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Alimentando o antilulismo


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"Em 2012 foi assim: enquanto a campanha eleitoral municipal corria, o STF alimentava o anti-petismo com o julgamento da ação penal 470. Em 2014, quando Dilma disputou a reeleição, a bola estava com Sérgio Moro e a Lava Jato. Este ano o TRF-4 já fez o maior lance judicial-eleitoral da história, condenando sem prova o candidato líder nas pesquisas, Lula. Agora o STF, que passou três anos sem julgar nenhum dos políticos com foro especial envolvidos na Lava Jato, promete acelerar os julgamentos. E vai começar por quem? Pela senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT", escreve a jornalista Tereza Cruvinel, observando que "já medalhões dos outros partidos dificilmente terão seus casos julgados este ano". Brasil 247
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Parafraseando provérbio indígena: Dentro da sociedade brasileira existem dois lobos. O lobo do egoísmo e o lobo da solidariedade (Antilulismo e Lulismo). Ambos disputam o poder real. E quando me perguntam qual lobo será o vencedor, respondo: Você é que decide!
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O lulismo renova suas ilusões


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Os brasis depois de 24 de janeiro de 2018
Muito embora ainda fossem acalentadas pelo Lulismo algumas cândidas esperanças quanto a um resultado diferente, 24-JAN-2018 é apenas mais uma brutal queda no deserto do real, confirmando uma sentença longamente anunciada.
A cada nova derrota sofrida, o Lulismo renova suas ilusões, reincide seus erros, repete as mesmas opções, sem jamais colocar como pauta prioritária o movimento autônomo de massas como o único poder capaz de contrabalançar a correlação de forças.
Primeiro primeiro foi o Plano Levy, a Carta ao Povo Banqueiro Brasileiro de Dilma Roussef, uma desastrada e anacrônica tentativa de reeditar a Pax Lulista de 2002.
FEBRABAN, CNI, CNT, CNS, FIESP e FIRJAN emitiram protocolares notas de apoio ao governo, como se todos eles já não estivessem pactuados quanto a sua queda. os lucros dos bancos bateram novos recordes e o Brasil mergulhou de vez na recessão, da qual até hoje obviamente não conseguiu se erguer. a já estreita base social de Dilma se corroeu definitivamente, ficando desimpedida a via expressa para o golpe.
em seguida, sobreveio a patética ilusão quanto ser possível barrar o processo de impeachment pela via jurídica, ou viabilizar alguma alternativa através de negociação política.
mesmo impedido por Gilmar Mendes de ser nomeado Ministro da Casa Civil, Lula assumiu na prática o governo e o transferiu para uma suíte de luxo do hotel 5 estrelas Golden Tulip Alvorada. as barganhas horrorosas e conchavos vergonhosos fracassaram. e o Brasil assistiu horrorizado e envergonhado a um teatro de vampiros na votação da admissibilidade do impeachment, a hipócrita encenação dirigida sem misericórdia por Eduardo Cunha.
Famiglia unida, vota unida. os grandes empresários disponibilizaram seus jatinhos isentos de IPVA para transportar o voto "SIM", buscando os Deputados de "onde fosse necessário". e as empresas "campeões nacionais" capitalizadas via financiamento público fornecido pelo BNDES, bancaram através destes mesmos recursos a compra de votos do Golpeachment.
passo a passo, a medida em que a crise se agravava e aprofundava, não apenas politicamente mas com gigantesco custo social e econômico, a única proposta do Lulismo jamais deixou de ser sua  tradicional via da conciliação permanente, mesmo com a objetividade dos fatos deixando inquestionável não mais existir qualquer viabilidade para isto.
entre o escárnio da condenação de Lula sem provas pela Lava Jato & Associados, e o deboche do julgamento do recurso pelo TRF-4, realizado indecorosamente um ano após o AVC de Marisa Letícia, o Lulismo tentou insistentemente, por todos os meios e de todas as formas, adquirir seu passaporte de ingresso no Pacto à la Brasil, o atávico acordo palaciano entre as elites.
na véspera da sentença, o Lulismo ainda julgava ser razoável alimentar expectativas otimistas, enquanto todos os sinais indicavam um cenário de uma combinada condenação por unanimidade, como etapa imediatamente anterior a determinação de execução da pena.
depois de 24-JAN-2018, algo mudou?
Lulismo ocupou as ruas e as redes mantendo de pé a mobilização e a organização da luta contra o Golpe de 2016? ou persiste em se arrastar agachado pelos bastidores sorrateiros em busca do acordo impossível?
enquanto uma heróica resistência se processa nas redes denunciando o Judiciário, o bonitão predileto do Lulismo e candidato a poste sem alça da vez, Fernando Haddad, dá entrevista à Globo News, tão satanizada mas sempre bajulada e frequentada, para defender a candidatura Temer e presumir do STF o benefício da clemência para Lula: "Creio que o STF vai analisar com muito cuidado e, quero crer, ele vai receber o benefício".
após décadas se esquivando das bases, asfixiando o movimento popular e sabotando o surgimento de novas lideranças, como o Lulismo conseguirá recuperar rapidamente tanto tempo perdido?
atualmente o PT conta com uma bancada de 57 Deputados Federais. de quantos deles poderíamos citar espontaneamente seus nomes? quantos tiveram atuação decisiva em suas bases na luta contra o Golpe de 2016? qual a contribuição para esta luta vinda dos 5 governadores do PT, incluindo estados com maior população e recursos econômicos como Minas, Bahia e Ceará, além de uma escandalosa omissão? e aqui honre-se com louvor a Flávio Dino, não por coincidência do PCdoB.
em se tratando de colocar novamente o retrato do velho no mesmo lugar, nosotros jamais esqueceremos Getúlio Vargas: "No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!".
a eleição se vence com o voto nas urnas. mas para ganhar a posse, e mais importante manter o mandato e concretizar as transformações, é necessário o constante e intransferível exercício da cidadania, construindo passo a passo o poder popular. e isto só pode ser feito na luta das ruas, e não simpaticamente no conforto de um estúdio da Globo News...
por Arkx
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Luis Nassif - xadrez de tempos incertos

