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Justiça que tarda não é Justiça

Justiça, ainda que tarde

Transcorreu ontem mais um aniversário da morte do ex-presidente João Goulart, uma das figuras mais injustiçadas na crônica  da República. Foi deposto em 1964 por suas qualidades,  não por seus defeitos.  Pregava reformas de base, algumas promovidas ironicamente por seus algozes e por  seus  sucessores, outras ainda por realizar. Seu destino foi chegar à História antes do tempo.  Quis repetir a trajetória de seu patrono político, Getúlio Vargas, mas por via pacífica. As reformas trabalhistas   de Vargas só puderem ser implementadas porque ele  foi ditador. Jango, apesar das acusações fajutas dos adversários, negou valer-se de outras forças senão  as populares. Jamais imaginou proclamar a República Sindicalista do Brasil, como denunciaram matreiramente. Imaginou apenas  que o povo nas ruas forçaria o Congresso a votar as mudanças necessárias à implantação da justiça social. Quando  a reação conseguiu conquistar a maior parte das forças armadas, recusou  preservar seus direitos com a guerra civil e  o sangue da população. Preferiu o exílio, de onde só retornou morto.
por Carlos Chagas

por Carlos Chagas

A Conspiração das Elites


De vez em quando é bom mergulhar no passado, quando nada para não repetir erros, porque se não nos diz o que fazer, o passado sempre nos dirá o que evitar.

Há mais de quarenta anos vivia o Brasil uma situação de crise iminente. Depois da entusiástica reação nacional ao golpe, em 1961, liderada por Leonel Brizola, entramos em 1964 sob a égide da conflagração. O então presidente João Goulart tivera assegurada sua posse e governava, por força da resistência do cunhado, governador do Rio Grande do Sul e logo depois o deputado federal mais votado da história do país, eleito pela Guanabara.     O problema estava na permanência ativa das forças que tentaram rasgar a Constituição e permaneciam no mesmo objetivo. Uns pela humilhação da derrota, outros por interesse,  estes ingênuos, aqueles infensos a quaisquer reformas sociais – todos se vinham fortalecendo sob a perigosa tolerância de Goulart.  Conspirações germinavam em variados setores sob a batuta de um organismo central, o IPES, singelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, mas, na verdade, um milionário centro de desestabilização do governo trabalhista, erigido em cima de milhões de dólares. Sua chefia era exercida pelo general Golbery do Couto e Silva, na reserva, arregimentando políticos, governadores, prefeitos, militares das três armas, fazendeiros, empresários aos montes, classe média  e até operários e estudantes. O polvo tinha diversos tentáculos, como o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), MAC (Movimento Anticomunista), CAMDE (Campanha da Mulher pelas Democracia), IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e outros, muito bem subsidiados,  que se encarregavam de agir nas ruas.

Claro que a maioria da imprensa dava ampla cobertura a essas  diversas  atividades, sempre escondidas sob a fantasia da defesa da democracia “ameaçada pelas reformas de base pretendidas pelo governo comunista de João Goulart”. Publicidade e dinheiro vivo era o que não faltava, além, é claro, das inclinações pessoais dos barões da mídia.

Do outro lado, organizavam-se as forças que imaginavam estar o Brasil marchando  para o socialismo. O CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), a Frente Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas  e outros.

Depois da ridícula experiência parlamentarista o presidente retomara, através de um plebiscito, a plenitude de seus poderes. Diante da  resistência do Congresso em votar  as reformas, Jango decidiu promovê-las “na marra”. Abria perigosamente o leque, ao invés de realizá-las de per si, uma por uma. Ao mesmo tempo, pregava a reforma agrária, pela desapropriação de terras por títulos da dívida pública;  a reforma bancária, com a estatização do sistema financeiro;  a reforma educacional, com o fim do ensino privado;  a reforma urbana, através da proibição de os proprietários manterem casas e apartamentos fechados, sem alugar;  a reforma na saúde, pela criação de um laboratório estatal capaz de produzir remédios a preços baratos; a reforma da remessa de lucros, limitando o fluxo de dólares que as multinacionais enviavam às suas matrizes; a reforma das empresas, impondo a participação dos empregados no lucro dos patrões e a co-gestão; a reforma eleitoral, concedendo o direito de voto aos analfabetos, aos soldados e cabos. Entre outras.

