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Papo de homem

O que deixei de aprender com minha experiência de quase morte

Tudo que eu queria era respirar. Eu estava morrendo rápido, mais rápido do que esperava e não podia fazer nada a respeito. Você sabe como é, as pessoas fantasiam demais a morte. Falam como a vida passa diante dos olhos, como bate o arrependimento das coisas que você nunca fez, etc. Não foi bem assim comigo.
Enquanto eu estava tendo um ataque cardíaco, tudo que me incomodava era minha voz. Eu não conseguia falar. Tentava formar palavras mas o som não saía. Por alguma razão, isso causou mais pânico do que a ideia do meu coração parando. Acho que meu medo de estar sozinho no mundo sem ser capaz de me conectar ou me relacionar com ninguém estava vindo à tona. Irônico, justo na hora da minha morte.
A dor começou quando eu estava indo para a faculdade, numa manhã fria de julho. Na condução, à caminho do bairro universitário, a dor começou a crescer, de modo que quando cheguei lá, já senti que era grave o suficiente para precisar de um hospital. Lá estava eu, cercado de estranhos, sem poder falar a ninguém o que estava sentindo.
Desci e peguei uma condução no sentido de volta, já que meu hospital estaria no caminho. Uma viagem de 40 min. Menos de uma hora me separando da emergência e de saber de onde vinha essa dor e o porquê de eu não conseguir respirar direito.
O problema é que a dor só crescia. Nessas horas, você percebe o quanto é sortudo de nunca ter tido nada daquilo antes. A ideia de que sua vida depende da respiração e dos batimentos cardíacos começa a pesar no seu peito. Automaticamente, você fica mais autoconsciente e começa a acompanhar cada subida e descida do tórax, como se estivesse tentando garantir que, caso aquilo tudo falhasse, você iria assumir o controle do navio e contrair o peito à força. Numa tentativa fútil de contornar a morte.
A morte.
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Engraçado, uma vez que a dor aumentou e eu notei que não conseguia falar, percebi que iria morrer. O pensamento de estar longe da minha família, cercado por estranhos em uma condução qualquer, me incomodou mais do que todas aquelas ilhas paradisíacas maravilhosas que não conheci.
“Huum… dor crescente no peito? Isso é coração. Ataque cardíaco, com certeza. Aquele cara do Casseta e Planeta não morreu meio de repente, algumas horas depois de sentir dor no coração e ignorar? Eu não posso ignorar. AVC… se fosse AVC, meu peito estaria doendo? É no AVC ou no ataque cardíaco que o lado esquerdo do corpo fica dormente? Meu braço não está dormente, mas meu peito dói muito”.
De todo jeito, notei que era grave e precisava de ajuda. O medo de me fazer de bobo, aquele medo de situações embaraçosas que está enraizado em nosso cérebro de macaco, me fez hesitar para pedir ajuda. E se eu estivesse bem, mas só estivesse fazendo alarde desnecessário? O que as pessoas pensariam de mim?
Calei esse medo e agi, ação pequena que pode ter salvado minha vida. Se tivesse sido hoje, eu teria reconhecido a origem daquela sensação e teria ignorado sem muito esforço, mas na época? Tudo que eu queria era respirar. E falar. E não morrer longe da minha família.
Peguei meu caderno, abri na última folha e escrevi algo assim:
“Eu não consigo respirar direito e nem falar. Meu peito está doendo, acho que estou tendo um ataque cardíaco. Me leva no Hospital?”
Mostrei à moça que estava do meu lado. O hospital ficava no caminho da condução em que estávamos. Bastava descer em um ponto (que deveria estar a uns 15 minutos de distância), andar 150 metros e eu estaria na emergência. Mas lembro da voz da mulher, assustada, murmurando algo sobre como ela não podia, pois tinha trabalho e iria se atrasar.
Na hora, meu cérebro nem processou isso. Chegar atrasada? Eu estou morrendo aqui e você se preocupa em chegar atrasada?
