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Poesia das 23 e depois 1

Me vê com teus olhos
Ou
Com teu nariz?

Férias da capitã da mata

A linda e poderosa menina animada da midiasmatica - joaquina Barbosa -, saiu de férias sentindo-se, achando-se...
Vai voltar com a mesma ilusão, ah coitado!
Já usaram a dondoca.
Prego batido, ponta virada.
A puta Joaquina Babosa, é bagaço fora do caralho.

Tenho dito.
Revoga -se as ilusões ao contrário.

Joel Leônidas Teixeira Neto

Genial!

O primeiro comunista dividiu um pão em 13 partes iguais

Dilma 2014

A volta dos ex-presidentes

...Só falta FHC!
- Lula não tem nenhuma chance de reeleição! - não é vero, Cesar Maia? 

Dos países da América do Sul, onde há direito ao retorno de ex-presidente, três terão ex-presidentes candidatos. Chile, em que Bachelet já foi eleita agora em dezembro. Tabaré Vasquez, no Uruguai, eleição em outubro de 2014. No Peru, Alan Garcia já anunciou que volta como candidato em 2016. 
            
Na Colômbia, Uribe vem sofrendo um cerco do atual presidente (cria sua), em função da origem das autodefesas, patrocinadas pelos fazendeiros, depois pervertidas em milícias patrocinadas com dinheiro da cocaína. Uribe optou pela imunidade e será candidato ao senado. Mas terá seu espelho como candidato a presidente. Venezuela, Equador e Bolívia têm reeleições bolivarianas indefinidas. Paraguai teve eleição recente.
            
Só no Brasil o ex-presidente FHC afirma que não será candidato a presidente em 2014, a nada. Bem, isso se o quadro interno e do cone sul não estimulá-lo até junho de 2014.

Indepêndecia tem nome?

A nota do PT sobre Eduardo Campos gerou textos de dois jornalistas que muito admiro - Nassif e Fernando Brito -.
Acontece que os dois - na minha irrelevante opinião - estão absolutamente errados.
Nassif é o Cândido 
E o Brito escreveu e publicou "tolo é o dirigente petista que..."
Tenho certeza que ele não é tolo - mais todos nós cometemos erros - ele errou.
deveria ter seguido meu conselho.
ah, depois batizo o Brito




Consciência branca para feministas negras

Desde cedo entendi o que era o racismo. Filho de uma mãe um tanto racista, numa família racista de negros, mulatos e descendentes de espanhóis, meu pai — de pele bem branca, olhos azuis e cabelo bem cacheadinho — fazia questão de pontuar que todos eram iguais e se horrorizava com o racismo. Minha mãe, nascida de uma mistura de europeus diversos e indígenas, sempre reforçava atitudes anti-racistas e criticava abertamente indivíduos e comportamentos discriminatórios. Quando comecei a me envolver em movimentos sociais, na adolescência, descobri o movimento negro e suas mais do que legítimas reivindicações. Só recentemente, porém, depois de muitos anos de militância, compreendi que talvez meu papel principal, nessa luta, seja mais óbvio e muito mais difícil do que eu imaginava: me reconhecer branca.

Quando nascemos, nós, pessoas de pele e fenótipo socialmente lido como "brancos" (doravante aqui denominados apenas "brancos", pra facilitar a leitura) somos ensinados que existem pessoas negras. Somos ensinados que têm a pele diferente da nossa. Em todas as formas de transmissão de cultura — escola, televisão, conversas em família, entre outros — a cor da nossa pele nunca é tratada como uma questão. É como se não tivéssemos cor. Nesse pensamento está baseada a expressão racista "pessoa de cor", que pressupõe que nós brancos e brancas não temos cor.

