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Clóvis Rossi: não são previsões, são chutes


Esqueça a catarata de previsões sobre o desempenho da economia publicadas recentemente. Não passam de "chute".

É a cândida confissão de um "chutador", Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, em artigo publicado quinta pela Folha.

Borges acusou o golpe representado pelas críticas do "grande público aos analistas econômicos (economistas principalmente) e às suas projeções" (para o desempenho da economia em 2012).

Resolveu, então, explicar que "os erros são inevitáveis em razão de uma série de razões" que ele lista em seguida.

Depois de ler as tais razões, a única conclusão possível é a de que não há previsões, mas "chutes", até porque a primeira razão já seria suficiente para não tomar palpites de analistas/economistas como se fossem a palavra de Deus: "O mundo real é caracterizado pela incerteza em relação ao futuro".

Tremenda obviedade, mas necessária porque boa parte dos economistas se acha profeta infalível. Para aliviar a barra dos economistas tapuias, é forçoso dizer que no mundo todo todo mundo "chuta".

Debates, ou a última chance de Serra?


deu NA FOLHA 

A série de debates que começa hoje é, talvez, a única chance de José Serra reverter um quadro eleitoral que é claramente favorável a Dilma Rousseff.

Favorável menos pelo que dizem as pesquisas e mais pela lógica. Pode-se até argumentar que lógica e eleições nem sempre se casam, mas é o único instrumento para análise, já que, por definição, não dá para trabalhar com o imponderável.

Qual é a lógica? Repito: há uma sensação bastante disseminada de bem-estar no país, o tal "feel good factor". É natural que, nessas circunstâncias, o eleitorado prefira o continuísmo à mudança.

Para alterar essa lógica, os candidatos oposicionistas teriam que pôr no cenário alguma emoção, alguma utopia, alguma ilusão convincente. Nada disso está à vista, e resta demasiado pouco tempo para que possa aparecer.

A alternativa para a oposição é desmontar Dilma, o que só pode acontecer nos debates. No horário gratuito, ela será devidamente embalada para presente, como de resto todos os demais, exceto Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Plínio prefere a autenticidade ao embrulho, ainda que não lhe dê votos.

O debate fica sendo, portanto, a única chance de, eventualmente, fazer a candidata governista escorregar, mostrar-se indecisa, atrapalhada, insegura, sei lá. Algo enfim que leve o público a acreditar que ela não é a garantia de que o "feel good" vai continuar.

No caso de Serra, o debate terá um elemento adicional para ajudá-lo na difícil tarefa de desconstruir Dilma. Chama-se exatamente Plínio de Arruda Sampaio, o único com coragem suficiente para dizer que o imensamente popular governo Lula é "nefasto", como o fez em entrevista à Folha.

Claro que o candidato do PSOL tampouco vai poupar Serra. Mas o tucano está habituado a levar bordoadas da esquerda, muito ao contrário de Dilma.

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Os terroristas financeiros


Como era previsível, as piranhas do mercado financeiro sentiram o gosto de sangue, na forma do pacote de ajuda à Grécia, até agora o maior da história, e passaram imediatamente a buscar outra presa. Surgiu, nos mercados, um boato (entre as centenas que os operadores financeiros espalham diariamente) de que estava em preparação uma ajuda ainda mais portentosa, desta vez para a Espanha, no valor de 280 bilhões de euros, mais de duas vezes e meia o que foi prometido à Grécia.


"É uma absoluta loucura", reagiu o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, forçado, justamente pela "loucura", a passar todo o tempo de uma entrevista coletiva a defender a solvência de seu país.


Não adianta: o rumor mais o fato (real) de que as economias europeias estão excessivamente endividadas mais a notícia de que a produção industrial chinesa estava aumentando no menor ritmo em seis meses - tudo isso levou a um desastre nas bolsas da Europa. Na Espanha, houve uma queda formidável (5,41%), a segunda pior jornada do ano, levando o índice ao nível mais baixo desde meados de julho passado.


Na Grécia, como é óbvio, o tombo foi maior (6,6%), mas não escaparam Paris, Londres, Frankfurt, Milão.


Não adianta Zapatero esbravejar e dizer que "não podemos estar continuamente pendentes das especulações". São elas que marcam a pauta, goste-se ou não.


Tanto que o dado sobre a produção chinesa seria pouco significativo em outro ambiente. Afinal, não houve queda, mas crescimento menor --e em um período de apenas seis meses, que é reduzido para decretar que a economia chinesa, motor do mundo, vai desacelerar, que a China vai comprar menos commodities (o Brasil seria uma vítima, nessa hipótese) e por aí vai.


O fato é que os mercados estão praticando atos seguidos de terrorismo financeiro, sem que os governos consigam reagir à altura e em tempo.
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".