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Túnel do tempo


Uma relíquia das bandas de Exu - Pernambuco. Em época de São João, o mestre Januário, pai de Luiz Gonzaga - o Rei do Baião -, puxando seu fole de oito baixo num arrasta pé mais que tradicional. Entre os dançantes o Gonzagão
Pinçado do facebook de Josiel Galvão
***
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Ave Maria

Lá onde os astros se encontram e se ouvem, lá onde são vizinhos de Beethoven, também mora Gonzaga, o rei do baião
(Petrúcio Amorim)

***
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Homenagem a São José, padroeiro do Ceará


Essa poesia é um retrato vivo de um tempo que felizmente passou. 
Essa é gênio total.
Tanto pela poesia de Patativa do Assaré quanto a música e interpretação de Luiz Gonzaga.
Esses nos enche de orgulho e alegria de ser nordestino.
***

Asa Branca

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei, ai
Meu Deus do céu, ai
Por que tamanha
Judiação

Que braseiro,
Que fornalha,
Nenhum pé de plantação
Por falta d'água
Perdi meu gado
Morreu de sede
Meu alazão

Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse:
Adeus, Rozinha
Guarda contigo
Meu coração

E hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva
Cair de novo
Pra eu voltar
Pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro
Não chores não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro
Eu te asseguro
Meu coração
Eu te asseguro
Eu voltarei
Pro meu sertão

Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira



O Centenário de Humberto Teixeira

Por Mara L. Baraúna





Humberto Cavalcanti Teixeira (Iguatu, CE, 5 de janeiro de 1915 — Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1979) 

Filho de João Euclides Teixeira e Lucíola Cavalcante Teixeira. Desde cedo apresentava aptidões para a música; aos seis anos aprendeu a tocar musette, versão francesa da gaita de foles. Aprendeu também flauta e bandolim. O seu tio Lafaiete Teixeira, foi o responsável pelos seus primeiros ensinamentos musicais, era maestro e tocava vários instrumentos.

Aos 13 anos, depois de ter editado sua composição Miss Hermengarda, tocava flauta na orquestra que musicava os filmes mudos no Cine Majestic de Fortaleza. Aos 15 anos radicou-se no Rio de Janeiro onde, aos 18 anos, em 1934, foi premiado com Meu Pecadinho pela revista O Malho num concurso de música carnavalesca.

Iniciou a carreira artística tocando como flautista-aluno na Orquestra Iracema, regida pelo maestro Antônio Moreira. Em 1931 mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1934, foi um dos vencedores do concurso de músicas carnavalescas promovido pela revista "O Malho".

Ao lado de músicas de Ary Barroso, Cândido das Neves, José Maria de Abreu e Ari Kerner, classificou sua composição "Meu pedacinho". Mesmo assim, não conseguiu gravar, e seguiu compondo valsas, toadas, modas e canções, que eram editadas para piano pela casa A Guitarra de Prata. 

Em 1943, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e passou a trabalhar em um escritório na Avenida Calógeras. Nesta época já tinha composto sambas, marchas, xotes, sambas-canções e toadas e tentava lançar o ritmo nordestino "balance" ou "balanceio" tocado pelo parceiro Lauro Maia (com quem compôs "Deus me perdoe" e "Vamos balancear"). Em 1944, tinha gravado a primeira música, em parceria com Lírio Panicalli, o samba apoteótico Sinfonia do Café, cantado por Deo. Em 1945, Orlando Silva gravou os sambas "Só uma louca não vê" e "Samba da roça", ambos de parceria com Lauro Maia.

Numa tarde em agosto de 1945, conheceu aquele que se tornou seu grande parceiro de inúmeros sucessos, Luiz Gonzaga. Da parceria dos dois surgiu o baião, numa batida uniforme feita para dançar. Substituíram os instrumentos originais, viola, pandeiro, botijão e rabeca, por acordeom, triângulo e zabumba. O novo ritmo fez uma revolução na música brasileira, que oscilava na época entre o samba-canção e os ritmos importados, e via-se diante de algo completamente novo e que entrou direto no gosto popular, o baião. A dupla com Luiz Gonzaga rendeu inúmeros sucessos, dentre os quais os maiores foram: "Mangaratiba", "Juazeiro", "Paraíba", "Qui nem jiló", "Xanduzinha",  "Baião", "Asa branca", "Lorota boa", "Assum preto", "Estrada de Canindé", "Respeita Januário" e "Meu pé de serra".