Contava-se, como piada, haver um túnel secreto ligando as instalações do IPES à embaixada dos Estados Unidos, no Rio. Verdade ou mentira,  os americanos estavam enfiados até o pescoço  na conspiração,  por meio do embaixador Lincoln Gordon e do adido militar, coronel Wernon Walters, antigo oficial de ligação do Exército americano com  a Força Expedicionária Brasileira, na Itália.  Linguista exímio, sabendo falar até mesmo o português do Brasil e o de Portugal, em separado, tornara-se amigo dos majores e coronéis que lutaram na Itália,  agora  generais importantes. E em grande parte,  conspiradores.

A estratégia inicial  era   impedir as reformas de base  e deixar o governo Goulart exaurir-se, desmoralizado, até o final do mandato.   Tudo  mudou quando o presidente se deixou envolver por outra reforma, a militar. Partindo de um inexplicável  artigo da Constituição que limitava a possibilidade de os sargentos se candidatarem a postos eletivos, bem como das dificuldades antepostas pela Marinha para a organização sindical dos subalternos, tudo transbordou. Pregava-se a quebra da hierarquia entre os militares.  Acusada de estar criando um soviete,  a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros rebelou-se, instalando-se na sede do sindicato dos Metalúrgicos. Mais de mil marinheiros e fuzileiros recusaram-se a voltar aos seus navios e quartéis, tendo o governo preferido a conciliação em vez da punição. A ironia estava em que o chefe da revolta, o cabo Anselmo, o mais inflamado dos insurrectos, era um agente provocador a serviço do golpe. Quanto mais gasolina no fogo,  melhor.

Juntava-se a isso a decisão de Goulart de realizar monumentais comícios populares, onde assinaria, por decreto, as reformas negadas pelos deputados e senadores.  Só fez um, a 13 de março, sexta-feira, no Rio, quando desapropriou terras ao longo das rodovias e ferrovias federais, encampando também  as refinarias particulares de petróleo. Naquela noite, na Central do Brasil, e ironicamente diante do prédio do ministério da Guerra, discursaram revolucionáriamente os principais líderes  de esquerda: José Serra, presidente da União Nacional dos Estudantes, Dante Pelacani, dirigente  do CGT, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, Leonel Brizola, deputado federal, e outros. Cada orador sentia  a necessidade de ir além do que pregara o antecessor. Quando chegou a vez do presidente Goulart, não lhe restou alternativa senão superar os companheiros.  Fez um discurso que os historiadores precisam resgatar. Uma espécie de grito de revolta diante das elites, a pregação da independência para os humildes e os explorados. O desfecho estava próximo, demonstrando que,  do lado de cá do planeta, enquanto a esquerda faz barulho, a direita age.  (continua amanhã)

por Carlos Chagas


A HISTÓRIA NÃO TEM PRESSA

Vivemos de modismos. De idéias pré-concebidas. Por que, por exemplo, determinar 100 dias como primeiro prazo para o julgamento de um governo ou de uma governante? Por que não 102 ou 110, ou 200, 500 ou 800? Dirão muitos que a vida é assim. Os casamentos são contados por bodas de prata, de ouro e até de diamante. As guerras, por décadas ou séculos. As religiões, por milênios.

Senão  insurgir-se, Dilma Rousseff deveria dar de ombros para a cascata de análises, interpretações e diagnósticos apresentados pela mídia  no fim de semana, a respeito de seu desempenho na presidência da República. Afinal, a data que interessa mesmo é a de cada dia, com ênfase para o último  de seu mandato.

Para Getúlio Vargas, foi 24 de agosto de 1954, mesmo tendo ele permanecido por 15 anos variadíssimos, numa primeira etapa, e três anos e meio de incompreensões, no segundo.

Juscelino Kubitschek preferiu ressaltar os 50 anos em 5, no começo, para no final fixar-se na data futura que não chegou, de  3 de outubro de 1965, quando voltaria ao poder.  Jânio Quadros jamais imaginou que 25 de agosto de 1961 seria o fim, muito menos João Goulart, de que tudo terminaria no 1 de abril de 1964. Dos generais-presidentes, note-se apenas a seqüência de seus mandatos com dia certo para transmitirem o poder, exceção de Costa e Silva que adoeceu antes. Para Tancredo Neves o destino não deixou um dia sequer, para José Sarney um ano lhe foi surripiado. Fernando Collor imaginou vinte anos, defenestrado em dois e meio, ao contrário de Fernando Henrique, que era para ser julgado depois de  quatro anos e burlou seus julgadores, estendendo o prazo para  oito. O mesmo tempo concedido ao Lula, de olho em  mais oito, ainda que  sem prazo certo para iniciar o retorno.


