Vida que segue
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Faltou esclarecer:
1) Quanto em dinheiro do contribuinte o presidente eleito se dispõe a entregar aos jornais, revistas, portais ou emissoras de rádio e TV que falarem bem dele?
2) Quem não falar mal do capitão também fará jus a um naco do Bolsa Mídia?Bolsonaro deveria incluir no seu programa de erradicação da imprensa que imprensa a recriação de um velho órgão do Estado Novo. Chamava-se DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda. Chefiando-o, o jornalista Lourival Fontes (1899-1967), grande maquiador de imagens, criou para Getúlio Vargas o título de “pai dos pobres”De resto, será preciso rasgar as normas que atrelam a contratação da publicidade governamental à audiência do contratado. O grosso da verba —coisa de mais de 60%— sai dos cofres de estatais que concorrem no mercado. Mas quem se importa?O que interessa é que o “Brasil esteja acima de tudo, Deus acima de todos” e Bolsonaro acima de qualquer suspeita. No trecho predileto do capitão (João 8:32), a Bíblia Sagrada ensina: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Quando a verdade oficial for muito preciosa, você, caro contribuinte, decerto não se importará de pagar uma boa escolta de mentiras.
Bolsonaro ainda não se deu conta. Mas a satanização dos adversários perdeu a importância com a abertura das urnas. A corrupção é endêmica, o Estado foi à breca, a economia está sedada e há 12,7 milhões de brasileiros sem emprego. Admita-se que, diante de tantos flagelos, o partido da estrela vermelha e o sistema político tornaram-se alvos fáceis. Mas Michel Temer, a herança do petismo que apodrece no Planalto, vai embora em janeiro. E nem por isso haverá um surto de probidade. O déficit público não sumirá. O PIB não bombará. E os empregos não cairão do céu.Bolsonaro planeja viajar para Brasília nesta terça-feira. Precisa nomear até 50 prepostos para cuidar da transição de governo. Chegou a hora de saciar as expectativas que despertou. Sob pena de produzir uma onda de decepção capaz de corroer rapidamente a legitimidade obtida nas urnas.Os eleitores de Bolsonato dividem-se em dois grupos. Num, estão os brasileiros que acreditaram num mundo feito de soluções fáceis. Noutro, os que votaram contra os defeitos do sistema, não a favor das qualidades do capitão. Quando o primeiro grupo perceber que não existem soluções fáceis e o segundo grupo notar que a desqualificação do eleito o aproxima daquilo que o sistema tem de pior, Bolsonaro estará em apuros.Nessa hora, o “grande exército” de apoiadores do presidente eleito começará a flertar com a ideia da deserção, juntando-se aos “socialistas” e “comunistas” que Bolsonaro enxerga nas esquinas, em cima das árvores e nas redações “da grande mídia”. Ou Jair esquece que há um sobrenome “Messias” anotado em sua certidão de nascimento antes do Bolsonaro ou vai acabar acreditando que é mesmo o salvador da pátria.Sob refletores, renovará a promessa de expulsar os vendilhões do templo. Longe dos holofotes, negociará com os pecadores a aprovação de suas reformas no Congresso. Bolsonaro já iniciou um movimento de aproximação com as bancadas de partidos como o DEM de Rodrigo Maia e o PSD de Gilberto Kassab. Logo, logo terá raiva de si mesmo, tornando-se vítima de sua própria indústria.
Lê mais essa de um jornalixo das famiglias...
Josias de Souza:
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O Congresso reestréia nesta quarta-feira um espetáculo manjado. A coisa se passa numa nação alternativa. Fora do prédio de Niemeyer, há um Brasil em pânico. Dentro, há um país fictício. Fora, quando alguém fala em corrupção numa roda, é impossível mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto. Dentro, pulsa um país sem culpados nem inocentes. Um Brasil 100% feito de cúmplices. Uma nação onde nada aconteceu.
Os congressistas propuseram e aceitaram a tese segundo a qual nenhum deles deve nada. Muito menos explicações. Há os delatados, os investigados, os denunciados, os réus… E há a banda muda, que silencia diante da promiscuidade. É nesta ficção que nenhum roteirista de teatro assinaria, para não passar por inverossímil, que o Congresso reabre suas cortinas depois do recesso. Deputados e senadores tropeçam nos corredores com o maior escândalo de corrupção da história. Mas fingem que ele não está ali.
Nos últimos dois anos, uma Lava Jato inexplicada no meio do Salão Verde da Câmara e do Salão Azul do Senado se transformou em muitas coisas. Começou como um embaraço. Evoluiu para um hábito. De repente, à medida que aumentava o número de ecrencados, tornou-se parâmetro.
Há dois anos, os deputados elegeram Eduardo Cunha para presidir a Câmara. E os senadores reelegeram Renan Calheiros. O primeiro está preso. O segundo é réu numa ação penal e protagoniza 12 inquéritos.
Hoje, os favoritos ao comando das duas Casas do Legislativo são alvos da megadelação da Odebrecht. Mas isso não é assunto que mereça a perda de tempo de uma reflexão no Brasil alternativo que está novamente em cartaz no Congresso.
Fora das cuias de Niemeyer —a da Câmara virada para cima, a do Senado emborcada para baixo—, a democracia representativa está jurada de morte. Dentro, ela se comporta como se estivesse cheia de vida."