O jogo político está cada vez mais embolado

Há dois fenômenos novos, em movimento, em favor de Lula. E a força inercial do antilulismo em direção oposta,

Peça 1 – a desmoralização da Lava Jato

Hoje em dia há três tipos de atitudes em relação à Lava Jato. Os anti-Lula apoiam a operação, mas sabem  que é uma jogada política. Os lulistas a condenam e denunciam que é jogada política. E, nesses tempos de polarização, a legião dos independentes está cada vez mais convencida de que é uma jogada política.
Mídia e Lava Jato estão perdendo a batalha da opinião pública internacional, com a luxuosa contribuição de Michel Temer e, internamente, estão sendo cada vez mais questionados. A Lava Jato e a Globo adotaram a política do lawfare, a publicidade opressiva contra os “inimigos”.
Em um primeiro momento, entupiram os jornais de rumores, vazamentos, denúncias de diversos calibres, atordoando os adversários e atingindo o objetivo final: no caso da Lava Jato do Paraná, o objetivo final foi derrubar Dilma Rousseff e entronizar Michel Temer na presidência. Obviamente, em nome do combate à corrupção.
Acontece que nem mesmo a Globo consegue sustentar o priapismo das manchetes com os escândalos. No caso brasileiro, em cima do esgotamento previsível do ciclo Lava Jato veio o episódio trapalhão de Rodrigo Janot com a delação da JBS. A maior contribuição foi ter estabelecido um parâmetro entre as denúncias contra Lula e aquelas contra seus dois maiores antípodas: Aécio Neves e Temer e suas malas de dinheiro.
Ali começou a ruir toda a narrativa sobre a maior corrupção do planeta. Inverte-se, então, o ciclo do lawfare e cada factoide levantado no período anterior, cada abuso cometido no transcorrer das investigações, torna-se munição nas mãos dos adversários, para desnudar o caráter partidário e suspeito da Lava Jato.
Hoje em dia, já há uma quantidade substanciosa de indícios de malfeitos do lado da Lava Jato, que vão além das acusações apressadas, das narrativas fantasiosas, da incapacidade de aprofundar investigações para além das delações. As suspeitas são mais graves,  permitindo inclusive prever o grande best seller dos próximos anos – a verdadeira história da Lava Jato – para o qual se candidatarão escritores de todos os níveis.
Contarão como foi o aprendizado no caso Banestado, que permitiu o planejamento minucioso da Lava Jato, garantindo a um juizado de Curitiba capturar uma operação de uma empresa sediada no Rio de Janeiro, tendo como principais personagens políticos vicejando em Brasília.
Haverá muita história sobre o triângulo formado por Sérgio Moro, a esposa Rosângela e o primeiro-amigo Carlos Zucolotto Júnior, os advogados amigos, a indústria da delação premiada, as informações provindas do Departamento de Justiça etc. E até a informação do procurador Celso Três, do caso Banestado, que a Sra. Moro distribuía cartões de visita ao longo da operação.
A desmoralização da Lava Jato significará o enfraquecimento da condenação de Lula. Portanto, viverão ainda alguns períodos de imagem heróica. Mas já acende luz amarela nos escalões externos à Lava Jato, a quem caberá a convalidação ou não das denúncias aceitas em primeira instância.
Não se tem mais dúvidas de que o TRF4 é um tribunal político. Resta saber até onde irão com a farsa.

Peça 2 – o custo Lula

“Mercado” supostamente é o local onde todas as informações são processadas racionalmente, e a resultante é preço.
No caso brasileiro, o “mercado” é extremamente mal informado, formando convicções de afogadilho, indo atrás de clichês, sendo influenciado pela superficialidade padrão Globonews.
Analistas mais lúcidos já se deram conta que a solução Lula é a “mais barata”, para se obter a paz social. A razão é simples. O impedimento de Lula e a eleição de um candidato sem o menor fôlego político – se houver um, que se apresente – tornarão extremamente custosas qualquer solução extra-Lula. Haverá um duro aprendizado e o prolongamento perigoso da polarização política.
A tentativa de apresentar Lula como o alter ego de Bolsonaro, colocando ambos na categoria de populistas radicais, é ridícula, assim como as sucessivas tentativas de encontrar o campeão branco ou recorrer ao cadáver político de Fernando Henrique “El Cid” Cardoso.
Apesar do esforço ingente da mídia, nenhuma reforma sem consenso despertará a confiança de investidores. Como está ocorrendo, aliás, em outros países, em situações de crise de legitimidade menores que no caso brasileiro, no qual se tem as reformas sendo implementadas por uma organização criminosa.
Um dia cairá a ficha que de que não haverá saída for a do consenso. Pode ser que o bom senso chegue antes; pode ser que demore.

Peça 3 – o fôlego do antilulismo

De qualquer forma, a tendência dominante, ainda, é o de se tentar inviabilizar politicamente Lula e promover o milagre da ressurreição de quem nunca foi, Geraldo Alckmin.A radicalização do anti-lulismo foi tão intensa que dificilmente mídia e Judiciário se permitirão algum assomo de bom senso.
Significaria acabar com os sonhos do Ministério Público Federal de se transformar em poder autônomo, abortar o ativismo do Judiciário, reduzir a margem de manobra da mídia. E quem irá largar o osso?
A volta à normalidade será um trauma para os deuses do punitivismo. É só conferir o que a síndrome da abstinência de poder está produzindo no ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot.
Resta acompanhar, então, o desenrolar dessas três tendências, para saber se em algum momento promoverão o consenso ou o dissenso definitivo.
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"Nossa metade é assim, poesia e prosa, presente e passado, fraqueza e força, medo e coragem para chegar ao fim de uma caminhada e recomeçar outra, com a mesma esperança de chegar"