Essas considerações se fazem por conta da evidência de que a análise da ação  dos presidentes da República não deve ser medida em dias, meses ou sequer anos. A História não tem pressa e não comporta açodamentos, ainda que se apresente pródiga em surpresas.  Dilma pode ter ido bem nos primeiros 100 dias, mas quem  garante que seguirá  assim nos seguintes?  Melhor aguardar.

por Carlos Chagas

A REVOLUÇÃO DE PRIMEIRO DE ABRIL (1)

O dia é hoje, não ontem, como impuseram com medo  da confusão com o dia da  mentira. Não  foi a 31 de março que os militares tomaram o poder, no longínquo 1964. Nesse dia saíram dos quartéis, mas só  a primeiro  de abril o presidente João Goulart deixou o palácio Laranjeiras,  no Rio, passando por Brasília.  Já na madrugada do dia 2  voou para Porto Alegre, de lá tomando o rumo do exílio no Uruguai.

A pergunta que se faz é como tudo pode acontecer sem derramamento de sangue nem respeito às instituições então vigentes.  A resposta clássica é de que elas, as instituições, não valiam mais nada, postas em frangalhos pela conspiração que vinha de muito tempo, liderada pelas forças econômicas apavoradas com a marcha das reformas de base, prometidas por Jango. Dias antes ele havia nacionalizado as refinarias  de petróleo e assinado decreto para desapropriar terras ao longo das rodovias e ferrovias federais, para efeito de reforma agrária.  Prometia participação dos empregados no lucro das empresas, co-gestão  e ampliação dos direitos trabalhistas implantados décadas antes por Getúlio Vargas.

Diversos grupos militares conspiravam alegando a iminência do comunismo ou, pelo menos, do estabelecimento de uma república sindicalista no Brasil. Empresários, na medida da amizade e do conhecimento com generais e coronéis, há muito financiavam a campanha de descrédito do governo, valendo-se dos principais  meios de comunicação, financiados com recursos nacionais e americanos. Os egressos da Escola Superior de Guerra, o chamado grupo da Sorbonne”, com Cordeiro de Farias, Ademar de Queirós, Jurandir Mamede e,chefe de todos, Humberto de Alencar Castello Branco.  Até meses antes, não articulavam a queda do governo Goulart, mas a formação de um esquema militar capaz de impedir um  golpe dado de cima para baixo. Havia o grupo paulista, estabelecido ao redor do governador Ademar de Barros, com coronéis radicais dispostos a prender o comandante do II Exército, Amaury Kruel, se ele não aderisse  à conspiração, compadre que era do presidente da República. No Rio, em torno do general Costa e Silva, funcionava uma espécie de sublegenda da sofisticada “Sorbonne”, militares mais radicais e dispostos ao rompimento da legalidade.  O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, atuava como peão da propaganda anti-Goulart, mas como não sabia guardar segredo,  viu-se taticamente posto à margem de  planos conspiratórios.   Em Minas, depois da adesão do governador  Magalhães Pinto, impulsionado pelo ex-ministro da Guerra, Odilio Denis, preparavam uma ação militar os generais Luís Carlos  Guedes e Olimpio  Mourão Filho, comandando também a Polícia Militar mineira.

Todos os grupos se uniram, mesmo implicitamente, depois do célebre comício na Central do Brasil,a 13 de março, sexta-feira, quando João Goulart discursara como uma espécie de presidente rebelde, prestes a  atropelar a Constituição e o Congresso, infenso às reformas e divido de alto a baixo. No dia 30, contrariando conselhos de correligionários tão díspares quanto Tancredo  Neves, Santiago Dantas  e Tenório Cavalcanti, Jango não cancelou sua ida ao Automóvel Clube, quando discursaria para sargentos do Exército, empenhados em quebrar os rígidos regulamentos da hierarquia castrense. Os da Marinha, junto com marinheiros e fuzileiros navais, já se haviam rebelado de verdade, constituindo um verdadeiro soviete na força. Anistiados em poucas horas, só deram pretexto à oficialidade naval para romper qualquer tipo de diálogo. O ministro da Marinha se demitira, o presidente não encontrou um só almirante do serviço ativo que aceitasse substituí-lo, fixando-se num velhinho  reformado que integrava o Tribunal Marítimo e que ao tomar posse declarara um absurdo “com,o custa derrotar o capitalismo agonizante”.

Goulart foi e, como não podia deixar de ser, empolgou-se com os discursos revolucionários e até superou os demais oradores. Era a linguagem radical que os conspiradores queriam ouvir, como estímulo final  ao golpe.

