O documentário "The Salt of the Earth", sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, teve uma recepção calorosa em sua première mundial, nesta terça (20), como parte da mostra oficial Um Certo Olhar, no Festival de Cannes.
Com a presença dos diretores Wim Wenders ("Paris, Texas") e Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, a exibição foi aplaudida de pé por mais de cinco minutos pelo público presente na sala Debussy, no Palais des Festivals.
Ao contrário do que se imaginava, o filme não é um registro de luxo das viagens de Salgado em seus nove anos trabalhando em "Genesis", seu livro mais recente. A produção viaja da infância do fotógrafo ao projeto do Instituto Terra, área de Minas Gerais onde cresceu, viu quase desaparecer com a seca e hoje é uma floresta protegida.
Mas a mola central do filme é a transformação de Salgado de estudante de economia em um dos maiores fotojornalistas do mundo. Narrado por Wenders ou por Juliano, o documentário é uma espécie de exposição comentada das maiores imagens de Salgado.
Dono de uma memória impressionante, o brasileiro conta a história por trás dos formigas (garimpeiros) de Serra Pelada, dos famintos da etiópia, do massacre em Ruanda e dos incêndios no Kuwait pós-Saddam. As fotos na tela grande possuem um impacto que nem os irmãos Dardenne, donos do filme da competição exibido horas antes, conseguem chegar perto de alcançar.
Wenders e Juliano não se transformam em personagens por muito tempo. Apenas tentam se situar em relação a seu retratado, mas 80% do filme é protagonizado por imagens estáticas, algumas vezes com a face de Sebastião sobreposta, unindo criador e criatura.
Os 20 minutos finais alcançam o lado mais recente do fotógrafo, preocupado com o meio ambiente e viajando para compôr "Genesis". No fim, ele fala sobre o ciclo da vida e morte e da natureza, fazendo uma ligação quase sobrenatural com "Still the Water", filme da japonesa Naomi Kawase, projetado na noite anterior naquele mesmo cinema.
No fim da sessão, aplausos de pé por cinco minutos que deixaram Wenders claramente emocionado sob gritos de "Bravo! Bravo!".
O documentário não tem data certa de estreia no Brasil, mas representantes da Mostra de São Paulo e do Festival do Rio estavam na plateia. Será uma disputa interessante.
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