O lulismo refundara o Brasil

Preparando-se para condenar e talvez prender Lula, o complexo jurídico-midiático estará selando uma derrota estratégica que se repercutirá nos anos futuros de forma ainda mais retumbante do que o Peronismo para os argentinos ou o Gaullismo para os franceses.
A inviabilização de Lula é a inauguração e não pós mortem, como costuma ser o caso pela perda do grande líder, do Lulismo; um inesgotável e vitorioso movimento que ecoará através dos tempos.
Mas por que se trata de uma derrota acachapante para o esquema que pretendia sepultar a esquerda brasileira? Porque o objetivo estratégico não era e nunca foi o de arruinar o Lula pessoa física e de cassar o seu CPF, mas o de não deixar pedra sobre pedra sobre o Lula líder, de enxovalhar o seu legado, a sua honra e a dos seus. Esse objetivo estratégico pelo qual a grande mídia se empenhou por vários anos JAMAIS será alcançado. O que pode a Globo agora que os seus feitiços já não funcionam mais? Implorar e de joelhos num editorial que Lula seja preso. E o que há de novo nisso? A derrota de ter que explicitar o que quer de forma direta, demonstrando que as suas forças se esvaíram.
De fato o esforço midiático de arruinar Lula produziu o contrário, agigantou perante a injustiça das ruas o líder perseguido. Confrontado como diz Luis Nassif à verdadeira bacanal em que se converteu o exercício do Poder no Brasil, o povo constata com clareza de que lado está a razão. E não há volta.
Ora, a lógica da exclusão de Lula das eleições de 2018 acentua o problema e mina irreversivelmente a idoneidade, já corroída, dos seus algozes e do golpe. A explicitação ostensiva da injustiça por um Judiciário que deveria zelar pela justiça, é a derrota estratégica da direita brasileira da qual esse Judiciário se tornou a última esperança. Há aí um ponto final da viabilidade política do golpe no curto prazo e do projeto do conjunto da direita no longo prazo. Não podemos prever quando o fruto podre cairá no chão, mas já se constata que podre está e não subsistirá ao tempo. Imaginemos o que será a votação da Reforma da Previdência com Lula condenado! Ou a que destino está reservado a candidatura Alckmin...
Pior para os golpistas, a antecipação recorde do julgamento para o dia 24 de janeiro, dia por dia, o aniversário de um ano do acidente vascular cerebral de Dona Marisa, o uso na UFMG pela PF de verso da música O Bêbado e o Equilibrista, utilizada como tema nas despedidas do Reitor Cancellier, para batizar a operação e as conduções coercitivas repetidas e impunes, apesar de flagrantemente ilegais, rompem com a tradição do humanismo cristão do país e vão tingindo o conjunto da estratégia golpista de um escárnio tão repugnante que não encontra paralelo na nossa cultura senão no que se entende por satanismo.
Projetemo-nos em 2018 quando os efeitos do arrocho orçamentário estarão nas ruas transfigurados em miséria das maiorias e em dificuldades materiais imprevisíveis para as classes médias e quando teremos um Lula (a pessoa física, mas não o líder) assediado e possivelmente preso por forças que se posicionaram no lado tenebroso da força.
Há quem fale em necessidade de insurreição. Mas o Brasil nunca foi um país de insurreições e isso não ocorrerá. Talvez se fiem nessa verdade histórica achando que porque não haverá insurreição não haverá nada. Trabalham na superestrutura política, com vilipêndio, sem perceber que a modelagem última das instituições é a vontade coletiva das maiorias e que, cedo ou tarde, essa irrompe como um novo ordenamento, como ocorreu na ditadura.
Mas a corrosão e a podridão estão vomitadas na rua. E nada mais há que possa ser feito para limpá-la. E o julgamento de Lula está agendado para o dia 24 de janeiro em homenagem a Dona Marisa, um imperdoável escárnio.
À nossa revelia vamos sendo tangidos para a luta mitológica que refundará o Brasil.
No dia 24 de janeiro, condenado e humilhado, tratado com a crueldade inenarrável de um julgamento em data de sofrimento pessoal maior, Lula fundará, no meio do povo gaúcho, terra de Getúlio, e em vida o Lulismo!
Dará frutos cem por um!

Marigoni - a superação do lulismo?

Ganha corpo entre setores de esquerda uma teoria tão sedutora quanto furada: a de que a saída para o campo progressista seria "ultrapassar", "superar" ou mesmo "derrotar" o chamado lulismo.

A ideia é cativante, porque embora tenha propiciado elevações de renda e emprego e aumentado sobremaneira os índices de investimento na economia, os governos petistas terminaram no desastre das administrações Dilma Rousseff. Estas nos legaram a pior depressão desde que o IBGE consegue quantificar a expansão do PIB (1900).

No entanto, com todas essas limitações, pode-se ver agora, o grande capital, as transnacionais e seus aliados internos no golpe (judiciário, partidos de direita e grande mídia) queriam muito mais.

Almejavam, com a Ponte para o Futuro, dinamitar todas as pontes com os setores de centro esquerda que estavam no governo e aumentar a taxa de exploração dos trabalhadores. Em uma palavra, se Dilma representou o desastre (especialmente em seu segundo mandato), o governo Temer é a hecatombe.

A tarefa principal de qualquer agrupamento progressista e popular não pode ser superar o lulismo, mas o golpismo e suas medidas regressivas.

A brutalidade antinacional e antipopular da gestão peemedebista deveria suscitar a formação da mais ampla frente única contra suas iniciativas. Titubear nessa ação significa - de alguma forma - dar fôlego ao inimigo.

Ampla frente significa fazer aliança com quem - mesmo sendo diferente e tendo posições consideradas nocivas em uma etapa anterior - pode se somar diante da hecatombe.

Diante disso, a proposta de "superar o lulismo" não apenas é equivocada, como estabelece uma conflagração entre potenciais aliados. Isso auxilia o outro lado. Não é apenas um equívoco ou um erro. É trabalhar objetivamente para abrir caminho à ação contrária.

