O golpe na Turquia e o golpe no Brasil, por Robson Sávio Reis Souza

Os turcos, ao que tudo indica, conseguiram abortar um golpe, mesmo debaixo da ameaça das armas. O presidente convocou e o povo foi para as ruas. Os milicos golpistas, com os rabos entre as pernas, foram presos. Curiosamente, o acusado de ser mentor do golpe é um clérigo, morando nos Estados Unidos. O fundamentalismo religioso sempre foi e continua sendo um perigo para a humanidade.

Nós, os brasileiros, não conseguimos estancar um golpe sem tanques. Um golpe que foi amadurecendo e se consolidando através de uma narrativa altamente violenta, cujas armas não são os tanques. Montou-se uma farsa: imputar crime de responsabilidade a presidenta. A farsa foi desmentida várias vezes: a última nessa semana, com o pedido de arquivamento da apuração criminal sobre as "pedaladas", pelo Ministério Público Federal. Para o espanto de qualquer observador mais atento, não obstante o desmonte da farsa, o enredo golpista continua a todo vapor, como um tanque invisível, um jogo jogado, patrocinado pelo bando golpista alojado no Parlamento e seu preposto interino, para o deleite de moralistas sem moral.

Aqui, o golpe é comandado por uma violenta coalização formada por uma corja de políticos corruptos e decadentes; uma mídia manipuladora que desmobiliza o povo; um empresariado e uma elite rancorosos e de mentalidade colonial e um judiciário que, ora opera, ora se omite, para dar ares de legalidade ao golpe.

O povo poderia até enfrentar a força das armas, um inimigo visível. Mas, quando o oponente é tão sagaz e ardiloso, todos ficam perdidos, esperando algum sinal. Acontece que os sinais (assalto ao patrimônio público; servilismo aos interesses alienígenas e, fundamentalmente, extrema violência contra os grupos mais vulneráveis, com drástica redução do estado de proteção social), são omitidos propositalmente pela mídia golpista, dando falsa sensação que tudo continua como antes.

A sociedade, não acostumada a participar ativamente dos destinos da nação, assiste a tragicomédia, sem perceber que a desmobilização cívica restitui o poder para o grupo dos que dormem em berço esplêndido .

É por isso que os golpes mais sofisticados, desenvolvidos nos últimos anos na América Latina com o concurso da inteligência norte-americana, são também muito mais difíceis de serem confrontados. O enredo, já utilizado no Paraguai e em Honduras, é sempre o mesmo. Forjar uma narrativa para desestabilizar um governo democrático, criando condições para que os vilões, com ares de mocinhos, tomem de assalto o poder, sem tanques. Mas, com intensa violência e vilania.

O alvo é Lula


A caça ao Lula, pelo jornalista Ricardo Amaral

- Nos últimos dez dias a Globo, Folha de São Paulo, Veja e Estadão (re)publicaram novas reportagens de antigos vazamentos da Lava jato contra o ex-presidente Lula. Boatos velhos foram requentados e servidos como pratos novos...Leia mais>>>

Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha ou?

(...) Pergunto: "quem é mais corrupto os membros da PF, MPF e Judiciário que vazam depoimentos seletivos ou os jornalistas que publicam esses vazamentos sem checar?
O jornalista Roberto Amaral dá umas pistas no excelente texto abaixo, confira:

Nos últimos dez dias, Globo, Folha e Estadão republicaram antigos vazamentos da Lava Jato contra o ex-presidente Lula.  Notícias velhas foram requentadas e servidas como carne fresca a quem perdeu a memória dos desmentidos: uma sede do Instituto Lula que nunca existiu, uma rodovia na África e o acervo que Lula tem de guardar por força da lei. Isso se chama publicidade opressiva, violência inerente ao estado de exceção e essencial aos “julgamentos pela mídia”. 