Sem perceber, passamos a vida acreditando verdadeiramente nessa mentira. Quando conseguimos alguma coisa, não associamos a conquista à nossa identidade ou classificação racial, mas a um mérito individual que simplesmente não existe. Isso não quer dizer que nenhum de nós brancos sejamos bons no que fazemos, calma aí. Significa apenas que uma pessoa negra tão boa quanto, ou melhor, ficou de fora na seleção em que nós passamos. Por diversos motivos. Foi quando tomei contato com o feminismo negro de Patricia Hill Collins e Bell Hooks que tomei consciência (não, não é um trocadilho) desses motivos. Estes são alguns deles:

Eu nunca fui tratada por meus professores e professoras como um projeto de bandida, rainha de bateria ou faxineira; aprendi daí que a escola era mesmo o meu lugar.
Nunca precisei passar por processos dolorosos e tóxicos para adequar meu cabelo às exigências de qualquer empregador sob a ameaça de passar fome; aprendi daí que meu cabelo não precisa ser corrigido.
Fui tratada como mãe das crianças brancas de que cuidei como baby-sitter; aprendi daí que eu não precisava realizar nenhuma outra tarefa doméstica que não fosse cuidar das crianças.
Nas novelas, filmes, revistas e outras mídias que constroem o imaginário popular e as nossas identidades e anseios, sempre havia personagens como eu, brancas, que tinham sucesso profissional em diversas áreas; aprendi daí que eu podia ser o que quisesse.
Na escola e em todos os espaços públicos, especialmente naqueles em que frequentavam majoritariamente ou exclusivamente mulheres, sempre me senti confortável e incluída e sempre me deram a palavra; aprendi daí que eu podia e devia falar sempre que desejasse.
Em espaços domésticos, as pessoas que desempenhavam funções de serviço pesadas como empregada doméstica mensalista, muitas vezes mal pagas e em condições de vida deploráveis, não eram do meu bairro, não eram minhas vizinhas, não eram minhas parentes; aprendi que aquilo não era pra mim.
As revistas de moda e cabelo sempre tinham diversas sugestões e opções de maquiagem, penteados e cortes que se adaptavam facilmente aos meus tons de cabelo e pele, segundo as regras iluminadas dos editoriais; aprendi daí que eu sou normal, que eu sou a regra, o fiel da balança, o neutro pelo qual de deve medir os demais.
Construída nessa e em outras situações, minha identidade racial ficou escondida. Toda a sociedade me dizia que "raça" simplesmente não era uma questão que me tangia. O gênero sim, já que como mulher eu estava do lado oprimido. Sendo branca, então, eu realmente acreditava que não tinha nada a ver com a discussão racial, exceto para defender "elas", as mulheres negras.

Daí que um dia elas gritaram. Apontaram minha raça e eu, em minha ignorância racista, que como sociedade acabamos por desenvolver de maneira doentia em todas as pessoas brancas deste país, me senti ofendida. Eu não gostava de ser lembrada de que era branca. Dizia inclusive que isso seria racismo. Era muito mais fácil acreditar que tudo que eu tinha conseguido tinha sido por mérito próprio. Que eu, mulher, não podia jamais ocupar o lugar de opressora nesta sociedade. Era o esquema perfeito: me colocava enquanto vítima e recusava deliberadamente a função de algoz. Conforto pouco é bobagem.

Depois de espernear, me lembrei de um debate sobre cotas na época do ensino médio. Eu era, então, contra as cotas raciais. Meu melhor amigo — também ligado à militância de movimentos sociais — me disse uma das coisas mais interessantes que eu já ouvi sobre políticas públicas: "Estou do lado dos fodidos, Marília. A gente tem que estar do lado dos fodidos". Nós, que nem fodídos éramos. Ele, que tinha olhos azuis e sobrenome italiano.

Decidi ouvir o que as fodidas tinham a me dizer, pelo afeto que nutro por essa figura branca (sim, racista também isso). Botei o ego de lado. Pisei fora da zona de conforto, do meu esquema explicativo perfeito de mártir (existe feminino de mártir?). Escutei a Hill Collins. Reli Alice Walker. Fui atrás da Rosa Parks. Pesquisei Nina Simone. Me enfiei na história dos Panteras Negras. Assisti de novo Mississipi em Chamas, Uma Outra História Americana, tudo que eu tinha do Spike Lee. Me inscrevi em feeds de sites e blogs brasileiros sobre racismo e identidade racial – esses que antes eu sequer acessava, já que "não eram dirigidos a mim", pela mesma visão limitada de quem acha que, sendo branco, não tem nada a ver com o dia da consciência negra. Peguei o Darcy Ribeiro da estante. Quase vomitei com a memória de tudo aquilo que meu cérebro havia, de forma traiçoeira, relegado "aos outros" quando aprendi na escola.