Pouco importa onde você esteve no verão passado. Se agora quer derrotar o mesmo oponente que eu, objetivamente é meu aliado!

Quem ultrapassou o petismo foi a direita e não a esquerda.

É preciso repetir tal frase alto e bom som, mesmo que não se goste do PT, de Lula e de seus aliados mais próximos.

Não é hora para marolas desse tipo.

Política

Também os anões começaram pequenos

  "No longínquo ano de 1993, agora tão presente no impasse da crise atual, o escândalo dos anões do orçamento (link) é o gênesis do pacto de governabilidade agora demolido pela Lava Jato. Lula e o PT optaram então pelo conchavo de cúpula, por julgarem ser inevitável sua vitória nas eleições do ano seguinte. esqueceram de combinar com FHC e o Plano Real...
apesar de usarem cartões premiados da Loteria Federal para legalizar as comissões recebidas, a sorte grande vinha mesmo é do propinoduto das empreiteiras. qualquer coincidência com o esquema investigado pela Lava Jato é muito mais do que mera semelhança.
naquela época, como nos muitos casos subseqüentes, a casa trincou, mas logo a solução à la Brasil se impôs para a salvação nacional das oligarquias e dos poderosos caciques parlamentares. algumas poucas cabeças foram decepadas apenas para manter intacto o organismo de um sistema político irremediavelmente contaminado.
agora, com a crise agigantada e com todas as pontes de acordo demolidas, as fissuras se expandem por inteiro na estrutura de poder erguida com a Nova República. o ultimato do PGR ao STF é mais uma explosão da demolição controlada do sistema político-partidário. a delação premiada de Eduardo Cunha será a pedra lapidar das instituições do país: Executivo, Legislativo e Judiciário enterrados na vala comum da lumpen plutocracia brasileira (link).
Os 13 anos de lulismo deveriam ter sido a paciente e cronometrada, minuciosa e determinada, corajosa e astuciosa, reengenharia de um novo pacto político de uma nova estrutura de poder. mas Lula se dedicou a desperdiçar seu prestígio e popularidade em postergações, hesitações, meias-medidas, apaziguamentos, conciliações, conchavos, recuos e capitulações voluntárias.
Dilma parece ter finalmente assumido: entre se manter indefinidamente paralisada por uma teia de laços tóxicos é menos pior parar de inutilmente tentar que todo o edifício venha abaixo.

Saberá o PT identificar e aproveitar a janela histórica?

por Antônio David e Lincoln Secco, especial para o Viomundo
Em Botucatu, próspera cidade do oeste paulista, a elite local foi às ruas para protestar no mesmo dia 20 de junho em que a esquerda foi expulsa da Avenida Paulista por militantes de direita. Um metalúrgico de 45 anos vestia uma camisa do Partido Comunista Revolucionário com a foice e o martelo. Dois jovens declarando-se do MPL e sem dizer os nomes mandaram aquele homem retirar sua camisa, pois aquela não era uma manifestação de partidos.

Por que dois jovens que nunca trabalharam e talvez nunca lutaram por nenhuma causa coletiva, podiam se dirigir naquela forma a um operário comunista? Em tempo: não existia até aquele momento MPL em Botucatu.
Os ataques físicos à esquerda partidária e ao próprio Movimento Passe Livre deixaram as esquerdas perplexas. É que há muito ela se sentia dona das ruas. Por mais que repudiemos tais ataques, é preciso dizer que não são manifestos de intelectuais (embora importantes) e defesa do direito democrático de erguer qualquer bandeira que calarão os direitistas nas ruas.

Luiz Carlos Azenha: mais duradouro que o New Deal


No ano passado o historiador Perry Anderson publicou um ensaio sobre Lula na London Review of Books(íntegra em inglês, aqui). Tirando um ou outro erro factual (por exemplo, quando diz que Dilma implantaria um sistema nacional de saúde), o artigo trouxe à tona, lá fora, um debate recorrente dentro da esquerda brasileira, aquele sobre o lulismo.

Um debate sempre atual, especialmente quando a persistente crise financeira internacional e suas consequências no Brasil colocam em jogo a sobrevivência de longo prazo do projeto iniciado pelo ex-presidente Lula. Ou não?

O debate, aliás, desperta várias questões.

O lulismo no poder, representado agora por Dilma, dispõe dos instrumentos necessários para a retomada do crescimento econômico nos níveis que garantam sua sustentabilidade de longo prazo, independentemente do que aconteça lá fora? Ainda que disponha destes instrumentos, não está amarrado ao mínimo denominador comum exigido pela famosa governabilidade? O PT vai entregar aos parceiros mais conservadores, que buscam retomar os níveis de lucratividade pré-crise e estão plenamente representados dentro do governo, a “flexibilização” das leis trabalhistas, ou seja, a precarização ainda maior das condições de trabalho? É isso o que explica a busca de Dilma pela classe média, que reunida ao sub-proletariado lulista poderia facilitar o descarte dos movimentos sociais organizados que insistem na integralidade da CLT?

Há outras considerações a fazer, não relacionadas ao texto, quando falamos do futuro papel do Brasil na dinâmica do capitalismo globalizado: o que o país fará quando amadurecerem os projetos já em andamento em vários países da África (por exemplo, na Etiópia e em Moçambique) para incorporar grandes extensões de terra, muito mais próximas da China, ao agronegócio? E quando o minério de ferro de Carajás estiver próximo de se exaurir (segundo o jornalista Lúcio Flávio Pinto, no ritmo atual das exportações vai acontecer antes que o previsto)?

