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Solidariedade

Minha explicação para o “fenômeno” das expressivas doações aos fundos Genoíno e Delúbio Soares é simples: solidariedade.
Não apenas diversos membros do Partido dos Trabalhadores, mas muitos brasileiros em geral, que se mantiveram calados, acuados e confundidos pela campanha truculenta e incessante, antes, ao longo e após o julgamento da AP 470, finalmente se deram conta de que a história que lhes era contada era de “faz de conta” e resolveram manifestar sua indignação.
Fizeram isso da forma mais rara de se ver acontecer: abrindo a bolsa. E não foi às escuras, foi corajosamente, dando nome, endereço, telefone e CPF. Tudo de acordo com a transparência que exige a Lei.
Acredito que por orientação do PT, pressionado pelo cenário de ódio gerado no país pela mídia, as lideranças do partido esconderam as cabeças na areia, como avestruzes, durante todo o processo do dito “mensalão”. Isso quando não externaram declarações condenatórias. Foi lamentável!
Com isso, causaram a triste impressão de que abandonavam os companheiros históricos por lhes atribuírem culpa. Finalmente, o partido parece ter tomado consciência do grave dano que provocou em sua própria imagem, devido àquela sua atitude amedrontada e mesmo bíblica do “antes de o galo cantar me negarás três vezes”.
Vemos agora crescer em número cada vez maior de brasileiros a convicção de que o dito “mensalão” não é mensalão. É Mentirão.
Essa consciência se manifesta através da solidariedade generosa dos doadores, num gesto coletivo que pode também expressar um protesto contra o que consideram uma injustiça, um julgamento político.
Vemos também uma grande preocupação com os rumos democráticos do país, que tem como bem maior a liberdade conquistada à custa do sofrimento e do sangue de tantos heróis mortos
Importante: o sacrifício desses heróis não é patrimônio do PT, é da História Brasileira!