Em 1950, a dupla se desfez, com a ida de Luiz Gonzaga para a Sbacem. Ainda em 1950 teve a música "Meu brotinho", cantada por Francisco Carlos no filme "Carnaval no fogo". O referido cantor tornou-se conhecido pelo público a partir deste sucesso. No mesmo ano, Humberto Teixeira elegeu-se deputado federal pelo Ceará, com maciça votação. Em 1951 teve "Bate o bumbo" interpretada por Eliana no filme "Aviso aos navegantes". No mesmo ano, dois sambas de sua autoria foram gravados: "Desci o morro", em parceria com Lauro Maia, gravado por Os Boêmios, e "Martírio", em parceria com Oldemar Magalhães, gravado por Helena de Lima.  Ainda em 1951 teve  grande êxito com a composição "Sinfonia do café", feita especialmente para o espetáculo "Muiraquitação", encenado no Teatro Municipal e gravado por Déo e Coro dos Apiacás, pela Continental. A mesma Helena de Lima gravou "Baião de Salvador", da parceria com  Sivuca.

Foi eleito o "melhor compositor nacional" pela Revista do Rádio nos anos de 1950, 1951 e 1952, sendo recebido pelo presidente Getúlio Vargas.

Em 1952, teve a "Marcha do sapinho", parceria com Norte Victor,  cantada por Oscarito e Maria Antonieta Pons, no filme "Carnaval Atlântida". Em 1956, juntamente com o compositor João de Barro fundou a Academia Brasileira de Música Popular. Além de Luiz Gonzaga, teve como um dos seus principais parceiros o cunhado Lauro Maia com quem compôs, entre outras, "Mariposa", marcha gravada por Orlando Silva em 1946, e "Pecador", samba gravado em 1949 por 4 Ases e 1 Coringa. Fez também diversas composições com Felícia de Godoy, entre as quais "Antes que eu enlouqueça" e "Vou-me embora".

Suas composições foram gravadas por diversos intérpretes, entre os quais Carmélia Alves, com a marcha rancho "Jardineira de ilusões", Odete Amaral, com a marcha "Bem vi", Jamelão, com "Pirarucu", Cyro Monteiro com "Agradece a Deus", Ivon Curi, com "A beleza da Chuiquinha" e Emilinha Borba com "Tá fartando coisa em mim". Posterirormente, Geraldo Vandré, Caetano Veloso e Alceu Valença entre outros  gravaram "Asa branca" e Gal Costa gravou "Assum preto", além de  outros artistas contemporâneos que gravaram composições de sua autoria.

Em 1958, conseguiu aprovar no Congresso Nacional a Lei Humberto Teixeira para a formação de caravanas de artistas para divulgar a música brasileira no exterior. A primeira dessas caravanas foi formada no mesmo ano, contando com a participação dos artistas Abel Ferreira, Sivuca, Pernambuco, Dimas, Trio Iraquitã e Maestro Guio de Morais, tendo percorrido diversos países. Sempre sob a direção de  Humberto Teixeira, essas caravanas aconteceram até 1964.

Em 1971, foi eleito vice-diretor da UBC, dando prosseguimento a sua luta pelos direitos autorais. Com mais de 400 composições gravadas,  tornou-se um compositor reconhecido internacionalmente, com composições gravadas em diversos idiomas.  A partir do ano 2000, sua filha, a atriz Denise Dumont, residente em Nova York, encarregou-se de resgatar suas memórias, promovendo shows e artigos em jornais e revistas sobre a importância de sua obra. Em 2001, teve a música "baião" (c/ Luiz Gonzaga) gravada por Targino Gondim, no CD "Dance Forró Mais eu".  

Em 2002 foi homenageado por ocasião da entrega do Primeiro Prêmio Rival BR de Música / Troféu Humberto Teixeira, na noite de 27 de agosto daquele ano, com a realização de um show-tributo,  com a participação de Elba Ramalho, Fagner, Gilberto Gil, Lenine, Rita Ribeiro, Sivuca, Cordel de Fogo Encantado, Carmélia Alves e Zeca Pagodinho, que interpretaram, entre outras, " Adeus Maria Fulô", parceria com Sivuca, "Juazeiro", "Assum preto", "Qui nem jiló" e "Estrada do Canindé", todas em parceria com Luiz Gonzaga.