Hoje, não a culpo. Não é como se ela tivesse explicitamente comparado o valor de um atraso no trabalho com minha vida e decidiu que ser pontual seria mais importante, colocando o valor na minha vida abaixo da diária trabalhista dela. Não foi isso que aconteceu. Ela reagiu assustada ao fato de ter alguém morrendo ao lado dela e se agarrou à primeira desculpa que passou pela cabeça.
Nossa mente funciona de modo engraçado, às vezes. Em um desastre de avião famoso, as pessoas poderiam ter saído e salvo suas vidas quando ele caiu sem explodir. Alguns poucos correram para os buracos na fuselagem e pularam fora. Dezenas estavam bem o suficiente para correr mas ficaram no avião, morrendo a seguir com a explosão. O viés da normalidade causa isso na gente em situações de pânico.
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Por isso eu não culpo aquela mulher que não ajudou a salvar minha vida. Prefiro acreditar que seres humanos são bons e ajudariam sempre que possível, contanto que nossos instintos animais não interfiram com o raciocínio.
No meu caso, as pessoas ajudaram, claro. Sempre tem aquela alma caridosa que renova sua fé na humanidade. A mulher-que-se-atrasaria-para-o-trabalho falou em voz alta que eu estava passando mal e perguntou se tinha alguém que poderia ajudar. Havia uma enfermeira no ônibus, que se aproximou da minha cadeira. Alguém gritou para motorista ligar o expresso e não parar mais para chegar mais rápido no hospital.
Depois disso, minha memória falha.
Não lembro ao certo como ela me ajudou a descer do ônibus até chegar na emergência, se eu mal podia respirar. Mas eu cheguei. Lembro dos médicos me colocando numa maca, fazendo eletrocardiograma em mim, depois de verificar que eu não estava morrendo. As memórias voltam a se embaralhar.
Daqueles dias, recordo que a senhora, a enfermeira, ligou para minha família para checar meu estado de saúde. Ou foi minha família que ligou para ela, para deixá-la atualizada, não tenho certeza. Ela foi supergentil e lembro de ter ficado feliz não apenas por ela ter me ajudado, mas por ela ter se interessado em saber como eu estava depois daquilo tudo.
Como se eu estar vivo importasse de verdade para alguém lá fora, que nem me conhecia.
Mas, mesmo com todo o desespero e tumulto interno, no final das contas, eu não estava morrendo.
Os médicos checaram tudo e não havia nada errado com meu coração. Estranho. Alguns meses à frente, um terapeuta disse que deve ter sido ataque de pânico com algo de fundo psicológico, uma pane chamada síncope. Nietzsche tinha dessas, ao que parece, mas saber disso não ajudou a me sentir melhor.
Acontece que eu achei que estava morrendo. Eu realmente acreditei que minha vida estava acabando ali, naquele momento. Por meses, pensei ter sido uma experiência de quase morte. Bem, não importa que não tenha sido, o que interessa é que eu pensava que estava acontecendo.
Apesar do choque, não ganhei nada com a história. Não tirei nada que as pessoas costumam tirar quando acham que vêem a morte de perto.
Muitas delas falam como a experiência colocou suas vidas em perspectiva. Como pararam de se importar com problemas pequenos, deram mais valor às relações e deixaram as coisas materiais de lado. Eu não “aprendi” nada disso.
Quer dizer, para ser sincero, sim, por alguns dias, talvez algumas semanas. Depois disso, voltei a dar importância aos meus problemas, destratar ocasionalmente a quem eu amo e ignorar a constante iminência da morte. Hoje, quatro anos depois, não guardo muito da experiência além de uma vaga lembrança.
Se fosse para dizer que aprendi algo, diria que aprendi não ser fácil lidar com a sensação de iminência da morte. Que não é tão simples chegar perto dela e escapar por um triz. Que se realmente queremos viver a vida bem, devemos encontrar um jeito de nos lembrarmos que nem sempre estaremos aqui e que devemos viver nossas vidas de acordo.
Mas você se pergunta: “Quem é esse cara para dizer essas coisas? Ele nem chegou perto de morrer mesmo”. E você estaria certo, estaria mais do que certo.
Paulo Ribeiro

