Porque Cristiano Ronaldo não merece ganhar a bola de ouro
Corremos o risco de ver um absurdo no futebol logo no começo de janeiro, mais precisamente no dia 12.
Neste dia, Cristiano Ronaldo poderá ganhar a Bola de Ouro, como o melhor jogador de 2014.
Pode e deve, a rigor.
Ladies & Gentlemen: em pleno ano de Copa do Mundo, premiar um jogador que não jogou nada e foi desclassificado miseravelmente na primeira fase é um acinte.
Copa do Mundo é Copa do Mundo. O resto é menor, bem menor, incluída a Champions League.
Os mais afoitos podem retrucar: “Mas o time não ajudou.” Devolvo: ele não ajudou o time.
Messi, numa equipe nem pior e nem melhor que Portugal, levou-a ao vice-campeonato. Por um detalhe a Argentina não foi campeã: Messi teve a chance na prorrogação, mas a bola que sempre obedece a seus comandos daquela vez se rebelou e saiu para fora.
Entre Cristiano Ronaldo e Messi, Messi sem dúvida.
Mas em ano de Copa o vencedor da Bola de Ouro tem que ser campeão do mundo. Isso quer dizer que o prêmio tem que ir para o jogador que faz companhia a Messi e Cristiano Ronaldo na lista tríplice da Fifa: o goleiro alemão Neuer.
Ladies & Gentlemen: goleiro é em geral uma função desprezada. Desde garotos, os piores da turma são cruelmente empurrados rumo ao gol.
Ninguém gosta de ser goleiro. Você ganha menos do que os outros e em geral só é reconhecido pelas falhas, ou como diz Boss, pelos chickens. (Nota da tradutora: frangos.)
Mas Neuer reinventou a arte de ser goalkeeper. Ele não se limita a defender. É também uma espécie de líbero, um último zagueiro que sabe desarmar adversários e entrega a bola aos jogadores de seu time com classe, calma e precisão.
Trata a “little fat” (nota da tradutora: gorduchinha) como uma amiga ou, mesmo, uma namorada.
E principalmente: é campeão do mundo.
Nada mais justo que a Bola de Ouro ser entregue ao inovador arqueiro alemão.
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura
Sobre o Autor
Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.