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Dicas para fazer o casamento durar


Minha esposa e eu temos um segredo para fazer o nosso casamento durar:
Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em Iguatu.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.
Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, “em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!” ela disse. Então, sugeri a igreja.
Nós sempre andamos de mãos dadas…Se eu soltar, ela vai às compras!


Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: “nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento.
Eu me casei com a “senhora certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela era “sempre”.
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: “O que tem na TV?”
E eu disse: “Poeira”.
Luis Fernando Veríssimo
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Crônica dominical

"Quem, entre nós, nunca sonhou em ter um suprimento inesgotável de sorvete que atire o primeiro Häagen-Dazs", escreveu Luis Fernando Verissimo, sobre a licitação que Michel Temer cancelou para as refeições do avião presidencial, em sua coluna hoje domingo(01/2017).
"A quase compra de potes de Häagen-Dazs simboliza um grau de insensibilidade, nesta hora de aperto geral, que também tem algo de infantil, no sentido que crianças não têm senso de medida", diz.
"Quem decidiu pela compra é uma criança inocente, não importa sua idade. Ou, se cabe outra metáfora, 500 potes de Häagen-Dazs simbolizariam um descaso pela opinião alheia que beira a malcriação. Outra criancice."*


Crônica do dia

\o/de Luis Fernando Veríssimo

O Brasil explicado em galinhas

- O título também poderia ser: A tucanisse brasileira -

Dedico esta crônica aos FHCs ( Farsantes, Hipócritas, Canalhas ) do Brasil e do Mundo inteiro que agem exatamente como o delegado em questão mas adoram posar de honestos, paladinos da moral e ética. São sim Onestos e praticam a moral e etitica de galinha.
Mude o delegado por Moro, Janot, Gilmar ou qualquer outro tucano do MPF e do Judiciário e dá no mesmo. Caso o "ladrão de galinha" seja um tucano graúdo, tipo: Fhc, Serra, Alckmin, Aécio Neves.
Corja!!! Continua>>>
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O Brasil explicado em galinhas, por Luis Fernando Verissimo

Dedico esta crônica aos FHCs ( Farsantes, Hipócritas, Canalhas ) do Brasil e do Mundo inteiro que agem exatamente como o delegado em questão mas adoram posar de honestos, paladinos da moral e ética. São sim Onestos e praticam a moral e etitica de galinha.
Mude o delegado por Moro, Janot, Gilmar ou qualquer outro tucano do MPF e do Judiciário e dá no mesmo. Caso o "ladrão de galinha" seja um tucano graúdo, tipo: Fhc, Serra, Alckmin, Aécio Neves.
Corja!!!

Pegaram um cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D - Delegado
L - Ladrão
D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
L - Não era para mim não. Era para vender.
D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
L - Mas eu vendia mais caro.
D - Mais caro?
L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.
L - Os ovos das minhas eu pintava.
D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)
D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..
D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?
L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no Ducado de Liechentenstein.
D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
L - Às vezes. Sabe como é.
D - Não sei não, excelência. Me explique.
L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.
D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...



Sem ressentimentos, por Luis Fernando Verissimo

A melhor piada sobre a paixão dos franceses pelo Woody Allen foi feita pelo próprio Woody Allen. Naquele filme em que ele é um diretor que fica cego no meio das filmagens, continua a filmar mesmo sem enxergar nada e, claro, faz um filme que ninguém entende — a não ser os franceses, que descobrem significados ocultos no caos.