Não eram os outros. Era eu.

Nas páginas de Casa Grande e Senzala, eu era a moça na liteira. Eu era o personagem de Di Caprio em Django Livre, ou era também o branco salvador da pátria (ou pior, dos negros) interpretado por Chirstopher Waltz — ambos essencialmente racistas. Eu era a sinhá que eu tanto desprezava nas novelas de época. Eu era a imigrante italiana da novela, cujos descentes puderam acreditar no mito do mérito, já que sua cor de pele lhe dava contrato, trabalho assalariado, possibilidade concreta de compra de terras e direito de frequentar escolas, o que não era assegurado às populações negras na mesma época. Eu era, enfim, de volta ao século XXI, a moça que podia andar na rua sem ser abordada pela polícia. Que sabia que, a qualquer sinal de problema, chamar a polícia representava mais risco ao outro do que a mim mesma.

Era eu, a moça feminista que não entendia por que "tanto escarcéu" das feministas negras, já que eu não era racista. Que tinha o privilégio racial mais imenso e cruel de poder ignorar a própria racialidade, e fingir que o racismo não existe enquanto ele feria minhas convicções e meu conforto como militante.

Demorei meses, mas vocês têm um dia pra tentar: não dê parabéns a ninguém em 20 de Novembro, como pedimos que não nos deem rosas no dia 8 de Março. Use seu tempo para contribuir com a luta antirracista de maneira extremamente mais eficaz: reconheça-se branca, cale-se pela primeira vez na vida e escute o que as mulheres negras têm a dizer.

PS.: esse texto, como escrito a partir da experiência de gente branca, necessariamente apresentará alguns racismos sutis; peço desculpas de antemão por eles e espero que possa, no diálogo com minhas companheiras negras, corrigi-los em breve.

PS2.: escrever esse texto e provocar a discussão pública sobre privilégio racial branco não é um ato de heroísmo, nem de coragem: é o mínimo que precisa ser feito por pessoas brancas na luta antirracista.

Consciência branca para feministas negras

Desde cedo entendi o que era o racismo. Filho de uma mãe um tanto racista, numa família racista de negros, mulatos e descendentes de espanhóis, meu pai — de pele bem branca, olhos azuis e cabelo bem cacheadinho — fazia questão de pontuar que todos eram iguais e se horrorizava com o racismo. Minha mãe, nascida de uma mistura de europeus diversos e indígenas, sempre reforçava atitudes anti-racistas e criticava abertamente indivíduos e comportamentos discriminatórios. Quando comecei a me envolver em movimentos sociais, na adolescência, descobri o movimento negro e suas mais do que legítimas reivindicações. Só recentemente, porém, depois de muitos anos de militância, compreendi que talvez meu papel principal, nessa luta, seja mais óbvio e muito mais difícil do que eu imaginava: me reconhecer branca.

Quando nascemos, nós, pessoas de pele e fenótipo socialmente lido como "brancos" (doravante aqui denominados apenas "brancos", pra facilitar a leitura) somos ensinados que existem pessoas negras. Somos ensinados que têm a pele diferente da nossa. Em todas as formas de transmissão de cultura — escola, televisão, conversas em família, entre outros — a cor da nossa pele nunca é tratada como uma questão. É como se não tivéssemos cor. Nesse pensamento está baseada a expressão racista "pessoa de cor", que pressupõe que nós brancos e brancas não temos cor.

Sem perceber, passamos a vida acreditando verdadeiramente nessa mentira. Quando conseguimos alguma coisa, não associamos a conquista à nossa identidade ou classificação racial, mas a um mérito individual que simplesmente não existe. Isso não quer dizer que nenhum de nós brancos sejamos bons no que fazemos, calma aí. Significa apenas que uma pessoa negra tão boa quanto, ou melhor, ficou de fora na seleção em que nós passamos. Por diversos motivos. Foi quando tomei contato com o feminismo negro de Patricia Hill Collins e Bell Hooks que tomei consciência (não, não é um trocadilho) desses motivos. Estes são alguns deles:

