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A homeopatia não serve para coisa alguma

O chefe do primeiro centro britânico a estudar terapias alternativas diz que há pouca ciência por trás delas

Teresa Perosa – Época

O médico alemão Edzard Ernst, de 63 anos, foi o primeiro pesquisador no Reino Unido a comandar um departamento acadêmico especializado em analisar cientificamente a eficácia das terapias alternativas, como homeopatia, acupuntura e ervas medicinais. À frente da Unidade de Medicina Complementar da Universidade de Exeter desde 1993, Ernst amealhou evidências a favor do uso da acupuntura para tratar artrose e trouxe novas provas do efeito antidepressivo da erva-de-são-joão (Hypericum perforatum). Mas também concluiu – "com tristeza" – que a homeopatia não funciona. "A homeopatia parece não ser nada além de uma preparação sem efeito algum", diz Ernst, que é ex-homeopata. A seguir a entrevista que ele deu a ÉPOCA.

ENTREVISTA – EDZARD ERNST

Divulgação

QUEM É

É médico e pesquisador de medicina alternativa. Nasceu na Alemanha, mas vive na Inglaterra com sua mulher francesa. Tem 63 anos

O QUE FEZ
Foi diretor do primeiro departamento acadêmico britânico a estudar as técnicas de medicina alternativa, criado em 1993 pela Universidade de Exeter

O QUE PUBLICOU
É autor de Medicina complementar – Uma avaliação objetiva (Editora Manole, 2001) e Trick or treatment? Alternative medicine on Trial, de 2008, sem edição no Brasil

ÉPOCA – Depois de estudar terapias alternativas por quase 20 anos, qual é sua conclusão? Elas funcionam?
Edzard Ernst – 
Depende de cada técnica. Essa área inclui práticas muito diferentes entre si. Os melhores resultados estão na área de ervas medicinais. A planta Hypericum perforatum, conhecida como erva-de-são-joão, foi uma das mais estudadas. Diria que ela não é apenas eficaz contra a depressão. Ela é melhor que os antidepressivos. Em minha opinião, é melhor que o Prozac. A acupuntura funciona para algumas condições, não para todas. Há fortes evidências de que ela é eficaz no tratamento da artrose, uma doença que causa a degeneração da cartilagem nas articulações, causando dor e rigidez. O melhor resultado é no tratamento de dores no joelho. Já a homeopatia parece não ser nada além de um placebo, uma preparação sem efeito algum.

ÉPOCA – Como o senhor recebeu esses resultados, sendo homeopata?
Ernst – 
Teria adorado provar que homeopatia funciona, porque eu ganharia o Prêmio Nobel de Medicina e seria muito rico. Mas fico triste em dizer que a evidência mostra exatamente o contrário. Atualmente, há cerca de 200 testes clínicos em andamento e a maioria dos resultados não é favorável à prática. É preciso dizer que os fundamentos do tratamento homeopático são implausíveis. Diluir remédios não os torna mais poderosos, mas os faz menos eficazes. Esse assunto é o mais polêmico em minha área porque as pessoas que acreditam na homeopatia o fazem quase com fervor religioso.

ÉPOCA – Por quê?
Ernst – 
A realidade que o médico vê no consultório é diferente daquela que acontece em um laboratório. Você, como médico, atende um paciente com enxaqueca, decide receitar remédio homeopático e em 15 dias ele volta dizendo que a dor desapareceu. A maioria dos homeopatas diria que isso mostra que a homeopatia funciona. Mas, como cientista, você aprende a pensar de maneira diferente. Em minha opinião, a melhora do paciente não quer dizer absolutamente nada. Pode ser consequência do efeito placebo ou, simplesmente, a evolução natural da condição. A experiência como médico pode ser bastante ilusória. É exatamente por isso que nós precisamos de pesquisas. Um bom médico deve confiar em evidências científicas tanto quanto confia em sua experiência diária.

ÉPOCA – O senhor fez muitos inimigos?
Ernst – 
Os resultados dos estudos do meu grupo em relação à homeopatia e à quiropraxia, técnica que usa o alinhamento da coluna para tratar dores, foram muito negativos. Os defensores dessas duas práticas não gostam do meu trabalho, não gostam de mim e me atacam pessoalmente. Eles se mostraram extremamente agressivos. Não ligo para esses ataques, se eles não forem muito pessoais ou de baixo nível. Encaro essas controvérsias como resultado do meu trabalho. Às vezes, até provoco discussões de propósito. Acho que estimula o pensamento crítico, exatamente do que precisamos nessa área.

"Os estudos não respondem a questões cruciais, como o
mecanismo que explicaria os efeitos das práticas no corpo"

ÉPOCA – O senhor acha que não há rigor suficiente nas pesquisas sobre terapias alternativas?
Ernst – 
A maior parte dos estudos atuais não aplica análise crítica em grau suficiente. Querem apenas promover a medicina alternativa, mostrar que funciona. Os estudos não respondem a questões cruciais, como o mecanismo fisiológico que explicaria os efeitos das práticas no corpo. O que a área precisa é de ciência rigorosa, em vez de promoção pura e simples. Precisamos de cientistas que pesquisem de verdade as técnicas de medicina alternativa. Se você não é cético, não pode ser um cientista.

ÉPOCA – Acreditar na eficácia da terapia pode atrapalhar o resultado da análise?
Ernst – 
O ângulo errado de encarar uma pesquisa é dizer: "Estou convencido de que esse tratamento funciona e vou usar a ciência para provar". Para testar uma hipótese é preciso tentar derrubá-la. Se você tenta provar que um tratamento não funciona e o submete às mais extremas e severas condições e, ainda assim, ele apresenta resultados eficazes, é sinal de que funciona em qualquer circunstância. Mas não é assim que a maioria de meus colegas no mundo inteiro trabalha. Eles partem do pressuposto que a terapia é eficaz e querem provar isso. Pesquisar medicina alternativa é muito desafiador.

