Ousadia e coragem - China desvaloriza sua moeda
A China tomou na manhã desta segunda (5) medida extremamente ousada: desvalorizou sua moeda para os patamares mais baixos da década. É um estrondo no comércio internacional, pois torna produtos do país mais competitivos no balcão global. A medida é uma resposta à radicalização da guerra comercial por parte de Donald Trump, que elevou unilateralmente taxas de importação de produtos chineses. Briga de cachorro grande.
Há um segundo motivo por trás da iniciativa de Pequim: precaver-se contra uma possível desaceleração da economia mundial em 2020. A China - a partir de 2004 - já havia abraçado medida de alcance ainda maior, sacramentada pelo Congresso do Partido Comunista, em 2007. Tratava-se de deslocar o centro dinâmico da economia do setor exportador para o mercado interno. O passo seguinte à incorporação de cerca de 800 milhões de habitantes ao consumo, a partir de 1992, o país elevou em termos reais os salários dos trabalhadores (em alguns casos eles foram triplicados), no espaço de uma década.
Com um mercado interno de quase um bilhão de pessoas, o país desacelerou suas taxas de crescimento, mas encontrou maior solidez para enfrentar a crise de 2008. A desvalorização atual faz com que - sem arrochar salários internos - se busque equilibrar os setores interno e externo para a guerra comercial e as intempéries globais.
A China joga solenemente na lata do lixo os cânones da economia mainstream. Primeiro, o Estado intervém pesadamente na economia. Segundo, Pequim descarta liminarmente a noção de que o câmbio deve flutuar livremente, segundo os humores do mercado. Câmbio de moeda soberana é câmbio controlado.
A segunda economia mundial tem a muralha Trump na sua frente e alguns sabujos, como o governo Bolsonaro. É duro perceber que setores distraídos da esquerda entram nessa conflagração titânica como cachorro em dia de mudança. É inacreditável..."