     Não pode ser coincidência. A ofensiva dos vazadores e seus repórteres amestrados segue-se à ação da defesa de Lula, que levantou a suspeição de Sérgio Moro para julgá-lo, por perda da imparcialidade. Essa é a notícia nova do caso, que a imprensa brasileira escondeu. Deu no New York Times, mas não saiu no Jornal Nacional.
      A ação aponta 12 afirmações de Moro antecipando a decisão prévia de condenar Lula. Registra os abusos que ele cometeu – da condução coercitiva sem base legal à divulgação criminosa de grampos telefônicos. No estado de direito, Moro deveria declinar do caso para outro juiz, isento, imparcial, condição que ele perdeu em relação a Lula. 
     O Datafolha também ajuda a entender a ofensiva. Só Lula cresceu. Tem um terço dos votos válidos no primeiro turno e mais de 40% no segundo, contra os três tucanos e a insustentável Marina. Só perde, hoje, para o antipetismo; e debaixo de uma campanha de difamação sem precedentes. 
     É preciso acabar com Lula, fazer sua caveira, antes que ele tenha chance de voltar pelo voto. E antes que sua defesa desmoralize a Lava Jato. Tem de bater na cabeça da jararaca. Mas como, se não há crime para acusá-lo? Se há só pedalinhos, obras de alvenaria, propriedades imaginárias, palestras profissionais, presentes de governos estrangeiros.
    Desde a reeleição de Dilma (aliás, por isso mesmo), Lula, seus filhos, sua empresa de palestras e o Instituto Lula tornaram-se alvos de 9 inquéritos do Ministério Público e da Polícia Federal,  3 proposições de ação de penal, 2 fiscalizações da Receita e 38 mandados de busca. Quebraram e vazaram seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. 
     Numa afronta à Constituição e a princípios universais do Direito, adotados pelo Brasil em tratados internacionais, Lula é investigado pelos mesmos fatos em inquéritos simultâneos: da Procuradoria-Geral da República, de procuradores regionais do Paraná e Brasília e de promotores do Estado de São Paulo. É tiro-ao-alvo.

Janio de Freitas - o alvo da lava jato é Lula e o PT

O lado de farsa do impeachment leva uma trombada forte. Na mesma ocasião, a Lava Jato arrisca-se a comprovar o lado de farsa implícito na acusação, feita por muitos, de que o seu alvo verdadeiro não é a corrupção, mas Lula e o PT.
 
A conclusão do Ministério Público Federal sobre as tais "pedaladas", fundamentais no pedido e no processo de impeachment de Dilma Rousseff, recusa a acusação de constituírem crime de responsabilidade. Dá razão à tese de defesa reiterada por José Eduardo Cardozo, negando a ocorrência de ilegal operação de crédito, invocada pela acusação. E confirma a perícia das "pedaladas", encomendada pela Comissão de Impeachment mas, com o seu resultado, mal recebida na maioria da própria comissão. À falta de base da acusação, o MPF pede o arquivamento do inquérito.
 
A aguardada acusação final do senador Antonio Anastasia tem, agora, a adversidade de dois pareceres dotados de autoridade e sem conexão política. A rigor, isso não deve importar para a acusação e o acusador: integrante do PSDB, cria e liderado de Aécio Neves, Antonio Anastasia assinará um relatório que será apenas como um esparadrapo nas aparências. Sem essa formalidade farsante, não precisaria de mais do que uma frase recomendando a cassação, que todos sabem ser seu propósito acima de provas e argumentos.
 
Mas os dois pareceres que se confirmam devem ter algum efeito sobre os senadores menos facciosos e mais conscienciosos, com tantos ainda definindo-se como indecisos. A propósito, as incessantes contas das duas correntes –o mais inútil exercício desses tempos olímpicos– têm resultados para todas as iras, a depender do adivinho de votações consultado.
 
Na Lava Jato, procuradores continuam falando de ameaças ao prosseguimento das suas atividades. A mais recente veio de Washington. Não de americanos, muito felizes com o pior que aconteça à Petrobras. É uma informação renovada por Sergio Moro para um auditório lá: a menos que haja imprevisto, dará o seu trabalho por concluído na Lava Jato antes do fim do ano.
 
Na estimativa de Moro está implícito que a corrupção na Petrobras anterior ao governo Lula, ao menos na década de 1990, não será investigada. Daqui ao final do ano, o tempo é insuficiente para concluir o que está em andamento e buscar o ocorrido naquela época. Apesar das referências em delações, como as de Pedro Barusco, a práticas de corrupção nos anos 90, pelo visto vai prevalecer a resposta gravada na Lava Jato, quando um depoente citou fato daquele tempo: "Isso não interessa" (ou com pequena diferença verbal).
 
As gravações traiçoeiras de Sérgio Machado, embaraçando lideranças do PMDB, ficariam como um acidente no percurso da Lava Jato. Moro, aliás, disse parecer "que o pagamento de subornos em contratos da Petrobras não foi uma exceção, mas sim a regra", no "ambiente de corrupção sistêmica" do "setor público". Diante disso, restringir o interesse pela corrupção a um período bem delimitado no tempo e na ação sociopolítica, sem dúvida valerá por uma definição de propósitos.