A solidão de Narciso

As pessoas vêm à minha palestra “As Prisões“ e, durante muitas horas, compartilham os seus dilemas pessoais:
“Minha vida é uma bosta.
Estou presa num financiamento de imóvel que me escraviza.
Meu pai me obrigou a fazer direito mas eu queria fazer biologia.
Quero abrir o relacionamento mas a namorada não deixa.
Tenho vinte e cinco anos e ainda não construí nada. etc etc.”
E, no fim das contas, nada que eu tenha a dizer pode solucionar essas questões.
Até que porque essas questões não têm solução.
A única resposta possível é a que encerra a palestra:
Que a solução é não se importar com essas questões. Que elas não são relevantes. Que elas todas são apenas o seu ego falando.
Se você me diz,
“Quero fazer tal e coisa mas meu pai não deixa”,
A minha única resposta, minha resposta generosa e sincera, a única resposta que acredito que pode ajudar, é:
“Você vai morrer em breve, seu pai também, provavelmente antes, e que nesse meio tempo muitas outras pessoas vão morrer, a grande maioria delas com problemas bem maiores que o seu, e o que você está fazendo a respeito?”
"Echo & Narcissus" (1903), de John William Waterhouse.
“Eco & Narciso” (1903), de John William Waterhouse.
* * *
Há muito tempo, eu dava aulas em uma universidade nos Estados Unidos, onde as pessoas são muito mais obcecadas por notas que no Brasil. Então, quando estudantes começaram a pirar antes da prova final, eu dizia algo mais ou menos assim:
“Pensem comigo. Somos todos primatas sem alma, vivendo vidas sem sentido, presos na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pelo vazio do espaço, destinados a morrer em breve, junto com todos nossos entes queridos, assim como nossos países, nossas culturas e nossos idiomas, que vão desaparecer também, aquecidos por um sol que logo se auto-destruirá, levando com ele tudo o que já conhecemos.
Então, sinceramente, no grande esquema das coisas, que importância pode ter essa prova?”
"Eco & Narciso" (1628), de Nicholas Poussin.
“Eco & Narciso” (1628), de Nicholas Poussin.
* * *
Um trechinho do livro “Sempre Zen” (1989), de Joko Beck:
“O que de fato queremos é uma vida natural. Mas nossas vidas são tão artificiais que essa busca, no começo, é bastante difícil.
Apesar de estarmos começando um novo caminho, trazemos as mesmas atitudes que tínhamos anteriormente: não achamos mais que a resposta está em um novo carro de luxo, mas sim em alcançar a iluminação. Continuamos na mesma corrida, apenas trocamos o troféu. Agora temos um novo “se ao menos”: “se ao menos eu conseguisse entender um pouco melhor o universo, então eu seria feliz”; “se ao menos eu conseguisse atingir uma pequena experiência de iluminação, então eu seria feliz”, etc, etc.
Muitas de nós acreditamos que se tivéssemos um carro maior, uma casa mais bonita, férias mais longas, um patrão mais compreensivo, ou um parceiro mais interessante, nossas vidas seriam muito melhores. Não há quem não pense assim.
Passamos a vida pensando que existe o “eu” e que existe essa outra coisa separada, “o tudo que não sou eu”, que nos causa alternadamente dor ou prazer. Assim, evitamos tudo que nos fere ou desagrada ou causa dor; e buscamos ou toleramos ou aceitamos tudo que nos agrada ou nos envaidece ou nos causa prazer, fugindo de uns e perseguindo outros. Sem exceção, todos fazemos isso.
Ficamos apartados da vida, olhando para ela de fora para dentro, analisando, fazendo cálculos como “e o que eu ganho com isso? será que vai me trazer prazer ou conforto? será que devo fugir?” Sob nossas fachadas agradáveis e amistosas, existe muita ansiedade.
Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de cabeça pra baixo, o que é esse barco vazio? O que sobra? Quem somos nós?”
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
* * *
Um trechinho do livro “Not for Happiness” (2012), de Dzongsar Jamyang Khyentse:
“Esses dias, o objetivo de muitos ensinamentos é fazer as pessoas “se sentirem bem”, validando seus egos e suas emoções. Mas é um erro considerar que a prática do caminho vai nos acalmar ou nos ajudar a viver uma vida tranquila. Se você só está preocupado em se sentir bem, melhor fazer uma massagem relaxante ao som de uma música new age.
O caminho não é terapia. pelo contrário, ele foi elaborado sob medida para expor nossas falhas e virar nossa vida de cabeça pra baixo.
Aliás, se você pratica o caminho mas sua vida ainda não virou de cabeça pra baixo, então sua prática não está funcionando.”
Dzongsar Khyentse e criança.
Dzongsar Khyentse e criança.
* * *
Quando um paciente chegava com questões existenciais profundas, o Analista de Bagé (personagem criado por Luis Fernando Veríssimo) lhe dava logo um joelhaço “bem ali onde tudo começa e tudo se resolve”.
Se o bagual começasse a reclamar da “finitude humana”, do “vazio cósmico”, do “absurdo da existência”, levava outro joelhaço.
Finalmente, o vivente compreendia que o infinito pode ser uma sensação horrível, mas que o joelhaço, aquela dor enorme, ali nas bolas, ali naquele momento presente, mais presente impossível, era muito pior.
Nesse momento, estava curado.
A terapia do joelhaço.
A terapia do joelhaço.
* * *
Um trechinho do texto A segunda história de Eco e Narciso (2012), da pessoa que escreve sob o pseudônimo de O Último Psiquiatra:
Narciso não estava tão apaixonado por si mesmo que não conseguia amar mais ninguém: é o oposto. Ele nunca amou ninguém e então se apaixonou por si mesmo. Porque ele nunca amou ninguém, ele se apaixonou por si mesmo. Essa foi sua punição.
* * *
A solidão é um egoísmo: ninguém reclama “estar sozinho”, sente “vazio existencial”, ou quaisquer outros desses caprichos bem-alimentados, quando está ouvindo, acolhendo, se doando para outra pessoa.
Narciso não estava só: ele tinha seu reflexo.
"Narciso", de Caravaggio.
“Narciso”, de Caravaggio.
* * *
Há doze anos, escrevo sobre aquilo que chamo de “As Prisões“:
São as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida. São as ideias pré-concebidas, as tradições mal-explicadas, os costumes sem-sentido.
Comecei a questioná-las uma a uma: verdade // dinheiro // privilégio // sexismo // racismo // monogamia // religião // patriotismo // escolhas // respeito // certezas // os outros // medo // ambição // felicidade // narcissismo.
Nos últimos meses, tenho viajado o Brasil falando sobre As Prisões. Uma conversa experimental, sempre no fim-de-semana, um espaço livre para todos compartilharem suas histórias, para todas as certezas serem chacoalhadas. As próximas são em Curitiba, Belo Horizonte, Vitória e Belém, em maio.
(Para mais detalhes, calendário completo, vídeos, depoimentos de quem foi, roteiro completo da palestra, tudo isso, veja aqui.)
Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // todos os meus textos são rigorosamente ficcionais. // se gostou, mande um email, me siga nofacebook, compre meus livros, faça uma doação ou venha às minhaspalestras. e eu te agradeço.

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É: Dignidade: Carta aberta de  João Paulo Cunha a joaquim barbosa (mininistro presidente do STF) Quem fala assim não é gago Caro ministro Joaquim Barbosa...

