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por Luis Fernando Verissimo

A quem interessa

Seguindo a velha regra que já ajudou a identificar tantos culpados, na ficção e na vida — pergunte sempre a quem mais interessa o crime —, seria possível imaginar o próprio Sarkozy disfarçado de camareira entrando naquele quarto para tentar o Strauss-Kahn. Que, como se sabe, assedia sexualmente qualquer coisa com duas pernas.

A ninguém aproveitou mais a desmoralização do provável candidato socialista à sua sucessão do que a Sarkozy.
Mas as teorias conspiratórias sobre uma possível armadilha para o grande Kahn, que já eram improváveis, não resistiram às provas coletadas e não parece haver mais dúvidas (pelo menos no momento em que escrevo) de que a camareira foi forçada a fazer o que não queria, como tantos países emergentes constrangidos pelo FMI.
E que o Sarkozy não estava por perto.
As multidões que protestam nas ruas da Espanha contra os políticos em geral e as medidas de austeridade do governo em particular (nos moldes das impostas pelo FMI a economias subdesenvolvidas e que o Strauss-Kahn criticava quando era do outro lado), como as manifestações recentes na Inglaterra e na França, são uma reação à proposta indecorosa de que a maioria se sacrifique para resolver uma crise da qual não é culpada.
No caso do estouro das finanças que há dois anos reverbera pelo mundo, está claro quem são os culpados e a quem aproveita o crime. O capital financeiro não precisa sacrificar nada e ainda é subsidiado, e cria dificuldades para resolver as crises com dívidas incontroláveis que assolam a Espanha e outros países — com as quais os bancos também lucram.
Uma curiosidade liga as manifestações na Europa com as revoltas nos países árabes. Nos dois casos, pelo que se ouve, são as redes sociais que estão convocando e organizando os movimentos populares.
Quando se esperava que o resultado da interligação do mundo por uma malha eletrônica fosse um enclausuramento geral — todo mundo preso à sua telinha — houve o contrário.
A internet botou todo o mundo na rua!

Dominiqui Strauss-Kahn

[...] os próximos passos na justiça

1. Pela legislação do Estado de Nova York, onde está sendo julgado o caso de DSK, a próxima intervenção será a do Grande Jurado (de 16 a 23 pessoas, escolhidas por sorteio dentre os eleitores daquele estado), que estará encarregado de examinar os elementos de prova. Se as provas forem consideradas suficientes, ele decide pela inculpação formal do suspeito.  O Grande Jurado se reúne secretamente, na ausência de um juiz. Pode ouvir o testemunho da vítima, na presença do advogado de defesa, que não pode intervir. O acusado também pode testemunhar, mas seu advogado não pode intervir.
         
2. A decisão de manter DSK preso é considerada natural, diante da "gravidade das acusações lançadas contra ele e dos riscos de ele fugir do país".  Se o Grande Jurado decidir inculpar DSK, o que parece ser muito provável, ele deverá comparecer uma primeira vez diante da Corte Suprema do Estado de Nova York, que deverá declarar oficialmente sua culpa. Já está marcada essa audiência para o dia 20 de maio corrente.  Será designado um juiz, diferente da juíza que se pronunciou contra a libertação provisória de DSK, a fim de acompanhar o caso.
         
3. Enquanto isso, o procurador reunirá, com a ajuda da polícia, os elementos de prova; e o advogado de DSK procurará reunir os elementos de defesa.   Em qualquer momento, DSK poderá interromper esse processo e declarar-se culpado – um dispositivo que permite à defesa interromper o processo e passar a um acordo com a acusação. É difícil prever quando começará o eventual processo. O respectivo calendário é fixado pelo juiz. No caso de DSK, poderá ocorrer uma decisão rápida, pois o magistrado conhece o processo político francês, não é insensível à identidade do acusado e não se trata de um crime financeiro com milhares de páginas.  Porém, em caso de sua condenação pelas sete acusações contra ele, DSK poderá ser preso por até 74 anos e 3 meses – as penas são acumuláveis nos EUA.

"Agresão sexual" do chefão do FMI a arrumedeira é armadilha da CIA e Sarkozy

Quem quiser que acredite nesta versão abaixo:

Assim foi contada por um porta-voz da polícia de Nova Iorque a agressão sexual a uma arrumadeira do hotel Sofitel, que resultou na prisão do diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn:
1. A arrumadeira entrou no quarto achando que estava vazio.
2. Ela estava no hall da suíte (3 mil dólares a diária) quando Dominique saiu do banheiro nuzinho. Aí tentou agarrá-la.
3. Uma vez que conseguiu, levou-a para o quarto e jogou-a em cima da cama. Ela lutou com ele e ele então  empurrou-a para o banheiro.
4. Ali, forçou-a a fazer sexo pela segunda vez. Ela conseguiu depois fugir e alertou os funcionários do hotel, que chamaram a polícia.
5.Segundo o porta-voz da polícia de Nova Iorque, os detetives que investigaram o ocorrido recolheram "evidências de DNA".