Ajuda as pessoas a aprender melhor através do Aprendizado Acelerado e escreve no Estrategistas sobre a criação de uma vida mais feliz e significativa. Coordena o site Gary Vaynerchuk BR e responde no twitter por @paulorrj.

Colesterol alto

[...] equilibre as taxas deste vilão da saúde do coração

Sedentarismo, álcool e fumo estão entre os principais vilões da saúde do nosso coração. 

Esses maus hábitos podem aumentar ou desequilibrar nossos níveis de LDL e HDL que são os níveis de colesterol ruim e bom, respectivamente. 

Além de evitar os hábitos citados acima, adotar uma alimentação saudável também é de extrema importância quando o assunto é diminuir o colesterol e ter mais saúde. 

O problema da altas taxas de LDL em nosso organismo é que elas representam uma grande quantidade de gordura circulando por nosso sangue, que podem formar plaquetas e entupir artérias, nos expondo a complicações cardiovasculares.

Você sabia que, fazendo algumas substituições simples, sua dieta pode deixar seu corpo blindado contra o colesterol? É que mesmo pessoas que já apresentam colesterol alto podem diminuir os níveis de LDL e aumentar os de HDL com a dieta adequada?

Veja Aqui as dicas de especialistas do que entra e o que sai no cardápio amigo do coração! 

