novas reservas brasileiras.

A omissão  fala mais do que consegue esconder.

O diagnóstico conservador sobre o país  --e a purga curativa preconizada a partir dele-- é incompatível com a existência desse  incômodo cinturão de riqueza, a encorajar a construção de uma democracia social , ainda que tardia, por essas bandas.

Ao abstrair  o pré-sal  --exceto em confidências de Serra à Chevron, em 2010, quando prometeu reverter a partilha que  incomoda as petroleiras internacionais--  a agenda do PSDB   mais se assemelha a uma viagem de férias à Brazilândia do imaginário conservador, do que à análise do país realmente existente –com seus gargalos e trunfos.

Só se concebe desdenhar dessa janela histórica  se a concepção de país embutida em seu projeto negligenciar deliberadamente certas  urgências.

Por exemplo, a luta pela reindustrialização brasileira, da qual as encomendas do pré-sal podem figurar como importante alavanca, graças aos índices de nacionalização consagrados no regime de partilha.

Ou o salto da escola pública –que só terá 10% do PIB, como decidiu o Plano Nacional da Educação, porque poderá contar  com o fluxo da renda do pré-sal.

Ou ainda a saúde pública, igualmente beneficiada na divisão do fundo petroleiro, que assim poderá ressarcir o corte de R$ 40 bilhões/ano  imposto à fila do SUS pela extinção da CPMF, em 2010 –obra grandiosa da aliança  ‘mudancista’ demotucana.

Reconheça-se, não é fácil pavimentar o percurso oposto ao apregoado diuturnamente pelos pregoeiros do Brasil aos cacos.

A formação do discernimento social brasileiro  está condicionada por implacável  máquina de supressão da autoestima , que não apenas  dificulta a busca de soluções para a crise, como nega à sociedade competência para faze-lo de forma coordenada e democrática.

Melhor entregar aos mercados, aos mercados, aos mercados, aos mercados...

Eles, sim, sabem o que fazer disso aqui.

Recusa-se  aos locais a competência até mesmo para organizar uma Copa do mundo, que dirá gerir as maiores reservas de óleo do planeta, ou construir , uma nação, não qualquer nação, mas uma cujo emblema seja a convergência da riqueza, a contrapelo da lógica documentada por Tomas Piketty.

Com a maturação antecipada da curva do pré-sal  --como indica o marco dos 500 mil barris em extração--  as chances de êxito nessa empreitada aumentam geometricamente nos próximos anos.

Não é uma certeza, é uma possibilidade histórica. Mas o lastro é cada vez menos negligenciável.

Os efeitos virtuosos desse salto no conjunto da economia, porém, exigem uma costura de determinação política para se efetivarem.

Algo que a agenda eleitoral de quem assumidamente se propõe a ser uma réplica  do governo FHC, omite, renega e descarta.

A ver.

por Saul Leblon - Carta Maior