Aqueles que vivem do antilulismo


Acho que também seria interessante pensar "do outro lado do balcão": 
Nos últimos dez anos cresceu uma vasta indústria cultural cujo principal produto é falar mal do Lula e de tudo que pode representar os governos petistas. Com o tempo muita gente percebeu que falando mal deles, das cotas, de qualquer política que possa representar um avanço civilizatório - como o casamento gay, a liberação da maconha, o reconhecimento de direitos difusos, etc... dá sempre ibope numa determinada faixa da população que se confunde com os leitores de veja e as camadas rancorosas das classes médias e altas. 
Esses segmentos são relevantes como consumidores de cultura e de outras mercadorias, além de elevarem o patamar de prestígio dos jogadores de lama que alimentam & açulam a raiva deles. Logo ele atrai e vai continuar atraindo alguns, ou muitos, jornalistas & intelectuais que, como quaisquer outros grupos, também querem "se dar bem". 
No universo intelectual, que conheço um pouco melhor, sempre sobra gente no caminho e não só a ganância, como também a vaidade acabam empurrando indivíduos para o caminho da vociferação bem pagante e auto congratulatória. 
A coisa funciona mais ou menos assim:  "não dou a mínima para aqueles colegas que não me reconhecem, já que o Merval me cita na coluna que é lida por milhões e, de quebra, ainda me chamam para dar umas palestras bem remuneradas ou, pelo menos, posso ter certeza que as coisas que eu publicar vão ser recomendadas na veja e vão vender bem".   
Assim, se estou certo, a indústria do antilulismo vai continuar. 
Tem, e vai continuar tendo, tanto produção quanto freguesia... 
por Robertog

Mais uma obra de engenheiro de obra acabada

Em São Paulo, a evidente vitória do Lulismo

Lula ganhou a eleição na cidade de São Paulo. É certo que Fernando Haddad não trazia consigo uma imagem maculada, tal como a de José Genoíno e José Dirceu. Se assim fosse, talvez nem o ex-operário metalúrgico que - segundo o próprio - “nunca foi de esquerda” conseguiria derrotar o ex-ministro do Planejamento e da Saúde de Fernando Henrique Cardoso.

José Serra perdeu por este quesito, índice de rejeição, e também por não conseguir contrapor as realizações de governo de Luiz Inácio e seu ministro da Educação.
Boa parte dos analistas políticos, dentre os quais me incluo, levanta a tese de que Luiz Inácio venceu por estar acima da esfera político-partidária a qual o próprio ajudou a fundar.
O líder metalúrgico descola-se da legenda e sua respectiva base sindical, aprovando candidatos e sucessora, reivindicando os resultados práticos de sua gestão. Isto nos faz recordar outra máxima, esta da virada da década de ’80 do século passado.
Quando a Força Sindical era fundada, posicionando-se como suporte trabalhista do governo Collor, o peleguismo cunhou o termo “sindicalismo de resultados”.
De Lula pode-se afirmar o mesmo conceito. Seu “governo de resultados” pôde superar o esfacelamento das lideranças fundadoras petistas, traça alianças com inimigos históricos sem pudor algum (através de mandatos recheados de arenistas) e avança a passos largos rumo a um país de consumo pleno.
A “magia” de Lula foi realizar uma política distributiva sem diminuir consideravelmente as margens de lucros de agentes hegemônicos da economia, a exemplo do latifúndio, o sistema financeiro, as grandes empreiteiras e setores como o automobilístico, linha branca e cinza.
Ou seja, mais brasileiros vivem melhor e, simultaneamente, as entidades de classe e movimentos populares estão cada vez mais fracos. Como sindicalista e líder popular que se dedicou a política profissional, Luiz Inácio supera em projeção o polonês Lech Walesa, uma de suas referências quando ainda era um “autêntico”.
Walesa foi o primeiro presidente da Polônia pós-estalinismo (de 1990 a 1995), mas caíra no ostracismo político. A versão brasileira transita entre todas as classes, elege um ex-ministro para comandar o terceiro maior orçamento da América Latina e pode, com isso, estar abrindo caminho para seu retorno.
Se e caso sua saúde permitir, não seria de estranhar um retorno em duas partes. Primeiro rumo ao Palácio dos Bandeirantes (em 2014), para em 2018, tentar voltar ao Planalto na esteira de Dilma, sua cria política.

Bruno Lima Rocha é cientista político 

O significado do lulismo

O artigo que faço questão de reproduzir abaixo é a melhor análise que já li sobre o significado profundo do lulismo.

O texto é longo, mas ao mesmo tempo claro: em 42 itens, Gilberto Maringoni define o que foi o governo Lula, e  que parece ser o novo governo Dilma. Vale a pena ler. É uma aula de história, em linguagem jornalística: 
“As gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930.”
Destaco um ponto em especial: Maringoni detecta que os avanços empreendidos pelo lulismo significam uma adesão ao velho programa econômico do PMDB de Conceição Tavares: nacionalismo moderado e defesa do Estado, para criar mercado interno de massas.
Maringoni, diga-se, é filiado ao PSOL. O que não o faz brigar com os fatos. A análise clara feita por ele mostra que há espaço no Brasil para uma oposição de esquerda que – em vez de negar, de forma obtusa, todos os avanços do governo Lula – reconheça esses avanços, e parta desse dado da realidade para conformar um novo projeto para o país.
Enquanto a esquerda seguir brigando com a realidade, seguirá marginal no processo político. O artigo de Maringoni é um esforço bem sucedido de mostrar -sim - as limitações do lulismo. Por isso, repito, vale a pena ler cada item com atenção redobrada (Rodrigo Vianna).  