Eu nunca fui tratada por meus professores e professoras como um projeto de bandida, rainha de bateria ou faxineira; aprendi daí que a escola era mesmo o meu lugar.
Nunca precisei passar por processos dolorosos e tóxicos para adequar meu cabelo às exigências de qualquer empregador sob a ameaça de passar fome; aprendi daí que meu cabelo não precisa ser corrigido.
Fui tratada como mãe das crianças brancas de que cuidei como baby-sitter; aprendi daí que eu não precisava realizar nenhuma outra tarefa doméstica que não fosse cuidar das crianças.
Nas novelas, filmes, revistas e outras mídias que constroem o imaginário popular e as nossas identidades e anseios, sempre havia personagens como eu, brancas, que tinham sucesso profissional em diversas áreas; aprendi daí que eu podia ser o que quisesse.
Na escola e em todos os espaços públicos, especialmente naqueles em que frequentavam majoritariamente ou exclusivamente mulheres, sempre me senti confortável e incluída e sempre me deram a palavra; aprendi daí que eu podia e devia falar sempre que desejasse.
Em espaços domésticos, as pessoas que desempenhavam funções de serviço pesadas como empregada doméstica mensalista, muitas vezes mal pagas e em condições de vida deploráveis, não eram do meu bairro, não eram minhas vizinhas, não eram minhas parentes; aprendi que aquilo não era pra mim.
As revistas de moda e cabelo sempre tinham diversas sugestões e opções de maquiagem, penteados e cortes que se adaptavam facilmente aos meus tons de cabelo e pele, segundo as regras iluminadas dos editoriais; aprendi daí que eu sou normal, que eu sou a regra, o fiel da balança, o neutro pelo qual de deve medir os demais.
Construída nessa e em outras situações, minha identidade racial ficou escondida. Toda a sociedade me dizia que "raça" simplesmente não era uma questão que me tangia. O gênero sim, já que como mulher eu estava do lado oprimido. Sendo branca, então, eu realmente acreditava que não tinha nada a ver com a discussão racial, exceto para defender "elas", as mulheres negras.

Daí que um dia elas gritaram. Apontaram minha raça e eu, em minha ignorância racista, que como sociedade acabamos por desenvolver de maneira doentia em todas as pessoas brancas deste país, me senti ofendida. Eu não gostava de ser lembrada de que era branca. Dizia inclusive que isso seria racismo. Era muito mais fácil acreditar que tudo que eu tinha conseguido tinha sido por mérito próprio. Que eu, mulher, não podia jamais ocupar o lugar de opressora nesta sociedade. Era o esquema perfeito: me colocava enquanto vítima e recusava deliberadamente a função de algoz. Conforto pouco é bobagem.

Depois de espernear, me lembrei de um debate sobre cotas na época do ensino médio. Eu era, então, contra as cotas raciais. Meu melhor amigo — também ligado à militância de movimentos sociais — me disse uma das coisas mais interessantes que eu já ouvi sobre políticas públicas: "Estou do lado dos fodidos, Marília. A gente tem que estar do lado dos fodidos". Nós, que nem fodídos éramos. Ele, que tinha olhos azuis e sobrenome italiano.

Decidi ouvir o que as fodidas tinham a me dizer, pelo afeto que nutro por essa figura branca (sim, racista também isso). Botei o ego de lado. Pisei fora da zona de conforto, do meu esquema explicativo perfeito de mártir (existe feminino de mártir?). Escutei a Hill Collins. Reli Alice Walker. Fui atrás da Rosa Parks. Pesquisei Nina Simone. Me enfiei na história dos Panteras Negras. Assisti de novo Mississipi em Chamas, Uma Outra História Americana, tudo que eu tinha do Spike Lee. Me inscrevi em feeds de sites e blogs brasileiros sobre racismo e identidade racial – esses que antes eu sequer acessava, já que "não eram dirigidos a mim", pela mesma visão limitada de quem acha que, sendo branco, não tem nada a ver com o dia da consciência negra. Peguei o Darcy Ribeiro da estante. Quase vomitei com a memória de tudo aquilo que meu cérebro havia, de forma traiçoeira, relegado "aos outros" quando aprendi na escola.

Não eram os outros. Era eu.