O show, que fez parte do documentário sobre o compositor, produzido por Ana Lontra e pela filha do artista, Denise Dummont,  foi lançado em CD em 2003, pelo selo Biscoito Fino o CD com o título "O Doutor do Baião. Além do registro ao vivo do show, o disco apresenta nas quatro primeiras faixas, gravadas em estúdio, Maria Bethânia, exortando o lirismo sertanejo em "Asa Branca; Caetano Veloso em "Baião de Dois", Sivuca acompanha Gal Costa em "Adeus Maria Fulô" e Chico Buarque interpreta "Kalu", em cuja letra se pode ver exemplo de como Humberto Teixeira soube transitar  entre a erudição e as licenças poéticas, trazendo versos como: "Tira o verde desses óio de riba d"eu". Também faz parte do projeto a revitalização de "Juazeiro", por Gilberto Gil e, na última faixa, todos cantam "Asa Branca".

Em 2004,  "Asa Branca", composta com Luiz Gonzaga, foi apontada como uma das mais executadas, em diversas apresentações de palco, além de execuções no rádio, segundo dados da Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

Em 2006, ocorreu, pela Jobim Music e Good Ju-Ju,  a publicação do livro "Cancioneiro - Humberto Teixeira", um compêndio de 2 volumes em homenagem ao compositor. O volume 1- "Biografia" e o segundo volume, "Obras escolhidas", contendo as partituras e letras de uma seleção de obras, sob os cuidados da atriz Denise Dummont, filha de Humberto Teixeira. O projeto, que teve concepção da Jobim Music, foi realizado com curadoria de Denise e Ana Lontra Jobim, tendo, os dois volumes,  texto biográfico, em oito capítulos, de Ricardo Cravo Albin, apresentação de Sérgio Cabral e prefácio de Tárik de Souza. Os arranjos, das partituras foram assinados por Wagner Tiso e o desenho gráfico por Gringo Cardia. O volume "Biografia" também contou com breve declaração de Roberto Smith, presidente da BNB.

Em 2008 Lirio Ferreira dirigiu o documentário O Homem que engarrafava nuvens

Em 2009, teve as suas músicas "Orélia"; "Juazeiro" (c/ Luiz Gonzaga); e "Estrada de Canindé" (c/ Luiz Gonzaga), gravadas no CD "Canções de Luiz", do cantor e sanfoneiro Targino Gondim.

Seu clássico "Asa branca", parceria com Luiz Gonzaga, é uma das músicas mais conhecidas e gravadas do cancioneiro popular brasileiro, tendo recebido gravações de cantores consagrados como João Mossoró, Gilberto Gil, Dominguinhos, Lulu Santos, Fagner, Caetano Veloso, Elis Regina, Tom Zé, Chitãozinho e Xororó, Ney Matogrosso, Badi Assad, Maria Bethânia, Hermeto Pascoal, Quinteto Violado, Xangai e Raul Seixas, que gravou a canção em uma versão em inglês, além do original em português, fazendo um mix com a música "Blue Moon of Kentucky", do norte-americano Bill Moroe. A composição continua sendo revitalizada com interpretações em shows e gravações de cantores e duplas mais jovens do universo sertanejo. 

Em maio de 2010, o cantor e compositor Zé Ramalho lançou, pelo selo Descobertas, o CD "Zé Ramalho canta Luiz Gonzaga", marcando 20 anos de ausência do Rei do Baião. Neste disco, produzido por Marcelo Fróes, Zé Ramalho incluiu 7 faixas de autoria de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, que fizeram sucesso com este último: "Baião", "O xote das meninas", "Asa Branca", "No meu pé de serra", "Qui nem jiló", "Paraíba" e "Assum preto".

Em 2011, foi lançada pelo selo Discobertas, em convênio com o ICCA - Instituto Cultural Cravo Albin, a caixa "100 anos de música popular brasileira", com a reedição, em 4 CDs duplos, dos oito LPs que continham as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin, na Rádio MEC-RJ, em 1974 e 1975. Nesses CDs estão incluídos os baiões "Dezessete e setecentos", com Miguel Lima; "Baião", "Paraíba", "Juazeiro", "Magaratiba", "Qui nem jiló" e "Asa branca", todas com Luiz Gonzaga, na interpretação do "Rei do Baião".

Em sua homenagem e reconhecimento, foi batizada com seu nome a Rodovia CE-021 (que liga Iguatu a Fortaleza), a Agência do Banco do Nordeste do Brasil de Iguatu e o Centro Cultural Iguatuense.

