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Crônica da tarde


Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu... Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue. 
Com a idade chega a saudade de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Meu Deus, para onde foram as crianças? Transformaram-se naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.  Completamente grátis.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade, longe de ser um estranho, é um filho seu que é devolvido. 
E o espanto é que todos lhe reconhecem o direito de o amar com extravagância.
Tenho certeza de que a vida nos dá netos para compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. 
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: "Vo!", seu coração estala de felicidade, como pão no forno!

Rachel de Queiroz 

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Crônica do dia


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Isso aqui é cadeia, vagabundo! por Samuel Lourenço
- Ser conduzido até um espaço de privação de liberdade é saber que o rito de esculacho está só começando. A epígrafe, é um grito de alguns agentes já na recepção, a intenção é te fazer saber que a partir de agora, o jogo é outro. E o dono do apito também. Ao entrar na cadeia, o cidadão é destruído, para que o interno, o vagabundo, o bandido, o apenado ou o condenado surja, e com força, nada mais justo que afirmar: é desumano! Não tem esse treco de direitos  humanos. Tem é resoluções, portarias, decretos... E duras leis.
Com as mãos para trás e a cabeça baixa, você se apresenta diante do guarda. Olhar nos olhos é insubordinação: "tá querendo gravar minha cara? Que saber se me conhece de algum lugar!? Abaixa a cabeça, porra!" - diz o agente, às vezes a fala é sucedida por um tapão no pescoço, nesse caso, o abaixar a cabeça acontece mais rápido.
Não demora muito e algum preso colaborador tem a obrigação de cortar seu cabelo. Corte de cabelo, em geral, é compulsório. O nome já não existe, e o cabelo vai deixando de existir também. Dizem que é por questões sanitárias, outros dizem que é por questões de higiene, um ato de precaução diante de surtos eventuais de alguma moléstia. Para que o humano não adoeça a humanidade do sujeito vai sendo retirada, gradativamente. Sem falar no rito de visitação, que demora semanas para acontecer. Se o documento estiver em mãos, o cadastro é feito em certo prazo... E para aqueles cujos familiares não possuem documentações básicas ou moram longe. Bem, deixa pra lá.
Não há escolhas! Vai comer na hora que a comida chegar, e vai tomar banho somente na hora que a água for liberada. Não se trata da suspensão das vontades. É simplesmente a coerção do indivíduo em coisas mínimas. E se rolar uma vontade de ir ao banheiro na hora da contagem dos presos (confere numeral ou nominal)? Sejamos justos, tem guarda que conta a cela com o preso no banheiro, mas em geral vai aos gritos entrando na cela e exterminado a vontade do organismo. Quem fala que a merda não volta pro rabo, não sabe o que é ser surpreendido no confere enquanto está defecando.
As paredes cinzas, celas sujas, uma roupa padrão que acaba virando uniforme. Talvez te permitam usar bermudas, mas isso, só dentro da cela. Daí  passa a perceber que até aquela blusa com nome e número de candidato politico é mais colorida e bonita que qualquer coisa dentro da cela.
Os sorrisos, estão amarelados. Dizem que é o cigarro, outros dizem que é o café. Mas há a falta de tratamento, sorrisos que são destruídos por creolina utilizada como remédio, e no geral é dor mesmo, não dor de dente. Falo de dor que a cadeia provoca. Não há como manter um sorriso bonito no percurso da Execução Penal, seja ela provisória ou definitiva. Pois agora, já não restam culpados ou inocentes, estão todos condenados, ainda que estejam na fase inicial do processo criminal.
Quando o guarda grita: "isso aqui é cadeia!", ele não quer te mostrar a grade ou o cadeado, ele quer falar que o sujeito tá preso e que a cidadania está solta, na pista, e talvez na boca de um monte de gente que discursa por aí. Na prisão, a grade é um ínfimo detalhe. "Há muitos tons de cinza entre o branco e o preto", ouvi essa frase de um professor na cadeia (MMN), hoje compreendo melhor.
Talvez seja isso, projeta-se o crime e o criminoso, para que todas as violações possíveis se estabeleçam. Nesse caso, a tonalidade entre a justiça e a vingança tem vários tons.