UM NOVO PACTO DE CLASSES?
por Gilberto Maringoni, na Carta Maior
Qual o significado dos governos Lula e Dilma na esfera da representação política brasileira? Com sua heterogênea base de apoio e com uma ação destinada a beneficiar o capital financeiro e parcelas expressivas da pequena burguesia, dos trabalhadores e dos setores organizados sem ferir nenhum interesse das classes dominantes, as gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930. Com essa amplíssima base social, não é à toa que a oposição de direita tenha definhado nos últimos anos. Sem grandes contradições, parte expressiva desta se bandeia para as asas da base governista, sem que exista uma crise de representação da grande burguesia instalada no país.
1. Há um traço definidor da conjuntura atual: a virtual falência dos partidos de direita, PSDB, DEM e PPS. Sem conseguir formular um projeto próprio que os diferencie substancialmente dos governos Lula e Dilma, tais agremiações esfacelam-se em querelas internas, golpes das burocracias partidárias, disputa de espaços entre caciques, debandada geral e instabilidades insolúveis. Suas perspectivas eleitorais para 2012 e 2014 minguam à medida que o tempo passa
2. As tentativas recentes de se soldar novamente um polo de oposição conservadora caíram no vazio. Primeiro foi um pronunciamento do Senador Aécio Neves (PSDB-MG), alardeado como divisor de águas, no início de abril. Para a Câmara Alta convergiram dirigentes de alta graduação. Aécio, orador regular, contou com o valioso empurrão da mídia, com destaque em todos os jornais e telejornais. Usou e abusou de bordões, como “não é mais possível”, “o país não aceita” e platitudes tais. Passados três ou quatro dias, ninguém mais tocava no assunto.
3. Semanas depois, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicar extensa nota na revista Interesse Nacional, intitulada “O papel da oposição”. FHC, percebendo que o problema de seus aliados não está apenas na cabeça das pessoas, buscou um novo chão para assentar suas idéias. Fez um diagnóstico correto, em que pesem os ataques que vem sofrendo.

A História e seus ardis

RESUMO
André Singer aplica às eleições de 2010 sua tese do “realinhamento” do eleitorado brasileiro, caracterizado pela adesão das classes baixas ao “lulismo” (por verem em Lula a possibilidade de ascensão social sem confronto) e pelo afastamento da classe média tradicionalmente petista, após o escândalo do mensalão.

CONTA-SE QUE CERTA VEZ 
o engenheiro Leonel Brizola teria levado o metalúrgico Lula ao túmulo de Getúlio Vargas em São Borja (RS). Lá chegando, o gaúcho pôs-se a conversar com o ex-presidente. Depois de algumas palavras introdutórias, apresentou o líder do PT ao homem que liderou a Revolução de 1930: “Doutor Getúlio, este é o Lula”, disse, ou algo parecido. Em seguida, pediu que Lula cumprimentasse o morto. Não se sabe a reação do petista.
Será que algum dos personagens do encontro pressentiu que, naquela hora, estavam sendo reatados fios interrompidos da história brasileira? Desconfio que não.
Os tempos eram de furiosa desmontagem neoliberal da herança populista dos anos 1940/50. Mesmo aliados, em 1998 PT e PDT -praticamente tudo o que restava de esquerda eleitoralmente relevante- perderiam para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. O consulado tucano parecia destinado a durar pelo menos 20 anos e trazer em definitivo o neoliberalismo para o Brasil.

BRECHA 
Foi por uma brecha imprevista, aberta pelo aumento do desemprego no segundo mandato de FHC, que Lula encontrou o caminho para a Presidência da República. Para aproveitá-la, fez substanciais concessões ao capital, pois a ameaça de radicalização teria afastado o eleitorado de baixíssima renda, o qual deseja que as mudanças se deem sem ameaça à ordem.1
Apesar da pacificação conquistada com a “Carta ao Povo Brasileiro” ter sido suficiente para vencer, o subproletariado não aderiu em bloco. Havia mais apoio entre os que tinham renda familiar acima de cinco salários mínimos do que entre os que ganhavam menos do que isso, como, aliás, sempre acontecera desde 1989. Ainda que as diferenças pudessem ser pequenas, elas expressavam a persistente desconfiança do “povão” em relação ao radicalismo do PT.
Depois de 2002, tudo iria mudar. A vitória levaria ao poder talvez o mais varguista dos sucessores do dr. Getúlio. Não em aspectos superficiais, pois nestes são expressivas as diferenças entre o latifundiário do Sul e o retirante do Nordeste. Tampouco no sentido de arbitrar, desde o alto, o interesse de inúmeras frações de classe, fazendo um governo que atende do banqueiro ao morador de rua. Dadas as condições, todos os presidentes tentam o mesmo milagre.
O que há de especificamente varguista é a ligação com setores populares antes desarticulados. Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou.

BURGUESIA EM CALMA Mas em 1º de janeiro de 2003 ninguém poderia prever o enredo urdido pela história. Para manter em calma a burguesia, o mandato inicial de Lula, como se recorda, foi marcado pela condução conservadora nos três principais itens da macroeconomia: altos superavits primários, juros elevados e câmbio flutuante. Na aparência, o governo seguia o rumo de FHC e seria levado à impopularidade pelas mesmas boas razões.
De fato, 2003 foi um ano recessivo e causou desconforto nos setores progressistas. Ao final, parte da esquerda deixou o PT para formar o PSOL. Mesmo com a retomada econômica no horizonte de 2004, Brizola deve ter morrido em desacordo com Lula, por ter transigido com o adversário.
Ocorre que, de maneira discreta, outro tripé de medidas punha em marcha um aumento do consumo popular, na contramão da ortodoxia. No final de 2003, dois programas, aparentemente marginais, foram lançados sem estardalhaço: o Bolsa Família e o crédito consignado. Um era visto como mera junção das iniciativas de FHC. O segundo, como paliativo para os altíssimos juros praticados pelo Banco Central.
Em 2004, o salário mínimo começa a se recuperar, movimento acelerado em 2005. Comendo o mingau pela borda, os três aportes juntos começaram a surtir um efeito tão poderoso quanto subestimado: o mercado interno de massa se mexia, apesar do conservadorismo macroeconômico.
Nas pequenas localidades do interior nordestino, na vasta região amazônica, nos lugares onde a aposentadoria representava o único meio de vida, havia um verdadeiro espetáculo de crescimento, o qual passava despercebido para os “formadores de opinião”.