Humberto Teixeira na Wikipédia 

Humberto Teixeira no Dicionário Cravo Albin 

BNB, Jobim Music e Good Ju-Ju lançam o Cancioneiro Humberto Teixeira, por Luciano Sá

Espaço divulga acervo de Humberto Teixeira, por Honório Barbosa

O Homem que Engarrafava Nuvens, por Paulo Yokota

Humberto Teixeira fala da sua parceria com Luiz Gonzaga em entrevista concedida a Nirez, em 1977, por Euriques Fernandes Carneiro

Inácio propõe homenagens no centenário de Humberto Teixeira

Momento Três faz homenagem aos 100 anos Humberto Teixeira




Humberto Teixeira: O homem que engarrafava nuvens

"Quando o verde dos teus óio se espaiar na prantação, eu te asseguro, não chore não, viu?, que eu vortarei, viu?, meu coração1 - Estes são alguns dos versos mais belos que já foram criados na língua portuguesa" – Sérgio Vaz
"Foi Tárik de Souza que me deixou clara a noção de que a música popular brasileira descende de três grandes vertentes: Noel Rosa, o samba urbano, metropolitano, Zona Norte do Rio de Janeiro; Dorival Caymmi, cuja obra abrigou as canções regionais, praieiras, nordestinas, e também as canções urbanas, Zona Sul, que prenunciavam a bossa nova; e Luiz Gonzaga, o cara que ensinou ao Brasil que existia o Nordeste"  - Sérgio Vaz