O filme termina com o diretor, ridicularizado pela crítica americana, embarcando para a França, onde será homenageado pela sua obra-prima.
Depois desta estocada satírica era de se esperar que os franceses ficassem magoados com Woody. Mas a paixão continua, sem ressentimentos. Ele foi convidado a apresentar seu último filme na inauguração do Festival de Cannes, fora de concurso, e os franceses o adoraram.
O filme, "Meia-noite em Paris", é uma louvação a tudo que Paris representou para os americanos de uma certa época, a "geração perdida" de Hemingway, Fitzgerald e etc., que fizeram da cidade o palco da sua afirmação artística e pessoal.
Allen já tinha homenageado outra Paris, a que Gene Kelly e Fred Astaire haviam usado como cenário das suas fantasias musicais, no filme "Everybody says I love you", culminando com uma dança à beira do Sena em que Woody e Goldie Hawn parodiavam Gene Kelly e Leslie Caron em "Um americano em Paris" e resumia todo o romantismo que a cidade inspirava.
Sem querer estragar o filme para quem ainda não viu, em "Meia-noite em Paris" Woody acompanha seu personagem principal numa viagem ao passado, a Paris pré-Segunda Guerra Mundial, em que ele encontra e convive com seus ídolos intelectuais, não apenas os americanos que giravam em torno de Gertrude Stein, mas gente como Picasso, Buñuel e até Salvador Dalí, numa ótima ponta de Adrien Brody.
O visitante do presente chega a interferir na vida destas personalidades (acalmando a Zelda Fitzgerald com um Valium, por exemplo). E como na época de ouro de qualquer lugar sempre se evoca uma época de ouro que houve antes, o personagem viaja para mais longe no tempo e conhece Toulouse Lautrec, Gauguin e outros — que também falam com saudade de uma época de ouro que passou.
Ele acaba voltando para o presente e a Paris de Carla Bruni, e comenta que o problema com a nostalgia de outros tempos é que as pessoas nem sempre se dão conta do que era a vida antes de existir, por exemplo, a anestesia. Mas o que Woody Allen quis fazer foi outra declaração de amor para eliminar todos os possíveis mal-entendidos. E dizer que em Paris todas as épocas são de ouro. Algumas só brilham mais do que outras.
(A melhor piada do filme, que não passa de um simpático conto de fadas: um detetive contratado para seguir o personagem na sua fuga ao passado se perde no tempo e se vê no século dezoito, dentro do palácio de um dos Luíses e sendo perseguido pela guarda real.)



Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior

Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro.
Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isto vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de experimentar a alternativa.
Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e armado.
 Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.
Ao contrario da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição aprendida. E, se para garantir que a alternativa não se repita, é preciso cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja.
Melhor uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa, mas incontestável. Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia de Brasília lhe enojar, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos, respire fundo e pense na alternativa.
Sequer pensar que a alternativa seria preferível — como tem gente pensando — equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida — e o voto.
 Luis Fernando Veríssimo

Crônica dominical de Luiz Fernando Veríssimo



Ditos populares, por Luis Fernando Veríssimo

Dos ditos populares, o mais irônico — pra não dizer cínico — é “Pra baixo todo santo ajuda”. O dito não discute a existência de santos e sua influência em nossas vidas, mas os divide em duas categorias, os poucos que nos ajudam nos momentos difíceis, de grande esforço, como subir uma ladeira, e a maioria que só se apresenta na hora da descida, quando nem precisaríamos de ajuda. Seriam os santos oportunistas, atrás de uma glória que não merecem.

Outro dito sábio e irônico, que está sendo muito citado depois da tragédia em Santa Maria, é “Porta arrombada, tranca de ferro”. Este trata das reincidentes providências tomadas para que um fato não aconteça, depois do fato acontecido. Foi preciso que quase 250 pessoas morressem para que coisas como revestimento inflamável, alvarás vencidos, falta de saídas de emergência e sinalização interna, etc. passassem a fazer parte das nossas conversas cotidianas, numa súbita descoberta do mundo de riscos iminentes e desconhecidos habitado por boa parte da população, principalmente a população jovem.
O Ivan Lessa disse que de quinze em quinze anos o Brasil esquece a sua história. Ou mais ou menos isso. Lessa foi otimista. A memória brasileira é bem mais curta. Não faz quinze anos que o Renan Calheiros teve que renunciar ao seu mandato para não ser expulso do Congresso. Hoje é candidato à presidência do Senado (estou escrevendo antes da eleição, mas Calheiros era tido como barbada).
Na época da sua renúncia houve grande indignação, mas a indignação brasileira — como a memória — dura pouco. É fácil indignar-se. Para nos indignarmos não falta a ajuda de todos os santos. Para que a indignação dure e tenha consequência precisamos de um empurrãozinho dos santos mais constantes. Que andam muito relapsos.
No caso dos crimes em Santa Maria, só nos resta esperar que a indignação dure o bastante para ter consequência. Que as providências que evitarão outra tragédia parecida sejam tomadas antes que a indignação seja engolida pela memória curta e desapareça.
E “quem esquece a história está condenado a repeti-la”.

