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Deu no The New York Time

Brasil tem resposta para desigualdade

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, para informar aos brasileiros o óbvio ululante.

Arquivo

Colunista sênior do The New York Times, Joe Nocera, escreveu sobre o Brasil na segunda feira agora, dia 20, apontando a surpresa que lhe despertou a cidade do Rio de Janeiro. Muniu-se de mais informações após sua viagem de volta aos Estados Unidos, reunindo-se com alguns economistas para procurar entender o que se passava com o país em particular onde se apoiavam seus pilares econômicos.

Chamou-lhe a atenção, o que os brasileiros já sabiam, a variedade de boas lojas em bairros como Ipanema e igualmente a quantidade de pobreza nas favelas ao redor. Segundo ele, para os visitantes, saltava aos olhos o número de cidadãos de classe média pelas ruas em meio aos carros por todos os lados e o tráfico congestionado. Por não ser ilusão o que via, passou a acreditar que tudo aquilo era sinal de uma classe média emergente. As pessoas tinham dinheiro para comprar carros.

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, país cuja cultura nos é bem conhecida, para informar aos brasileiros o óbvio ululante, salve Nelson Rodrigues, já que os profissionais dos nossos jornalões e televisões de plantão não informam por não saberem ver ou não conseguirem enxergar.

Se tivesse dito só isto já era o suficiente para mostrar que as mídias sociais, baluartes modernos da resistência informativa, veem como ele o país. Mas suas observações foram mais carregadas ainda de tinta ao destacar a queda na desigualdade de renda na última década, os recordes atuais do baixo desemprego e a saída da pobreza de cerca de 40 milhões de pessoas. Por fim, ainda assinalou que, embora o crescimento do produto tenha reduzido, a renda per capita continua a subir.

Já os economistas reunidos com ele relativizaram as conquistas. Disseram que a boa forma da economia brasileira tem voo curto a despeito dos ganhos obtidos.
Estariam faltando ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. O baixo desemprego dos que querem trabalhar seria porque, enquanto a economia cresce pouco e com eficiência contida, o Estado compensa incentivando o consumo com programas sociais. Para eles o país teve mais sorte do que sucesso.

Não é sorte, embora os santos possam ter ajudado! Com a retração dos investimentos, apesar do esforço e incentivo do governo, a estratégia de expansão do consumo foi estabelecida para segurar a economia, mesmo a crescimento baixo, exatamente nesses anos de vacas magras desde o início da crise financeira mundial com a quebra do Lehman Brothers. O Brasil foi um dos poucos países que suportaram o baque, outros entraram em recessão ou mais leves ou mais graves, todos eles fazendo o dever de casa imposto pelas autoridades financeiras mundiais de ajustar e pagar suas dívidas públicas e privadas, desviando os olhos dos impactos sociais. Pois então, enquanto o Brasil cresce devagar, a economia mundial não conseguiu ainda se levantar. 

De fato, o viés de consumo da política econômica é opção do governo que deu certo interna e externamente. Aqui, liderado pelos programas sociais somam-se outras medidas complementares, entre elas, correções maiores que a inflação no salário mínimo, aposentadorias e pensões e repasses parciais à gasolina dos aumentos de custos. Lá fora, os economistas com ele reunidos não viram: o próprio governo dos Estados Unidos e a ONU se interessaram pelo Programa Bolsa Família e pretendem implementá-lo para reduzir o desemprego, melhorar a renda familiar e sustentar o consumo. Joe Nocera destaca o papel do programa e compara seu êxito com a recusa do Congresso americano em melhorar o seguro desemprego e outros programas sociais naquele país.

Do lado do investimento, os economistas se esqueceram de mencionar que há muitas fichas apostadas na expansão e modernização da infraestrutura e na exploração do pré-sal não só pelos efeitos produtivos diretos, mas também pelos efeitos indiretos. Um forte incentivo e impulso do complexo industrial são esperados, o que tem tudo para promover a volta de novos projetos e a expansão de muitas plantas industriais existentes. Seguras e concretas alternativas brasileiras mesmo diante da crise mundial que arrasta as economias dos países.