Câncer

O novo dilema no combate
As drogas que atacam os tumores podem comprometer a saúde do coração. Como evitar que os doentes morram de infarto
CRISTIANE SEGATTO
Rogério Cassimiro
UM EXEMPLO DO DILEMA
José Alencar e a presidenta Dilma no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, na quinta-feira. Em novembro, ele infartou por causa do tratamento do câncer
O câncer é traiçoeiro e exige vigilância. Não há, no horizonte, sinal de que um dia surja a cura universal (leia mais). Ainda assim, o avanço do conhecimento sobre a biologia dos tumores e a criação de drogas poderosas deslocaram várias formas de câncer para o rol das doenças crônicas. Em vez de matar em poucos meses, a maioria dos tumores pode ser vencida ou controlada por longos períodos. Desde, é claro, que o doente tenha acesso a diagnóstico precoce e a tratamento de qualidade. Em muitos casos, no entanto, a sobrevivência cobra um alto preço. As drogas contra o câncer podem provocar danos cardiológicos tão graves quanto a própria doença. Um novo dilema se coloca diante dosmédicos: vencer o câncer ou proteger o coração?
Os efeitos indesejados da quimioterapia, da radioterapia ou da cirurgia podem aparecer imediatamente ou anos depois do tratamento. Um dos mais sérios é o comprometimento cardíaco. “Ou cuidamos direitinho do coração do doente de câncer ou o tratamento não adianta nada. Ele deixa de morrer de câncer para morrer do coração”, diz o cardiologista Roberto Kalil Filho, do Institu-to do Coração (InCor) e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Famoso por cuidar da saúde dos figurões da República (presidenta Dilma, Lula, José Serra, José Alencar...), Kalil diz viver esse dilema diariamente. Para tentar amenizar o problema, que se tornou uma das grandes preocupações atuais da medicina, ele liderou a criação do primeiro consenso nacional de cardio-oncologia. Os mais influentes médicos das duas especialidades se reuniram para avaliar, com base em evidências científicas, como as drogas oncológicas podem prejudicar o coração. Chegaram a uma diretriz que será adotada em todo o Brasil. ÉPOCA publica com exclusividade as principais conclusões dos especialistas (leia o quadro no fim da reportagem).
Os efeitos indesejados da quimioterapia podem aparecer imediatamente ou anos depois do tratamento
O consenso deverá ser divulgado nas próximas semanas. Ele vai se transformar num livro que será distribuído aos 14 mil membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia e aos 1.500 filiados à Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. As entidades vão pedir ao Ministério da Saúde que as diretrizes sejam adotadas em todas as unidades do SUS. O objetivo é ajustar a dose do quimioterápico, escolher a melhor opção e apontar de que forma deve ser feito o acompanhamento cardiológico do paciente. “As diretrizes brasileiras serão as primeiras publicadas no mundo no campo da cardio-oncologia”, diz Jean-Bernard Durand, cardiologista do MD Anderson Cancer Center, um dos principais centros americanos de tratamento do câncer. “Estamos tentando fazer o mesmo nos Estados Unidos, mas ainda não conseguimos chegar a um consenso porque há diferentes grupos trabalhando nisso. O Brasil fez muito bem em criar um único grupo para analisar todas as evidências científicas disponíveis”, afirma.
Segundo Kalil, cardiologistas e oncologistas vivem batendo cabeça porque não falam a mesma língua. “Todo dia minha equipe é chamada na oncologia do Sírio-Libanês porque algum paciente infartou ou teve algum comprometimento cardíaco por causa do tratamento do câncer.” Um deles foi o ex-vice-presidente José Alencar. Em novembro, ele se internou para mais um ciclo de quimioterapia contra o sarcoma na região abdominal. Como vários esquemas de quimioterapia falharam, o oncologista Paulo Hoff decidiu adotar a droga oral Glivec. Do ponto de vista oncológico, o tratamento foi razoavelmente bem-sucedido: o tamanho dos tumores diminuiu. Do ponto de vista cardiológico, não. Alencar infartou.
Os médicos protagonizaram uma cena de cinema. Ao ver que o paciente suava frio e tinha a pressão muito baixa, Hoff percebeu que ele estava infartando. Ligou imediatamente para Kalil. Embora Alencar tivesse dois stents (dispositivos metálicos para desobstruir as artérias) no coração, apresentava boa condição cardíaca. Kalil não tinha nenhuma razão para suspeitar que ele pudesse infartar. Mesmo assim, correu até o apartamento 1.106. Quando percebeu a gravidade da situação, ele e Hoff voaram pelos corredores do hospital, empurrando a maca em direção à UTI. Os seguranças tentaram deter os médicos que pareciam querer sequestrar o paciente. Em janeiro, dois meses depois do susto, Alencar se divertia com a história. “O Kalil e o Paulo arrancaram a minha cama, derrubaram uma mesa cheia de garrafas e me enfiaram no elevador”, disse a ÉPOCA. “Aquilo poderia ter sido grave, mas eu não sabia. Não tinha noção. Estava tranquilo.” Socorrido a tempo, verificou-se que ele não tinha obstruções importantes.
Rogério Cassimiro
UMA NOVA BATALHA
Marli, de 52 anos, diante do painel do artista Romero Brito no Icesp, em São Paulo. Ela enfrentou o câncer de mama, mas o coração sofreu
Os médicos atribuem o infarto ao tratamento do câncer. “Sem o Glivec, ele não teria infartado”, diz Hoff. Alencar continuou o tratamento com o mesmo remédio, mas passou a tomar também uma droga para prevenir vasoespasmos (redução do calibre dos vasos que compromete a passagem adequada de sangue). O caso de Alencar é exemplar. Se até um paciente cercado de cuidados extraordinários e tratado pelos mais renomados especialistas sofreu as consequências do conflito entre a oncologia e a cardiologia, o que não pode acontecer à maioria?
“A incidência de complicações cardiovasculares provocadas pelo tratamento do câncer não é baixa. Pode afetar de 10% a 35% dos pacientes”, diz Durand. Foi o que aconteceu com a professora Marli de Andrade Nascimento Lago, de 52 anos. Ela descobriu um tumor de 6 centímetros na mama direita em 2009. Passou por cirurgia e 28 sessões de radioterapia. Fez quimioterapia com doxorrubicina, uma das drogas mais usadas em casos como o dela. O remédio faz parte da família dos antracíclicos.
Segundo alguns estudos, as drogas desse grupo podem provocar insuficiência cardíaca (incapacidade de bombear o sangue adequadamente) em até 26% dos pacientes. Em dezembro passado, Marli sentiu falta de ar e foi levada ao hospital. “A cardiologista disse que a quimioterapia lesou meu coração e agora vou ter de tomar remédios e cuidar dele para sempre”, afirma. “Estava tão animada porque havia superado a quimioterapia. Não sabia que isso poderia acontecer.” Com a divulgação do consenso, espera-se que danos desse tipo sejam reduzidos.
A maioria dos pacientes se cura do câncer sem dano cardíaco, mas a parcela que tem problemas é grande
“A importância do consenso é que agora até os oncologistas que trabalham numa cidade sem recursos terão uma fonte confiável para saber de que forma devem acompanhar o coração do paciente, que exames pedir e durante quanto tempo”, diz Hoff. O que os médicos pretendem com o consenso é que todo paciente seja avaliado por um cardiologista antes, durante e depois do tratamento. E também tenha acesso aos exames que, ao longo do tratamento quimioterápico, podem apontar se a droga está prejudicando o coração.
Apesar das boas intenções, é difícil acreditar que o consenso seja aplicável a todas as unidades do SUS. “O papel das entidades médicas é divulgar o que a ciência sabe e despertar cada médico para que brigue para ter o necessário no SUS”, diz Jadelson Andrade, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O básico do básico é fazer uma avaliação cardiológica do paciente antes do início do tratamento. “Algumas drogas são tão tóxicas que se o doente já tiver algum problema cardíaco é melhor nem usá-las”, diz Enaldo Melo de Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
   Reprodução

