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Bolsonaro: sem mim a direita não entra no Palácio do Planalto

Bolsonaro continuará no cargo enquanto continuar útil ao projeto do golpe de 2016: banir o campo popular do espaço da negociação política.

O miliciano-em-chefe do país aderiu à manifestação convocada para o próximo dia 15, cuja bandeira principal, descrita em bom português, é "fechem o Congresso!" O que isso significa?

Não creio que seja muito diferente de situações similares que ocorreram no ano passado. Bolsonaro sabe que não tem força para aplicar um novo golpe e instaurar uma ditadura pessoal.

A ampliação do espaço dos generais em seu governo não significa que ele está ganhando ascendência sobre as forças armadas, muito pelo contrário. E, apesar da calculada explosão de Augusto Heleno, a cúpula militar sabe muito bem que lhe convém mais essa "democracia" tutelada e capenga do que uma ruptura aberta com a ordem constitucional.

A jogada de Bolsonaro tem que ser entendida à luz das acomodações dentro da coalizão golpista – aquela que arquitetou a derrubada de Dilma e a criminalização da esquerda e na qual ele, o ex-capitão extremista, estava destinado inicialmente a um papel secundário.

Nas últimas semanas, Bolsonaro acumulou desgastes – culminando na agressão misógina à repórter da Folha de S. Paulo – e voltou a se acenar com a ideia de impeachment. Como fez no ano passado, ele quer mostrar à direita que, sem ele, ela não governa.

A base de que ele dispõe não é irrelevante. São aqueles que são leais ao "mito" e continuarão sendo por muito tempo, não importa o quão catastrófico o seu governo seja. São militares de baixa patente e policiais que se veem "empoderados" com o atual governo. São os que continuam iludidos com Moro – e que, na verdade, se sentem atraídos com o odor distintamente fascista que o ex-juiz confere a seu ministério.

São os milhões que se identificam com o obscurantismo moral da estrela em ascensão do governo, a ministra Damares Alves. (Não dá para desenvolver aqui, mas suspeito que as bases sociais diferentes do pentecostalismo brasileiro, bem como as características próprias do nosso Welfare State gorado, tornam pouco úteis para nós as teorias sobre o casamento entre neoliberalismo e neoconservadorismo importadas dos Estados Unidos.)

E temos também, claro, o grande grupo dos pragmáticos, aqueles que podem se incomodar com a truculência de Bolsonaro e mesmo com a incontinência verbal de Guedes, mas julgam que o principal é avançar no programa de aniquilamento dos direitos e destruição do Estado social.

Esse é o ponto: toda a direita limpinha, incluídos aí Maia, FHC, a mídia corporativa, os banqueiros cosmopolitas, o escambau, pertence ao grupo dos pragmáticos.

Bolsonaro quer colocar sua tropa na rua para dizer a eles: segurem a onda aí, porque sem mim um governo de direita não se sustenta, talkey?

Afinal, o que ele pede para si e para os seus é tão pouco – umas vantagenzinhas, uns esqueminhas, umas impunidadezinhas. E em troca ele faz tanto, faz todo o serviço sujo.

Em quatro – quem sabe oito? – anos, entregará o país que eles querem.

Sim, ao se associar pessoalmente ao ato pró-ditadura aberta do próximo dia 15, Bolsonaro cruzou, pela enésima vez, a linha que separa o admissível do inadmissível. Ouviremos, já estamos ouvindo, as vozes indignadas da imprensa, dos conservadores respeitáveis, dos pró-homens do parlamento.

Mas Bolsonaro continuará no cargo enquanto continuar útil ao projeto do golpe de 2016 – banir o campo popular do espaço da negociação política.

*Luis Felipe Miguel é professor de Ciência Política na UnB.

O silêncio dos cúmplices, por Fernando Brito - Tijolaco

O caro leitor e a rara leitora, talvez enfadados com a super-atenção que este blog tem dado aos movimentos do mercado financeiro, devem conceder-me a tolerância de verificar quantos dos comentaristas de economia estão dando de importância à crise que se abate cobre o mundo – e sobre o mundo onipresente dos negócios que governa a própria redonda Terra.

Há mais de um mês falam, no máximo, de "preocupação" com o surto – que só não é pandemia porque até a OMS está preocupada em não jogar lenha na fogueira com o uso deste nome – de coronavírus.

Ia "passar" em uma semana, depois duas, quem sabe até o fim do mês ou, talvez, com o trimestre. Daí as coisas se recuperariam, as compras e a produção atrasadas se poriam em dia e tudo seria apenas um insignificante acidente de percurso.

Ontem, com o circo desabando, Miriam Leitão falava de "um susto" e que "ainda não está claro o quanto o mundo será atingido".

Só o Valor dimensiona o desastre, trazendo como manchete do site Ibovespa cai 7% e tem pior sessão desde o "Joesley Day", exatamente o que ontem se dizia aqui.

Foi, você se recorda, o sepultamento das ilusões de uma recuperação cantada em prosa e verso com a equipe econômica dos sonhos", com Meirelles e Companhia.

Amanhã você lerá que mais de R$ 300 bilhões de reais foram vaporizados com a queda da Bolsa. Não é verdade. Como acontece com os prestidigitadores, "some" aqui e reaparece ali, em outras mãos, logo depois.

O investidor de classe média, empurrado pelas ilusões do "Ibovespa a 200 mil pontos", pelas Betinas milionárias e pelo "agora a coisa vai", saiu das aplicações de renda fixa e foi para o cassino.

O cidadão que botou os R$ 30 mil que suou para juntar e que não lhe davam na poupança nem R$ 80 por mês, muito menos que a inflação, foi parar nas XP da vida, se sentindo o Luciano Huck e, em meio ao naufrágio descobre que "nossos botes salva-vidas estão com excesso de demanda, tente mais tarde".

Da semana passada para cá, se aplicou num fundo lastreado no Ibovespa, perdeu 10%, ou R$ 3 mil, na quinta, sexta e hoje.

O pífio crescimento de 2%, alegria de pobre, está irremediavelmente comprometido, porque a aposta no capital estrangeiro se desmancha no fato de que, no furdunço mundial, não há dinheiro que venha para cá e, do que está aqui, ninguém é besta de meter em investimento produtivo.

No mínimo, o primeiro semestre do ano está perdido, porque os efeitos sobre o comércio mundial ainda estão por ser ser sentidos e a retração se dá sobre negócios futuros não sobre aquilo que já estava contratado, muitas vezes em contratos de mercado futuro.

Nada, neste raciocínio, como você percebeu, apela para coisas que poderiam ser chamadas de "terrorismo", como imaginar uma epidemia no Brasil ou mesmo nos Estados Unidos. Não tenho talento para "cinema-catástrofe".

Só um fator interno ela leva em conta e este é meio óbvio: não temos um governo capaz de prover segurança política, ao contrário. Temos um disseminador de crises e crises contínuas.

Conta, é verdade, com o handicap de uma tolerância da mídia, mercadista que só.

Ainda assim, consegue dissolvê-lo e vai para o isolamento.