Ao contrário do Brasil, o jornalista afirma que a produtividade americana voltou a crescer, mas apesar disso o desemprego não desce dos 7% e a classe média aos poucos perde posição social (em parte por conta de não serem distribuídos melhor os ganhos de produtividade). Diz taxativamente que a desigualdade de renda é um fato na vida dos Estados Unidos e ninguém tem sido capaz de fazer alguma coisa a respeito. Será que no fundo querem seguir a receita desandada do Brasil de esperar o bolo crescer para distribuir algumas migalhas?

O objetivo do governo atual e dos dois anteriores no Brasil foi exatamente garantir o desenvolvimento com a melhoria das condições de vida da população, em especial dos mais pobres; os Estados Unidos querem o desenvolvimento a qualquer custo. Infelizmente só o jornalista americano consegue entender isto, parabéns!, os nossos da grande mídia não.


José Carlos Peliano

Joaquim Barbosa serve de galhofa

Advogado de João Paulo Cunha, Alberto Toron parte para a galhofa em resposta a comentário do presidente do STF, que criticou colegas Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia por não terem determinado prisão de seu cliente: "Ele deixou de cumprir o dever dele e agora põe a culpa nos seus colegas. É o fim da picada - e ele confortavelmente dando seu rolezinho em Paris", disse defensor; com o tipo de padrão ético que Joaquim Barbosa imprime à sua gestão no tribunal, causídicos já partem para fazer as piadas para ficar no mesmo nível; virou motivo de ironias

Boa noite

O sagrado, o profano e a alegria

Dos dezessete aos vinte um anos, decidi que me dedicaria a vocação religiosa e fiz um voto secreto de pobreza, humildade e castidade, tal como Francisco de Assis.
Imaginava uma vida monástica fora de um mosteiro e me alegrava com a ideia de dedicar a minha vida — de corpo e alma — para algo que fizesse muito sentido e beneficiasse os outros. O tempo passou, minhas noções de espiritualidade se expandiram e notei que ainda carregava muitos preconceitos e enganos filosóficos sobre contrapontos entre o desejo e a fé.
A ideia de vida monástica acabou e comecei a me relacionar com minha primeira namorada aos 22 anos. Daquele tempo em diante, a noção de espiritualidade seguiu outras direções e comecei a perguntar porque eu havia me disposto a abnegar de prazeres sensoriais para uma maior conexão com o divino.
As respostas não foram fáceis mas instigastes.

O incômodo de se tornar religioso

Existem três tipos de pessoas, no que se refere à religiosidade: os fanáticos-militantes, os aversivos e os indiferentes.
Aqueles que tem aversão não conseguem conceber um tipo de vida restrita ou castrada e sentem a religiosidade como um coito interrompido. A decisão de assumir regras e restrições físicas ou emocionais por causa de uma conversão religiosa pode parecer impensável para algumas pessoas, já para outras é quase um remédio para um sentimento de inadequação ou perturbação pessoal.
Lembro de ter me tornado radical em meus posicionamentos pessoais, chegando a exigir que minha família adotasse certos preceitos sob pena de mau humor ou esfriamento da relação. Em resumo, fiquei muito chato.
Hoje noto que não foi a religião que me deixou irritante, mas minha impertinência que usou da religião para garantir espaço em uma família que estava em crise e eu sentia medo de que tudo se desestruturasse. A força da minha insistência para que meu pai rezasse pela sua doença ou se tornasse alguém menos amargurado era resultado de uma necessidade de controle associada com temor pela sua morte iminente.
De alguma maneira, a minha adequação ao universo religioso era uma forma silenciosa de barganha com a divindade, pois eu queria garantir um lugar especial no coração de Deus e, de quebra, descolar alguns favores especiais com efeito de vida e morte.
Provavelmente é esse tipo de infantilidade a que os aversivos religiosos se apegam para atacar os religiosos, mas talvez esqueçam a quantidade de pessoas desesperadas, sem rumo ou autonomia emocional e moral para conduzir suas próprias vidas.
Eu desenvolvi isso com o tempo e passei a decidir meus dilemas éticos por conta própria e já não me vejo passivo na vida, mas sei que uma grande parcela ainda segue cheia de temores pela ausência de respostas filosóficas da existência humana finita.

