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Para aprender melhor

As dicas de Lewis Carroll

Há não muito tempo, comecei a ter uma preocupação maior com relação a como uso meu dia. Notei que se repetia frequentemente a sensação de chegar à noite e perceber que minhas horas foram passando, preenchidas por uma série de notificações de celular, janelas de bate-papo, e-mails e, claro, minhas obrigações com o trabalho. Assim, quando parava na cama, minha cabeça só se ocupava com preocupações a respeito de tudo o que fiz, mas principalmente, de tudo o que deixei de fazer.
Antes de seguir, é importante frisar: não me considero uma máquina de trabalho. Quando falo da impressão de deixar de fazer muita coisa, me refiro mais àquilo que considero fatores essenciais pra minha felicidade, como praticar exercícios, comer bem, meditar, ver um filme sem ter de checar o Whatsapp ou  desenhar, escrever por prazer, aprender uma coisa nova.
Meu sofrimento era sempre o de ter sido arrastado o dia inteiro, de um lado pro outro, sem ter parado pra me dedicar de verdade a nenhuma das coisas que fiz. Dia após dia.
Essa constatação me motivou a realizar algumas mudanças que têm se mostrado bem importantes. A principal, acho, é a de tentar, ao máximo possível, fazer tudo com foco, evitando distrações e interrupções. Nesse período, passei a ler e pesquisar sobre formas de melhor aproveitar esse pouco tempo que possuo e acabei chegando a um texto que vi lá no Brain Pickings, traduzi e agora compartilho.
Charles Lutwidge Dodgson foi um proeminente matemático, estudioso da lógica. Porém, é bem mais conhecido pelo livro que escreveu, inspirado por uma garotinha com quem tinha uma amizade (bastante controversa na época, mais ainda pros dias de hoje), sob o pseudônimo Lewis Carroll, chamado “Alice no País das Maravilhas“.
Esse trecho, de sua autoria, faz parte do volume publicado em 1973, “A Random Walk In Science“.  O livro é a reunião de vários pensamentos que ele tinha a respeito de seu estudo da Lógica Simbólica e oferece um precioso olhar sobre como se dedicar à leitura e ao aprendizado de uma forma que a gente está lentamente deixando de fazer.

Como aprender, por Lewis Carroll

NPG P7(26),Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson),by Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson)
“O aprendiz que quer explorar a questão completamente, quer este pequeno livro forneça os materiais para uma recreação mental mais interessante ou não, é aconselhado a adotar as seguintes regras:
1. Começar pelo começo e não permitir-se contentar com uma mera curiosidade vazia ao olhar rapidamente o livro, aqui e ali. Fazer isso provavelmente o levaria a deixar o livro de lado, com a desculpa “isso é muito difícil pra mim!”, e portanto, perdendo a chance de adicionar um item gigantesco ao seu estoque de deleites mentais.