Faltava apenas a precipitação, de que se encarregou o general Mourão Filho, em Juiz de Fora. Ex-chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira, autor do falso Plano Cohen que serviu de pretexto para a decretação  do Estado Novo, em 1937, tratava-se de um general de Divisão  prestes a passar para a reserva. Comandava a Infantaria Divisionária e pouco depois da meia noite, já na madrugada do dia 31, botou a tropa na rua. Desceria a estrada União e Indústria, ligando a “Manchester Mineira” ao Rio, ainda que com tanques obsoletos e fraca artilharia.  Esperava que outros contingentes militares se rebelassem em todo o país, mas não tinha certeza.

Pela manhã, Jango foi acordado no palácio Laranjeiras com a notícia de uma rebelião limitada a Minas.  Em  Belo Horizonte, o governador Magalhães Pinto ocupara postos de gasolina e mandara prender líderes sindicais, liberando um manifesto considerado insuficiente pelo general Mourão. Logo realizou-se uma reunião do presidente com alguns ministros, mas Jair Dantas Ribeiro, da Guerra, encontrava-se hospitalizado. Substituía-o chefe de gabinete, general Moraes Âncora. O ministro da Aeronáutica sugeriu que uma esquadrilha de caças levantasse vôo e paralisasse  a tropa que descia a serra com bombas incendiárias. O presidente assustou-se: “vai morrer gente, inclusive moradores da região, não vai?”  “Vai”. “Então  não  quero”. Acertou-se que uma tropa do Regimento Escola de Infantaria, aliás, muito maior e mais bem equipada, comandada  pelo general Cunha Melo, deixaria Vila Militar e deteria os rebeldes ainda na  fronteira entre os estados do Rio e de Minas. (Continua amanhã)


Folha de São Paulo confessa que apoiou a Ditadura


Esquerda explodiu carros da Folha que eram usados pela ditadura
A presença de Dilma na festa (?!) da “Folha” foi o aspecto mais comentado pelos internautas nas observações sobre o aniversário de 90 anos do jornal. Eu estava em Buenos Aires, e lá a notícia foi outra. Numa nota de pé de página, o jornal “La Nacion” trouxe, na terça-feira,  informação de que desconfiei a princípio: “Folha” admite que apoiou a ditadura.

Achei que os argentinos não tinham entendido direito o assunto, até porque a nota fazia referência também ao fato de a Folha” chamar a ditadura de “ditabranda”…

Mas leio no blog do Eduardo Guimarães que a “Folha” admitiu mesmo o apoio à ditadura. Admitiu daquele jeito dela. Disse que apoiou o golpe (mas, veja bem, quase toda grande imprensa apoiou)… Disse que carros do jornal “teriam” sido usados por agentes da repressão (mas, veja bem,  “a direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins”).

A “Folha” lembrou-me um pouco o Bill Clinton, ao ser pergunatdo se tinha experimentado maconha na juventude: “sim, fumei, mas não traguei”. Ou, pra ser mais escrachado, a “Folha” lembrou-me da frase do roqueiro Lobão, que meus filhos adolescentes adoram citar: “peidei, mas não fui eu”.

Melhor não dizer mais nada. Fiquem com a narrativa “oficial” publicada pelo jornal.
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A Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o “Estado”, mas apoiou editorialmente a ditadura, limitando-se a veicular críticas raras e pontuais.

Confrontado por manifestações de rua e pela deflagração de guerrilhas urbanas, o regime endureceu ainda mais em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. O jornal submeteu-se à censura, acatando as proibições, ao contrário do que fizeram o “Estado”, a revista “Veja” e o carioca “Jornal do Brasil”, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.

As tensões características dos chamados “anos de chumbo” marcaram esta fase do Grupo Folha. A partir de 1969, a “Folha da Tarde” alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes que exaltavam as operações militares.

A entrega da Redação da “Folha da Tarde” a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella, um dos ‘terroristas’ mais procurados do país, morto em São Paulo no final de 1969.

Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio da “Folha da Tarde” à repressão contra a luta armada.

Lula = Competência

Lembram-se os leitores de que o sociólogo que governou o País e o levou, duas vezes, à falência, dizia ser impossível pagar o equivalente a cem dólares de salário mínimo, sob pena de as pequenas empresas, as prefeituras do interior, metade do País ir à falência? Era a cantilena dos tucanos, em seus oito anos de poder. De tal sorte insistente, que, quando o candidato José Serra teve a cara de pau de prometer aumentar o salário mínimo para 600 reais, não conquistou um só voto a mais, pela sua notória falsidade.