O amargor da restrição

Os indiferentes e aversivos da religião têm uma objeção típica que é o da religião se opor ao agir natural delas no que se refere ao estilo de vida. Notam certo amargor nas pessoas que deixam de comer certos alimentos ou praticar algumas atitudes.
É bem verdade que existem muitas pessoas amargas nos ambientes religiosos, mas são aquelas que possuem uma estrutura de personalidade meio obsessivas, mesquinhas e escassas, que encontram na religião um artifício racional ou social para justificar seu moralismo ou rigidez emocional.
Mas sei também que, para algumas pessoas com total descontrole psicológico, a religiosidade tem um papel fundamental para substituir, provisória ou definitivamente, o papel de um sensor moral que não tem introjetado.
Imagine uma pessoa completamente viciada em altas doses etílicas — ou de heroína ou crack — e suas sensações relaxantes e excitantes respectivamente. Como oferecer uma transição menos dolorosa para que se adeguem ao cotidiano cheio de normalidade e muitas vezes nada eufórico?
O êxtase fervoroso ou a ritualística mística vem bem a calhar nesses casos.
Outras pessoas que mal conseguem fazer uma planilha financeira ou se estabilizar em um emprego podem começar a alinhar seus ganhos e gastos por conta de uma indução religiosa e seus dez por cento de contribuição.
Olhando de fora, para quem tem vinte anos planilhados pela frente, pode parecer a maior estupidez ser conivente com algum tipo de pensamento religioso que exploraria a boa vontade dos fracos e oprimidos. Em alguma medida, sim, há abuso, mas da perspectiva de quem tenta se alinhar com sua própria bagunça pessoal, pode parecer proveitoso. Pode ser um “ópio do povo”, mas um ópio menos devastador do que outros tipos.
Justificável ou não, cabe a cada pessoa saber do seu nível de aperto ou maturidade e desenvoltura pessoal, nem tudo é preto no branco.

Coisas de deus vs. coisas do mundo

De todo tipo de expressão religiosa que já transitei ou conheci por proximidade, todas têm — ainda que não declaradamente — uma oposição entre dois clubinhos: àqueles que fazem parte do mesmo time e os demais.
Existe uma função psicológica bem clara nesse senso de comunidade (mais radicais em uns e menos em outros). A existência humana pode parecer muito árida se vivida de modo isolado e existem algumas pessoas que não conseguem ou sabem se inserir em nenhum time.
Uma possibilidade seria seguir caminhando sem rumo e sem um senso de pertencimento sólido, já que foram expulsas dos clubinhos mais populares. Apesar de não terem muito dinheiro, beleza, status ou equilíbrio emocional, essas pessoas querem saber que alguém se importa com elas e que não serão invisíveis.
Só quem já foi invisível sabe o quão doloroso é não ser considerado nem no próprio dia de aniversário. Para muitas dessas (não todas) a religiosidade as insere numa comunidade que usa a mesma língua e tem os mesmos códigos. A socialização surge de cima para baixo, sem grandes esforços e em uma tentativa de integração mínima. No mundo ideal, as muletas deveriam ser deixadas de lado (trabalho como psicólogo para isso), mas, na vida possível e real — que eu defendo — muletas são necessárias e bem-vindas sem nenhum pudor ou heroísmo.
É só de aconchego pessoal que muitas pessoas tentam se cercar quando buscam um clamor fervoroso pelo seu deus exclusivo.

A seriedade da vida religiosa, sem riso, sem sexo

Quando vemos imagens ligadas a religiosidade ou ao sagrado, é possível notar com muita clareza a seriedade sisuda que é envolvida numa aura quase meditativa e desconectara do cotidiano. Claro que isso não cativa muitas pessoas que são movidas de modo sensorial, cinestésico e festivo.
Em contraponto, os apelos de outra ordem — em imagens de putari — glutonaria pode-se reparar na abundância, alegria e até certo êxtase. De alguma maneira, existe uma busca sagrada nessa vida carnal.
Os religiosos fervorosos poderiam se opor a essa afirmação apelando aos textos sagrados e restringindo o êxtase à busca espiritual, mas todo esse discurso ainda assim parece não considerar o tipo de pessoa que não teria a menor predisposição religiosa e ainda assim seria beneficiada por muitos princípios de sabedoria contidos na religião.
Seria possível um tipo de sabedoria recheada de festividade? Em algumas comemorações de povos menos ocidentalizados, parece haver um pouco dessa possibilidade. Algumas tradições africanas possuem esse caráter de alegria espiritual. Mas, de modo geral, parece existir uma indisposição para o riso, o gozo e a fé.

