Sugestão de JNS
"O sábio prolongará a sua vida enquanto dever, e não enquanto puder"
- Séneca
Peter Paul Rubens (1577-1640), Morte di Seneca, Alte Pinakothek, München.
"Não é a última gota que esvazia a clepsidra, mas toda a água que anteriormente foi escorrendo" - Séneca
A meditação sobre a vida se resume, no fundo, a uma meditação sobre a morte. Assim, num pequeno ensaio intitulado Acerca da Brevidade da Vida, Séneca afirma que "é preciso a vida inteira para aprender a viver e – o que talvez vos surpreenda mais – é preciso a vida inteira para aprender a morrer."
Carta 26, ao referir-se a Epicuro, sublinha que ele "nos aconselha a 'meditar na morte' ou a atribuir a maior importância à aprendizagem da morte". Indo ainda mais longe, a Carta 70 considera mesmo que "nenhuma meditação é tão imprescindível como a meditação da morte", devendo concentrar-nos nela em vez de nos prendermos/distrairmos "com assuntos que, afinal, talvez sejam supérfluos". Sem queremos aqui analisar exaustivamente a "meditação da morte" levada a efeito por Séneca, indicaremos no entanto algumas das suas linhas fundamentais (...)
i) A morte é um processo intrínseco à própria vida, de tal forma que viver é sempre, ao mesmo tempo, morrer. Como diz Séneca de forma metafórica, "não é a última gota que esvazia a clepsidra, mas toda a água que anteriormente foi escorrendo".
ii) Não se pode viver bem sem aprender a desprezar a vida – saber viver implica saber morrer, morrer com "serenidade de espírito", aceitando a morte. Por isso mesmo, "a preparação para a morte tem prioridade sobre a preparação para a vida"; só tal preparação permitirá evitar a situação de muitos "que andam miseravelmente à deriva entre o medo da morte e os tormentos da vida, sem querer viver nem saber morrer".
iii) Temos de viver como se estivéssemos para morrer, não adiando a nossa vida para o futuro, organizando "cada dia como se fosse o final da batalha, como se fosse o limite. O termo da nossa vida."
Manuel Domínguez Sánchez, Morte di Seneca, 1871, Museo Nacional del Prado, Madrid
iv) A morte tem de ser uma morte corajosa, tem de ser vivida como um momento de grandeza, tem de, no fundo, ser a "bela morte" por outros meios - já que "a coragem perante a morte é uma fonte de glória, é uma das maiores façanhas do espírito humano". Como observa Séneca em relação a dois casos bem conhecidos, "foi a cicuta que deu grandeza a Sócrates! Tira a Catão o gládio com que assegurou a sua liberdade, e tirar-lhe-ás grande parte da sua glória!"
v) Viver bem, com qualidade e dignidade, é mais importante do que viver muito sem qualidade e dignidade. Por isso mesmo, diz Séneca, "o sábio prolongará a sua vida enquanto dever, e não enquanto puder".
Extraido de "O Suicídio considerado como uma das Belas Artes" ∗ J. M. Paulo Serra Universidade da Beira Interior; com imagens da Internet