Há muito tempo os ocidentais reconhecem a acupuntura como técnica eficiente
para aplacar dores na coluna e até para largar o cigarro. Mas a última
descoberta é que as agulhas da milenar técnica chinesa são um método eficaz para
combater aqueles quilinhos a mais que teimam em resistir às dietas. Acupuntura,
como os orientais estão cansados de saber, emagrece.
Todo este conhecimento está no livro do Imperador Amarelo, um dos mais
antigos tratados da medicina oriental, escrito há mais de dois mil e quinhentos
anos e até hoje fonte didática nas universidades daquele outro lado do mundo. Na
visão global da medicina chinesa, obesidade é estagnação de energia, disfunção
com origem no baço-pâncreas e estômago. “A medicina tradicional chinesa é
prática na questão. Vê a obesidade como doença e a trata como tal. Exatamente
como se faz hoje”, diz o médico e coordenador do Programa de Terapias Não
Convencionais da Secretaria de Saúde do Estado Ronaldo Azem. Manter o corpo
magro é questão de equilíbrio Para os orientais, o baço-pâncreas é o centro do
equilíbrio orgânico. É dali que se promove o transporte e a transformação das
substâncias dos alimentos ingeridos. As lesões neste ponto têm duas origens:
genética ou conseqüência de maus hábitos alimentares.
Uma anamnese detalhada e um estudo da língua do paciente — ela é fonte de
diagnóstico na medicina tradicional chinesa — dão outros indícios. “Insônia no
final da noite, por exemplo, é um distúrbio ligado ao baço; enquanto a ansiedade
está associada ao coração; a melancolia aos pulmões; e a irritabilidade e a
depressão ao fígado”, diz o Dr. Ronaldo. A cada um destes órgãos também se
associa um dos cinco sabores, amargo, doce, salgado, ácido e picante. Logo, o
ideal para quem quer manter-se longe do peso extra é equilibrar todos estes
sabores”, explica. O que significa saber que o doce a que se referem os
orientais é o chamado doce sutil, presente na abóbora, no arroz. E bem diferente
do doce tóxico, do açúcar e do chocolate. Para nós, ocidentais, com dificuldade
em identificar tais sutilezas, o Dr. Ronaldo orienta de uma forma mais simples:
durante o dia, vale comer o que nasce do solo para cima: legumes, frutas,
verduras e carnes. À noite, do solo para baixo. Ou seja, raízes e peixes. “É um
erro achar-se que é deixando de comer que se vai emagrecer. Comer certo faz
gastar mais energia. É desta forma que o organismo metaboliza melhor o que foi
ingerido. Quando se come mal, ao contrário, o organismo não digere, e retém
impurezas, toxinas e, naturalmente, gorduras”, esclarece. Os gordos, portanto,
suam pouco e têm tendência a excretar menos do que deveriam. Em outras palavras,
ficam estagnados.
Também é preciso saber se o paciente tem características yin ou yang e ver o
que está em desequilíbrio. Os yin, que são tranqüilos e pálidos, às vezes,
mostram-se apáticos, desanimados, dormindo demais. Casos em que é necessário
ativar sua energia yang, comendo alimentos e ervas deste gênero, como pimenta,
gengibre, canela. Os yang, ao contrário, quando estão agitados demais, com
insônia, precisam de alimentos mais refrescantes, como o hortelã. Acupuntura,
dieta e exercício, um trinômio perfeito Outro agravante de tudo isso é o stress,
mal que se torna endêmico na vida moderna. “Ele lesa o baço energética e
fisicamente”, diz o Dr. Ronaldo. E muitas vezes prejudica outros órgãos, como o
fígado, abrindo caminho para a depressão; ou os rins, levando ao medo e, em
alguns casos, até a síndrome do pânico. “Como o oriental não separa o emocional
e o físico, o tratamento é global”, enfatiza o Dr. Azem. Na prática, isto
significa que não basta ativar os pontos em que se detectou disfunção. Também é
preciso adotar uma alimentação adequada, e atividade física. Sim, os orientais
já sabiam disso há muito tempo. E por uma razão simples: caminhar, dizem os
chineses há mais de dois mil anos, faz circular o sangue e a energia. “E tal
como a acupuntura, libera endorfinas, o hormônio do cérebro com efeitos
analgésicos e euforizantes”, completa o médico.
Mas então quais as diferenças de um tratamento com acupuntura e um tratamento
convencional para emagrecer? A resposta é que com a acupuntura se consegue não
só normalizar o fluxo energético, como tratar a compulsão alimentar e inibir o
desejo por doces. “O ponto da fome, o ponto 2 da vesícula biliar, localizado na
articulação temporo-mandibular, faz diminuir a compulsão”, diz o médico. Também
funciona acionar certos pontos na orelha. “Com a imagem de um feto invertido,
ela é uma representação de todo o organismo. O estímulo ali reforça o tratamento
sistêmico”, afirma o Dr. Azem. Em alguns pacientes, ele deixa ali uma pequena
semente de mostarda. O objetivo é perpetuar o estímulo sobre o ponto do
baço-pâncreas e estômago. Outra dica, uma das muitas que fazem parte do curso de
dietética energética que o médico dará em agosto, no restaurante Taiping, é
direcionada aos chocólatras e loucos por doces. “Alimentos como abóbora,
abobrinha, aspargo, berinjela e chuchu também ajudam a refrear o desejo pelos
açúcares.” Por um corpo magro, afinal, vale a pena.