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Petróleo

Yanques rasgam a fantasia em relação a Líbia

Numa entrevista coletiva na Casa Branca, ontem 3ª feira, o presidente Barack Obama não esperou nem os EUA e demais potências domesticarem a OTAN e, contradizendo a Organização, anunciou que pode - portanto, pretende - armar, sim, os rebeldes líbios para derrubar o presidente Muamar Kaddhafi do poder em Trípoli.

Já o resto do mundo continua esperando que ele faça o mesmo com os rebeldes que se mantém nas ruas e em manifestações cobram democracia e liberdade no Bahrein, Iêmen, Síria, Jordânia, e quem sabe, se vierem a ocorrer um dia...também, na Arábia Saudita. Mas, aí, para estes, nada, só silêncio dos EUA e cia. Para estes, só repressão via ditaduras e monarquias aliadas e sustentadas por Washington.

Ditador amigo, garantia de acesso a petróleo


Dos EUA não são nada boas as notícias em relação à Líbia, porque além do aviso de Obama ontem, tem-se quase diariamente as ameaças da Secretária de Estado, a belicista Hillary Clinton que, dia sim e outro também reitera: os aliados continuarão bombardeando o país até que o presidente líbio "cumpra a decisão da ONU".

A decisão, para a sra. Hillary, é a Resolução 1973 que criou aquela ficção de "zona de exclusão aérea" que Tio Sam e aliados diziam que estabeleceriam sobre a Líbia. Mas, que eles também não cumprem já que a Resolução não tratava nem da deposição de presidente nem de apoio a rebeldes líbios, mas sim de proteção à população civil líbia.

Proteção, eu repito, não de bombardeios aéreos e invasão do país por terra e mar para para, ao final e como eu escrevi ontem, se sobrar Líbia, colocar no poder um ditador amigo e ter acesso fácil ao seu petróleo.

por Zé Dirceu

"Zona de exclusão", novo nome de invasão

É, invasão e bombardeio, agora, mudaram de nome e chamam-se "zona de exclusão aérea". Refiro-me, obviamente, àquela história de "zona de exclusão aérea" apovada 6ª feira pp. pelo Conselho de Segurança da ONU, pura balela, mera chancela da Organização para a invasão e bombardeio da Líbia, decididos já muitos dias antes.

Desde sábado, não há mais como esconder o óbvio: "zona de exclusão aérea" é eufemismo puro, o que as potências desenvolvidas querem - EUA à frente - é bombardear a Líbia. O presidente Muamar Kaddhafi anunciou, na 6ª feira mesmo, haver adotado o cessar-fogo e até pediu uma comissão internacional para fiscalizar a medida.

O que vimos? EUA e potências não quiseram nem saber. Despejaram bombas e mísseis na Líbia - 110 mísseis só no sábado, nas primeiras horas do ataque desfechado por EUA, França, Inglaterra, Itália e Canadá. Ontem (domingo), Kaddhafi garantiu que adotava novo cessar fogo. Que nada, sem inspeção externa ou destes próprios aliados, eles continuam despejando bombas por mar e ar na Líbia.

Obama interrompe reunião com Dilma para ordenar bombardeio

Aliás, o presidente dos EUA, Barack Obama autorizou o início dos bombardeios - decididos há muito tempo, independente do que Kaddhafi fizesse - exatamente no momento em que tinha a única audiência reservada de uma hora com a presidenta Dilma Rousseff e recebeu um bilhete de sua assessoria.

A secretária de Estado, Hillary Clinton, em Paris, ao lado de governantes da França, Inglaterra, Itália e Canadá animava o circo. Obama pediu um minuto à presidenta brasileira e na volta disse que autorizara o bombardeio da Líbia.

O resultado é trágico: a morte de civis. A ponto de a Liga Árabe - integrante da coalizão de países aliados - protestar. Algo mais ou menos na linha "êpa, a morte de civis não estava no combinado..."

Direitos humanos no Bahrein, Iêmen e Síria, como ficam?

Vale lembrar que o Bahrein continua invadido; o Iêmen rebelado e reprimido; e na Síria, 10 mil manifestantes protestaram no sepultamento dos 5 rebeldes mortos num ato da semana passada, numa cidade a 100 km de Damasco.

Assim, e a propósito: o Conselho de Segurança, EUA e aliados vão aprovar "zona de exclusão aérea" para proteger os direitos humanos da oposição e da população civil no Bahrein, no Iêmen e na Síria?

por Zé Dirceu

O Direito vale para todos ou apenas para os "amigos"?

