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Quando o pobre não se enxerga

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Pois não é que agora a pouco chegou um conhecido aqui em casa indignado com os "escravos cubanos"? Não perco meu tempo mostrando as mentiras do mitomaníaco que ele idolatra, deixei ele falar até não querer mais. Quando ele fez uma pausa para respirar...fui na julgular, perguntei:
- Quanto tu recebe por mês?
- Uns mil e trezentos reais, com vale transporte e vale alimentação.
- Mil e trezentos reais e não recebe auxílio-moradia, né?
- É!
- O médico cubano tem: transporte, alimentação e moradia pago pelas prefeituras. Recebe três mil reais sem nenhum desconto, tu recebe mil e trezentos. Ele é escravo. Tu é um homem livre. Durma-se com um bagulho desse...
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Crônica do dia

Desgraça pouca é bobagem, por Sebastião Nunes
Joãozinho acompanhou de longe o golpe militar de 1964 desde os primeiros vagidos em 1960, quando Jânio Quadros foi eleito presidente da república.
Ele tinha 18 anos na época e, para tomar um chope, precisava exibir a carteira de identidade, pois sua cara de menino deixava cabreiros os garçons.
Sem entender patavina, lia as manchetes dos jornais nas bancas, procurando decifrar o fuzuê que se armou entre a renúncia de Jânio e a posse de João Goulart.
Militares, latifundiários e ricaços arreganhavam os dentes contra os comunistas, que ameaçavam fazer churrasco das criancinhas brasileiras.
Quando terminou o ensino médio, no início de 1964, o Brasil estava mergulhado no caos e ele continuou se informando pelas manchetes das bancas de jornal.
Mulheres bem vestidas desfilavam pelas ruas em nome de Deus, da família e da propriedade. Não havia pretos ou pobres.
Os “Diários Associados”, reacionários como eles só, lançaram uma campanha para a doação de ouro pela salvação do país. Salvação do país contra os comunistas é claro, imaginou ele, lendo e relendo as manchetes.
Lá se foram os bondosos pais de família, ingênuos mas remediados, entregar as alianças de casamento e, para não passar aperto, armazenaram arroz, feijão, óleo, açúcar e papel higiênico para os tempos bicudos que diziam se aproximar.
Um tanto retardado para sua idade, Joãozinho era apenas um aluno medíocre e um completo analfabeto político. E não tinha dinheiro para armazenar nada.
Quando a ditadura militar acabou, mais de 20 anos depois, Joãozinho continuou sem entender nada, mas havia progredido e era balconista numa loja de ferragens.
Casado com uma balconista de loja de roupas das redondezas, tinha dois filhos e morava nos cafundós. Havia televisão em casa e toda noite acompanhava o noticiário pela TV. As notícias agora chegavam quase instantaneamente.
Aos 40 anos, tendo passado das manchetes de jornais nas bancas para a tela da televisão na sala, continuou um analfabeto político, só que ao vivo e em cores.
REPETIÇÃO COMO FARSA
Em 2018, Joãozinho e a mulher estavam aposentados e continuavam vivendo na mesma casinha alugada nos cafundós, pois recebiam pouco do INSS.
O filho de Joãozinho, que também se chamava Joãozinho, tinha 18 anos e estava no primeiro ano do ensino médio numa escola pública dos cafundós.
Tinha uma irmã chamada Maria que, aos 14 anos, cursava o ensino fundamental na mesma escola que Joãozinho.
Seus pais, babosos, insistiam para que eles terminassem pelo menos o ensino médio ou não conseguiriam bons empregos como eles haviam conseguido.
Pela televisão acompanhavam os acontecimentos do país e, como bons cidadãos, votavam de acordo com o que os noticiários sugeriam.
Era difícil decidir, mas os apresentadores dos telejornais diziam quem eram os corruptos, os acusados de roubar dinheiro público e os honestos em que podiam confiar. Nesses, como sugeriam toda noite os mesmos apresentadores, eles podiam votar.
Joãozinho filho também ia votar, só que pela primeira vez.
Joãozinho filho estava de acordo com os pais, porque boa parte dos professores e amigos também assistia o noticiário da televisão e tinha a mesma opinião. Eles sabiam quem eram os honestos, os acusados de roubar dinheiro público e os corruptos. Nesses não votariam de jeito nenhum.
Maria não ia votar, pois ainda não tinha idade, mas concordava com os pais e o irmão. Como ainda era menor, toda noite via as mesmas novelas e o mesmo noticiário com os pais e, às vezes, também com o irmão, cujas opiniões respeitava.
Ela não sabia que os pais e o irmão não tinham opiniões.
Ela não sabia que as opiniões dos pais e dos irmãos eram as opiniões que os apresentadores da televisão diziam serem as certas.
Ela não sabia que os apresentadores da televisão também não tinham opiniões e só mantinham aquelas opiniões porque eram as opiniões dos donos da televisão.
Ela não sabia que se os apresentadores tivessem opiniões diferentes das opiniões dos donos da televisão eles seriam mandados embora com um chute na bunda.
Maria, Joãozinho filho, a mãe, que também se chamava Maria, e Joãozinho pai eram analfabetos políticos.
Mas eles não sabiam que eram analfabetos políticos.
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O analfabeto político


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. 

Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Bertolt Brecht, atualíssimo
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