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Fernando Horta escreveu desenhando


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"Quando você tiver sido molestada ou estuprada e ninguém estiver ao seu lado, sabe quem vai lutar ao teu lado? As feministas aquelas esquerdopatas.
Quando você for demitido sem direitos e sem receber absolutamente nada para que possa sustentar sua família, sabe quem vai te defender? Os trabalhistas, aqueles esquerdopatas.
Quando você sofrer violência policial, for agredido intimidado, sequestrado... Sabe quem vai te ouvir, acolher e ajudar nesta luta? Os defensores dos direitos humanos, aqueles esquerdopatas.
Quando tirarem de você as escolas públicas ou a oportunidade de um ensino superior gratuito e de qualidade, sabe quem vai estar lá fazendo greve e apanhando da PM pelos teus direitos? Os professores, aqueles esquerdopatas.
Quando passarem a te servir comida transgênica sem pesquisas suficientes e inundadas de agrotóxicos, sabem quem está lá para te defender e lutar pela tua saúde alimentar? O MST, aqueles esquerdopatas.
Quando os juros forem tão altos e os salários tão baixos que você tenha perdido a dignidade social, sabe quem estará lá em greves, piquetes, estudos contrapondo os absurdos? Os partidos de esquerda, obviamente esquerdopatas...
Quando você estiver sendo agredido ou prejudicado em função do Deus que você ora, sabe quem estará lá ao seu lado encarando os fundamentalistas? Os ateus e defensores do estado laico, aqueles esquerdopatas.
Quando você estiver sem forças para negociar aumento de salário ou melhorias necessárias para o teu trabalho, sabe quem estará lá na linha de frente tomando bomba e gás na cara? O sindicalistas, aqueles esquerdopatas.
Quando você não acreditar que o governo, o judiciário o legislativo estejam retirando teus direitos, tua aposentadoria e vendendo as riquezas do teu país, sabe quem estará lá votando contra, xingando, travando votação e etc.? Os partidos de esquerda, cheios de esquerdopatas.
Enquanto isto sabe onde estão o teu deputado defensor da "família", o teu pastor defensor de "cristo", o teu senador defensor da "liberdade" ou o teu ídolo defensor do "livre mercado"? Estão em casa descansando, aproveitando o dinheiro que ganharam defendendo os que eram contra ti e prometendo continuar te entregando em troca de mais dinheiro e poder.
" Esquerdopatas" são como as mãos, os pés ou qualquer outro membro que você só sente falta quando perde. E este é o momento em que todos estamos perdendo. Pense."

Pinçado do Facebook de Messias Gonçalves Cardoso 

Crônica do dia


***
O intolerável é só a intolerância, por Nilson Lage

Nasci em uma nação formada por três raças tristes às vezes, como agora; de outras vezes, alegres.
Amei negras e índias, menos brancas; nenhuma asiática por falta de oportunidade. O melhor amigo que tive, a quem devo carinho de irmão, é judeu. Estudei russo, embora tenha esquecido a língua; também inglês, francês, espanhol, latim, grego… Salivo com todas as culinárias e culturas humanas, até as que não conheço.
Descendo da mais cruel das gentes, as da Europa, aquela ponta miserável da Eurásia de onde partiram os assassinos de povos e devoradores de civilizações. Que bom que ao menos uma vovó indígena me restou na ancestralidade! Mas não culpo europeu algum de hoje – ou norte-americano, que é o europeu em casa nova – porque não creio na herança das culpas nem na responsabilidade das partes no desempenho do todo.
Acredito que, se não houvesse contenção social, a tendência heterossexual seria dominante, mas não a única, nem na sociedade nem na vida das pessoas – porque ao sexo biológico, já em si duvidoso, acrescenta-se a representação simbólica na linguagem, que espelha vida e tece estranhas relações entre intimidade e afeto.
Respeito as prostitutas, tanto as que se enquadram no vitimismo do discurso convencional quanto as vocacionadas e animadas na carreira que partilham com o mesmo estoicismo das meninas que, pelo avesso, se guardam para um “bom partido”. A vida é um jogo e fazem sua aposta.
A pornografia, ao contrário do que pretendem os moralistas, existe para adolescentes, os na idade própria e os que prosseguem sendo. Os demais acham apenas chato, se não for belo, e desenvolvem seus próprios métodos.
Tenho pena dos miseráveis, mas também dos muito ricos, que juntam fortunas de que não precisam, esmagando para isso tanto gente, perdem a noção do valor das coisas e, afinal, criam tolos armados de privilégios, com que tive que competir algumas vezes.
Desdenho desses farsantes que usam o nome de Jesus para tomar dinheiro do salário dos pobres e recorrem sempre ao Antigo Testamento, que é a história de um povo onde tudo acontece, porque não encontram o apoio de que precisam nos relatos do Cristo.
Sequer odeio os traficantes, porque sei que a droga, como muitas vezes a fé, é instrumento de controle social manipulado por interesses que não habitam morros nem correm riscos.
Sei que a luta de classes é o motor da História, mas não acredito que o ódio seja a melhor juízo na condução das batalhas.
É quando a raiva passa que a razão impõe o justo.
A única coisa que não se pode tolerar, que impede a solução dos conflitos, é a intolerância.