A maioria dos pacientes se cura do câncer sem sofrer nenhum dano no coração, mas a parcela que tem problemas é grande. “Num país como o Brasil, que tem 500 mil casos de câncer por ano, muita gente pode estar sob risco”, diz Hoff, que também é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Eugenio Savio
SUSTO 
Almedro de Souza em sua casa, em Belo Horizonte. Ele teve angina durante a aplicação da quimioterapia. “Achei que já estava no céu”, diz 
Como em toda nova área, muitas questões ainda precisam ser respondidas: qual é a real incidência do problema no Brasil? Quais são os mecanismos que explicam de que forma as drogas contra o câncer agridem o coração? A partir de que dose, ou de que tempo de uso, os danos começam a ocorrer? Para tentar responder a essas questões, começará no Icesp, ainda neste ano, um estudo com 1.500 pacientes de câncer de mama e câncer de cólon. A condição cardiológica deles será acompanhada detalhadamente. É a nova linha de pesquisa da equipe de Kalil.
“A maioria dos pacientes tem câncer numa idade avançada, quando já tem outros fatores de risco cardíaco inerentes à idade”, diz a cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, coordenadora da UTI cirúrgica do InCor e da UTI do Icesp. Nesse caso, os cuidados devem ser redobrados.O comerciante aposentado Almedro Ferreira de Souza, de 68 anos, chegou aos 65 com um coração invejável. Nada de hipertensão, diabetes, problemas nas artérias, colesterol ou triglicérides elevados. “O cardiologista dizia que eu ia morrer de qualquer coisa, menos do coração”, afirma.
Há três anos, ele descobriu um tumor e precisou extrair o rim esquerdo. Logo depois, recebeu o diagnóstico de câncer de intestino. Um pedaço do órgão foi retirado. Para prevenir a volta do câncer, Almedro deveria passar por 12 sessões de quimioterapia na Santa Casa de Belo Horizonte. Na sexta sessão, começou a passar mal no exato momento em que a droga Folfox 6 era aplicada. Foi socorrido pelo oncologista e pelo cardiologista. “O mal-estar é incalculável. Não senti só falta de ar. Senti falta de tudo. Achei que já estava no céu.” O objetivo do consenso é permitir que pacientes como Almedro vivam mais (e melhor). Com os dois pés no chão.