Crônica dominical de Luis Fernando Veríssimo

Alguém sabe o que é 'rabdomióise'?

Quem passou pelo que eu passei — quase me fui — pode escolher o que fazer com a experiência. Ou terá assunto para o resto da vida, pois tudo o mais perderá importância comparado ao maravilhoso fato de continuar vivo. Ou evitará o assunto, para não ficar conhecido como um sobrevivente chato, daqueles que sabem — e repetem — tudo sobre sua doença, com detalhes, e até com um certo ar superior.
— Alguém aqui sabe o que é “rabdomiólise”?
E a conversa não pode ser sobre outro tópico:
— A coisa na Siria está feia.
— Isso porque vocês não viram minha urina no primeiro dia.
— Li que o Internacional vai começar a temporada com o time B.
— Por sinal, eu contei que o vírus que me pegou poderia ser tipo A ou tipo B? O meu era tipo A. O mais perigoso.
Prometo não ser um sobrevivente chato. Não vou contar o que me fizeram no CTI do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, mesmo porque sei pouco sobre o que me fizeram. Só sei que salvaram a minha vida.
Também não vou aproveitar nenhum dos delírios que tive enquanto sedado para transformar em crônica. Não sei por que, mas acho que aproveitar delírios de hospital em crônicas é uma forma de apropriação indébita.
E desculpe: não tive nenhuma visão do outro lado, nenhum vislumbre do infinito. Mas tenho que reconhecer que saí da experiência com meu ceticismo abalado.
Eram tantas pessoas — me contaram depois — rezando por mim e manifestando sua apreensão e solidariedade, principalmente desconhecidos, que deve ter feito uma diferença. Vou precisar rever minhas relações com a metafisica.
Alguns dos que salvaram a minha vida não são anônimos e precisam ser citados, antes de mudarmos de assunto. Doutores Alberto Augusto Rosa, Sandro Gonçalves, Eubrando Oliveira, Teresa Sukienik, Juçara Maccari, Ricardo Zimerman, David Saitovich, Renato Eick, Flavio Kapczinski, Rogério Friedman, Bernardo Moreira, Ana Stein, Marcos Wainstein, além do eficiente e dedicado corpo de enfermeiras, enfermeiros e fisioterapeutas do hospital. Obrigado, obrigado, obrigado. E não se fala mais nisto.

Luis Fernando Veríssimo: como foi a morte que sonhei


O prédio de lata estava desmoronando e eu estava dentro dele, desmoronando também. Caía de bruços como um super-herói que esqueceu como voar, com a cara virada para o chão, ou para o saguão do prédio, que se aproximava rapidamente.

Se eu me espatifasse no saguão, certamente morreria, pois seria soterrado pela lataria em decomposição que acompanhava meu voo. O fim do sonho seria o meu fim também.
Mas a queda era interrompida, a intervalos, como naquelas “lojas de departamento” em que o elevador parava, o ascensorista abria a porta e anunciava: “Lingerie”, “adereços femininos”, etc.
Levei algum tempo para me dar conta que aquelas paradas não eram só para interromper o terror da queda. Eram oportunidades de fuga.
O sonho me oferecia alternativas para a morte, se eu fizesse a escolha certa.
Ou então me dava um minuto para pensar em todas as escolhas erradas que tinham me levado àquele momento e à morte certa: os exageros, os caminhos não tomados e as bebidas tomadas, as decisões equivocadas e as indecisões fatais, o excesso de açúcar e de sal, a falta de juízo e de moderação.
Não posso afirmar com certeza, mas acho que ouvi o ascensorista fantasma dizer, em vez de “lingerie” e “adereços femininos”: “Desce aqui e salva a tua alma” ou “Pense no que poderia ter sido, pense no que poderia ter sido...”

Verissimo: e tudo mudou


O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo


Multidões

Em Lisboa e Londres você pode escolher a multidão que quer seguir: a que está indo para mais uma manifestação contra o governo e suas medidas de austeridade, ou a que está indo para o Bairro Alto de Lisboa e o Soho de Londres, para encher suas ruas, seus bares e seus restaurantes.