O terremoto e o tsunami que há pouco mais de uma semana mataram quase 8 mil pessoas no Japão, a visita do presidente Barack Obama ao Brasil hoje e amanhã e, principalmente a concentração (e torcida) que permeia o noticiário ante uma iminente invasão da Líbia - camuflada pelo eufemismo do estabelecimento de uma "zona de exclusão aérea" no país - diminuiram o espaço dado pela imprensa às revoltas populares nos países árabes e do Oriente Médio.

Elas continuam se alastrando, porém, e muito. O Bahrein continua invadido por tanques e tropas da Arábia Saudita e do Qatar, apoiadas pelos Estados Unidos. A rebelião popular recrudesceu muito no Iêmen e alastrou-se até a Síria.

Na Síria, nem se pode dizer que os protestos começaram agora no país,  porque o noticiário, ainda que em notas discretas, e mais, vídeos na Internet, dão conta de que há manifestações contra o governo há pelo menos uma semana.

Os dois pesos e duas medidas

A diferença, é o que eu digo sempre a vocês: toda ênfase, torcida mesmo, é dada à uma invasão da Líbia, governada por Muamar Kaddhafi, inimigo dos Estados Unidos. Já a situação no Bahrein e na Síria  governados por aliados (Bahrein) ou governos relativamente neutros (Síria) em relação a Washington, é propositadamente escondida.

Aos rebeldes da Líbia, pró-deposição de Kaddhafi, todo apoio em armas, assistência militar, declarações e ações chanceladas até pela ONU; à oposição no Bahrein, no Iêmen, na Síria e em quantos países mais onde a rebelião se alastra, mas são governados por amigos dos EUA, o silêncio e a máxima discrição na mídia em relação à sua luta.

Mas, os EUA e as potências ocidentais - países de origem ou que controlam a maioria das agências internacionais de notícias - não conseguem enganar todo mundo o tempo todo. Principalmente, através da Internet, veem fracassar o seu esforço de dirigir o noticiário contra os rebeldes e a oposição dos países conflagrados.

Guerra noticiosa à parte, sobre Oriente Médio, a pergunta que temos que fazer agora é: o Conselho de Segurança da ONU intervirá, também, na Síria e no Iêmen, onde as rebeliões eclodiram ou cresceram mas são governados por aliados ou simpatizantes dos EUA? Ou vai continuar compactuando com a repressão nestes dois países e com a invasão do Barhrein pela Arábia Saudita e Qatar apoiada pelos EUA ?

Vão intervir, exigir respeito aos direitos humanos da população e da oposição, ou o direito internacional só vale para o Conselho de Segurança quando se trata da Libia? (vejam, o post" Rebeliões alastram-se no Oriente Médio ").

Hipocrisia na ONU

ONU defende à bala democracia na Líbia; mas, e no Bahrain?