Nas páginas de Casa Grande e Senzala, eu era a moça na liteira. Eu era o personagem de Di Caprio em Django Livre, ou era também o branco salvador da pátria (ou pior, dos negros) interpretado por Chirstopher Waltz — ambos essencialmente racistas. Eu era a sinhá que eu tanto desprezava nas novelas de época. Eu era a imigrante italiana da novela, cujos descentes puderam acreditar no mito do mérito, já que sua cor de pele lhe dava contrato, trabalho assalariado, possibilidade concreta de compra de terras e direito de frequentar escolas, o que não era assegurado às populações negras na mesma época. Eu era, enfim, de volta ao século XXI, a moça que podia andar na rua sem ser abordada pela polícia. Que sabia que, a qualquer sinal de problema, chamar a polícia representava mais risco ao outro do que a mim mesma.

Era eu, a moça feminista que não entendia por que "tanto escarcéu" das feministas negras, já que eu não era racista. Que tinha o privilégio racial mais imenso e cruel de poder ignorar a própria racialidade, e fingir que o racismo não existe enquanto ele feria minhas convicções e meu conforto como militante.

Demorei meses, mas vocês têm um dia pra tentar: não dê parabéns a ninguém em 20 de Novembro, como pedimos que não nos deem rosas no dia 8 de Março. Use seu tempo para contribuir com a luta antirracista de maneira extremamente mais eficaz: reconheça-se branca, cale-se pela primeira vez na vida e escute o que as mulheres negras têm a dizer.

PS.: esse texto, como escrito a partir da experiência de gente branca, necessariamente apresentará alguns racismos sutis; peço desculpas de antemão por eles e espero que possa, no diálogo com minhas companheiras negras, corrigi-los em breve.

PS2.: escrever esse texto e provocar a discussão pública sobre privilégio racial branco não é um ato de heroísmo, nem de coragem: é o mínimo que precisa ser feito por pessoas brancas na luta antirracista.

Artigo semanal de Leonardo Boff

Estamos num voo cego: para onde vamos?

Quem leu meus dois artigos anteriores O funesto império mundial das corporações” e “Uma governança global da pior espécie: os mercadores terá seguramente concluído que na única nave espacial-Terra, seus passageiros viajam em condições totalmente diferentes. Um pequeno grupo de super-ricos ocuparam para si a primeira classe com um  luxo escandaloso; outros felizardos ainda viajam na classe econômica e são servidos razoavelmente de comida e bebida. O resto da humanidade, aos milhões, viaja junto às bagagens sujeita ao frio de dezenas de graus abaixo de zero, semi-mortos de fome, de sede e no desespero. Esmurram as paredes dos de cima, gritando: “ou repartimos o que temos nesta única nave espacial ou, num certo momento, acabará o combustível e pouco importam as classes, morreremos todos”. Mas quem os escutará? Impassíveis dormem depois de um lauto jantar.

Quando funk-ostentação torna-se uma ameaça


Repressão a jovens que marcam encontros nos shoppings revela: no Brasil da Casa Grande, pobres sempre são subversivos quando saem do gueto — mesmo que para consumir…


Por Eliane Brum, no El Pais 
O Natal de 2013 ficará marcado como aquele em que o Brasil tratou garotos pobres, a maioria deles negros, como bandidos, por terem ousado se divertir nos shoppings onde a classe média faz as compras de fim de ano. Pelas redes sociais, centenas, às vezes milhares de jovens, combinavam o que chamam de “rolezinho”, em shopping próximos de suas comunidades, para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras” ou “tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos”. No sábado, 14, dezenas entraram no Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da ostentação. Não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas, mesmo assim, 23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada justificasse a detenção. Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos, garotos foram revistados na chegada por um forte esquema policial: segundo a imprensa, uma base móvel e quatro camburões para a revista, outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE (Grupo de Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para montar guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o pai, amputado, numa cadeira de rodas. De novo, nenhum furto foi registrado. No sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do Shopping Campo Limpo, não constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da Força Tática e motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) permaneceram no estacionamento para inibir o rolezinho e policiais entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.


Se não há crime, por que a juventude pobre e negra das periferias da Grande São Paulo está sendo criminalizada?

Bom dia!

A felicidade é a soma de pequenas alegrias