Dignidade

Carta aberta de João Paulo Cunha a joaquim barbosa (mininistro presidente do STF)
Quem fala assim não é gago

Caro ministro Joaquim Barbosa, há poucos dias, em entrevista, o senhor ficou irritado porque a imprensa publicou a minha opinião sobre o julgamento da ação penal 470 e afirmou que não conversa com réu, porque a este só caberia o ostracismo. 

Gostaria de iniciar este diálogo lembrando-lhe da recente afirmação do ex-ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal: "O Judiciário tende a converter-se em um produtor de insegurança" e que "o que hoje se passa nos tribunais superiores é de arrepiar". Ele tem razão. E o julgamento da ação penal 470, da qual V.Exa. é relator, evidencia as limitações da Justiça brasileira.
Nos minutos finais do expediente do último dia 6 de janeiro, o senhor decretou a minha prisão e o cumprimento parcial da sentença, fatiando o transitado e julgado do meu caso. Imediatamente convocou a imprensa e anunciou o feito. Desconsiderando normas processuais, não oficializou a Câmara dos Deputados, não providenciou a carta de sentença para a Vara de Execuções Penais, não assinou o mandato de prisão e saiu de férias. Naquele dia e nos subsequentes, a imprensa repercutiu o caso, expondo-me à execração.
Como formalmente vivemos em um estado democrático de direito, que garante o diálogo entre o juiz e o réu, posso questionar-lhe. O caso era urgente? Por que então não providenciou os trâmites jurídicos exigidos e não assinou o mandato de prisão? Não era urgente? Por que então decretou a prisão de afogadilho e anunciou para a imprensa?
Caro ministro, o senhor pode muito, mas não pode tudo. Pode cometer a injustiça de me condenar, mas não pode me amordaçar, pois nem a ditadura militar me calou. O senhor me condenou sem me dirigir uma pergunta. Desconsiderou meu passado honrado, sem nenhum processo em mais de 30 anos como parlamentar.
Moro na periferia de Osasco há 50 anos. Trabalho desde a infância e tenho minhas mãos limpas. Assumi meu compromisso com os pobres a partir da dura realidade da vida. Não fiz da fortuna minha razão de existir, e as humilhações não me abatem, pois tatuei na alma o lema de dom Pedro Casaldáliga: "Minhas causas valem mais do que minha vida".
O senhor me condenou por peculato e não definiu onde, como e quanto desviei. Anexei ao processo a execução total do contrato de publicidade da Câmara, provando a lisura dos gastos. O senhor deve essa explicação e não conseguirá provar nada, porque jamais pratiquei desvio de recursos públicos. Condenou-me por lavagem de dinheiro sem fundamentação fática e jurídica. Condenou-me por corrupção passiva com base em ato administrativo que assinei (como meu antecessor) por dever de ofício.
Por que me condenou contra as provas documentais e testemunhais que atestam minha inocência? Esclareça por que não aceitou os relatórios oficiais do Tribunal de Contas da União, da auditoria interna da Câmara dos Deputados e da perícia da Polícia Federal. Todos confirmaram que a licitação e a execução do contrato ocorreram em consonância com a legislação.
Desafio-lhe a provar que alguma votação tenha ocorrido na base da compra de votos. As reformas tributária e previdenciária foram aprovadas após amplo debate e acordo, envolvendo a oposição, que por isso em boa parte votou a favor.
Um Judiciário autoritário e prepotente afronta o regime democrático. Um ministro do STF deve guardar recato, não disputar a opinião pública e fazer política. Deve ter postura isenta.
Despeço-me, senhor ministro, deixando um abraço de paz, pois não nutro rancor, apesar de estar convicto – e a história haverá de provar – que o julgamento da ação penal 470 desprezou leis, fatos e provas. Como sou inocente, dormirei em paz, nem que seja injustamente preso.

STF nas cordas

É: Política: Supremo na berlinda por  JB Costa Há uma velha máxima que reza "A Natureza não se defende, mas se vinga"...