Tradução Outras Palavras/Vila Vudu
Os homens que andavam pela rua pareciam homens comuns. Comuns, pelo menos, nesses dias de tumultos e protestos no Oriente Médio. Usavam tênis, calças jeans e camisetas de mangas compridas. Alguns exibiam a bandeira nacional. Muitos erguiam as mãos. Alguns exibiam dísticos de paz. Muitos cantavam “Em paz, em paz”.
À frente, os vídeos mostram, soldados com coletes à prova de bala sentados na calçada, à espera. Na véspera, as forças de segurança haviam forçado, com violência mortal, a dispersão dos manifestantes pró-democracia, expulsos da rotatória da Pérola na capital do Bahrain, Manama. À noite, os manifestantes voltaram, insistindo em fazer-se ouvir.
Ouve-se então, inconfundível, o crack-crack-crack de tiros, e os homens espalham-se. Muitos deles, mas não todos. Os vídeos mostram três que não conseguiram salvar-se. Um deles, em camisa azul clara e calças escuras recebeu, como se vê claramente, um tiro na cabeça. Nos instantes entre a câmera ir do corpo caído aos blindados e voltar, vê-se que se formou grande poça de sangue.
Mais tarde a organização Human Rights Watch informou que Redha Bu Hameed morreu instantaneamente, com uma bala na cabeça.
O incidente, do dia 18/2, foi um de uma série de atos de violência praticados pelas forças de segurança do Bahrain, que deixaram sete mortos e mais de 200 feridos no último mês. Jornalistas observaram que os manifestantes receberam tiros de balas revestidas de borracha e de festim, para intimidação, mas que também – como no caso do assassinato de Bu Hameed – de munição viva.
A bala que matou Bu Hameed foi paga pelos contribuintes norte-americanos e entregue às Forças de Defesa do Bahrain por militares norte-americanos. A relação que se manifesta nessa bala (e em muitas outras semelhantes) entre o Bahrain, país minúsculo, de maioria de muçulmanos xiitas governada por um rei sunita, e o Pentágono, é relação comprovadamente mais poderosa que todos os ideais democráticos norte-americanos e muito mais poderosa, também, que o presidente dos EUA.
Acompanhar a rota pela qual balas fabricadas nos EUA chegam às metralhadoras e fuzis do ditador do Bahrain, armas usadas para matar manifestantes pró-democracia, é boa oportunidade para começar a entender as sinistras relações que unem o Pentágono e muitos ditadores no mundo árabe. Se se segue essa rota, veem-se os modos pelos quais o Pentágono e aqueles países ricos em petróleo pressionaram a Casa Branca e a levaram a participar da repressão aos movimentos populares e democráticos que hoje varrem o grande Oriente Médio.
Balas e falcões linha-dura
Análise de documentos do Departamento da Defesa publicada em TomDispatch indica que, desde os anos 1990s, os EUA transferiram grande quantidade de material militar, de caminhões e aeronaves a peças de metralhadora e milhões de caixas de munição, para as forças de segurança do Bahrain.
Segundo dados da Agência de Cooperação para Segurança e Defesa [ing. Defense Security Cooperation Agency], braço do governo dos EUA que coordena vendas e transferência de equipamento militar para aliados, os EUA doaram ao Bahrain dúzias de itens da cota de “excesso” dos arsenais dos EUA de tanques, carros blindados para transporte de tropas e helicópteros armados. Os EUA também entregaram às Forças de Defesa do Bahrain milhares de pistolas calibre .38 e milhões de caixas de munição, desde as balas de mais alto calibre para canhões, até as menores, para pistolas e outras armas portáteis. Por exemplo, os EUA entregaram ao Bahrain balas calibre .50 – para rifles e metralhadoras – em quantidade suficiente para matar toda a população do reino (1.046.814, incluídos 517.368 estrangeiros, em 2008), um tiro por cabeça, quatro vezes. A Agência de Cooperação para Segurança e Defesa, procurada para esclarecer esses números, não respondeu a várias tentativas de contato.
Além desses presentes em armamento, munição e veículos de combate, o Pentágono, em ação coordenada com o Departamento da Defesa, também coordenou a venda ao Bahrain de itens e serviços de defesa no valor de mais de $386 milhões, nos anos 2007-9, os últimos três anos para os quais há registros. Esses negócios cobriram a compra-venda de inúmeras peças, de veículos a sistemas de armas. Só no último verão, por exemplo, o Pentágono anunciou contrato multimilionário com a empresa Sikorsky Aircraft para ‘personalizar’ nove helicópteros Black Hawk com as cores e dísticos da Força de Defesa do Bahrain.

“Os tiros vinham de um helicóptero”[1]