Claro que uma multidão não desautoriza a outra. Você pode mesmo aderir às duas sem se contradizer. Nem o movimento no Bairro Alto e no Soho (só para pegar dois exemplos que devem se repetir em outros países como a Espanha e até, imagino, a Grécia) desmente a crise, nem a crise impede as pessoas de se divertirem, até para não pensar muito nela.
E não se deve esquecer que boa parte das pessoas que pulam de tasca em tasca no Bairro Alto e transbordam dos pubs no Soho são turistas, em férias da realidade, qualquer realidade.
Seja como for, o Marciano Hipotético que descesse no meio dessas multidões teria dificuldade em fazer seu relatório sobre o que viu. Todo o mundo revoltado ou todo o mundo alienado? Ou, em linguagem de marciano, fifti-fifti?

Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo



Os founding fathers, fundadores da república americana, tinham que escolher: presidente eleito pelo Congresso ou por um colégio eleitoral inspirado (mais ou menos) no modelo alemão de príncipes eleitores. O que decididamente não queriam era o voto popular, um cidadão um voto, para impedir que a nova república se submetesse ao que um deles chamou de “tirania da massa”. Queriam, portanto, democracia, mas não demais.

Fato curioso, tornado irônico pela História: uma das razões para escolher o colégio eleitoral — cada estado com um número de “príncipes eleitores” proporcional à sua população — foi a preocupação com os estados do Sul da federação, onde grande parte da população era de escravos negros, obviamente sem direito a voto.
Com o colégio eleitoral, os negros contavam como população, garantindo uma representação justa da região no processo eleitoral, mas não como votantes.
Outra curiosidade histórica, que só descobri agora num livro sobre De Gaulle. Este exigia que as forças francesas que tinham se mantido leais a ele durante a ocupação alemã fossem as primeiras a desfilar na Paris liberada.
Negociou com o comando aliado, que concordou com sua reivindicação com uma única condição, imposta pelos americanos: que nenhum soldado negro marchasse com De Gaulle pelo Champs-Élysées. As forças americanas mantiveram-se segregadas durante toda a Segunda Guerra Mundial e frequentes brigas entre soldados brancos e negros, os chamados race riots, quase não entraram nas histórias oficiais do conflito.
A eleição de Barack Obama e sua possível reeleição (estou escrevendo sem saber nem como foram as pesquisas pós-pleito) teriam acontecido numa América pós-racial, mas tantos anos de preconceito e discriminação não se diluem numa geração.
Nenhum dos ataques e contra-ataques entre os candidatos, numa das campanhas eleitorais mais violentas da história americana, tocou no assunto raça, a não ser em alusões veladas, mas só o contraste entre a brancura iogurte do Romney e a cor do Baraca já é uma declaração política.
Contam que o Stevie Wonder, depois de ouvir elogios a ele e a Ray Charles, que teriam vencido na vida apesar de cegos, teria dito: “E o Ray Charles, além de tudo, é negro.” Tudo que a direita vitriólica americana chamou o Baraca nestes últimos quatro anos — muçulmano dissimulado, maldito socialista etc. — poderia terminar com a frase implícita: e, além de tudo, é negro.
Não preciso dizer que ontem passei o dia torcendo por mais quatro anos para o Barack Obama.

Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo


O silêncio

A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas mesmo num processador de texto de último tipo ainda é a mesma velha história, a mesma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso.

O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isto sim, os entornos da literatura.
Por exemplo: não existem mais originais. Os velhos manuscritos corrigidos, com as impressões digitais, por assim dizer, do escritor, hoje são coisas do passado: com o computador só existe versão final. O processo da criação foi engolido, não sobram vestígios. Só se vê a sala do parto depois que enxugaram o sangue e guardaram os ferros.
Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde — bem, desde as penas de ganso. O silêncio.
Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as consequências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de fábricas em claustros.
A desnecessidade do grito para se fazer ouvir e a perda da identificação do seu ofício com um barulhento trabalho braçal mudou o caráter do jornalista. Se para melhor ou para pior, é discutível.
Defendo, sem muita convicção, a tese de que a mudança da máquina de escrever para o computador também determinou uma migração da esquerda para a direita nas redações brasileiras. Se hoje não vale mais a velha máxima de que jornalista era de esquerda até o nível de redator chefe e de direita daí para cima, a culpa é da informatização. A nova direita é filha do silêncio.
Mas é no futuro que a troca do bom preto no branco pelo impulso eletrônico e o texto virtual fará a maior confusão.
A internet está cheia de textos apócrifos, inclusive alguns atribuídos a mim pelos quais recebo xingamentos (e tento explicar que não são meus) e elogios (que aceito, resignado), contra os quais nada pode ser feito e que, desconfio, sobreviverão enquanto tudo que os pobres autores deixarem feito por meios obsoletos virará cinza e será esquecido. Nossa posteridade será eletrônica e, do jeito que vai, será fatalmente de outro.