PASSO DECISIVO 
Quando sobrevém a tempestade do “mensalão” em 2005 -e, despertado do sono eterno pela reedição do cerco midiático de que fora vítima meio século antes no Catete, o espectro do dr. Getúlio começa a rondar o Planalto-, já estavam dadas as condições para o passo decisivo.
Em 3 de agosto -sempre agosto-, em Garanhuns (PE), perante milhares de camponeses pobres da região em que nascera, Lula desafiou os que lhe moviam a guerra de notícias: “Se eu for [candidato], com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez”.
Até então, a ligação entre Lula e os setores populares era virtual. Chegara ao topo cavalgando uma onda de insatisfação puxada pela classe média. Optou por não confrontar os donos do dinheiro. Perdeu parte da esquerda. Na margem, acionou mecanismos quase invisíveis de ajuda aos mais necessitados, cujo efeito ninguém conhecia bem.
Foi só então que, empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto.

PLACAS TECTÔNICAS 
Os setores mais sensíveis da oposição perceberam que fora dada a ignição a uma fagulha de alta potência e decidiram recuar. A hipótese de impedimento foi arquivada, para decepção dos que não haviam entendido que placas tectônicas do Brasil profundo estavam em movimento.
Em 25 de agosto, um dia depois do aniversário do suicídio de Vargas, Lula podia declarar perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que a página fora virada: “Nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez o João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência”. Uma onda vinda de baixo sustentava a bonomia presidencial.
O Lula que emerge nos braços do povo, depois da crise, depende menos do beneplácito do capital. Daí a entrada de Dilma Rousseff e Guido Mantega em postos estratégicos, o que mudou aspectos relevantes da política macroeconômica. Os investimentos públicos, contidos por uma execução orçamentária contracionista, foram descongelados no final de 2005. O salário mínimo tem um aumento real de 14% em 2006.

POLARIZAÇÃO 
Para o público informado, a constatação do que ocorrera ainda demoraria a chegar. Foi preciso atingir o segundo turno de 2006 para que ficasse claro que o povo tinha tomado partido, ainda que em certos ambientes de classe média “ninguém” votasse em Lula.
A distribuição dos votos por renda mostra a intensa polarização social por ocasião do pleito de 2006. Pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes.
Embora, do ponto de vista quantitativo, a mudança relevante tenha se dado em 2002, o que define o período é o duplo movimento de afastamento da classe média e aproximação dos mais pobres. Por isso, o mais correto é pensar que o realinhamento começa em 2002, mas só adquire a feição definitiva em 2006. Como, por sinal, aconteceu com Roosevelt entre 1932 e 1936.

SEGUNDO MANDATO Assentado sobre uma correlação de forças com menor pendência para o capital, o segundo mandato permitirá a Lula maior desenvoltura. Com o lançamento do PAC, fruto de um orçamento menos engessado, aumentam as obras públicas, as quais vão absorver mão de obra, além de induzir ao investimento privado.
Em 2007, foi gerado 1,6 milhão de empregos, 30% a mais do que no ano anterior. A recuperação do salário mínimo é acelerada, com aumento real de 31% de 2007 a 2010, contra 19% no primeiro mandato, conforme estimativa de um dos diretores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)2. A geração de emprego e renda explica os 70% de aprovação do governo desde então.
Nem mesmo a derrubada da CPMF, com a qual a burguesia mostrou os dentes no final de 2007, reduziu o ritmo dos projetos governamentais. A transferência de renda continuou a crescer. Foi só ao encontrar a parede do tsunami financeiro, no último trimestre de 2008, que se interrompeu o ciclo ascendente de produção e consumo. Teria chegado, então, segundo alguns, a hora da verdade. Com as exportações em baixa, o lulismo iria definhar.

COMPRAR SEM MEDO Mas o lulismo já contava com um mercado interno de massa ativado, capaz de contrabalançar o impacto da crise no comércio exterior. A ideia, difundida pelo presidente, de que a população podia comprar sem medo de quebrar, ajudou a conter o que poderia ser um choque recessivo e a relançar a economia em tempo curto e velocidade alta.
Além da desoneração fiscal estratégica, como a do IPI sobre os automóveis e os eletrodomésticos da linha branca, o papel dos bancos públicos -em particular o do BNDES- na sustentação das empresas aumentou a capacidade do Estado para conduzir a economia. Numa manobra que lembra a de Vargas na Segunda Guerra, Lula utilizou a situação externa para impulsionar a produção local.
Surge uma camada de empresários -Eike Batista parece ser figura emblemática, como notava dias atrás um economista-, dispostos a seguir as orientações do governo. A principal delas é puxar o crescimento por meio de grandes obras, como as de Itaboraí -o novel polo petroquímico no Estado do Rio-, as de Suape (PE) e de Belo Monte, na Amazônia. Cada uma delas alavancará regiões inteiras.
Por fim, a aliança entre a burguesia e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir.

PROJETO PLURICLASSISTA 
A candidatura Dilma representa o arco que o lulismo construiu. A ex-ministra, por sua biografia, é talhada para levar adiante um projeto nacional pluriclassista. O fato de ter sido do PDT até pouco tempo atrás não é casual. A mãe do PAC tem uma visão dos setores estratégicos em que a burguesia terá que investir, com o BNDES.
O povo lulista, que deseja distribuição da renda sem radicalização política, já dá sinais de que o alinhamento fechado em 2006 está em vigor. Em duas semanas de propaganda eleitoral na TV, Dilma subiu 9 pontos percentuais e Serra caiu 5. À medida que os mais pobres adquirem a informação de que ela é a candidata de Lula, o perfil do seu eleitorado se aproxima do que foi o de Lula em 2006. Ou seja, o voto em Dilma cresce conforme cai a renda, a escolaridade e a prosperidade regional.
A classe média tradicional, em que pese aprovar o governo, continuará a votar na oposição, como demonstram a dianteira de Serra em Curitiba e o virtual empate em São Paulo, municípios em que o peso numérico das camadas intermediárias é significativo.
Parte delas, sobretudo entre os jovens universitários, deverá optar por Marina Silva. Isso explica por que os que têm renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos dão 12 pontos percentuais de vantagem para a soma de Serra e Marina sobre Dilma na pesquisa Datafolha concluída em 3/9.
O problema da oposição é que esse segmento reúne apenas 14% do eleitorado, de acordo com a amostra utilizada pelo Datafolha, enquanto os mais pobres (até dois salários mínimos de renda familiar mensal) são 48% do eleitorado. Nesse segmento, Dilma possui uma diferença de 22 pontos percentuais sobre Serra e Marina somados! Se vier a ganhar no primeiro turno, será graças ao apoio, sobretudo, dos eleitores de baixíssima renda, como ocorreu com Lula na eleição passada.