ÉPOCA – Quais são as dificuldades?
Ernst – 
Os efeitos dessas práticas costumam ser muito discretos. Não dá para dizer que a acupuntura e a homeopatia têm efeitos revolucionários sobre a vida dos pacientes. Isso significa que os estudos precisam ser realizados em uma amostra muito grande de pacientes, porque só assim temos condições de conseguir medir os efeitos. O problema é que pesquisas com muitos voluntários são caras. O segundo desafio é encontrar uma boa maneira de avaliar se a técnica funciona. Em testes de medicamentos comuns, um grupo de pacientes toma o remédio de verdade e o outro toma placebo, uma pílula falsa, de farinha, que não tem efeito algum. O resultado da pílula verdadeira tem de ser muito melhor que o da falsa. Na medicina alternativa é infinitamente mais difícil encontrar placebos. Por exemplo, como é possível substituir as agulhas de acupuntura? Aqui na unidade nós desenvolvemos uma "agulha placebo", semelhante às facas usadas no teatro. Elas não penetram de verdade na pele.

ÉPOCA – Como ficarão as pesquisas agora que o senhor anunciou a aposentadoria?
Ernst – 
Ainda não abandonei o posto completamente. Estou trabalhando meio período até achar um sucessor. Mas, quando deixar meu cargo, não vou parar. Vou escrever um livro, talvez vários. Vou ser uma voz muito crítica, vocês vão ouvir falar muito de mim.



Receita do Dia

macarrao-ao-molho-branco-f8-5952.jpgIngredientes

500 gr de macarrão cozido "al dente"
quanto queira de molho bechamel
1 copo de Requeijão
100 gr de parmesão ralado 

Modo de preparo

Cozinhe o macarrão al dente e reserve. Em uma tigela misture o molho bechamel, o requeijão e 50 g do queijo ralado. Coloque o macarrão em um refratário e, por cima, despeje a mistura da tigela. Polvilhe o restante do queijo ralado sobre o macarrão e leve ao forno médio, por cerca de 30 a 40 minutos ou até dourar. Como opção, pode-se colocar na mistura do molho bechamel com o requeijão e o queijo ralado, bacon frito (sem a gordura), cebola frita, funghi, presunto, champignon.


Estabilidade estável

O noticiário está tomado pelos problemas políticos do governo, mas o maior problema político talvez esteja na economia. Onde a inflação, apesar de perder fôlego, mostra certa resiliência.

O dólar baratíssimo funciona como âncora. Mas a contração do crédito ainda não parece suficiente. É a velha psicologia brasileira das compras parceladas. Se a prestação cabe no salário, que se danem os juros.

E é bem compreensível, num país onde tantos ainda deixam de ter o básico.

Mas o problema da autoridade monetária não é a justiça social, é a inflação. A aposta de quem costuma apostar é o Banco Central prolongar o aperto sem medo de ser feliz. Com as consequências conhecidas.

Os movimentos recentes no Congresso Nacional indicam alguma acomodação entre o Palácio do Planalto e o PMDB, e também do Executivo com o presidente da Câmara dos Deputados.

Nas novas condições, o governo pôde adiar a regulamentação da emenda 29, que fixa constitucionalmente verbas para a Saúde.

Também há uma chance razoável de ser jogada para adiante a votação de outra emenda, a de número 300, que reajusta nacionalmente os salários dos policiais militares adotando como referência os belos vencimentos da categoria no Distrito Federal.

Mesmo que neste caso cada adiamento vá significar, apenas, um pouco mais de força no tsunami. De lenha na fogueira. Em especial depois da desastrosa condução, pelo governador Sérgio Cabral, do movimento dos bombeiros no Rio.

As turbulências políticas evidenciadas na derrota do governo durante a votação do Código Florestal ficaram para trás, a execução orçamentária anda, os restos a pagar não foram para o beleléu.

E a maioria governista nas duas casas continua ali pronta para tratorar a oposição.

Bem ou mal, a nova coordenação política vem obtendo algum grau de operacionalidade.

A crise do momento, desencadeada pelo noticiário sobre o Ministériodos Transportes, fechou a semana algo circunscrita, à espera do novo titular da pasta.

O tema tem potencial para estragos adicionais, mas o governo trabalha no Congresso para segurar a onda.

Mas a acomodação tem custo político. Medida em recursos orçamentários e também na musculatura adicional de deputados e senadores a cada conturbação.

Se um episódio pede à base sacrifícios em defesa do governo, e se ela comparece à batalha e vence, o Executivo torna-se um pouco mais dependente. Com as decorrências sabidas.

Onde a coisa embute mais riscos? Se a economia emitir sinais de sofrimento além da conta. Se a contenção produzir efeitos na popularidade presidencial, mesmo limitados, a fatura rotineira do Congresso ao Planalto tende a engordar aceleradamente.

O processo é contraditório. A cada crise, o governo vai ficando mais com a cara da presidente, com a colocação de pessoas mais próximas nas posições vagas. É o bisturi dilimista a percorrer tecidos herdados do antecessor.

Mas vai ficando também mais refém dos aliados. Pois um possível efeito colateral das seguidas cirurgias é o desarranjo do organismo como um todo.

Como evoluirá esse delicado equilíbrio numa hipotética situação de perda de musculatura popular da presidente?