Infarto

Uma forte dor no coração, como se ele rasgasse por dentro, subitamente. A frase parece apenas uma metáfora clichê, sempre acessível para descrever uma mágoa profunda, mas não física. O coração partido, porém, no auge do século 21, deixou de ser muleta dos sofredores e passou a fator de risco para problemas cardíacos.
Depressão e problemas emocionais, associados a uma predisposição genética, estão entre as causas de infartos em pacientes jovens, alerta Marcelo Ferraz Sampaio, cardiologista do Hospital Oswaldo Cruz, chefe do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo e especialista no tema.
O médico revela que nos últimos anos, o índice de infartos atípicos no setor de emergência do hospital foi surpreendentemente alto. Além do fator numérico, os pacientes tinham características clínicas semelhantes: jovens, em sua maioria mulheres, saudáveis, mas com incidentes cardíacos severos.
“Observávamos, ao fazer a identificação da artéria, que o coração tinha infartado, mas não havia lesão. Começamos, então, a desvendar como essa artéria poderia ter provocado a restrição de fluxo por mais de 20 minutos, sem ter nenhum comprometimento.”
Ao confrontar os pacientes com pesquisas internacionais, o especialista constatou que essas artérias sofrem um Sistema de Restrição Dinâmica ao Fluxo. A consequência e o processo são semelhantes ao que ocorre em um infarto tradicional, provocado pela conhecida lista de fatores de risco: obesidade, diabetes, hipertensão e cigarro. Neste caso, no entanto, o gatilho é emocional.
Como ocorre
A passagem de sangue é obstruída não pelas placas de gordura, mas por um estreitamento das paredes da artéria, responsável por interromper o fluxo. O mesmo evento é diagnosticado em casos de overdose de drogas como cocaína e crack, ou no uso de anabolizantes.
"Também é possível que as plaquetas do sangue fiquem como se fossem 'tresloucadas', interrompendo o fluxo subitamente, gerando os infartos. Descobrimos que esses pacientes têm alteração da formação das plaquetas”, explica o especialista.
Esse mesmo processo ocorre em pacientes com depressão. “A doença emocional, em tese, não é fator de risco pra doença cardíaca, mas pode ser, em determinadas circunstâncias, o fator principal”, endossa Sampaio.
Coração rasgado
Foto: Guilherme Lara Campos / Fotoarena
Iris Galetti, física e professora de pintura, sofreu um infarto atípico grave em janeiro de 2008
Magra, saudável, ativa e aparentemente feliz. Os três adjetivos costumeiramente usados para definir a professora de física Iris Galetti também a mantinham fora do grupo de risco de mulheres com problemas cardíacos.
Em janeiro de 2008, durante uma reunião no colégio onde trabalhava, primeiro dia após as longas férias de verão, a professora sentiu um mal-estar pungente. Uma forte dor no peito e braços dormentes. A pressão, porém, ao ser medida na enfermaria do local de trabalho, estava normal.
Com náuseas e dores no peito, ao chegar ao hospital, Iris descobriu que tinha infartado. Foram oito dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e mais uma semana no quarto, até receber alta. Aos 49 anos, ela tinha perdido boa parte do coração – o ventrículo esquerdo ficou com o músculo praticamente morto.
“Jamais pensei que eu poderia infartar. Minha família tem histórico de câncer, não de problemas cardíacos. Achei que os médicos estavam errados. Nunca fui hipertensa, sedentária, e tenho uma verdadeira obsessão por alimentação saudável.”
No entanto, há mais de quatro meses Iris tentava digerir, sozinha, uma mágoa muito profunda. Nas palavras da professora, que prefere reservar a história, a decepção foi difícil de suportar. Por meses, o problema emocional ocupou boa parte de sua vida pessoal.
“Depois do infarto eu me dei conta do que tinha ocorrido. Lembro que o médico que me atendeu quando fiz o segundo cateterismo disse que minha artéria tinha rasgado, como se uma lâmina a tivesse cortado, literalmente.”
O estresse da vida profissional e o excesso de responsabilidades, dentro e fora de casa, somados aos conflitos e decepções pessoais, transformaram-se em um coquetel venenoso para um coração normal, sem problema algum.
O fator genético
A literatura médica mundial aponta que 15% dos infartos sem os fatores de risco tradicionais – cigarro, diabetes, obesidade e hipertensão – foram desencadeados por processos que começaram no âmbito psicológico. A matemática, porém, não é simplista e imediata. Para que o coração partido ultrapasse a metáfora é preciso que exista uma série de combinações genéticas e ambientais.
A analogia da chave e da fechadura é a maneira como Sampaio consegue traduzir os preceitos da medicina genética a seus pacientes. Nas palavras do médico, a predisposição dos genes nada mais é do que uma fechadura. “A porta está fechada. A chave é o estresse emocional, e a fechadura sua carga genética. Quando a chave certa encontra a porta certa, a doença aparece.”
O mapeamento genético, porém, não seria uma forma de prevenção. Embora o Projeto Genoma tenha mapeado todos os genes que existem no organismo humano, a medicina ainda não conseguiu antecipar quais combinações entre esses genes são responsáveis por desencadear as mais variadas doenças. A única forma de manter-se longe dos infartos, tradicionais ou atípicos, seria a manutenção da saúde, tanto mental quanto física, defende o médico.
“Hoje os alimentos não são mais saudáveis, passam por agrotóxicos para conservação. Não só comemos mal, como recebemos o alimento em pior estado. A falta de tempo é desculpa para tudo. A pressão do dia a dia faz com que o artifício de relaxamento e prazer seja uma comida calórica, gordurosa. O chocolate nos dá o prazer que não temos no trabalho, na família, na relação sexual. Esse comportamento social do mundo moderno gera pessoas mais expostas.”
A experiência individual não serve apenas de alerta. Para contornar os problemas emocionais, Iris trocou a lousa pelos pincéis – ministra aulas de pintura em faiança para mais de 30 alunos, produz peças para venda e toca o próprio ateliê. O coração bate devagar, quase ao som do new age, música fundo de suas aulas, mas ela se define clinicamente como ótima: controla a alimentação, toma uma taça de vinho nos dias mais agradáveis, pratica atividade física regularmente - uma caminhada leve de 60 minutos - e aposta que ultrapassará a casa dos 100.
Na receita médica, as indicações permanecem universais, e cabe a cada um achar seu componente pessoal: alimentação balanceada, atividade física regular, lazer, tranquilidade e terapia – esvaziar a mente dos problemas e não permitir que eles consumam o organismo – podem ajudar a blindar o coração.