A fé, a putaria e a entrega

Talvez meu raciocínio possa soar radical, mas existe um ponto em comum em uma oração fervorosa e uma suruba. há certo elemento de entrega e rendição muito forte. Cada qual seguindo em direções distintas, a suruba buscando o relaxamento e a conexão com outra pessoa e a oração com uma realidade impalpável e abstrata.
A grande dificuldade de muitas pessoas, principalmente intoxicadas pelo pragmatismo utilitarista ocidental, é relaxar e desarmar suas barreiras pessoais e simplesmente apostarem em algo sem garantias ou resultados matemáticos.
Para elas, a fé é pouco clara, mensurável ou plausível, e podem até achar lindas as cerimônias e ter inveja de quem tem uma fé absoluta. Faltaria a elas essa confiança despretensiosa, que soa quase infantil de quem aposta num aparente impossível e por conta disso acaba vivendo uma profecia autorrealizada positiva.
É aquela convicção que se transforma em uma ação tão empoderada que rompe com qualquer temor habitual.
É plausível que Buda, Jesus, Maomé, Moisés, Confúcio e outros líderes tivessem um discurso tão tomado dessa certeza interna que magnetizaram as pessoas cambaleantes de seu tempo e as conduziram para um bom lugar. Ofereceram um caminho que se mostrou redentor na vida prática e deu sentido para uma existência que se percebia vazia.
No final das contas, para além das comprovações que os céticos avessos exigem, pode existir um lugar de coisas muito ricas e bonitas no meio da religiosidade, assim como bizarrices e exageros, como ocorre em qualquer aglomerado humano. E independente do tipo de partido que você tome ainda me parece mais madura alguma dose de entrega, que não é exclusividade da religiosidade, do que a desconfiança paranóica, que também não é exclusiva dos céticos.
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Saindo dos armários

Uma das diferenças entre Barack Obama e Bill Clinton, ou melhor, entre a época de um e a de outro, pode ser observada na última declaração do atual presidente sobre drogas. Em termos de costumes, a geração do marido de Hillary usava a meia verdade para confessar pecados do passado. Quando admitiu ter fumado maconha na juventude, fez logo a ressalva hipócrita: “Fumei, mas não traguei.” Ah, bom, então tudo bem. Já Obama revelou com todas as letras ter fumado, tragado a outrora chamada “erva maldita” e, pior, cheirado cocaína.
Fernando Henrique, que hoje encabeça uma corajosa campanha pela descriminalização do uso das drogas, teria dito o mesmo. Mas ele nega, até porque, garante, nunca usou nem cigarro comum (na campanha para a prefeitura de SP, em 1985, Jânio Quadros difundiu o boato devastador de que seu adversário, se eleito, o que não aconteceu, iria promover a distribuição de maconha nas escolas públicas).
Agora são tempos de abrir os armários. Veja outro tema tabu, a homossexualidade, cuja defesa não é mais apenas uma bandeira dos militantes. Depois que o STF reconheceu por unanimidade a união gay como legal (com direito a herança, pensão e adoção) e depois que o Papa Francisco recusou-se a estigmatizar os homossexuais (“Quem sou eu para julgá-los?”), a condição deixou de ser uma doença ou uma patologia social para ser o que é, uma opção sexual, com visibilidade cada vez maior em filmes, peças e novelas.
Apenas um exemplo. O personagem mais carismático de “Amor à vida” é uma bicha — e bicha má, como ele mesmo se classificava, de jogar criancinha em caçamba. O público já esqueceu essa e outras maldades de Félix, continua achando graça em seus trejeitos, está aceitando como natural sua redenção e torce para ele ficar com Nico, a bicha do bem. Se isso não acontecer, não será pela vontade popular, mas talvez porque, tecnicamente, a solução se mostraria impraticável. Segundo me ensinou um entendido, os dois só conjugam na voz passiva, o que tornaria a união homoafetiva inutilmente redundante. A conferir. Cartas para a coluna do Ancelmo.
Pode-se alegar que esse liberalismo só acontece na arte, já que na vida real, aqui e lá fora, continua havendo preconceito e violência homofóbica. Ou seja, mesmo num mundo ideal, sem intolerância, haverá sempre resíduos, como um Marco Feliciano e um Putin, para lembrar Shakespeare: “O mal que os homens praticam sobrevive a eles.”
Já tenho minhas divas do verão. São elas Soraya Ravenle, do musical sobre Chico Buarque; Laila Garin, de “Elis”; Dira Paes e Patrícia Pillar, de “Amores roubados"; Maya Gabeira, das ondas gigantes; e, mais formosa e irresistível do que todas, Alice, que dispensa justificativa.
de Zuenir Ventura

