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Crônica semanal de Luis Fernando Veríssimo

Há dias, na sua coluna, num texto exemplar como sempre, o Zuenir Ventura lembrava que há 45 anos era assinado o Ato Institucional n° 5, que instaurava a ditadura sem disfarces no Brasil. Congresso fechado, fim dos direitos constitucionais, censura e repressão a valer, poderes absolutos para o governo militar, e que se danassem os escrúpulos.
Os escrúpulos não tinham sido suficientes para deter o golpe de 64, mas alguns ainda sobreviveram por quatro anos. O AI-5 acabou com todos. Também é bom e saudável não esquecer o clima de antiesquerdismo furioso que justificou o golpe de 64 e o golpe dentro do golpe de 68. Ser “de esquerda” era um risco, durante o recesso dos escrúpulos.
Pode-se imaginar que a renúncia aos escrúpulos entre os que assinaram o AI-5 significasse um drama de consciência para alguns, mas foi a desobrigação com qualquer escrúpulo que liberou a mão do torturador. Com a “abertura” foram restituídos os escrúpulos.
Hoje quem é — ou pretende ser — “de esquerda” só se arrisca a ouvir o rosnar da direita, que não parece ser preâmbulo de nada parecido com o que já houve. Mas não custa ficar de sobreaviso, né, Zuenir?

Para lembrar

O jornalista Zuenir Ventura escreveu o artigo: Para não esquecer criticando a censura imposta pelo AI 5 - Ato Institucional nº 5 - e como sempre, para não perder o costume...

Criticar o PT.

Ele não esquece que o ato foi um atentado contra a liberdade de expressão e os direitos humanos.

Pois é, ele não esquece...muito bom!

Mas, também é bom lembrar:

O condenado continua tendo direito a liberdade de expressão e aos direitos humanos.

Acontece que sobre José Genoino - textualmente -, José Dirceu e Delúbio Soares serem censurados e terem seus direitos humanos violados, ele não escreve uma vírgula...

Faz sentido!

São petistas...

Ah, quanto a frase:

"Às favas todos os escrúpulos éticos"...é perfeita para quem apoiou os Ditadores de 64 e hoje apoiam os togados que condenam sem provas. Além claro, os paladinos da moral e ética seletiva.




Zuenir Ventura - para não esquecer

Chamado de golpe dentro do golpe, o Ato Institucional nº 5, cuja promulgação completou 45 anos ontem, foi um dos maiores atentados cometidos contra a liberdade de expressão e os direitos humanos. Vale a pena lembrar.
Em uma década de vigência, esse decreto institucionalizando a ditadura militar fechou o Congresso, cancelou o habeas corpus e puniu mais de mil cidadãos, cassando ou suspendendo seus direitos, além de promover a censura de cerca de 500 filmes, 450 peças de teatro, 200 livros, dezenas de programas de rádio, cem revistas, mais de 200 letras de música e uma dúzia de capítulos e sinopses de telenovelas. Só o falecido Plínio Marcos teve 18 peças vetadas.
O índex ia de Chico Buarque, um dos mais perseguidos, à comediante Dercy Gonçalves. Já na madrugada de 13 de dezembro, vários jornais foram censurados ou impedidos de circular, e centenas de políticos, intelectuais, jornalistas, artistas foram presos num tipo de operação que mais tarde seria consagrada pelos bandidos: o “arrastão”.
O AI-5 foi assinado por 22 dos 23 membros do Conselho de Segurança Nacional, composto pelos ministros civis e militares reunidos pelo então chefe do governo, marechal Costa e Silva, o segundo ditador a mandar no Brasil no período de 1964 a 1985.
A sessão que aprovou o Ato constituiu um espetáculo semelhante a uma peça do tropicalismo, então na moda, dirigida por José Celso Martinez Correa. Os ministros-atores funcionaram como encarnações alegóricas da hipocrisia e da pusilanimidade.
O único a se portar com dignidade naquela sexta-feira, 13, foi o vice-presidente da República, Pedro Aleixo, que se recusou a apoiar um documento que, como todos leram, instaurava no país o reino do arbítrio, da tortura e do terror. Basta dizer que um preso acusado de delito político ficaria incomunicável por dez dias — cinco a mais do que o Alvará de 1705, usado para arrancar confissão dos inconfidentes mineiros.
Consta que, cheio de dúvidas e quase arrependido, Costa e Silva teria desabafado: “Peço a Deus que não me venha convencer amanhã de que Pedro Aleixo é que estava certo.” Diz-se que o velho ditador tinha esperança de que o AI-5 acabasse logo. Ele acabou antes.
Pelo menos dois remanescentes daquele conselho continuam por aí sem esboçar qualquer revisão crítica do passado: Jarbas Passarinho, ex-ministro do Trabalho e da Previdência, e Delfim Netto, pai do “milagre econômico”.
O primeiro é autor da famosa frase que pronunciou ao emitir seu voto a favor do AI-5: “Às favas todos os escrúpulos de consciência”. O segundo tornou-se muito respeitado pelos antigos adversários que agora estão no poder e dos quais tem funcionado como conselheiro ou guru. Tão respeitado que eles parecem ter atualizado a imprecação de Passarinho, mudando-a para:

 “Às favas todos os escrúpulos éticos”.