Do encontro de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira
saíram algumas das mais belas canções já feitas neste país.
Humberto Cavalcanti Teixeira nasceu em Iguatu, interior do Ceará, em 1916. Se os caprichos do destino não o houvessem feito conhecer Luiz Gonzaga do Nascimento, nascido em 1912 em Exu, Pernambuco, muito provavelmente ele teria sido, ainda assim, um personagem importante da música brasileira. Era um compositor e letrista de talento. Tem obra vasta, forte, ele próprio, sozinho.
Mas o fato é que quiseram os tais caprichos do destino que ele viesse a conhecer, em meados dos anos 40, já no Rio de Janeiro, então a capital, a única metrópole e o centro irradiador de cultura para o país inteiro, o tal Luiz Gonzaga.
Numa entrevista gravada, sabe-se lá quando, Humberto Teixeira lembrou que Iguatu, no Ceará, fica perto de Exu, em Pernambuco, e que o encontro entre ele e Luiz Gonzaga teria mesmo que acontecer. Numa belíssima sacada, o diretor Lírio Ferreira mostra no seu filme essa frase enquanto vemos um mapa do Brasil: de Iguatu para Exu e daí para o Rio de Janeiro, é uma linha reta.
http://lella.files.wordpress.com/2010/01/o-homem-que-engarrafava-nuvens_poster.jpg?w=593
O filme “O Homem que Engarrafava Nuvens” retrata a vida e obra do compositor pernambucano, eterno parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira
Por que as pessoas se encontram?
O acaso. As coincidências. O destino. O que os deuses decidiram. Tudo isso, ou nada disso. Ira Gershwin encontrou George porque eram irmãos. Paul encontrou John porque moravam na mesma cidade. Tom encontrou Vinícius também porque moravam na mesma cidade, a capital federal, a única metrópole do país, em que as pessoas bem de vida e de talento se concentrava em três ou quatro bairros contíguos.
Encontraram-se no Rio, uns 20 anos antes de Tom encontrar Vinicius, o cearense doutor, e o pernambucano de origem mais humilde, sanfoneiro, musicalidade saindo pelos poros.
Do encontro de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira saíram algumas das mais belas canções já feitas neste país, cuja principal riqueza, sei disso faz tempo, é a música popular. Saiu um fenômeno cultural – foi por causa de Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira que pela primeira vez um ritmo, uma tradição nordestina conquistou essa tralha imensa chamada Brasil, para usar uma expressão de Chico Buarque, ele mesmo presente no documentário cantando “Kalu”, uma canção só de Humberto Teixeira, sem Luiz Gonzaga.
A dupla criou um fenômeno cultural
que se espalhou pelo país inteiro – e por muitos outros países
Estou hoje com 62 anos; só fui entender a grandeza, a genialidade de Luiz Gonzaga quando já tinha passado dos 20. Este é um país jovem, e de memória pequeníssima – ou nenhuma. Metade dos brasileiros nasceu na era do funk, do rap, do hip-hop.
Apenas cerca de um quarto, talvez um quinto dos brasileiros se lembra dos tempos em que o Rio de Janeiro era a única caixa de repercussão, de reverberação de cultura – os tempos da Rádio Nacional, da Revista do Rádio.
Por causa de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o baião virou mania nacional e, também, internacional.
Os caras que ensinaram ao Brasil que existia o Nordeste
Quer saber? Na minha opinião, foda-se o reconhecimento internacional. Para mim, não importa nada se o baião teve aplausos na Itália, nos Estados Unidos.
Importa, isso sim, que o país inteiro curtiu o baião. Foi um imenso fenômeno cultural: pela primeira vez, o Brasil do Sudeste, do Sul, reconhecia e aplaudia e aprovava como sua a música do Nordeste.
Quando era bem jovem, eu lia Tárik de Souza com o respeito com que os muçulmanos leem o Corão. Foi Tárik de Souza que me deixou clara a noção de que a música popular brasileira descende de três grandes vertentes: Noel Rosa, o samba urbano, metropolitano, Zona Norte do Rio de Janeiro; Dorival Caymmi, cuja obra abrigou as canções regionais, praieiras, nordestinas, e também as canções urbanas, Zona Sul, que prenunciavam a bossa nova; e Luiz Gonzaga, o cara que ensinou ao Brasil que existia o Nordeste.
Às vezes, em termos de costumes típicos, de cultura popular, de música, parece que o Nordeste é maior do que o Brasil.
Depois que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira ensinaram ao Brasil (e ao mundo, mas o mundo que se dane) como se dança o baião, a cultura deste país, e o próprio país, jamais foram os mesmos.
Metade, ou mais da metade da música brasileira vem de origens nordestinas, se entendermos a Bahia como Nordeste.
Mirtão gravou, com sua voz de sino de cobre de igreja histórica das Gerais, junto com Gonzagão a canção “Légua Tirana”, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. (Fizeram juntos também outro dueto extraordinário, de doer o coração, em “Luar do Sertão”, no disco de 1971 em que Gonzagão comemorava alguma data importante de sua carreira, não me lembro qual.)
Então, depois de romper a parceria com Lua…
Pois então, depois de romper ou ter tido rompido a parceria com Lua, Humberto Teixeira compôs “Kalu”, que foi um imenso sucesso.
A gravação de Chico de “Kalu” é belíssima. Chico é um grande cantor. Chico é grande em tudo o que faz – menos quando fala de política.
Com uma coragem absurda,
a filha mostra imensa distância entre o artista e o homem
'Kalu, Kalu, tira o verde desses óis de riba d’eu' - outro verso antológico, brilhante, genial.
***
De uma forma extremamente corajosa, Denise Dumont expõe a imensa distância entre o Humberto Teixeira artista e o Humberto Teixeira pessoa.
Denise, parece, passou muitos anos sem ver sua mãe, nascida Margarida Pollice no rico interior paulista, que, em sua carreira como atriz de cinema, entre 1951 e 1954, usou o pseudônimo Margot Bittencourt, e, nos últimos anos de vida, assinava-se Margarida Jatobá, por ter sido casada com Luiz Jatobá.
Pois então Denise reencontrou a mãe para entrevistá-la para o documentário que vinha produzindo. Margarida morava em Nova York fazia anos. A entrevista, no amplo apartamento da velha senhora, é o ponto mais emocionante do filme. É visível que Margarida não se sente inteiramente à vontade para falar do ex-marido diante da câmara. Chega a perguntar para a filha se está tudo bem, se deve mesmo falar tudo, e Denise a incentiva a falar, se abrir. Diz a ela que todas as pessoas que havia entrevistado até então sobre o pai só tinham elogios a ele, o grande músico; mas que queria saber da pessoa do pai.
 - "Era um nordestino do interior, macho", define Margarida.
Um machista, retrógrado, possessivo, conservador até a medula. Esse é o retrato que Denise Dumont descobriu do pai, e que tem a coragem de revelar.
Coragem. Sobra coragem a essa moça.
A uma determinada altura, Denise Dumont, sendo filmada, faz para a mãe a pergunta para a qual ainda não tinha tido resposta na vida:
- “Como é que acabou ele ficando comigo e você deixando isso acontecer?”
Quase tão ruim quanto um traficante de escravos – mas que maravilhoso compositor
Sempre achei que a vida pessoal do artista não tem muito a ver com sua obra. Um sujeito pode ser egoísta, vaidoso, até mau caráter, e ser capaz de criar belas obras. Pode até traficar escravos e ser grande poeta, como prova Rimbaud. Dizem que Erza Pound simpatizava com o naz-fascismo, e no entanto era um grande poeta.
Humberto Teixeira não foi um bom pai, um pai presente, amigo. Ao contrário. Ao descobrir que Denise estava fazendo usa primeira peça teatral, aos 16 anos de idade, foi ao teatro com um oficial de justiça, para proibi-la de continuar atuando: moça decente não trabalha em teatro.
Era um machista, retrógado, possessivo, conservador – e, pior do que tudo isso, um pai ausente.
E, no entanto, que grande compositor.
http://www.diariodoaco.com.br/img/imprensa/highslide/I000569.jpg
Denise Dumont, filha de Humberto Teixeira
Que belo, maravilhoso filme.
Anotação de Sérgio Vaz em fevereiro de 2012



Recordações - Rita Célia Faheina

A este sentimento que nos faz chorar sem que seja de dor, de sofrimento, deram o nome de saudade.