Ciência e linguagem


Sir Francis Bacon deu um conselho curioso aos que estudavam a Natureza: deveriam desconfiar de tudo que suas mentes aceitassem sem hesitação. Talvez fosse uma maneira de prevenir contra a ilusão de que qualquer descoberta humana fosse completa, ou tivesse completamente desvendado o que Deus encobrira.
No momento (século 17) em que crescia a ideia herética de que existia um metafórico Livro da Natureza tão cheio de mensagens de Deus para os homens quanto o Livro dos Livros, Bacon aconselhava a Ciência a não desprezar o que diziam os mitos e as Escrituras. A glória de Deus se manifestava de várias formas. Algumas eram apenas mais poéticas do que as outras.
A primeira “mensagem” assim identificada do Livro secular da Natureza foi o magnetismo, que só começou a ser estudado a fundo pelo inglês William Gilbert, contemporâneo de Bacon na corte da rainha Elizabeth I, de quem era médico.
O magnetismo era a prototípica evidência de uma força invisível na Natureza, a primeira alternativa à pura vontade de Deus como algo por trás de tudo. Albert Einstein contava que o presente de uma bússola, quando era menino, lhe dera a primeira sensação desta força misteriosa, e o primeiro ímpeto de desvendá-la. Continua>>>

Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo


Se todas as previsões feitas no passado sobre como seria a vida hoje dessem certo, cada um de nós teria um helicóptero — ou coisa parecida — na garagem, e para viagens mais longas só usaríamos aviões supersônicos.
Os Volkswagens voadores não vieram, para não falar nas megalópoles superorganizadas com calçadas rolantes num mundo em paz permanente e sem pragas, mas o Concorde parecia ser um sinal de que pelo menos parte da visão se cumpriria, mesmo com atraso.
O Concorde era um protótipo que, com o tempo, se aperfeiçoaria e se democratizaria. Seus defeitos eram desculpáveis, tratando-se de um protótipo. Fora as críticas irrelevantes (sim, querida, o caviar é Beluga, mas com a granulação errada), o pior que se dizia de uma viagem no estreito Concorde, com suas poltronas apertadas, era parecido com o que aquele inglês da anedota disse do ato sexual: o prazer é fugaz e a posição é ridícula.
Tudo isso seria corrigido com o tempo, inclusive o seu maior defeito, o preço das passagens, só acessível a quem pode distinguir o grão do caviar.
Mas o Concorde acabou antes de se tornar viável. E o que se chora não é o fim de uma máquina muito cara e talvez desnecessária, mas de um sonho: o que seria a vida se todas as possibilidades abertas pela ciência e a tecnologia depois da Primeira Guerra Mundial tivessem dado em outro mundo.
No fim o que a gente mais sente falta, do passado, é o futuro que ele previa. O Concorde podia ser só uma extravagância feita para você poder almoçar em Paris e almoçar de novo em Nova York. Acabou como símbolo do fim prematuro de um século que só ficou na imaginação.
Em compensação, o futuro previsto no passado não incluía uma palavra, uma pista, uma sugestão que fosse da grande revolução que viria e ninguém sabia, a da informática. Quer dizer, o futuro imaginado no passado já era um futuro obsoleto. O único, tênue presságio do que viria era o rádio de pulso do Dick Tracy, lembra? O próprio Tracy não sonhava que um dia ele teria no seu pulso, para combater o crime, um dispositivo que receberia e emitiria imagens e mensagens, calcularia, fotografaria e diria como estava o tempo em qualquer lugar do mundo.