“Democracia: sonho da minha juventude, luta da minha vida”

Consuelo de Castro tinha apenas 21 anos em 1968, ano da prisão dos estudantes em Ibiúna, da Batalha da Maria Antônia, da decretação do AI-5 e tantos outros episódios que marcaram a luta da resistência contra a ditadura militar. Estudante de Ciências Sociais da USP, ela esteve nessa luta e fez de um de seus dons, uma arma.
Naquele ano, Consuelo lançava sua primeira peça, Prova de Fogo, desafiando a censura. Desde então, nunca parou: foram 53 peças até agora. Companheira de luta e amiga pessoal do José Dirceu, Consuelo nos conta sobre aquele período e faz um balanço desses 50 anos de golpe.
Sua entrevista é a primeira, das muitas, que faremos a partir desta semana aqui no Blog, marcando os 50 anos do Golpe Militar de 1964. Confiram a entrevista:
Qual a sensação da dramaturga, teatróloga, autora de novelas e, acima de tudo, cidadã nessa hora em que se completam 50 anos do golpe de 64?
ConsuelodeCastro
Consuelo de Castro
[ Consuelo de Castro ] A censura gerou males inestimáveis, não só para a cultura em si, mas dentro de cada agente cultural. Há silêncios forçados que calejaram no âmago criador das pessoas. Mas a sensação que tenho é de que minha alma sobreviveu intacta, apesar do cala-boca. Mesmo nos períodos mais infernais, quando o lápis vermelho rondava minha máquina de escrever e ameaçava entrar dentro de mim, calando-me como um alter ego tenebroso, eu escrevi, escrevi, escrevi peças, sabendo que iam cortar, só pra encher o saco, ferindo todos os itens da lei de censura, propositadamente criadas para irritar e indignar e serem cortadas. Eu queria dar trabalho a eles. Pensava: no que me toca, eles não ganham o pão na moleza. Vão cortar até esfolar o punho.
Como foi conviver e sobreviver com a frustração de ter uma peça como Prova de Fogo censurada por mais de 30 anos? Como administrar a revolta e o medo de viver sob um regime que invadiu teatros e espancou artistas como na peça Roda Viva, do Chico?
[ Consuelo de Castro ] Quanto à Prova de Fogo, apesar da frustração inicial – era minha primeira peça, era quase adolescente, tinha obtido elogios de todos os grandes diretores do período etc – logo veio uma espécie de euforia: eu me senti poderosa. Eu, uma menina, desarmada, consegui ser tão perigosa com uma simples peça de teatro. A peça feria praticamente todos os itens da lei da censura: eu ofendia a dignidade das Forças Armadas, a moral da família e os bons costumes, incitava à luta armada etc etc. Aí eu pensei: se ameaço tanta coisa com uma simples peça de teatro, é porque esse é o caminho a seguir. E segui. Escrevi até hoje 53 peças.
Quanto à assistir e temer os desmandos da repressão com os colegas, foi duro, foi horrível, uma impotência dolorosa. A classe artística lutou, unida, o tempo todo. Mas dava para fazer muito pouco.
Você perdeu amigos na tortura, nos assassinatos, nos crimes cometidos pela ditadura. Teve colegas, amigos que precisaram se exilar. Conseguia manter contato com eles naquele período?
[ Consuelo de Castro ] Perdi muitos amigos. Alguns, os mais queridos amigos que tive, como Zé Arantes e Antonio Benetazzo, só para citar alguns. Sim, tive muitos amigos e colegas que precisaram se exilar. Mantive contato com alguns, com outros perdi, não era o momento de ficarmos nos comunicando. Como diz o Chico “O correio andou arisco”.
Como você conheceu Zé Dirceu?
[ Consuelo de Castro ] Conheci o Zé ainda em 67, no movimento dos excedentes (vestibulandos que não entravam na universidade). Que foi o embrião da ocupação da Filosofia. Nós nos aproximamos naturalmente, eu gostava da postura firme, apaixonada dele à frente do movimento estudantil. Com o tempo, ele foi se tornando o líder que foi e que marcou a nossa geração. Eu sempre estive com ele, batalhando no movimento estudantil.