"Eu vou, vou pro Ceará 
Eu vou, vou ver meu bem. 

Meu povo tá chorando, 
Vou lá chorar também. 

Eu vou dizer pro mar 
Que "arespeite" ao menos 
A casa do meu bem... 

A praia de Iracema 
Foi sempre o meu amor 
Não leve o meu coqueiro 
Deixe em paz meu bangalô". 

Humberto Teixeira nem lembrava mais da letra quando dona *Marlene Teixeira cantarolou pra ele a música de sua autoria em um dos últimos encontros que os dois tiveram, na década de 70. Prima e quase irmã, devido a grande convivência que tinham, ela guarda em sua casa, em Iguatu, na Região Centro-Sul do Ceará, várias recordações como troféus, fotos e recortes de entrevistas do "doutor do baião", título que ganhou de Luiz Gonzaga, de quem foi um grande parceiro e amigo. 

"Éramos muito unidos e quando ele foi embora da cidade (Iguatu) para o Rio de Janeiro, sempre nos correspondíamos, mandávamos cartões, cartas e ainda hoje me correspondo e falo, por telefone, frequentemente, com a Denise e sua mãe (a atriz Denise Dumont, filha única de Humberto e Margarida Teixeira que mora em Nova Iorque, EUA)". A ex-mulher do compositor é tradutora e pianista. 

Marlene, que diz estar com uns "70 e poucos anos", recorda que o primo não gostava de aparecer, por isso tem tão pouca coisa sobre ele, como reportagens e gravações de entrevistas. Relembra de uma das últimas entrevistas que Humberto concedeu no Ceará e ela assistiu. "Consta do acervo do pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez", informa. 

A mãe de dona Marlene, **Alice era a maior amiga de Lucíola Teixeira, mãe de Humberto. Em Iguatu, sempre moraram próximas. "Tia Lucíola era muito enérgica com os filhos. A casa que eles moravam era grande e tinha um sótão. Os meninos e meninas - além de Humberto, Joacir, Ivan, Juarez, Luzanira, Djanira (esposa do compositor Lauro Maia), Glaura e Ivanira - tinham de estudar e cumprir as tarefas, antes de brincar. Mas eram todos muito bons e inteligentes". 

Marlene aponta para a foto do tio, o maestro Lafaiete Teixeira, que dependurou na parede da sala de visitas, e recorda que foi ele quem iniciou Humberto na música. "Tio Lafaiete, irmão de papai (***Joel Leônidas Teixeira) e de tia Lucíola foi quem o ensinou a tocar gaita, e depois ele aprendeu flauta e bandolim. Com 12 anos, Humberto foi para o Rio de Janeiro, mas nunca esqueceu Iguatu. Sempre que podia vinha fazer uma visita aos familiares". 

Ela relembra da época em que ele se candidatou a deputado federal, na década de 50, quando foi a Iguatu fazer campanha ao lado de Luiz Gonzaga. "Quando assumiu, criou a Lei Humberto Teixeira, um projeto que incentivava a divulgação da música brasileira no Exterior. Ele escrevia e falava muito bem, porém cantar era uma negação. Lembro ainda que, na adolescência, tinha uma loucura por piano, mas o pai dele não deixava porque dizia que era coisa de mulher", recorda. 

Nos anos 60 e 70, Marlene foi visitar o primo no Rio de Janeiro e ficou se comunicando assiduamente com a mulher do compositor, Margarida e a filha Denise, atriz que foi casada com o ator Cláudio Marzo de quem tem um filho, Diogo. "No Rio, Humberto mesmo projetou sua casa e ali viveu com a família até sua morte, em 1979". 

Dona Marlene lembra que todos sentiram muito a morte do "doutor do baião" porque era muito presente na família e gostava de sempre estar junto dos parentes. Na semana passada, Marlene teve uma surpresa agradável: recebeu da Jobim Music a biografia, as músicas e partituras do primo. "Soube que Denise esteve no Rio de Janeiro e vou me comunicar com ela para contar sobre o presente. Fiquei muito feliz, porque é um reconhecimento de tudo o quanto o Humberto foi e continua sendo para a Música Popular Brasileira". 