A crônica do dia


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A ingenuidade, os estilingues e os canhões, por Carlos Motta

A ingenuidade de algumas pessoas chega a ser comovente.
Elas pensam e agem como se o mundo fosse habitado por anjos e não seres humanos, que, como se sabe, são tão cheios de defeitos e maldade como vazios de virtudes e bondade.
O caso do Brasil é emblemático.
Não é novidade para ninguém que uma elite perversa, ignorante, escravagista e racista, uma oligarquia incapaz de qualquer gesto de humanidade, manda no país desde sempre, e nunca, sob hipótese nenhuma, vai permitir que os sobre os seus imensos privilégios paire sequer uma minúscula nuvem de contestação.
O golpe, patrocinado por esses endinheirados, e que jogou no lixo os votos de 54 milhões de cidadãos, retirando da Presidência da República uma mulher honesta para colocar em seu lugar o mais abjeto representante do submundo da política nacional, mostrou, de forma inequívoca, quem são os donos deste gigante bobo chamado Brasil. 
O que se vê atualmente são as batalhas finais da guerra que essa turma empreendeu contra os trabalhistas que ousaram se insinuar nos seus domínios - uma guerra cruel, impiedosa, suja, sem respeitar nenhum dos chamados e aclamados "direitos humanos".
Qualquer um que tenha bom senso sabe que ninguém entra numa batalha armado com um estilingue contra um inimigo que possui canhões.
Quem fizer isso será, inevitavelmente, trucidado.
Mas, incrível, há bastante gente, pessoas informadas, inteligentes e coisa e tal, que ainda não percebeu que o Brasil vive os últimos momentos desta guerra, e que, para que ela não seja inteiramente perdida, não é mais possível lutar com as armas do "republicanismo", dentro das "normas legais", já que todas as instituições, que deveriam zelar por esse "republicanismo" e pela observância das "normais legais", estão em mãos de quem promoveu o golpe.
Essas pessoas, por mais títulos de doutores, de promotores, de procuradores, de juízes, de deputados, de senadores, de secretários ou ministros de Estado que tenham, estão a serviço da missão de fazer o Brasil voltar a ser o que sempre foi em sua história - nada mais que uma fonte inesgotável para saciar a sua sede de poder.
Só os tolos acreditam, por exemplo, que o ex-presidente Lula, símbolo maior de um Brasil menos injusto e desigual, será inocentado, em segunda instância, da inacreditável condenação que lhe foi imposta.
Só os tolos veem Lula candidato à Presidência da República em 2018 - se houver eleição.
O nazifascismo não foi derrotado pelos Aliados com flores.
Nenhum país conseguiu se libertar dos opressores sem suor e sangue.
No Brasil, não há por que ser diferente.

Crônica do dia

(...) Orides morreu em 1998, aos 58 anos de idade. Sozinha, triste, abandonada _ sobretudo por si mesma. 
Pouco antes de morrer, e depois de muita insistência, aceitou me dar uma entrevista. 
Exigiu uma conversa por telefone _ não queria que eu a visse. 
Era apenas uma voz, abstrata e fluida, desprovido de corpo. Não queria ser mais que isso.
Foi ríspida e indiferente, falava com má vontade, como se eu fosse um detetive, ou um carrasco. 
Não demorou muito e cortou a conversa. 
Usou uma frase seca, que senti como uma facada. 
Disse simplesmente: 
"Vou desligar. Não há fim, nem início". 
Só depois descobri que repetia um de seus versos.
Eles me remetem a outro verso de Orides: 
"Apenas o caminho, apenas seguir o caminho, nada mais".

by José Castello
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