REALINHAMENTO 
A feição popular da provável vitória de Dilma confirma, assim, a hipótese que sugerimos no ano passado a respeito da novidade que emergiu em 2006. Se estivermos certos, por um bom tempo o PSDB precisará aprender a falar a linguagem do lulismo para ter chances eleitorais. Não se trata de mexicanização, mas de realinhamento, o qual significa menos a vitória reiterada de um mesmo grupo e mais a definição de uma agenda que decorre do vínculo entre certas camadas e partidos ou candidatos.
Quando um governo põe em marcha mecanismos de ascensão social como os que se deram no New Deal, e como estamos a assistir hoje no Brasil, determina o andamento da política por um longo período. Num primeiro momento, trata-se da adesão dos setores beneficiados aos partidos envolvidos na mudança -o Partido Democrata nos EUA, o PT no Brasil.
Com o passar do tempo e as oscilações da conjuntura, os aderentes menos entusiastas podem votar em outro partido, mesmo sem romper o alinhamento inicial. Foi o que aconteceu com as vitórias do republicano Eisenhower (1952 e 1956) e dos democratas Kennedy (1960) e Johnson (1964).
Mas para isso a oposição não pode ser extremada, como bem o percebeu a hábil Marina Silva. Até certa altura da sua campanha, José Serra igualmente trilhou esse caminho. Foi a fase em que propôs cortar juros e duplicar a abrangência do Bolsa Família.
Depois, tragado pela lógica do escândalo, retornou ao caminho udenista da denúncia moral, que só garante os votos de classe média -o que, no Brasil, não ganha eleição. Convém lembrar que no ciclo dominado pelo alinhamento varguista, a UDN só conseguiu vencer com um candidato: Jânio Quadros, que falava a linguagem populista. Fora disso, resta o golpe, sombra da qual estamos livres.

DURAÇÃO 
Qual será a duração do ciclo aberto em 2002, completado em 2006, e, aparentemente, a ser confirmado em 2010? O realinhamento abrange, por definição, um período longo. O último que vivemos, dominado pelo oposicionismo do MDB/PMDB, durou 12 anos (1974-86) e foi sepultado, quem sabe antes do tempo, pelo fracasso em controlar a inflação. A resposta para o atual momento também deve contemplar a economia.
Por isso, as condições de manter, pelo menos, o ritmo de crescimento médio alcançado no segundo mandato de Lula, algo como 4,5% de elevação anual do PIB, estarão no centro das preocupações do novo presidente. Sem ele, as premissas do lulismo ficam ameaçadas. Recados criptografados sobre a necessidade de reduzir a rapidez do crescimento e de fazer um ajuste fiscal duro já apareceram na imprensa, dirigidos a Dilma, provável vencedora.
O capital financeiro -apelidado na mídia de “os mercados”- vai lhe cobrar o tradicional pedágio de quem ainda não “provou” ser confiável. Caso os reclamos de pisar no freio não sejam atendidos, sempre haverá o recurso de o BC -cuja direção deverá continuar com alguém como Henrique Meirelles, senão o próprio- aumentar os juros. O aumento real do salário mínimo no primeiro ano de governo, que dependerá da presidente, pois o PIB ficou estagnado em 2009, será outro teste relevante.

CABO DE GUERRA 
Convém notar que, no segundo mandato de Lula, ainda que de modo relutante, o BC foi obrigado a trabalhar com juros mais baixos. Mas o cabo de guerra será reiniciado no dia 3 de janeiro de 2011. Com os jogadores em posse de um estoque de fichas renovados pela eleição, uns apostarão em uma recuperação do espaço perdido, outros numa aceleração do caminho trilhado no segundo mandato.
O PMDB, elevado à posição de sócio importante da vitória, atribuiu-se, na campanha, o papel de interlocutor com o empresariado. O PT, possivelmente fortalecido por uma bancada maior, deverá, pela lógica, fazer-lhe o contraponto do ângulo popular. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro, servirá de termômetro para o balanço das respectivas forças.
O futuro do lulismo dependerá de continuar incorporando, com salários melhores, os pobres ao mundo do trabalho formal. Em torno desse ponto é que se darão os principais conflitos e se definirá a extensão do ciclo. Alguns analistas da oposição alertam para a proximidade de um índice de emprego que começará a encarecer a mão de obra e gerar inflação. Como mostra Stiglitz,3 é a conversa habitual dos conservadores para brecar a expansão econômica.
Por fim, não se deve esquecer que uma palavra decisiva sobre esses embates virá de São Bernardo, onde residirá o ex-presidente, bem mais perto da capital do que foi, no passado, São Borja.
Aguardam-se os conselhos de Vargas e Brizola, dos quais poderemos tomar conhecimento naquelas mensagens psicografadas por Elio Gaspari.


Notas
1. Ver André Singer. “Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo”, “Novos Estudos”, 85, nov 2009. Link para o artigo em folha.com/ilustríssima
2. Ver João Sicsú. “Dois Projetos em Disputa”. “Teoria e Debate”, 88, mai/jun 2010.
3. Ver Joseph Stiglitz, “Os Exuberantes Anos 90″, Companhia das Letras, 2003.
Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou
Empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto
Em 2006, pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes
A aliança entre a burguesia e o povo, que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir

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