* Tialena
** Vovó Alice
***Vovô Joel
“...Não vale a pena chorar/não vale a pena maldizer, o melhor é sorrir, sorrir e esquecer...” trecho da canção "Insensatez " de autoria de Tialena.

Jovens coreanos homenageiam o rei do baião



Asa Branca interpretada pelos jovens coreanos da banda Coreyah (via Studio Lovo)
 Luiz Gonzaga é lembrado hoje de forma especial (completaria 100 anos) por todo canto, por toda gente, inclusive por jovens do outro lado do planeta numa língua que ele nunca sonhou ver sua Asa Branca voar. Ou sonhou?
Abaixo, três minutos com o rei do baião falando sobre Lampião e Padre

O Brasil que Luiz Gonzaga percorreu e cantou no século 20 não é mais o mesmo

[...] Cresceu e apareceu para o mundo: virou potência econômica. Mas olhado por dentro, como fez o sanfoneiro a partir dos anos 1940, o país continua desigual, com grandes prejuízos a cada adversidade climática. 

"A seca compromete a produção agrícola e pecuária, que tem um peso grande no PIB (Produto Interno Bruto) dos pequenos municípios. Comas estiagens prolongadas, há uma grande perda da capacidade de renda das famílias desses lugares ", avalia o economista Geraldo Antonio Reis, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). 

Embora esteja no Sudeste, a região mais rica do país, o Norte de Minas, juntamente como Vale do Jequitinhonha, padece da mesma forma que o sertão nordestino. Mas por que a falta de água ainda mata o gado e provoca tamanha judiação? É o que os repórteres Paulo Henrique Lobato, Luiz Ribeiro e Alexandre Guzanshe respondem a partir de hoje, quatro dias antes dos 100 anos do Rei do Baião, na série de reportagens "O Brasil de Gonzaga".

Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira, 1947)

Crateús: Escola resgata história do Rei do Baião


Crateús Durante dois dias a Escola de Ensino Fundamental e Médio Lions Club, neste município, resgata a sua história e a de Luiz Gonzaga, por meio da III Amostra Científica e Cultural. O evento comemora este ano os 45 anos da escola e traz como tema "Danado de Bom", enfocando o centenário do Rei do Baião. Núcleo gestor, professores e alunos se mobilizaram ao longo do ano em torno dos temas e na amostra apresentam a culminância das pesquisas e dos trabalhos construídos no período.

"Tudo o que apresentamos nestes dois dias são frutos de tarefas e estudos realizados pelos alunos no decorrer do ano, com o auxílio dos nossos professores. Todos na escola se envolveram para comemorar a data e homenagear Luiz Gonzaga em seu centenário", destaca a diretora, Adriane Macedo.

Do portão de entrada da instituição ao auditório, passando por pátio, salas de aula e de jogos se vê a homenagem ao Rei Luiz Gonzaga. Banners, cartazes, faixas, símbolos e desenhos recordam a vida dele. Sanfonas, chapéus, roupas, músicas e acessórios remontam à história de vida daquele que mostrou o Nordeste ao restante do País e ao mundo. Leia mais>>>

Luiz Gonzaga: Sinônimo de Baião

Antecipando as comemorações dos 100 anos de nascimento de Luiz Gonzaga - o Rei do Baião - a prefeitura de Fortaleza instituiu o dia municipal do forró.

Há 99 anos, neste mesmo dia, nascia no pequeno município de Exu, interior de Pernambuco, um dos maiores artistas que o País já produziu. Filho de Januário com a cabocla Santana, Luiz Gonzaga Nascimento foi responsável não apenas por redesenhar o gênero do forró, mas por fortalecer de maneira decisiva sua difusão para além das fronteiras do Nordeste.

Frente à aproximação do centenário do Rei do Baião (falecido em agosto de 1989), a Prefeitura de Fortaleza decidiu antecipar as comemorações, ao instituir a data de seu aniversário como o Dia Municipal Forró, inserido no calendário oficial de eventos culturais da cidade.

A ocasião, claro, terá festa, como manda o figurino. Ao todo, 20 atrações reúnem-se hoje à noite no Polo Luiz Gonzaga, no Conjunto Ceará. Cada artista ou banda interpreta duas músicas: uma própria e outra em homenagem ao Mestre Lua (decidida por sorteio). A iniciativa é da Associação Cearense do Forró (ACF), com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Integram ainda a programação, a Orquestra Sanfonas do Ceará e o Balé Folclórico Arte Popular. "Queremos que esse evento se torne uma tradição", explica Walter Medeiros, presidente da ACF e membro do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza.