Essa regra (de não olhar rapidamente) é bastante desejável em outros tipos de livros – como novelas, por exemplo, onde você pode estragar muito do prazer que teria com a história, olhando rapidamente no decorrer da obra, de forma que algo que o autor queria que fosse uma surpresa venha como um acidente de percurso.
Algumas pessoas, eu sei, têm uma prática de olhar o Vol. III primeiro, apenas para ver como a história termina: e talvez seja assim só pra ter certeza que tudo termine bem – que os amantes terminem juntos, que ele seja inocente do assassinato, que o primo perverso seja completamente impedido de concretizar seus planos e tenha a punição que merece e que o tio rico na Índia (Pergunta: Por que na Índia? Resposta: Porque, de alguma forma, tios nunca ficam ricos em outro lugar) morre no momento certo – antes de se dar ao trabalho de ler o Vol. I.
Isso, eu digo, só é permissível com uma novela onde o Vol. III tem um significado mesmo para aqueles que não leram as partes anteriores da história. Mas, com um livro científico, é praticamente insanidade: você vai achar as partes finais desesperadoramente ininteligíveis, se você chegar lá sem seguir o curso regular.
2. Não comece nenhum novo capítulo ou seção sem certificar-se de que entendeu completamente o que leu até aquele ponto, e que você trabalhou, corretamente, nada menos que todos os exemplos que foram sugeridos. Uma vez que você está consciente de ter conquistado absolutamente todas as terras pelas quais passou, e que não está deixando nenhuma dificuldade atrás de você que mais tarde certamente vai aparecer, seu progresso triunfal vai ser fácil e prazeroso. De outra forma, você vai perceber o seu estado de confusão ficar pior à medida que procede, até que desista em extremo desgosto.
3. Quando você chegar a qualquer passagem que não entendeu, leia de novo: se você ainda não entender, leia de novo: se você falhar, mesmo depois de três leituras, talvez seu cérebro esteja ficando cansado. Nesse caso, coloque o livro de lado e dedique-se a alguma outra ocupação, e em outro dia, quando você retomar descansado, provavelmente vai achar aquilo bastante fácil.
4. Se possível, encontre algum amigo genial, que queira ler o livro junto com você e queira falar sobre as dificuldades. Conversar é um excelente suavizador de dificuldades. Quando eu chego com algo – em lógica ou em qualquer outro assunto complicado – que me complique completamente, eu considero falar sobre isso, em voz alta, mesmo se estiver só. Uma pessoa pode explicar as coisas tão claramente para si própria! E, além disso, você sabe, uma pessoa consegue ser bastante paciente consigo própria: ninguém fica irritado com a sua própria estupidez!
Se, querido leitor, você vai observar com fé essas regras, e dar ao meu pequeno livro um julgamento realmente justo, eu prometo, com a maior confiança, que você vai achar Lógica Simbólica uma das mais, senão a mais, fascinante recreação mental.




[...]
Recreação intelectual é uma coisa que todos precisamos para a nossa saúde mental; e você vai conseguir muita diversão saudável, sem dúvidas, de jogos… mas, depois de tudo, quando se tornar campeão em qualquer desses jogos, você não terá nada real para mostrar como resultado.
Você se divertiu com o jogo e a vitória, sem dúvida, na hora: mas não tem um resultado que possa acumular e tirar um benefício real. E, enquanto isso, você esteve deixando inexplorada uma perfeita mina de riqueza.
Uma vez que domina o maquinário da Lógica Simbólica, você tem uma ocupação mental sempre à mão, de interesse contagioso, e uma que vai ser útil em qualquer assunto que você tome. Isso vai dar clareza de pensamento – a habilidade de ver através de um desafio – o hábito de organizar suas ideias em uma forma acessível – e, mais valioso que tudo, o poder de detectar falácias e de destruir argumentos ilógicos, que você vai continuamente encontrar em livros, jornais, discursos e mesmo em sermões, que tão facilmente enganam aqueles que nunca tentaram aprimorar essa fascinante arte. Tente. Isso é tudo que eu peço!”
* * *
Esse período, de mudança de chave tem se mostrado bem frutífero e sinto estar melhorando não só minha performance, como o prazer que tenho obtido ao me engajar nas mais diferentes coisas. Ver um filme, ouvir um álbum, ler um livro, assistir a uma palestra. Todas essas são coisas que deveríamos fazer por padrão com as notificações desligadas, mas não é o que acontece na prática. A cultura de relaxar, focar e se dedicar ao que se propõe a fazer está diminuindo, de forma que hoje, é necessário termos lembretes como os que existem no cinema ou textos como esse.
Claro, sigo falhando e me deixando levar por eventuais notificações do Facebook ou do celular. Ninguém aqui está pregando que sejamos ascetas, sempre seguindo estritamente essa dieta de aprofundamento intelectual. No entanto, quando quisermos, é legal termos a capacidade de fazê-lo sem que isso se torne um esforço à parte.
Por isso, pergunto, como vocês estão levando a rotina? Têm alguma preocupação com a forma como consomem leituras, filmes, músicas, etc?
Luciano Ribeiro


Editor do PapodeHomem, ex-designer de produtos, ex-vocalista da banda Tranze. Tem um amor não correspondido pela ilustração, fotografia e música. Volta e meia grava músicas pelo Na Casa de Ana. Está no Twitter,Facebook e Google+.



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