Dia 14/2, reprimindo com violência o protesto que não parava de crescer, as forças de segurança do Bahrain mataram um manifestante e feriram 25. Nos dias seguintes, de agitações incessantes, chegaram à Casa Branca notícias de que as tropas que sobrevoavam as ruas num helicóptero haviam atacado a tiros os manifestantes. (Autoridades do Bahrain desmentiram; disseram que as testemunhas haviam confundido as lentes de teleobjetiva das câmeras fotográficas, com armas.) O exército do Bahrain também abriu fogo contra ambulâncias que chegavam para recolher os feridos, e contra pessoas que se aglomeravam em torno dos feridos.
“Pedimos moderação do governo” – disse a secretária de Estado Hillary Clinton, no início dos ataques no Bahrain. “Exigimos a volta a um processo que levará a mudanças reais, significativas lá para o povo”. O presidente Obama falou ainda mais claramente sobre o estado de violência no Bahrain, na Líbia e no Iêmen: “Os EUA condenam o uso de violência por governos contra manifestantes pacíficos naqueles países e onde mais ocorra.”
Começaram a surgir notícias de que, nos termos de uma lei conhecida como “Emenda Leahy”, o governo estava revisando ativamente os programas de ajuda militar a várias unidades das forças de segurança do Bahrain, para definir os que seria cortados por violação a direitos humanos. “Há evidências agora de que houve abusos”, disse um veterano assessor do Congresso ao Wall Street Journal em resposta a vídeo que mostrava a violência policial e militar no Bahrain. “A questão é saber especificamente que unidades cometeram aqueles abusos e se algum item da assistência que damos a eles foram usados por essas unidades.”
Nas semanas subseqüentes, Washington suavizou muito visivelmente o tom. Segundo matéria recente de Julian Barnes e Adam Entous no Wall Street Journal, foi resultado de uma campanha de lobby dirigida aos altos oficiais no Pentágono e no não menos poderoso Departamento de Estado comandada por emissários do rei King Hamad bin Isa al-Khalifa do Bahrain e seus aliados no Oriente Médio. No final, o lobby árabe assegurou que, no que tenha a ver com o Bahrain, a Casa Branca não cogitaria de “mudança de regime”, como no Egito e na Tunísia, e adotaria uma estratégia de futura reforma política que alguns diplomatas chamam hoje de “alteração de regime”.
Os seis estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) são, além do Bahrain, o Kuwait, Omã, o Qatar, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, todos eles com extensas relações com o Pentágono. O CCG tratou de armar a Casa Branca, jogando com medos de que o Irã pudesse beneficiar-se, no caso de o Bahrain abraçar a democracia e que, com isso, se desestabilizaria toda a região de modo adverso ao que interessa às políticas de projeção de poder dos EUA. “Começando pelo Bahrain, todo o governo andou alguns passos na direção de dar mais peso à estabilidade do que ao governo da maioria”, nas palavras de funcionário dos EUA citado pelo Journal. “Todos entenderam que o Bahrain é importante demais para cair.”
Estranha frase, tão semelhante a “grande demais para falir”, que foi usada antes de o governo resgatar a gigante AIG de seguros e os grandes grupos financeiras como o Citigroup depois do derretimento econômico global de 2008. O Bahrain é, claro, uma minúscula ilha no Golfo Persa, mas é também o ninho da 5ª Frota Naval da Marinha dos EUA, equipamento bélico considerado crucialmente importante para o Pentágono na Região. É considerado via indispensável até a vizinha Arábia Saudita, posto de gasolina dos EUA no Golfo e, para Washington, importante demais para algum dia quebrar.
O relacionamento entre o Pentágono e os países do Conselho de Cooperação do Golfo tem sido pavimentado de vários modos sobre os quais pouco se fala na imprensa norte-americana. A ajuda militar é um desses fatores. Só o Bahrain levou para casa, ano passado, $20 milhões em assistência militar dos EUA. Em área vizinha, há o raramente comentado casamento triangular entre empresas contratadas pela Defesa, os estados do Golfo e o Pentágono. As seis nações do Golfo (acrescidas da Jordânia, parceira regional) devem gastar $70 bilhões em armamento e equipamentos, em 2010, e outros $80 bilhões por ano, até 2015. Dado que o Pentágono busca onde amarrar a viabilidade financeira dos fabricantes de armas em tempos de dificuldades econômicas, os bolsos fundos dos estados do Golfo ganharam especial importância.
A partir de outubro passado, o Pentágono começou suas operações secretas de lobby, junto a analistas de finanças e grandes investidores institucionais, promovendo os fabricantes de armas e outros de seus contratados, dos quais faz compras, para garantir que se mantenham financeiramente viáveis, considerados os cortes previstos nos gastos do Departamento de Defesa. Os Estados do Golfo são outra avenida que leva ao mesmo objetivo. Diz-se que o Pentágono é um “monopsônio”, único comprador de várias empresas gigantes, mas não é completa verdade.
O Pentágono é também a única via pela qual seus parceiros árabes no Golfo conseguem comprar o mais avançado equipamento bélico que há no mundo. Atuando como intermediário, o Pentágono garante que os fabricantes de armas dos quais depende continuem financeiramente estáveis. Um negócio de $60 bilhões com a Arábia Saudita, por exemplo, no outono passada, garantiu que Boeing, Lockheed-Martin e outras megaempresas que têm contratos com o Pentágono continuem saudáveis e lucrativas, mesmo se os gastos do Pentágono forem cortados ou se começarem a encolher, nos anos futuros. A dependência do Pentágono, do dinheiro do Golfo, contudo, tem um preço. O lobby árabe não encontrou dificuldades para explicar o quanto rapidamente aquela fonte secaria, se, sem mais nem menos, começasse a acontecer por lá cascatas de revoluções democráticas.
Aspecto ainda mais significativo do relacionamento entre os estados do Golfo e o Departamento de Defesa é o sinistro arquipélago de bases que há no Oriente Médio. Apesar de o Pentágono ocultar, mais ou menos completamente, conforme consiga, a existência de várias daquelas bases, e apesar de os países do Golfo em muitos casos ocultarem das populações locais a existência daquelas bases, os EUA mantêm bases militares na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, em Omã, no Qatar, no Kuwait e, claro, também no Bahrain – que abriga a 5ª Frota, cujas 30 naves de guerra, entre as quais dois porta-aviões, patrulham o Golfo Persa, o Mar da Arábia e o Mar Vermelho.