"Selecionamos artistas que fazem parte da nossa história musical e engajados na luta por esse movimento do forró de qualidade", complementa Medeiros. A lista inclui nomes como Adelson Viana, Netinho do Ceará, Oswaldinho do Ceará, Diassis Martins, Estrela do Norte, Messias Holanda, Neo Pi Neo, Os Januários, entre outros.

Para Messias Holanda, por exemplo, o forró deve ser alvo de ações de proteção. "Tem de ser aguado que nem planta, pros mais novinhos passarem a conhecer e não esquecerem. O nosso forró é muito sofredor, empurra pra lá, empurra pra cá, e ele ainda resiste", avalia.

Hoje à noite, ele interpreta "Ovo de Codorna", de Gonzagão, e o sucesso "Pra tirar coco", de sua autoria. "Pra onde eu vou, esse pé de coco se espalha. É automático", brinca.

Já José Alderir Alves da Costa, mais conhecido pelo nome artístico Estrela do Norte, não é cearense, mas escolheu o Estado para investir no que chama de "forró de verdade", título que também dá nome a seu último CD. "Sou de Mãe do Rio, no Pará, mas meus pais são cearenses. Dos 13 anos que estou em Fortaleza, há 11 venho me dedicando ao forró", explica.

O artista iniciou a carreira com a música "Xote Ecológico", composição de Luiz Gonzaga em homenagem a Chico Mendes. Por isso, só tem o que comemorar com a criação da data. "Esse dia é uma conquista ímpar para a associação", vibra. Hoje ele apresenta "A sorte é cega", de Gonzaga, e "Feliz da Vida", de Flávio Leandro.

Homenagem
Mas quem deve estar mais animado com o evento é Diassis Martins, cuja admiração por Luiz Gonzaga levou-o a idealizar um CD tributo, "Diassis Martins cantando Gonzagão", apenas com regravações de músicas do ídolo. O novo trabalho será lançado com um show no dia 13 de janeiro. "Sempre quis gravar um disco homenageando Gonzagão, mas é algo difícil por conta da liberação dos direitos autorais. Sai muito caro", explica. "Mas consegui uma gravadora que abraçou o projeto, a DM Music. Eles me contrataram e assumiram todas as despesas".

Durante a seleção de músicas, Diassis guardou espaço para algumas menos divulgadas do Mestre Lua, que nunca haviam sido regravadas. "´A triste partida´, por exemplo, tem nove minutos, não roda nas rádios. Também regravei ´Obrigado João Paulo´, homenagem de Gonzaga ao Papa João Paulo II".

Obviamente, grandes sucesso não poderiam ficar de fora. "Tem ´Numa sala de reboco´, ´Sabiá´, ´A volta da asa branca´, além de um pout-pourri com as marchas juninas, a exemplo de ´Pagode russo´, ´Fogo sem fuzil´ e ´Olha pro céu´", enumera.

O projeto demorou quatro meses para ficar pronto, desde a pesquisa e elaboração de repertório até o envio do material para fabricação da matriz do CD nos EUA. Para acompanhá-lo, convidou vários músicos cearenses.

Hoje, ele relembra Gonzaga com "A Vida do Viajante", além de "10 mandamentos do amor", de Jeovah de Carvalho e Dadá di Moreno. Sobre a criação do Dia Municipal do Forró, Diassis acredita ser uma iniciativa importante para preservar a memória do gênero. "Isso veio fortalecer o forró na cidade, ainda mais na data de nascimento de Gonzagão. Reconheço que a administração atual de Fortaleza preza muito por apresentar a música local de qualidade".

Início da carreira
Luiz Gonzaga foi o segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus. Com apenas oito anos de idade, substituiu um sanfoneiro em festa na fazenda Caiçara (onde nasceu, no sopé da serra do Araripe, em Exu), a pedido de amigos do pai. Cantou, tocou e, pela primeira vez, recebeu um "cachê" (vinte mil réis). A partir daí, os convites para se apresentar tornam-se frequentes. Antes de completar 16 anos, já era conhecido em toda a região. Após fugir de casa, servir ao exército em Fortaleza e em Minas Gerais, termina no Rio de Janeiro, onde começa a se apresentar.
por ADRIANA MARTINS
REPÓRTER