As conquistas sociais do governo Lula são dignas de nota, pela elevação do padrão de vida das classes menos favorecidas dentro do possível e no desmentido de falácias do antecessor. São ainda insuficientes, naturalmente, e deverão ser ampliadas, com o crescimento do País. O que não podem é ser anuladas pela ganância dos que falam em redução dos gastos públicos, o que quer dizer, de fato, extinção do programa Bolsa Família, redução dos salários e dos proventos dos aposentados.

No momento, o salário mínimo é equivalente a três vezes tal quantia. Duzentos e 90 dólares. Por isso, as classes C e D subiram de nível e estão se alimentando, viajando de avião, adquirindo automóveis. O presidente da República cumpriu exemplarmente a promessa do primeiro dia de seu governo, segundo o qual todo brasileiro teria direito, doravante, a três refeições por dia. E o Brasil vive fase áurea de seu desenvolvimento, depois de ter superado, airosamente, a crise que devastou a Europa e que, segundo a torcida dos líderes do PSDB, ia arruinar o Brasil e destruir a popularidade de Lula e de seu partido.

Tudo isto foi feito, sem alarde, sem assustar os timoratos e sovinas. O que lembra a queda de João Goulart, do Ministério do Trabalho, pela pressão dos militares que, sob a liderança do coronel Golbery do Couto e Silva, publicaram o manifesto dos coronéis, iniciando a violenta repulsa castrense ao presidente Getúlio Vargas e seu ministro, que seria deposto em 1964. Tudo porque aumentaram o salário mínimo, para dar nível de vida condigna ao operário brasileiro.

O que Lula fez, com competência, dentro de suas possibilidades. Sem dar passadas maiores que as pernas, a fim de evitar recuos vergonhosos. Com absoluta competência política que, pelo menos neste setor, supera a do próprio Vargas e de Goulart.

A mídia perdeu!

Lula derrotou a mídia que o quer destruir, há muito. É vitória por cima de vitória por causa do sentimento popular a seu favor, da baixa fé nos grandes veículos de comunicação, pela blogosfera e pela comunicação boca a boca que não aceita o pra to feito da televisão e das revistas de chantagem e extorsão. O grande revés experimentado pelos veículos de comunicação foi com a armação do chamado mensalão, engendrado para impedir a reeleição do presidente e promover o esmagamento de seu partido.

Deu em nada. Apenas o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia contra os petistas porque "estava com a faca no pescoço", como disse, a propósito, dia seguinte, um dos ministros, referindo-se à pressão insuportável da mídia.

Depois vieram muitas outras campanhas, a do apagão aéreo, da febre amarela, da gripe suína, e, por fim, a que visava desmontar a base de sustentação parlamentar do governo no Congresso com a cassação do mandato de Renan Calheiros e José Sarney. Deram em nada.

Os meios de comunicação, então, falaram de sentimento nacional contra José Sarney que iria contaminar a popularidade de Lula. Mas até a pesquisa do jornalão do Serra confirma que o prestígio presidencial continua intocado.

Ele é um dos chefes de governo mais queridos da população do País, em todo o mundo, malgrado as campanhas contrárias de rádio, jornais, revistas e estações de TV.

]Elas não o destruíram como fizeram a Fernando Collor. Não o levaram ao suicídio como a Vargas. Nem à deposição, como ocorreu a João Goulart.

Mais que antecessores

Lula continua campeão de popularidade porque avançou, com cautela, mas firmemente, na defesa dos menos favorecidos. Por isso está chegando ao fim o que antecessores, também cheio de boas intenções, com anel no dedo, não conseguiram, feito Getúlio Vargas e João Goulart, por que mobilizaram toda reação contra eles, desde que o segundo aumentou o salário mínimo e foi derrubado do Ministério do Trabalho pelo manifesto dos coronéis, ninho de golpistas de 1964.

Dilma

Ninguém pode negar o óbvio que Dilma Rousseff, apontada por ele como candidata, sobe, a cada pesquisa de opinião pública realizada, embalada pelo prestígio do patrono. Ontem lia análise de pesquisa do hoje direitista César Maia falando do elevadíssimo ibope do presidente no Rio, onde não há nordestinos recebendo o Programa Bolsa Família, que, segundo os jornalões paulistas, seria o único responsável pela estrela sempre luminosa do presidente da República.