Nelson Rodrigues nunca revelou algo interessante sobre o comportamento humano. Nadinha. Não se é um escritor da "natureza humana" por ser escroto, ainda que se possa ser genial sendo um escritor escroto. Nelson é genial, mas "mulher gosta de apanhar" não é algo para ser complementado com "só as normais" e, sim, com o seguinte adendo: essa frase de Nelson não é para ser repetida por quem quer escrever filosofia ou literatura. Não é para ser repetida por filósofos porque estes podem fazer frases melhores, também não por literatos porque ela só tem sentido se nos imaginarmos em bailes de um passado distante quando, estando só entre rapazes, dizíamos "vou contar um chiste para homens", no estilo de Fernando de Azevedo.
Rubem Fonseca é diferente. Aí sim há alguém capaz de falar do drama humano. Aliás, Rubem Fonseca é tão bom que ao falar dele como quem é um escritor da "natureza humana", tenho vontade de utilizar essa expressão sem o uso das aspas, como se faria ou se fez no século XVIII ou mesmo XIX. Ele é genial para além do que um escritor é aceito como genial. É um escritor nota dez porque diz que vai terminar um conto de uma tal maneira e, cumprindo o prometido, ainda assim consegue surpreender. Li um conto dele recentemente em que um homem que aprecia morder, ao final do conto diz que gostaria de matar o assassino de sua amante com mordidas, e então cai em si confessando "mas eu só sei dar mordidas de amor" – e de fato são essas as mordidas que aparecem durante o conto, como fio condutor da história.
Prazer e sexo, amor e felicidade – essas duplas são legítimas?
A virgindade de todos nós.