Rosquinhas sim, democracia não
Semana passada, manifestantes contra a monarquia do Bahrain reuniram-se à frente da embaixada em Manama, exibindo cartazes em que se lia “Parem de apoiar ditadores”, “Liberdade ou morte” e “O povo quer democracia”. Entre os manifestantes havia muitas mulheres.
Ludovic Hood, funcionário da embaixada dos EUA, segundo notícias divulgadas, ofereceu uma caixa de rosquinhas aos manifestantes. “Esses doces são boa ideia, mas esperamos que se traduzam em ações” – disse Mohammed Hassan, que usava o turbante branco dos clérigos; Zeinab al-Khawaja, uma das mulheres que liderava os protestos, disse a Al Jazeera que tinha esperança de que os EUA não se envolveriam nas lutas no Bahrain. “Queremos que os EUA não se metam. Nós podemos derrubar o regime”, disse ela.
Mas os EUA já estão profundamente envolvidos. Por um lado, dão rosquinhas. Por outro, helicópteros armados, carros blindados para transporte de tropas e milhões de balas – equipamentos que desempenharam papel importante nos recentes violentos confrontos.
Em meio à violência, a organização Human Rights Watch conclamou os EUA e outros de seus doadores internacionais a suspender imediatamente qualquer assistência militar ao Bahrain. O governo britânico anunciou que havia começado a revisar suas exportações militares, e a França suspendeu exportações de qualquer equipamento militar para o reino. O governo Obama, embora tenha iniciado revisão semelhante, não continuou, O dinheiro, que fala mais alto na política doméstica, também fala mais alto na política exterior. A campanha de lobby comandada pelo Pentágono e parceiros no Oriente Médio muito provavelmente derrotará qualquer movimento na direção de cortar exportações de armas, o que deixará os EUA, mais uma vez, em território seu velho conhecido – apoiando ditadores e governos antidemocráticos, que governam contra o próprio povo.
“Mesmo sem reexaminar todos os eventos das últimas três semanas, creio que a história acabará por registrar que, em todos os momentos na situação do Egito, nós sempre estivemos do lado certo da história” – o presidente Obama explicou depois de Hosni Mubarak, ditador do Egito, ter sido derrubado –, frase presunçosa, para dizer o mínimo, se se veem as mensagens ambíguas de seu governo, até que o fim do governo de Mubarak fosse fato consumado. Pois, em relação ao Bahrain, ninguém ouvirá, sequer, esse desanimado apoio a algum tipo de mudança.
Ano passado, a Marinha dos EUA e o governo do Bahrain organizaram imensa cerimônia para o lançamento de um projeto de construção numa área de marina, 70 acres, em Manama. Prevista para estar concluído em 2015, o projeto prevê novas instalações de porto, local para acampamento de tropas, prédios de administração, locais de alimentação, um centro recreativo, dentre outras amenidades, ao preço anunciado de $580 milhões. “O investimento no projeto da marina dará melhores condições de vida aos nossos marinheiros e parceiros da coalizão, por muitos anos futuros” – disse o tenente comandante Keith Benson, à época, do contingente da Marinha do Bahrain. “Esse projeto significa a continuidade de nossas relações e de nossa mútua confiança, da amizade e da camaradagem que ligam as forças navais dos EUA e do Bahrain.”
De fato, esse tipo de “camaradagem” parece mais poderosa que o compromisso do presidente dos EUA, de apoiar mudanças pacíficas, democráticas, naquela região rica em petróleo. Depois da deposição de Mubarak, Obama disse que “a força moral da não violência, não o terrorismo, não a matança, mas a não violência, a força moral, que tensiona hoje o arco da história em direção à justiça, mais uma vez”. O Pentágono, segundo o Wall Street Journal, decidiu tensionar também o arco da história em outra direção – contra os manifestantes pró-democracia no Bahrain. As íntimas relações que mantém com mercadores de armas e ditaduras árabes, costuradas por grandes negócios com empresas fornecedoras e bases militares semiclandestinas explicam por quê.
Funcionários da Casa Branca dizem que seu apoio à monarquia do Bahrain não é incondicional e que contam com que haverá reformas reais. Que reformas serão, depende, claro, do que o Pentágono decida. Não por acaso, semana passada, um alto funcionário dos EUA visitou o Bahrain. Não era diplomata. Não fez qualquer contato com a oposição. (Nem, que fosse, para uma foto encomendada oferecendo rosquinhas.) O secretário da Defesa Robert Gates viajou para falar como rei Hamad bin Isa al-Khalifa [na foto deste post, os dois, num encontro anterior, em 2008] e com o príncipe coroado Salman bin Hamad al-Khalifa para, disse o secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell, “reafirmar nosso apoio”.
“Estou convencido de que ambos estão seriamente comprometidos com andar em frente e promover reformas” – disse Gates, depois. Simultaneamente, reergueu o espectro do Irã. Afirmando que o regime iraniano estaria fomentando os protestos, Gates disse que “há provas claras de que o processo está sendo manipulado – sobretudo no Bahrain –, de que os iranianos procuram meios para explorar e criar problemas.”
O secretário da Defesa expressou sua simpatia por os governantes do Bahrain, que estariam “entre a espada e a montanha” e outros funcionários disseram que as manifestações de rua impossibilitavam que se entabulasse melhor diálogo com grupos moderados da oposição. “Acho que o governo precisa que todos parem, respirem fundo e abram espaço para que algum diálogo prossiga” – disse ele. No final, disse aos jornalistas que a perspectiva de os EUA manterem bases militares no Bahrain eram sólidas. “Não vejo qualquer sinal de que nossa presença venha a ser afetada, nem no curto nem no médio prazo” – acrescentou Gates.
Imediatamente depois da visita de Gates, o Conselho de Cooperação do Golfo, ostensivamente, enviou tropas sauditas para o Bahrain, para por fim aos protestos. Puxado pelo cabresto pelo Pentágono e parceiros no lobby árabe, o governo Obama jogou todo o seu peso do lado das forças antidemocráticas do Bahrain. Já não há nem o recurso de alguma ambigüidade retórica, para impedir que se veja de que lado da história, de fato, está.