Vice -presidente internado outra vez

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José Alencar voltou a ser internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo na noite de ontem. 
Afirmou sua assessoria de imprensa que ele foi realizar exames e dormiu no local. 
Alencar havia recebido alta no último dia 18, após ter ficado 24 dias internado para tratar um quadro de obstrução intestinal, e sofreu  infarto durante este período. 
Ele luta contra um câncer há anos, e já passou por mais de 15 cirurgias. 
Até o momento, não há informações sobre os exames que ele realiza. 
Um boletim médico deve ser divulgado nas próximas horas.
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Médico ensina como se manter em forma e se proteger da arteriosclerose, a principal causa de infarto

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 2040 o índice de doenças cardiovasculares no Brasil deve aumentar em 250%. Hoje, 300 mil brasileiros morrem anualmente por causa desses problemas.
E de 14% a 25% dos infartos ocorrem sem sinal de dor. Além disso, 30% dos brasileiros são hipertensos, e, de cada cem, apenas de 25 a 30 têm a doença controlada. Com o estresse, o excesso de informações e a vida sedentária, o coração fica ainda mais sobrecarregado.
Uma hora começa a falhar. O médico Cláudio Domênico, doutor em cardiologia pela UFRJ e membro do Colégio Europeu e Americano de Cardiologia, diz que medidas simples ajudam a proteger não só o coração, mas os demais órgãos. Ele lançou o guia “Detalhes” — que distribui a seus pacientes e amigos — com dicas de bem-estar. Nesta entrevista, ele ensina como melhorar a qualidade de vida.
ESTILO DE VIDA: “Um coração saudável mantém os outros órgãos saudáveis. Se o coração vai mal e bombeia sangue em quantidade insuficiente, o cérebro, os rins e o pâncreas sofrem. Daí a importância de prevenir e tratar a arteriosclerose, doença que pode começar precocemente e piorar, dependendo de estilo de vida e hábitos alimentares.
Hoje há maior consumo de fast-foods, de produtos com mais corantes, antibióticos e hormônios. E, com os avanços tecnológicos, a vida tornou-se confortável demais; antes as pessoas se mexiam mais. O ideal é associar exercícios aeróbicos, como corrida, caminhada e natação, ao alongamento e à musculação (com orientação de profissional de educação física), que retarda a perda progressiva de massa muscular. Exames são importantes, mas é fundamental que motivemos nossos pacientes a mudarem seu comportamento em benefício de sua saúde
HORA DO CHECK-UP: “Pessoas sem sintomas e histórico de doença cardiovascular podem iniciar o check-up clínicocardiológico a partir dos 35 anos. A avaliação inclui exame de sangue completo, teste de esforço, eletrocardiograma, consulta oftalmológica, ginecológica ou urológica. Se a pessoa quer praticar atividade física mais intensa, o médico deve incluir o teste de esforço e o ecocardiograma. É uma medida para tentar prevenir a morte súbita, cuja principal causa é a hipertrofia anormal do coração, que pode causar arritmias malignas. Apenas o exame clínico pode ser insuficiente para detectar essa alteração.
Já o teste de esforço mostra, entre outras coisas, o comportamento da pressão em repouso e no exercício, o condicionamento físico, os sintomas e as arritmias na prática da atividade física. Por exemplo, a queda de pressão num esforço pode indicar entupimento grave de artérias coronárias”.
OUTROS EXAMES: “Em pacientes com mais de dois fatores de risco cardiovascular, como diabetes, colesterol alto, hipertensão, histórico de doença coronária precoce e medida de cintura do quadril acima do normal (até 0,9 para homens e 0,85 para mulheres; a gordura no abdômen é a mais nociva) recomenda-se a tomografia de tórax com escore de cálcio coronário e o ultrassom das carótidas.
A angiorressonância do crânio é indicada para pessoas com histórico de aneurismas no cérebro. Os exames mostram o que o médico William Osler já dizia: ‘O homem é tão velho quanto suas artérias’. Isto é, o que se observa é que a idade vascular nem sempre corresponde à sua idade cronológica”.
