O artigo que faço questão de reproduzir abaixo é a melhor análise que já li sobre o significado profundo do lulismo.
O texto é longo, mas ao mesmo tempo claro: em 42 itens, Gilberto Maringoni define o que foi o governo Lula, e que parece ser o novo governo Dilma. Vale a pena ler. É uma aula de história, em linguagem jornalística:
“As gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930.”
Destaco um ponto em especial: Maringoni detecta que os avanços empreendidos pelo lulismo significam uma adesão ao velho programa econômico do PMDB de Conceição Tavares: nacionalismo moderado e defesa do Estado, para criar mercado interno de massas.
Maringoni, diga-se, é filiado ao PSOL. O que não o faz brigar com os fatos. A análise clara feita por ele mostra que há espaço no Brasil para uma oposição de esquerda que – em vez de negar, de forma obtusa, todos os avanços do governo Lula – reconheça esses avanços, e parta desse dado da realidade para conformar um novo projeto para o país.
Enquanto a esquerda seguir brigando com a realidade, seguirá marginal no processo político. O artigo de Maringoni é um esforço bem sucedido de mostrar -sim - as limitações do lulismo. Por isso, repito, vale a pena ler cada item com atenção redobrada (Rodrigo Vianna).
UM NOVO PACTO DE CLASSES?
por Gilberto Maringoni, na Carta Maior
Qual o significado dos governos Lula e Dilma na esfera da representação política brasileira? Com sua heterogênea base de apoio e com uma ação destinada a beneficiar o capital financeiro e parcelas expressivas da pequena burguesia, dos trabalhadores e dos setores organizados sem ferir nenhum interesse das classes dominantes, as gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930. Com essa amplíssima base social, não é à toa que a oposição de direita tenha definhado nos últimos anos. Sem grandes contradições, parte expressiva desta se bandeia para as asas da base governista, sem que exista uma crise de representação da grande burguesia instalada no país.
1. Há um traço definidor da conjuntura atual: a virtual falência dos partidos de direita, PSDB, DEM e PPS. Sem conseguir formular um projeto próprio que os diferencie substancialmente dos governos Lula e Dilma, tais agremiações esfacelam-se em querelas internas, golpes das burocracias partidárias, disputa de espaços entre caciques, debandada geral e instabilidades insolúveis. Suas perspectivas eleitorais para 2012 e 2014 minguam à medida que o tempo passa
2. As tentativas recentes de se soldar novamente um polo de oposição conservadora caíram no vazio. Primeiro foi um pronunciamento do Senador Aécio Neves (PSDB-MG), alardeado como divisor de águas, no início de abril. Para a Câmara Alta convergiram dirigentes de alta graduação. Aécio, orador regular, contou com o valioso empurrão da mídia, com destaque em todos os jornais e telejornais. Usou e abusou de bordões, como “não é mais possível”, “o país não aceita” e platitudes tais. Passados três ou quatro dias, ninguém mais tocava no assunto.
3. Semanas depois, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicar extensa nota na revista Interesse Nacional, intitulada “O papel da oposição”. FHC, percebendo que o problema de seus aliados não está apenas na cabeça das pessoas, buscou um novo chão para assentar suas idéias. Fez um diagnóstico correto, em que pesem os ataques que vem sofrendo.
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