NOTA

[1] “Ouviam-se manifestantes que gritavam “Estão atirando! Tiros! Tiros!”. Os militares estavam atirando. Muitos tiros – de prédios em volta, de um helicóptero e da rua em frente aos manifestantes” (New York Times, 8/2/2011, em http://www.nytimes.com/2011/02/19/world/middleeast/19bahrain.html?_r=3&src=me ).

EUA age para evitar que Barein escape de seu domínio

O recente envio de mais de mil soldados da Arábia Saudita e 500 policiais dos Emirados Árabes Unidos à monarquia do Barein indica que os Estados Unidos, verdadeiros donos da situação na região, estão cada vez mais preocupados com a ação dos grupos oposicionistas bareinitas, que desejam democratizar o país.

A rebelião que de início foi às ruas pela instauração de uma monarquia parlamentarista foi reprimida com balas. Uma evidência de que os Estados Unidos procuram obter controle sobre a oposição foi a pressão que o presidente Barack Obama fez sobre o rei Hamad al Khalifa para fazer a polícia e o exército recuarem, porque já havia se acertado com a oposição do país para a abertura de "diálogo".

Ministros pedem demissão

Dois ministros do governo real bareinita pediram demissão de seus cargos nesta quarta, após a forte repressão promovida pelas forças policiais anti-motins do Barein e por soldados da Arábia Saudita contra manifestantes que tentavam protestar na Praça Pérola, no centro de Manama, capital do reino.

As forças militares sauditas foram colocadas em ação e chegaram a invadir um hospital da cidade onde manifestantes feridos estavam sendo tratados. Testemunhas afirmaram que os sauditas teriam tomado todas as pessoas do prédio — inclusive enfermeiros e médicos — como prisioneiros, ameaçando utilizar munição real contra eles.

Um médico do Hospital Salmaniya relatou à emissora britânica BBC que "eles estão ao redor do hospital com suas armas e estão disparando em qualquer pessoa que passe diante do complexo hospitalar".

Outras organizações afirmaram que os médicos que procuraram auxiliar os manifestantes feridos pela polícia foram agredidos. A polícia bareinita bloqueou o acesso ao hospital.

Um dos demissionários, o ministro da saúde Nezar bin Sadeq al-Baharna, afirmou que não conseguia mais ver pessoas sendo agredidas pelos policiais no hospital Salmaniya.