GORDURAS NO SANGUE: “Ter a fração de bom colesterol, o HDL, baixa é tão perigoso quanto ter o LDL, a gordura má, alto. E os medicamentos que existem para aumentar o HDL são pouco eficazes e têm efeitos adversos. Portanto, é melhor tentar elevar o HDL praticando atividade física regularmente e se alimentando de forma saudável, com orientação de nutricionista, até para evitar as dietas da moda. O ideal é que o HDL represente pelo menos 25% do colesterol total. Com relação aos triglicerídeos, esta gordura tem relação com o aumento do açúcar — a glicose — no sangue. Os triglicerídeos podem ser reduzidos com o uso de drogas do tipo fibratos, porém elas não devem ser associadas rotineiramente a estatinas (receitadas para baixar colesterol), porque essa combinação afeta os rins. Então devemos tratar primeiro a alteração mais grave.”
NOVOS MARCADORES: “Um marcador muito estudado é a proteína C-reativa (a PCR). Quando está alta, indica inflamação em algum órgão.
Esse é o problema de usá-la, porque não é específica para o coração. Pode estar alterada numa infecção por vírus ou num infarto. Mas estudos mostraram que pacientes sem diagnóstico de doença coronária e que apresentavam PCR acima de 2 se beneficiavam de estatinas. Então é preciso avaliar melhor esse marcador”.
HIPERTENSÃO E CÂNCER: “Quem tem pressão alta deve ser avaliado individualmente.
Esta semana saíram estudos relacionando o uso de drogas bloqueadoras dos receptores da angiotensina ou BRA (um dos mais receitados) a risco moderado de câncer. Porém, são necessárias novas pesquisas.
Para cada caso há um tratamento, dependendo da avaliação médica. Geralmente, o uso isolado de um único fármaco só funciona em casos leves.
Não há receita de bolo”.
CLÍNICO OU CIRÚRGICO: “De maneira geral, quem precisa de implante de três ou mais stents é candidato à cirurgia de revascularização do miocárdio.
Por outro lado, pacientes tratados com angioplastia tendem a se descuidar com o tempo, voltam a se alimentar mal, a levar vida sedentária e suas artérias vão se obstruindo.
Já os operados aderem melhor ao tratamento. Talvez porque se lembrem dos dias no CTI, no pós-operatório”.
SONO RELAXANTE: “É essencial para o coração dormir bem. Alguns indivíduos chegam ao consultório se queixando de cansaço e acreditam que o coração está falhando.
Quando investigamos, descobrimos que o problema está associado a distúrbios do sono, como apneia, que causa várias paradas respiratórias por alguns segundos, com queda de oxigenação, aumento de pressão, arritmias, falhas de memória, sonolência durante o dia. Às vezes basta melhorar a qualidade do sono para o coração ficar bem”.
SAÚDE DA BOCA: “Cuidar da boca também é importante para o coração. Muitas das bactérias que vivem na cavidade oral entram no sangue e atingem o coração, o que pode ser perigoso em certos casos, como prolapso de válvula. Estudos com pacientes submetidos à angioplastia indicaram que a mesma espécie de bactéria encontrada no cateter balão vivia na boca”.
DISFUNÇÃO ERÉTIL: “A disfunção erétil pode ser o primeiro sinal de que as artérias estão mal ou entupidas. Há drogas para tratar a dificuldade de ereção, e uma restrição é para cardíacos que tomam nitratos. E não adianta tratar apenas a disfunção. É preciso avaliar o paciente de forma geral, inclusive com relação à necessidade de reposição hormonal, com testosterona”.
CUIDADO NA MENOPAUSA: “O efeito protetor do estrogênio ao coração diminui na menopausa.
Estudos mostraram que a reposição hormonal nesse período pode ser perigosa, quando feita sem controle.
Se a mulher não tem queixas graves, recomendo que evite a reposição. Mas se sofre com irritabilidade, ressecamento da pele, ondas de calor etc, deve consultar o ginecologista para saber se vale a pena tomar os hormônios.
Se teve infarto, o cuidado deve ser maior”.
CUIDAR DA MENTE: “Além do físico, é importante cuidar da mente. Muitos pacientes vivem sob estresse, carga enorme de informações, de poluição mental. É essencial controlar o estresse, ter momentos de lazer. Recomendo que as pessoas leiam mais para relaxar, mas não livros técnicos ou apenas jornais. A leitura de livros como romances é como uma ‘musculação’ para o nosso cérebro, e o coração agradece.”