O imenso silêncio


[...]“bossa” era uma corruptela de “bass”, contrabaixo em inglês. Tudo esclarecido. (Não foi a única injustiça que fizeram com o João Gilberto, o verdadeiro criador da batida da bossa. Ainda inventaram que ele roubara o jeito de cantar do Chet Baker.)
Mas tudo isto, acredite ou não, tem a ver com o mensalão. Ouvi dizer que a origem do esquema que está sendo condenado no Supremo é uma eleição em Minas que envolveu alguns dos mesmos personagens de agora, só que o partido favorecido foi o PSDB.
Se a origem é esta mesma, ou — como no caso da origem da bossa-nova — há um mal-entendido, não sei. Mas não deixa de surpreender a absoluta falta de curiosidade, da grande imprensa inclusive, sobre esta suposta raiz de tudo. Só o que há a respeito é um grande silêncio.
O barulho com o esquema precursor mineiro ainda está por vir ou o silêncio continuará até o esquecimento? É sempre bom investigar a origem dos fatos e das palavras. Inclusive porque dá boas histórias.
Luis Fernando Verissimo

Crônica semanal do Verissimo



O prêmio de melhor slogan eleitoral até agora vai para um candidato a vereador em Nova Iguaçu: “Edilson que o povo gosta.” Não sei qual é o sentimento real do povo em relação ao Edilson, mas isto não importa. O que interessa é que o trocadilho é bem bolado e o Edilson tem senso de humor, o que talvez ajude a ser vereador em Nova Iguaçu.

O Barack Obama bem que gostaria de ter uma frase sintética como a do Edilson para enfatizar sua principal virtude eleitoral, a simpatia. O sorriso de boca apertada do Mitt Romney não se compara ao largo sorriso do magrão.
Mas boa parte do povo que gostava de Obama, pelo seu sorriso e pelo que ele representava de novo e promissor, está decepcionada com ele. O desafio para Obama é fazer a simpatia render até as eleições, resistindo à desilusão crescente.
Os republicanos estão repetindo a pergunta feita por Ronald Reagan ao eleitorado americano para derrotar os democratas e se eleger, anos atrás: está melhor hoje do que estava há quatro anos? Com recordes de desemprego e a economia rastejando, a resposta óbvia parece ser “não”.
O desempenho de Obama nestes quatro anos não foi tão ruim. Ele evitou que a crise dos bancos de 2008 fosse mais catastrófica do que foi, reergueu a indústria automobilística — com toneladas de dinheiro publico, é verdade, mas quem está se queixando? — e criou, aos trancos, um sistema universal de saúde, apesar da reação dos lóbis contrariados e de todo o rancor da direita.
Mas a economia insistiu em não colaborar. E é disto que o povo não gosta. O tom da convenção recém-encerrada do Partido Democrata foi: vamos dar mais quatro anos para o homem cumprir sua promessa. Mais uma chance ao sorriso, ele merece.
Eu vou prestar atenção na eleição para vereadores em Nova Iguaçu, para saber o resultado do divertido slogan do Edilson. E em novembro vou torcer pelo Baraca. Ele pode não ser o prometido, mas a alternativa é muito pior.

A musa do cronista



Telefonei para a minha musa, a Rosinha. Para reclamar. Eu andava sem assunto, sem ideias, sem inspiração. A Rosinha claramente não estava fazendo seu trabalho. Não aparecia. Não mandava notícia.

Minha ligação deu numa secretária eletrônica. Pode, musa com secretária eletrônica? Onde ela se enfiara? Estaria me traindo, inspirando outro? Deixei um recado: preciso de você, me ligue.
Nunca entendi bem esse negócio de musas. Elas vivem juntas? As antigas, as clássicas, convivem com as musas menores como a Rosinha, sem problemas? É difícil imaginar a musa do Virgílio, a musa do Tolstoi — meu Deus, a musa do Shakespeare! — coabitando com musinhas novatas, a não ser que só se dirijam a elas para pedir o cafezinho.
Ou as musas de outros tempos desaparecem junto com os artistas que inspiram, deixando o campo livre para musas contemporâneas? Mesmo assim, que possíveis assuntos poderiam ter a musa do, sei lá, García Márquez e a musa de um grafiteiro?
Finalmente consegui localizar a Rosinha, no seu Celular>>>

Olimpíadas e esporte espontâneos


 por Luis Fernando Veríssimo

Não sei muita coisa a respeito de judô. Sempre me pareceu que uma luta de judô consiste em um tentando desarrumar o pijama do outro. Mas uma coisa me surpreendeu, vendo o judô das olimpíadas na TV: como judoca é emotivo.