Dentre os sauditas também estão militares do Catar e de Omã. Há também relatos de que juízes xiitas teriam renunciados a seus cargos na Corte do país, por causa "dos eventos sangrentos e do uso de força excessiva além de armas", segundo reportou a imprensa iraniana.

Em seguida à repressão, que deixou cinco mortos, o presidente americano Barack Obama ligou para o rei Abdullah da Arábia Saudita e para o rei Hamad do Barein. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, Obama expressou aos monarcas sua "profunda preocupação" com as revoltas da oposição no Barein e a violência na repressão.

Importância crucial

Embora seja um país diminuto e com uma população relativamente pequena — 1,2 milhão de habitantes — o Barein é de enorme importância para o imperialismo e o sionismo. Seu território de 750 km² no Golfo Pérsico abriga a Quinta Frota da Marinha de Guerra estadunidense, que controla as águas por onde passam 20% do petróleo mundial e é base de logística para as provocações contra o Irã. Dali partiram os ataques ao Iraque na primeira Guerra do Golfo, em 1990, e há oito anos.

O Barein é uma das mais diversificadas economias no Golfo Pérsico. Com os setores de meios de transporte e de comunicação altamente desenvolvidos, o Barein transformou-se em sede de numerosas empresas com negócios no Golfo. Como parte de seus planos de diversificação, o Barein implantou um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos em agosto de 2006, que foi o primeiro TLC assinado por um Estado do Golfo com os EUA. A economia do país depende basicamente do petróleo. Sua produção e refino resultam em mais de 60% das receitas de exportação bareinitas, 70% dos lucros do governo e 11% do PIB nacional.

Desconstruir e desvirtuar

No Barein, o imperialismo procura desconstruir e desvirtuar a onda revolucionária em curso no Oriente Médio e não há dúvidas de que por trás das ações de sauditas e emirados está a mão do Pentágono. Como prova disso, basta procurar na internet alguma declaração de qualquer autoridade dos Estados Unidos propondo a derrubada da monarquia bareinita, marroquina ou saudita — países satélites dos EUA no Norte da África e Oriente Médio —, ou pedindo uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para punir os agressores.

Em editorial publicado em 23 de fevereiro, o jornal americano The Wall Street Journal disse que "os EUA e a Europa deviam ajudar os líbios a derrocar o regime de Kadafi". Antes e depois desse editorial não há qualquer menção de Washington sobre uma intervenção para ajudar os manifestantes do Kuwait, da Arábia Saudita ou de Barein a derrocar seus ditadores.

Muito menos em relação a Israel, o satélite americano mais importante do Oriente Médio. Não houve qualquer intervenção norte-americana para ajudar o povo palestino de Gaza quando milhares de palestinos morreram em consequência do bloqueio promovido e executado por Israel. Nem haverá, já que Obama vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenava a construção de casas israelenses nos territórios ocupados da Palestina.

Posto avançado no Golfo Pérsico

Em termos populacionais, o Barein é pouco expressivo, abrigando pouco mais de 1,2 milhão de habitantes, cifra que pode ter baixado após êxodos provocados pela luta da maioria xiita contra a minoria sunita do reino de al Khalifa. Cerca de 16% de cada mil habitantes do país são estrangeiros migrantes.

Além do petróleo, outras atividades econômicas de monta são a produção de alumínio — segundo maior item de exportação do país —, o setor financeiro e o de construção civil. O Barein disputa com a Malásia o posto de centro internacional do setor bancário islâmico. O desemprego, especialmente entre a juventude, é um dos problemas mais graves da economia do país, o que fez com que a monarquia retirasse benefícios dos trabalhadores imigrantes e aumentasse os custos das empresas que empregavam estrangeiros.

O país tem 611.000 trabalhadores, segundo estimativas da monarquia bareinita publicadas em 2010. A dívida pública em 2009 passava dos 59%, enquanto a inflação rondava os 3,3%. O maior cliente das exportações bareinitas é a Índia (mais de 4%), seguida da Arábia Saudita (2,78%), país que responde por 22,95% das importações que a economia do país gera por ano. O segundo maior exportador para o Barein é a França, com 9,76%, enquanto os EUA respondem por 7,95% das importações.

