Absurdo é Moroja defender que as tetas do Estado seja apenas eles mamarem

Jornal GGN - O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos cabeças da força-tarefa da Lava Jato, disse ao jornal O Globo que é um "absurdo" a presidente Dilma Rousseff (PT) defender que apenas executivos envolvidos em escândalos de corrupção sejam punidos, ao passo em que às empresas é dada a chance de firmar um acordo de leniência com autoridades federais, que leve ao pagamento de multa ou a penas que não condizem com o rigor que a sociedade espera de quem combate crimes econômicos.

Na entrevista, Lima atacou diretamente a Medida Provisória 703/2015, editada em dezembro passado por Dilma, com o intuito de facilitar os acordos de leniência "por atacado", isto é, para todas as empresas que confessarem participação em um mesmo crime. De acordo com o governo, a medida deve evitar que as pessoas jurídicas quebrem a ponto de gerar uma onda de desemprego indesejada.

Contrariando Dilma, Lima disse que cabe, sim, punição à empresa, e não apenas a seus dirigentes, em casos de corrupção. Além disso, afirmou que a MP, do jeito que foi editada, servirá ao "projeto de poder hegemônico" do governo, pois escancara a proteção que agentes políticos estão dispostos a dar às grandes companhias - financiadoras de campanha.

"A ameaça do desemprego, do fechamento de empresas, etc., nada mais é que uma política de propagação do medo com dois principais objetivos: o de salvar a fonte de recursos de um projeto de poder hegemônico, e o de impedir que a força-tarefa da Lava-Jato continue a utilizar o acordo de leniência para aprofundar as investigações", disparou Lima.

De acordo com o procurador, se a MP 703 existisse há mais tempo, a Lava Jato não teria alcançado o sucesso que tem a partir do grande volume de acordos de colaboração premiada com executivos. "Teríamos menos pessoas presas, menos criminosos condenados, menos provas com que trabalhar", apontou.

"O governo federal, assim, desmontou uma estratégia de eficácia comprovada, que é o incentivo à quebra da unidade entre as empresas no propósito de ocultar os fatos das autoridades — omertà, como é chamada pela máfia italiana —, permitindo que haja um acordo global, sem maiores repercussões na real investigação dos fatos. O que veremos agora é uma série de acordos, sem qualquer relevância para a revelação de crimes de corrupção de agentes políticos", avaliou.

Rapte-me camaleão

Jaques Wagner, a voz de Dilma

Um dos maiores erros da presidente Dilma no início do segundo mandato foi ter mantido Aloizio Mercadante no Gabinete Civil e a coordenação política com o vice Michel Temer. Não funcionou,  como se viu, e isso não depõe contra a capacidade política e intelectual deles. Eram pessoas erradas no lugar errado e na hora errada. Os dois não se bicavam, Mercadante estava desgastado junto aos aliados e Temer amargurado, como se viu depois por sua carta.

O maior acerto de Dilma, na reforma ministerial, foi ter substituído Mercadante por Jacques Wagner e ter transferido a coordenação política para Ricardo Berzoini. Os dois atuam em fina sintonia, e só isso já é um tento.  Berzoini já havia demonstrado, na primeira passagem pelo cargo, habilidade para lidar com os partidos da coalizão. Wagner, além da facilidade para dialogar e articular, e da confiança que inspira aos aliados, vem se revelando também um eficiente grilo falante para Dilma.

Presidentes não podem dizer tudo o que precisa ser dito pela própria boca. Precisam de grilos falantes, que são mais que porta-vozes oficiais, destes que emitem declarações oficiais, geralmente burocráticas e protocolares. O grilo falante é outra coisa. Precisa ter estatura política suficiente para convencer a todos de que fala aquilo que o presidente pensa, embora sem declarar isso. Precisa também de credibilidade e de autonomia para falar,  mesmo sem consulta prévia ao governante a que serve. Com Dilma isso não é fácil, ela delega pouco e reclama muito de iniciativas de auxiliares. Mas com Wagner tem funcionado, e isso a tem ajudado.

Quem, além de Lula, ousaria dizer, como fez ele na entrevista do dia 2 à Folha, que o PT se lambuzou no poder ao reproduzir métodos da velha política que combateu?  Na série de mensagens desta segunda-feira pelo twitter Wagner não só atacou Eduardo Cunha e o pedido de impeachment, "fruto de uma vingança", assegurando que ele será enterrado ainda na Câmara. . "Eu, a presidenta Dilma e todo o governo estamos confiantes de que o processo de impeachment não sobreviverá aos primeiros testes na Câmara".

Reconheceu erros do governo, o que muita gente gostaria de ouvir, com mais ênfase, da  boca de Dilma mas quando é Wagner que o faz, é como se fosse ela. "Temos plena consciência de alguns erros que cometemos e das dificuldades que precisamos vencer na economia."

Para um governo que sempre teve dificuldades em se comunicar, e cuja presidente não tem o dom da palavra, como seu antecessor,  a atuação de Wagner como "vocero" político é um achado, embora palavras não movam moinhos. Para enterrar o impeachment,  depois que o Supremo colocou ordem no ritual, o governo terá que mapear as ilhas de insatisfação em sua base e obter muito mais que os 171 votos, para não deixar dúvidas sobre a legitimidade do mandato a ser mantido.

Mas isso não acontecerá antes de março.

por Tereza Cruvinel