O crime de Lula, por Jeferson Miola

Lula comete o crime de liderar todas as pesquisas eleitorais.
Entre os dias 14 e 15 de julho, o Datafolha realizou sondagem para a eleição de 2018. O resultado é o mesmo encontrado em todas as pesquisas realizadas por diferentes institutos de pesquisa: Lula mantém a preferência eleitoral, a despeito da brutal agressão jurídica, política e midiática de que é vítima nas 24 horas do dia, nos 7 dias da semana e nos 365 dias do ano.
A vida do Lula foi escarafunchada por inteiro, e não encontraram nada para incriminá-lo. O justiceiro Moro, com aquela obsessão patológica de condená-lo, chegou a cometer haraquiri funcional e praticar atropelos jurídicos que lhe custariam a demissão do serviço público – como na tentativa frustrada de sequetro e prisão do ex-presidente abortada por autoridade aeronáutica em Congonhas; e na gravação ilegal de conversas telefônicas da Presidente Dilma –, mas não conseguiu produzir um único elemento jurídico para justificar uma ação judicial.
As acusações – algumas inclusive dizem respeito a familiares e amigos, mas não a ele – podem ser discutíveis desde uma perspectiva moral e ética, porém carecem totalmente de fundamentos jurídicos e legais. Em relação a esses episódios de índole moral, é óbvio que seria preferível que o Lula agisse como o Pepe Mujica, ex-presidente uruguaio que é uma inspiração revolucionária de militante de esquerda – mas Lula não é o Mujica, e o Mujica não é o Lula.
Lula é a pessoa mais perseguida e vilipendiada no Brasil. Na história do país, é difícil encontrar liderança política que tenha sido caçada e ofendida como ele. Apesar de tamanha vilania, devido à sua obra, Lula é significado no imaginário do povo pobre e da classe trabalhadora de maneira quase mítica.
A resistência do ex-presidente mais popular da história do Brasil é um pecado; é uma heresia que afronta o dogma do poder conspirador da mídia. E é, em razão disso, um indicador de que a direita deverá empreender ataques mais violentos para destruí-lo.
Eles precisam desesperadamente fabricar um crime que caiba no figurino do Lula, não importa se ao custo de uma ofensa ao Estado Democrático de Direito e à Constituição.
Eles farão de tudo para prendê-lo, mesmo de maneira injusta e ilegal. Por absoluta falta de motivos, e como não conseguirão prendê-lo, tentarão cassá-lo politicamente, impedindo sua candidatura para retornar à Presidência do Brasil na eleição de 2018.
O golpe de Estado perpetrado através da farsa do impeachment não autoriza ilusões: a direita cada vez mais fascista não hesita em lançar mão de recursos totalitários, se isso for indispensável para concretizar seus interesses estratégicos. Tirar Lula do caminho a qualquer preço é um imperativo para conseguirem implantar os objetivos do golpe no médio e longo prazo.
Nesta circunstância, poderão incendiar o país. É totalmente imponderável a reação que o povo brasileiro terá diante da tentativa de martírio do seu maior símbolo.
Lula é como massa de pão: quanto mais se bate, mais ele cresce, fazendo crescer junto a consciência e a resistência democrática e popular.

Lula a maior obsessão e frustração da (in)Veja


Ontem sábado (16/07) a Editora Abril publicou mais uma reportagem sobre a morte política de Lula, a maior obsessão e frustração dos Civitas e demais famiglias midiáticas. A capa do panfleto tucademogolpista estampa:

"O ocaso de Lula" na reportagem a revista (?) pinta um quadro da decadência vivida por ele.

O ex e futuro presidente Lula respondeu com fina ironia: "Quem quiser comprar essa edição da revista Veja de 1994, 22 anos atrás, dizendo que Lula estava sozinho e acabado viajando pelo interior do país, sai por R$15 e diz as mesmas bobagens e mentiras sobre Lula que a edição desta semana.
Há quase 40 anos que Lula viaja o Brasil lutando por um país com mais democracia e justiça social."

Pior (para os golpistas) é que eles sabem que nas urnas Lula é imbatível. Terão de encontrar uma maneira de impedir que ele seja candidato em 2018.

Sugiro que ordenem seus miquinhos amestrados do MP e o Moro darem um jeito nele, senão...