O líder da oposição xiita no Barein, o religioso Ali Salmane, é representante da Associação do Entendimento Nacional Islâmico (Aeni). A associação conta com 18 deputados na Assembleia, em um total de 40 parlamentares, e Salmane repudia todas as formas de repressão aplicadas pelo reinado contra os cidadãos. “As soluções de segurança não podem resolver as crises”, afirmou, depois de uma repressão sangrenta praticada contra manifestantes há dez dias..

Cerca de 88% dos habitantes são islâmicos, dos quais 70% são da confissão xiita. Como o comando do país está nas mãos da minoria sunita, eles reivindicam mais ofertas de empregos e oportunidades e se dizem discriminados. Também querem melhores moradias para a população, a libertação dos presos políticos, assim como a criação de um Parlamento representativo. Al Khalifa está no poder há 40 anos.

Tropas sauditas

O monarca da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, já vinha afirmando que era necessário aplacar a ira do povo com medidas econômicas, tanto na Arábia quanto no Barein, para onde chegou a enviar dinheiro. Como os protestos perduraram, acabou enviando soldados ao país vizinho, em conjunto com os Emirados Árabes Unidos que, curiosamente, declararam o envio de tropas por meio de seu chanceler, em coletiva de imprensa ao lado da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.

Os opositores denunciaram o envio de tropas como "ocupação aberta do reino do Barein e uma conspiração contra o povo desarmado", denunciando também que mais tropas sauditas já se encontravam no país.

Antes concentrados na praça Pérola, onde haviam instalado barricadas e tendas à maneira da praça Tahrir do Egito, o movimento bareinita vinha realizando atos nas ruas de Manama. Além da liderança xiita do movimento oposicionista, há também entre eles republicanos e defensores de uma monarquia constitucional.

A ameaça de uma intervenção militar estrangeira na Líbia está obviamente associada a esses acontecimentos no Barein, os fatos aí estão estreitamente entrelaçados e ligados à estratégia de domínio imperialista, que também passa pela contenção da democracia no Egito, na Tunísia e nos demais satélites árabes ainda submissos ao imperialismo.

O objetivo central dos Estados Unidos é conter e desvirtuar, neste momento, a onda revolucionária em curso no Oriente Médio e Norte da África.

por Humberto Alencar, 

por Zé Dirceu

Vergonha e cinismo

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Tropas rumo ao Bahrein
 

A ocupação do Bahrein pelas forças armadas da Arábia Saudita - uma ditadura religiosa das mais atrasadas e repressivas de todos os tempos - e por contingentes policiais de um chamado Conselho de Cooperação do Golfo (CGC) diz tudo do mundo de hoje, de como se manipula as crises e a realidade.

Já era gritante a diferença de atuação das potências ocidentais, que parecem viver na época do colonialismo. Faziam de tudo por uma intervenção, mesmo que unilateral, para apoiar os rebeldes na Líbia, e pediam aos países vizinhos que invadissem o Bahrein para sustentar a atual monarquia sunita, liderada pelo rei Hamad Ben Isa al-Khalifa.

O rei sunita representa uma dinastia que impera no Bahrein há mais de dois séculos, mas os sunitas são apenas 30% da população do país. Os outros 70% são da etnia xiita. Raras vezes na história prevaleceu tanto a política dos dois pesos e duas medidas quanto na atual conflagração dos países árabes e do Oriente Médio.

A prevalência dos dois pesos e duas medidas

Lá, mais do que nunca, para os amigos todo apoio, pouco importa se ditaduras ou não; para os inimigos ou adversários o banimento da comunidade internacional e, se possível, invasão para depor o governo - situação da qual a Líbia é o caso mais flagrante.

No caso do Egito e da Tunísia, os Estados Unidos e a Europa fizeram de tudo para controlar a transição quando se deram conta que os regimes comandados por ditadores amigos seus, levados ao poder e sustentados por eles por várias décadas - casos do egípcio Hosni Mubarak e do tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali  - iam cair ante as revoltas populares e o clamor das ruas.

Essa é a realidade. Vamos ver como se comportarão nossa mídia e seus articulistas. A invasão do Bahrein foi ontem, e hoje eles ainda se mostram tímidos no noticiário e nas análises, mas já encampando tudo o que vem a respeito via agências internacionais, que todos sabemos, manipuladas pelas potências, pelos EUA e Europa.

Francamente, encampar como faz a mídia hoje, a posição de Washington, que diz não se tratar de uma invasão do Bahrein e que não endossou a ação da Arábia Saudita é conto da carochinha, história para boi dormir, não? Até porque a Arábia Saudita é  um de seus maiores aliados regionais e que os EUA usam como contraponto à presença do Irã na região.