Mensagem dominincal

Política

Supremo na berlinda
por  JB Costa
Há uma velha máxima que reza "A Natureza não se defende, mas se vinga". 
A par do espantoso(pela volume arrecadado e a tempestividade) movimento que captou recursos para pagar as multas de José Genoíno e Delúbio Soares,  poderíamos afirmar que de certa forma a militância e os simpatizantes do PT, obrigados a engolirem condenações que dão como injustas, se vingam do STF assumindo os encargos que deveriam ser dos réus, Encargos esses impossíveis de serem resgatados pelos condenados dados os valores devidos em contraste com suas incapacidades de pagamento.  
Isso é inédito na história do país. Se não mesmo no mundo. Trata-se da expressão máxima da consciência política, do envolvimento cívico de cidadãos e cidadãs comuns, anônimos e anônimas, cujo ânimo deriva do somatório da inconformação, mais espírito de solidariedade, e da fidelidade a uma agremiação política.
Como seria de se esperar, as reações tem sido as mais furibundas. O segmento anti-petista sentiu o golpe,  e como é do seu feitio já procura desqualificar de todas as formas o fenômeno. Por seu lado, segundo matéria do Estadão de hoje, dois ministros se encontram revoltados(sic) com essa operação pensada, montada e levada a cabo de forma espontânea e contando com a estrutura das redes socias para a sua disseminação.
O argumento desses ministros é que a multa é uma pena, ou seja, tem que ser cumprida pelo réu, ou seja, assim como ninguém pode "tirar cadeia" pelo mesmo, também só a ele cabe pagar a multa. Mas que raciocínio mais tôsco, esse! E se os réus, como é o caso, não tem condições de arcar com o encargo, como os obrigar? Ademais, onde está escrito com que tipo de recurso(se próprio ou de terceiros  réu vai quitar seu débito pecuniário com o Estado? Desde quando são proibidas doações, ajudas, sob qualquer pretexto, se respeitadas as normas básicas como transparência, identificação do doador e a prestação de contas do arrecado?
Na realidade, esses ministros do STF deram de cara com um evento que talvez nunca imaginassem que fosse ocorrer. Sabem que nada podem fazer para tolhê-lo. Como também apreendem que é a mais crassa expressão de inconformidade, se não mesmo revolta, pelo resultado de um julgamento que foi considerado "um ponto fora da curva" por um próprio membro da Suprema Corte. Um eufemismo para não declará-lo de exceção. Adredemente animado para condenar e enquadrar os membros de um partido político. 
As consequências adversas vieram bem mais cedo que se imaginava. O Supremo está na berlinda. 
Comentário:

Estrelas esquecidas

Havia tempos que não nos falávamos, mas as lembranças dos últimos momentos que passamos juntos nunca esmaeceram. A primeira vez que a vi chorar de verdade foi no aeroporto, quando assistiu o etiquetar das malas. Pela quantidade, ela se deu conta de que a partida tinha dia marcado, mas a volta estava fora de cogitação. "Por que para tão longe e qual a razão do lugar e sem passagem de volta?"
Explicar certas coisas muito íntimas não é fácil, principalmente quando se deseja guardar segredo para o próprio coração, esconder detalhes até da alma. "Um dia eu explico..." - respondi, depois de pigarrear discretamente, para evitar que ela desconfiasse que estava mentindo. "Quero saber agora, acho que mereço, afinal de contas..." - e deixou, depois das reticências, todo um rosário de motivos que nunca esqueci.
A casa velha fora demolida e a casinha nova mudou de endereço, de inquilino, não importava mais, não contava mais, mas existiam outras razões... Não muitas, talvez duas ou três, talvez apenas uma, mas tinha uma explicação, beirava ser uma justificativa. Nada na vida é eterno. Tudo é passageiro, embora sempre voltemos às origens, mesmo quando viramos pó, o pó das estrelas das quais viemos e de quem somos filhos ingratos.
Não me considero tão ingrato assim, porque de uns tempos para cá, tenho cuidado muito bem delas. Na verdade mesmo, elas cuidaram mais de mim porque me escutaram apenas brilhando, piscando em sua forma de entender e serem cúmplices no contexto das confissões que fiz, muitas vezes, madrugada adentro.

Paulo Coelho - como temperar o aço

Depois de uma vida de estrepolias um velho ferreiro decidiu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas - apesar de toda a sua dedicação, nada parecia dar certo em sua vida.


Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.

Uma bela tarde, um amigo que o visitava - e que se compadecia de sua situação difícil - comentou:

- É realmente muito estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas, apesar de toda a sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.

O ferreiro não respondeu imediatamente: ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida.

Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar - e terminou encontrando a explicação que procurava. Eis o que disse o ferreiro:

- Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado, e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isso é feito?

"Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que ela fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado, e aplico vários golpes, até que a peça adquira a forma desejada".

"Logo ela é mergulhada num balde de água fria, e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura".

"Tenho que repetir este processo até conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é suficiente".

O ferreiro deu uma longa pausa, acendeu um cigarro, e continuou:

- Às vezes, o aço que chega as minhas mãos não consegue aguentar este tratamento. O calor, as marteladas, e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada.

"Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada da minha ferraria".

Mais uma pausa, e o ferreiro concluiu: