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PENSANDO EM NÓS



Passado, presente e futuro...
Três palavras mágicas!
Nelas encontro saudades
Amor, fantasias e sonhos!

Em todas, está você ao meu lado
Como se minha sombra fosse...
Ao amanhecer, de frente para o sol
Você me segue onde quer que eu vá...

Ao chegar o meio dia, você está em mim
Numa mágica junção de duas pessoas
Que se amam sempre e, cada vez mais e mais
Como se uma única pessoa fôssemos!

À tarde ao sair acompanho você
Que a minha frente me indica
Os caminhos que devo seguir
E me delicio com seus passos!

A noite, mais uma vez nos unimos
E novamente num só, nos tornamos
Para vivermos mais uma noite
De amor, fantasias e sonhos...

Em todas elas, seja a minha frente
Ao meu lado, me seguindo, ou junto a mim
Só você existe em todos os momentos...
Que vivo pensando em nós...
®                                                                                                                           Gena Maria
Dedico  ao meu amado Joel. Te amo  vida bjsssssss

A VERDADE

Você já pensou algum dia no poder da verdade? Ou você pensa que a verdade chega sempre tarde, quando a injustiça já se consumou?

Quando foi coroado rei da Pérsia, Dario mandou dar uma grande festa para todos os seus súditos, espalhados em cento e vinte e sete províncias.

Terminada a festa, adormeceu, mas foi despertado pelas vozes alteradas de três rapazes que discutiam acerca do que seria a coisa mais forte do Mundo.

Em vez de admoestá-los, ficou a escutá-los.

Decidiram que cada um escreveria uma frase dizendo o que era a coisa mais forte e colocariam os papéis debaixo do travesseiro do rei. Pela manhã, o rei e os príncipes da Pérsia julgariam qual a opção mais sábia.

No dia seguinte, na sala dos julgamentos, leu-se a primeira frase: "O vinho é o mais forte."

Aquele que escrevera a frase, considerou que o vinho tem muita força. Tanta que pode transformar em tolos os homens mais grandiosos.

O rei poderoso e a criança ignorante se igualam sob sua força. Coloca nuvens na memória e torna discussões sem valor porque tudo cai mesmo no esquecimento.

A segunda frase dizia: "O rei é o mais forte."

A justificativa do autor foi de que o rei tudo manda e é obedecido. Envia soldados à guerra, condena pessoas à morte ou lhes concede o perdão.

Todos os súditos o obedecem e ele faz o que lhe agrada. É apenas um homem, mas por ele os soldados cruzam montanhas, derrubam muralhas, atacam torres e depois de conquistado o país, trazem os frutos para ele.

A terceira frase afirmava: "Acima de tudo, a verdade prevalecerá."

O jovem que a escreveu falou: "A verdade é mais forte que todas as coisas.

O rei pode ser perverso, o vinho é perverso. Os homens podem ser maus. Todos eles perecerão. Mas a verdade é eterna.

É sempre forte. Nunca morre. Tampouco é derrotada. Faz o que é justo. Não pode ser corrompida.

Não necessita do respeito das pessoas para existir. É grandiosa e soberana sobre todas as coisas."

E Dario julgou que o terceiro jovem era o mais sábio, dizendo-lhe que pedisse o que quisesse.

O jovem era um judeu e lembrou ao rei que ele deveria cumprir a promessa de reconstruir Jerusalém.

Que ele deveria reconstruir o Templo, conforme compromisso assumido no dia em que subiu ao trono.

E o rei da Pérsia cumpriu a promessa.
 

Artigo semanal de Delúbio Soares

Um mundo novo que surge
 
Eis que, diante de surpresa e pasmo generalizados, sem que suspeitássemos que um dia isso poderia acontecer, as grandes potências mundiais derretem ao sol do verão do hemisfério norte ao sabor de acontecimentos antes privativos dos países do terceiro mundo.
 

O poderoso "Tio Sam" - democrata dentro de suas fronteiras e imperialista fora delas -, defensor da economia de mercado dentro de casa e, paradoxalmente, protecionista ao extremo, tropeçou em 2008 numa crise que desnudou seu mercado imobiliário e financeiro, derrubou bancos centenários e hoje, tal qual um quatrocentão decadente, nos é revelado como um grande endividado. E nós, brasileiros, novos ricos e ascendentes na nova ordem econômica mundial, estamos na fila dos seus credores! Quem diria... São as voltas que esse mundo de meu Deus dá, sim, senhores.
 

A China, do alto de sua fortaleza, pede responsabilidade aos Estados Unidos. Quem poderia pensar que aquele gigante territorial, com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, conseguisse ter a unidade política, a densidade comercial e a importância econômica para puxar as orelhas de quem, não faz muito, ditava sozinho e a seu bel-prazer os rumos da humanidade? Pois é, aconteceu.
 

Os chineses estiveram separados do mundo por milênios, ancorados em uma cultura sólida, em crenças profundas, em sabedoria invejável, por uma muralha instransponível e, por último, por um regime fechado e dogmático. Mas, por obra justamente da solidez cultural, da sabedoria que se lhes reconhece, do pragmatismo que esbanjam em tudo o que hoje fazem, transpuseram a muralha ideológica e adaptaram o seu regime. Não são mais dogmáticos, senão pragmáticos. E aqueles simpáticos, desajeitados e tímidos seguidores de Mao, o "grande timoneiro", que no início dos anos 70 receberam com festas Richard Nixon, precedido pelo abominável Henry Kessinger, como uma tênue deferência à distensão, poucas décadas depois (o que é nada para um povo que pensa em milênios e para o qual o tempo é matéria-prima particularmente íntima), recomendam juízo aos extravagantes gastadores que um dia fundaram uma grande democracia, um grande capitalismo, um grande país, e hoje patinam feio no processo econômico e enfrentam o ocaso com impensável pequenez interna.

 

Se os norte-americanos não escutarem os previdentes e precavidos chineses, perderão o bonde da história no novo milênio, como perderam a liderança do mundo os orgulhosos súditos de Sua Majestade a Rainha Victória, na virada para o século XX, quando ainda eram os donos do mundo. Fomentando guerras como a da "Tríplice Aliança", quando o Brasil, Argentina e Uruguai, instrumentalizados e financiados pelo Reino Unido, cometeram um genocídio no Paraguai, dizimando a população adulta, barbarizando uma Nação desenvolvida e reduzindo o maior parque industrial da América do Sul à cinzas, os ingleses cometeram barbaridades aquí e alhures. Na Índia não foi diferente. Eram uma casta esnobe situada acima da casta nativa mais alta. Com olhos de desdém atrasaram os destinos de um país multifacético e invulgar, de cultura singular, hoje baseado em dois pilares: democracia sólida e economia pujante. Os ingleses queriam o chá e as especiarias. Os hindús queriam a liberdade. Hoje os ingleses se vêem às voltas com um a atuação facistóide de um magnata apátrida e com o que de pior há na imprensa mundial: o denuncismo impenitente e irresponsável, que condena antes do julgamento e cujos métodos começam a vir a público de forma paradigmática. Hoje os seus antigos colonizados são, nada mais nada menos, uma das potências que deixam os antigos colonizadores comendo poeira no fim da fila da história. A Rainha Victória teria um chilique imenso vendo tudo isso. Cancelaria o chá das cinco com o primeiro-ministro em
Buckingham, certamente.
 

Há países que não eram senão desconhecidos para a grande maioria do mundo. Para os brasileiros, então, nem pensar. Aquele que surge como a grande potência do leste, o parceiro preferencial do Brasil ao lado da África do Sul, India e Coréia do Sul, formando os "BRICS", era, no máximo, a terra do pasteleiro da esquina. Hoje é o mercado promissor, mas também o do presente. A China, a Coréia, a Índia, a África do Sul não são mais "lá longe". Estão, sim, "logo alí".

 

As oportunidades encurtaram as distâncias mais do que os satélites e os aviões a jato. Os investimentos mútuos, as empresas de ambos os países que apostam em parcerias, que se associam, que celebram protocolos que logo viram contratos e depois tomam vida nas linhas-de-produção. É o amanhã que bateu às portas do Brasil e de seus parceiros nos "BRICS". Enquanto uns tomavam chá e tiranizavam países então paupérrimos e outros olhavam o mundo com a ilusão da chefia mais despótica e do mando amedrontador, esses povos que conheceram a fome e as endemias, o analfabetismo e toda sorte de sofrimentos a que o homem pode ser submetido, buscam ser razoáveis e substituem divergências por convergências, buscando no desenvolvimento econômico e nas parcerias tecnológicas, um caminho comum de prosperidade e realização social.

 

Faz poucos dias vimos a presidenta Dilma Rousseff abrindo os Jogos Mundiais Militares 2011, no Rio de Janeiro. O inigualável craque Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, acendeu a pira olímpica, e a Chefe da Nação declarou aberto aquele importante certame. Também vimos Dilma dando início à construção de cinco submarinos, sendo um deles à propulsão nuclear, ao cortar, simbolicamente, a primeira lâmina no estaleiro onde serão fabricados em Itaguaí (RJ). Há dois fatos importantíssimos contidos em tais acontecimentos.

 

O primeiro é o da maturidade de nossa democracia, posta à prova na última eleição presidencial, quando o PSDB e seus aliados fizeram a campanha eleitoral mais sórdida de nossa história política, com toda sorte de acusações, semeando o terrorismo e o medo, além de uma contra-propaganda absolutamente retrógrada quando não difamatória. Apesar disso, vencemos e Dilma se comporta como é de seu estilo, com altivez e sobriedade. Assumiu o comando das Forças Armadas com naturalidade, com grandeza, e as têm prestigiado ao máximo. Não olha para trás, mas para o futuro, com os olhos de visionária e a plena consciência de sua missão histórica. Não é mulher de ressentimentos, é mulher guerreira e competente, pronta para as missões e os desafios a serem enfrentados e vencidos. Dilma é a presidenta do Brasil do século XXI.

 

O segundo acontecimento é o de que já temos, sem desprezar problemas internos e externos a serem debatidos e equacionados, uma agenda positiva e adequada à nossa nova realidade de potência emergente. Já desenhamos uma nova sociedade, com a chegada de trinta milhões de brasileiros à classe média e com indicadores sociais e econômicos incomparáveis aos dos anos infâmes do tucanato. Agora já podemos e devemos pensar em nossa defesa externa, na melhor qualidade do patrulhamento de nossas fronteiras territoriais e do combate ao narco-tráfico e ao contrabando, de nosso mar e do pré-sal, de nosso imeso espaço aéreo. E a foto da presidenta Dilma segurando a maquete de nosso primeiro submarino nuclear faz lembrar a de Getúlio Vargas com as mãos enegrecidas pelo petróleo de nosso primeiro poço ou a de Lula entregando a chave da casa própria para uma brasileira idosa, negra, emocionadíssima, que pela primeira vez teria um teto prá chamar de seu. Esse momento é de profunda e transcedental importância para o Brasil que surge, forte, poderoso, cheio de esperança e de futuro para os seus filhos.

 

A Petrobrás foi bombardeada à exaustão pelo capital internacional com o apoio de quase todos os partidos políticos, de entidades patronais e de grande parte da imprensa brasileira. As bibliotecas estão aí para quem quiser consultar livros, jornais e revistas e se surpreender com o massacre impatriótico promovido contra aquela que hoje é uma das maiores empresas do mundo! Foi Getúlio, com o apoio de estudantes, nacionalistas e militares, quem a criou, contra vento e maré. Lula mudou o curso de nossa história e recuperou um país que havia quebrado três vezes no governo de FHC. Como se não bastasse, colocou o Brasil como sétima economia mundial, acabou com o desemprego e está no coração do povo. Não teve paz do primeiro ao último dia de seu governo. Fez o que fez, foi o Estadista que a história registra, sem o beneplácito da mesma mídia que festeja o octogenário que nos levou repetida e humilhantemente aos balcões do FMI e hoje ocupa seu tempo num instituto fantasma e na defesa da discriminalização da 'canabis sativa' (maconha, para quem não sabe). É o altíssimo preço que pagamos pela ousadia que tivemos de mudar o Brasil para muito melhor.

 

Há um novo mundo que surge e nele o Brasil tem destaque impressionante. Alguns (o povo, principalmente, que é mais sábio que as elites) captam essas mudanças bem antes. E nesse novo mundo o Brasil não é mais secundário: é protagonista respeitado, senta na mesa principal das discussões, participa das decisões mais importantes.

 

Escrevo tudo isso para dizer que a história é feita por nós, o povo. Não é feita por Rupert Murdoch. Ele e seus parceiros em todo o mundo a contam durante um certo tempo da forma como querem e bem lhes interessa. Descobertos, publicam uma edição final dizendo "Bye Bye" e a história prosseguirá. Sem eles.

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por Luis Fernando Verissimo


O fim do jogo

Tem um pensamento que me consola em casos de vexame, desgosto com a espécie humana, noticiário de Brasília ou derrota do Internacional. Penso: daqui a alguns milhões de anos o Sol vai explodir, a Terra vai virar cinza e nada disto terá muita importância.
O perigo, claro, é o consolo se virar contra o consolado, pois, se pensar na nossa morte pessoal já nos angustia, pensar na morte de todo o sistema solar, ao qual somos tão ligados, pode angustiar mais. Mas é bom aceitar o risco da angústia terminal, botar tudo em perspectiva e ver nossos infortúnios num contexto maior. Em latim fica mais bacana: ‘Sub specie aeternitatis". Do ponto de vista da eternidade, como dizia o filósofo Espinosa, segundo o Google.
Do ponto de vista da eternidade tudo tem o mesmo sentido, ou sentido nenhum. Surpreende que a frase não seja invocada mais vezes, por exemplo, nas crises econômicas. Sob o ponto de vista da eternidade o carrossel das finanças, a gangorra dos juros e das dividas, o escorregador das falências nacionais e os balanços dos balanços não passam de brinquedos.
Tudo é um jogo que só é dramático e afeta a vida de tanta gente porque lhe dão um sentido falso que omite a explosão do Sol, no fim, quando até o ouro virará nada. O fim do jogo, para quem o leva a sério, é um mítico mundo com as economias equilibradas e o mercado redimido e triunfante. Não é. O fim do jogo é o nada.
Os "indignados" que protestam nas ruas da Europa contra as medidas de austeridade que exigem sacrifícios dos já sacrificados para corrigir a safadeza alheia, da minoria culpada pela crise internacional, estão dizendo isto, que a vida é mais importante do que o jogo, que nenhuma promessa de sanidade econômica a longo prazo compensa a miséria humana agora — ainda mais que a longo prazo seremos todos cinza.
E SE?
Já que falamos em vexame... Razão teve o Fernando Calazans, que sempre tem razão. E se os três substituídos pelo Mano Menezes, Neymar, Ganso e Pato, estivessem em campo para bater pênaltis, o resultado seria o mesmo? Nunca saberemos.

O modo Joaquim Silvério dos Reis de pensar o Brasil

O Estadão, hoje, tem um daqueles momentos de sinceridade antológicos.

É o editorial intitulado A Vale ainda não entrou na produção de aço, felizmente“.

Depois de algumas lágrimas por Roger Agnelli, o jornalão começa a entregar o seu pensamento colonial.

Por ele, o Brasil ainda seria um pequeno país atrasado, que nem mesmo produziria aço.

Comemora o fato de não aparecer um sócio capaz de colocar dinheiro no projeto da Cia. Siderúrgica de Ubu (CSU) que a Vale pretende instalar no Espírito Santo.

Como se sabe, só há dinheiro de capitalistas para investir em especulação com dólar, uma coisa extremamente mais útil ao país do que produzir aço.

Produzir aço, no Brasil, é algo supérfluo e antieconômico.

Pelo Estadão, o Brasil só exportaria minério de ferro.

Aquela tal de Companhia Siderúrgica Nacional – esqueça os livros de história que dizem que ela foi fundamental para a industrialização do país – não deve ter passado de um arroubo populista de Vargas.

Afinal, diz o porta-voz de nossas oligarquias, nossas jazidas são “praticamente inesgotáveis”.

E desfaz da óbvia vantagem de podermos fazer aço perto das “jazidas praticamente inesgotáveis” porque com “o uso de navios gigantescos, se tem reduzido muito nos últimos anos (o custo de se transportar milhões e milhões de toneladas de minério bruto), especialmente quando esses navios podem retornar transportando petróleo”.

Viram que beleza? Exportamos mais ferro e importamos mais petróleo. Só falta sugerir que deixemos lá este “petróleo anti-econômico” do pré-sal.

Evidente que ninguém quer que o Brasil deixe de exportar minério. Mas o que temos é de resolver os problemas estruturais que nos impedem de avançarmos, como poderíamos, na competividade em matéria de siderurgia.

Mas para que resolver problemas, se podemos vender nosso minério, fresquinho, arrancado do chão? O buraco que eles deixam, a riqueza que se vai, nada disso é importante. Importante são os lucros rápidos e de baixo investimento que fazem adorável a nossa elite colonial.

É o modo Joaquim Silvério dos Reis de pensar o Brasil.

do Tijolaço

A hora da sístole

Olhar um governo exige técnicas de diagnóstico. Há situações em que você pode enxergar diretamente o objeto. Se aparece um documento, uma gravação, algo dotado de materialidade.

E há situações em que você precisa deduzir.

A dedução é útil quando a matéria prima são conversas. Você nunca deve acreditar em tudo que dizem. Mas ouvir sempre é bom. Tampouco deve descartar nada. Se alguém lhe mente, a mentira embute pelo menos uma verdade: o fato de alguém ter mentido para você.

Procure a razão pela qual o sujeito decidiu mentir, talvez haja aí algo útil.

Luiz Inácio Lula da Silva falava muito em público. O roteiro do governo dele podia ser alinhavado a partir da produção verbal do presidente. Sabia-se a cada momento quais eram os propósitos, quem eram os inimigos, onde estavam as barreiras a suplantar.

Foi um período repleto de comunicação. O sujeito podia gostar ou não do que Lula dizia, ou de como dizia, podia concordar ou não com ele, mas ninguém reclamava da falta de sinais orientadores. Todos conheciam o sentido do fluxo e do contrafluxo.

Já Dilma Rousseff fala economicamente, e tampouco se conhecem porta-vozes. Daí que olhar o governo dela exiga outras técnicas propedêuticas. A energia maior será necessariamente dispendida em procedimentos interpretativos a partir de sinais indiretos, fragmentados, contraditórios.

A crise corrente no Ministério dos Transportes, por exemplo, pede um exercício de interpretação complexo. A etapa pública da crise foi desencadeada pelo próprio governo, na reunião de enquadramento entre os palacianos e a turma da pasta.

Reunião que depois foi objeto de apuração jornalística e veio a público.

E o governo agiu -e vem agindo- numa rapidez impecável, passando o bisturi com a perícia de quem conhece em detalhe os tecidos a remover. Há os constrangimentos da política, mas eles não têm sido definitivos. A presidente não parece disposta a deixar a onda passar.

Surfa nela com gosto.

O movimento dela é duplo. Procura naturalmente remover os focos de eventuais problemas administrativos, que sempre tenderão a tomar dimensão política, mas há também uma operação política propriamente dita a rodar.

Dilma busca reorganizar o governo com parâmetros menos dispersos, mais centralizados. Busca concentrar poder.

O que implicará menos autonomia ainda para os políticos e movimentos políticos instalados nos ministérios e demais órgãos dotados de capacidade de investimento. Manterão a capacidade, mas perderão autonomia.

Aqui, o delicado processo de centralizar e descentralizar é quase uma reprodução da sístole e da diástole cardíacas. Assim bate o coração de qualquer governo. Centraliza-se e divide-se o poder, conforme a força e a necessidade.

O mandato de Lula começou bem sistólico. Se havia alguma distribuição de poder, era entre as correntes do PT. Para os demais, postos formais e a obrigação de tomar a bêncão a cada passo. O símbolo dessa lógica foi o então presidente ter desfeito a entrada do PMDB no governo, desfazendo o acordo costurado por José Dirceu.

E a coisa funcionou no primeiro ano, com o Planalto vencendo votações decisivas no Congresso Nacional, em assuntos delicados como a previdência social e os impostos.

Mas a concentração de poder também significou concentrar potenciais dores de cabeça. Quando veio a crise, ela estourou bem no coração do governo.

Como resultado, e para sobreviver, Lula enveredou pela longa diástole que o levaria a concluir o primeiro mandato, a reeleger-se e a eleger a sucessora.

Que por sua vez herdou um governo orçamentariamente distribuído, no qual os muitos pilares de apoio mantinham cada um a capacidade de alavancar recursos para a reprodução do próprio poder.

Daí para o descontrole é um passo. Eis por que Dilma produz agora a nova sístole. Uma recentralização.

Vai funcionar? Provavelmente. Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Até o dia em que o poder, de tão concentrado, fique instável o suficiente para exigir uma nova diástole.

E, de crise em crise, a vida seguirá.
do Blog do Alon

A vocação do BNDES

O episódio Casino-Pão de Açúcar forneceu um bom álibi para discutir a visão estratégica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Nos últimos anos o BNDES deu um salto fundamental, aumentando seu capital de forma exponencial. E terá papel central na próxima década, para sustentar os grandes investimentos que o país demanda.

Mas é necessário dar foco à sua atuação. Faria bem o presidente Luciano Coutinho em abrir uma discussão interna para repor o banco no caminho correto.

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Inicialmente, o BNDES era apenas de fomento, de financiamento. A partir dos anos 90 passou a investir no capital das empresas, através do BNDESPar (BNDES Participações). Esse modelo surgiu na gestão Luiz Carlos Mendonça de Barros, encolheu na gestão Carlos Lessa e voltou a crescer na gestão Demian Fiocca.

A lógica era simples. Com a economia se recuperando, o país exigiria grandes investimentos – seja em infra-estrutura ou na internacionalização das empresas brasileiras. Havia limites em ampará-las apenas com financiamento. As empresas ficariam muito "alavancadas" (isto é, com muito passivo) atrapalhando sua avaliação pelas agências de risco e dificultando a captação em outras fontes. Decidiu-se então uma fórmula que casasse os financiamentos com a participação acionária.

Mas em todos esses momentos prevaleceu uma regra: todo esforço do banco deveria ser no sentido de agregar capacidade produtiva ao país. Por isso mesmo, não deveria apoiar projetos de fusão – que não agrega capacidade de produção.

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Fusões e aquisições se justificariam apenas em duas ocasiões especialíssimas.

A primeira, quando houvesse risco de quebra de uma grande empresa. Nesse caso o banco poderia financiar candidatos a compradores.

Foi assim quando apoiou a venda da Aracruz para o grupo Votorantim, impedindo a quebra da empresa.

Aliás, é curioso que O Globo tenha dedicado críticas a esta operação, em tudo similar à injeção de capital adicional do BNDESPar na Net – ameaçada de quebra durante a crise financeira das Organizações Globo.

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A segunda exceção é em compras de ativos no exterior, dentro de estratégias de internacionalização das empresas brasileiras. Não há maneira mais eficiente de entrar em outros países do que comprar operações existentes – ainda mais em períodos de crise, com os ativos estrangeiros depreciados.

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Fora essas duas situações especiais, não há justificativa para o banco financiar fusões e aquisições. Não havia nada na operação Pão de Açúcar-Casino que justificasse sua interferência. Sequer seria adquirida a operação internacional do Carrefour. A operação permitiria apenas a Abílio Diniz manter sua posição de controlador na operação brasileira.

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Passado o episódio, com todo desgaste inútil que provocou, é hora do banco se debruçar sobre suas prioridades: o apoio aos setores estratégicos, definidos no PDP (Programa de Desenvolvimento Produtivo), o foco na inovação, a ênfase nas pequenas e médias empresas, os grandes investimentos em infra-estrutura.

por Luis Nassif