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Eles sempre esteviram no meio de nós, por Rafael Patto

Eles sempre estiveram no meio de nós.

A deformidade de caráter dessas pessoas que, em meio a uma pandemia, ousam fazer um carnaval em plena Avenida Paulista e ainda desfilam com um caixão como alegoria não é coisa nova.

São perversos no mais alto grau. Indiferentes à realidade factual e insensíveis à dor e ao sofrimento alheio. Ou, caso contrário, não ousariam tripudiar de quem morreu e dos que sofrem pelos que morreram de uma doença que ainda nem começou a fazer o estrago que está prometido.

Essa gente sempre foi assim. O que é novo é o ambiente, esse contexto permissivo que os faz se sentir autorizados a dar vazão às suas mais repugnantes pulsões.

É um erro achar que foi o bolsonaro quem os adoeceu. O bolsonaro apenas resgatou essa gente de sua solidão. Daí tanta idolatria, tanto fanatismo, tanta gratidão e até devoção.

Devia ser desesperador para essa gente viver solitariamente, ruminando em silêncio suas depravações sem poder externar sua essência.

Ver o bolsonaro pondo para fora, sem nenhum filtro, todas essas abominações, voluptuosamente, sem qualquer auto-censura, foi libertador para eles. Um a um foram saindo do armário e se "re-conhecendo" em seus iguais, que também iam se encorajando a se assumir publicamente. Ganharam o mundo. Ou, pelo menos, ganharam o país. E é compreensível que ajam assim, de forma tão desabrida: a força de tanta energia negativa represada por tanto tempo agora entorna torrencialmente.

O despudor mais que pornográfico com que se comportam e se exibem não é apenas uma tentativa de insulto à "velha ordem": é uma desforra. Eles se vingam do mundo em que não se viam plenamente aceitos, que os obrigava a viverem enrustidos, e, feito cães que mijam pelos postes para demarcar território, agora se apressam em afirmar seus anti-valores para refundar o país segundo seu código moral próprio. Sim, porque existe uma moral, um ethos, que essa horda neo-empoderada defende com suas melhores armas: a violência e a sordidez.