Tem-se visto manifestações de sensibilidade em outras modalidades, claro. Todo mundo se emociona na vitória ou na derrota, na hora das medalhas e na hora dos hinos. Mas você imaginaria que judocas fossem pessoas duronas, que soubessem conter suas emoções. O simples fato de o puxa-puxa das suas lutas não desandar em brigas de rua, com pontapés e ofensas à mãe (pelo contrário, nada mais civilizado do que as formalidades entre os lutadores antes e depois das lutas), seria uma prova de controle absoluto. Mas não, judocas choram quando ganham e choram quando perdem. O que não deixa de ser muito simpático.
Sempre achei que as olimpíadas se tornariam mais simpáticas se incluíssem o que se poderia chamar de esportes espontâneos. Por exemplo: queda de braço e bolinha de gude. A incorporação destas modalidades populares favoreceria países sem tradição olímpica, que nunca competem nos esportes nobres, mas poderiam muito bem mandar uma delegação vencedora de jogadores de pauzinho (também, conhecido como, desculpe, porrinha).
Qualquer frequentador de bar brasileiro conhece o jogo de pega-bolacha, que consiste em empilhar bolachas de chope na borda da mesa, mandá-las para o alto com um golpe e tentar agarrá-las no ar. Duvido que o Brasil encontrasse adversário à sua altura numa competição de pega-bolacha.
Há esportes espontâneos com uma longa história que quem praticou em criança nunca esquece, como bater figurinha. Com alguns meses de treinamento, qualquer adulto pode recuperar sua habilidade em bater figurinha e ir para os Jogos.
Outras modalidades: embaixada com laranja ou qualquer outra coisa esférica; tiro ao alvo com bodoque; arremesso de invólucro de canudo soprando o canudo; par ou impar. Etc, etc.
E não vamos nem falar nos vários jogos de cartas, como o truco, nos quais nossas chances de ganhar o ouro seriam grandes. Talvez houvesse alguma dificuldade em acordar a delegação do pôquer para o desfile inaugural, e imbuir todo o mundo do espírito olímpico, mas fora isso...

O nada, por Luis Fernando Veríssimo


‘Nothing comes from nothing/nothing ever could..." (Nada vem do nada/nada poderia vir…)

A frase não é de nenhum físico ou filósofo. É do musical “A noviça rebelde” e seu autor é Richard Rodgers, que no caso, além da música, fez a letra, em vez do seu parceiro Oscar Hammerstein (se pode-se confiar no Google).
Rodgers, sem querer, tocou num ponto muito discutido entre as pessoas que se interessam pelo Universo e como ele ficou deste jeito.
Em todas as teorias sobre a criação e a expansão do Universo sempre se chega a um ponto em que ou você aceita que algo se criou do nada ou você abandona qualquer especulação cientifica e vai criar galinhas.
Hoje a própria hipótese de tudo ter começado com um Big Bang, que você e eu pensávamos que não era mais hipótese e sim uma verdade indiscutível, está sendo discutida. E o problema é o que fazer com o nada. O que havia antes do Grande Pum era o nada ou antes — só para complicar — não havia nem o nada?
Os físicos dizem que o próprio tempo começou com o estouro inaugural que formou o Universo em segundos e portanto não faz sentido falar-se em “antes”. Mas se antes não havia nem antes havia um nada absoluto, do qual, desmentindo o Richard Rodgers, criou-se o Universo. Houve um tempo em que pensar muito sobre tudo isso chamava-se “puxar angústia”.
A descoberta do tal bóson de Higgs foi um feito extraordinário da física. Intuíram a sua existência, concluíram que ele precisava existir mesmo que nunca o tivessem visto, foram atrás e o encontraram. Chegou-se mais perto da chamada teoria unificada do Universo que já era o sonho do Einstein — agora só restam umas duzentas perguntas para serem respondidas. E o nada continuará incomodando.
A mãe do Woody Allen, num dos seus filmes semiautobiograficos, impacienta-se com a preocupação excessiva do menino com o Universo e pergunta: “O que você tem a ver com o Universo?”
Muita gente prefere fazer como aquele inglês que passa por um campo de batalha sem se abaixar ou tomar qualquer outra precaução com as balas que voam ao seu redor, pois é um estrangeiro e a guerra não lhe diz respeito.
Não temos como nos precaver contra o que o Universo nos reserva, mas ele decididamente diz respeito a todos. Até criadores de galinhas...