Qual a tua análise do julgamento e prisão dele agora?
[ Consuelo de Castro ] É um processo eminentemente político, marcado por ilegalidades do começo ao fim, como a prisão agora em regime fechado, quando ele tem direito ao regime semiaberto.
Presos políticos que você visitou contam que você foi uma das figuras mais solidárias que eles encontraram. Como é ser solidária, Consuelo, quando se vê em risco a própria pele?
Consuelo em 1968
Consuelo em 1968
[ Consuelo de Castro ] Eu visitei meu namorado por mais de 5 anos. E com ele, visitava os outros presos, 33 se não me falha a memória. Ou seja, eu visitava o PAVILHÃO CINCO! Eram 33 cuscuz, 33 camisetas, 33 tudo! Mas a solidariedade não era privilégio ou atributo meu, de modo algum. Era a força das famílias, dos amigos e de figuras públicas da maior grandeza, como D. Paulo Evaristo Arns, de gente, enfim, que fazia o possível para minimizar o sofrimento dos presos.
Uma curiosidade. De todas as comissões de familiares, amigos, etc, entrei na comissão dos pais, pelas mãos do pai do meu namorado, um cara extraordinário. Nós nos tornamos um grupo unidíssimo, os pais e eu. Um desses pais, o que mais marcou, porque a amizade continuou, foi o Dr Vanucchi, pai do nosso brilhante Vanucchi. Era inteligentíssimo, culto, forte e terno, de uma solidariedade comovente.
Como foram teus dias de vigília – e como vigia ao lado dos estudantes, dos combatentes – na Batalha da Maria Antonia? Haviam outras mulheres nessa luta?
[ Consuelo de Castro ] A batalha da Maria Antonia culminou um processo de isolamento e pressão de meses. Por parte da polícia do Estado e do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Mas havia muitas outras mulheres na batalha, verdade que não tantas quantas seriam hoje. Éramos todas muito ativas, convictas de que tínhamos uma luta a travar e que essa seria não apenas a luta de nossa juventude, mas de nossas convicções, para sempre. Foi ali que escrevi Prova de Fogo. No olho do furacão e no furacão propriamente dito.
Foi ali que te inspirou escrever aquela peça em que um dos personagens é o Zé Dirceu?
[ Consuelo de Castro ] Por incrível que pareça o meu personagem ZÉ FREITAS NÃO É O ZÉ DIRCEU. Venho falando isso há décadas e ninguém acredita! Acho que nem o próprio Zé. O personagem é colado nele, tem muitos traços dele, inclusive um apelido que eu dei a ele (Ronie Von das massas), mas não é ELE. Como nenhum outro é. Todos são colagens.
Você acaba de lançar Três histórias de Amor e Fúria, trilogia de três peças encenadas. E agora, quais os novos projetos? O mais acalentado, o que a gente pode esperar que vem em 1º lugar?
livroconsuelo[ Consuelo de Castro ] Estou escrevendo crônicas, para juntar às já publicadas na Revista Inteligência e pretendo completar um livro. Tenho armada uma comédia, comédia lascada, besteirol total. Fase de buscar o riso, esse santo remédio, essa benção. Em primeiro lugar, pretendo por no palco um texto que conclui em fevereiro de 2013 sobre a Maria da Penha – essa mulher coragem, esteio e alma da lei 11.340, que justamente ganhou o seu nome e é uma das leis mais completas do mundo contra a violência doméstica.
Você que tanto lutou para se chegar até aqui está otimista com o país, com o futuro do Brasil?
[ Consuelo de Castro ] Eu vejo o Brasil dentro de uma construção permanente da democracia. Saímos das trevas da ditadura e entramos num processo lento de democratização, que acelerou e se consolidou nos governos FHC, se fortaleceu e ampliou nos governos Lula, e vem se fortalecendo e ampliando no governo Dilma. Eu acredito na democracia, sonho da minha juventude, luta da minha vida, da vida de todos os brasileiros de boa vontade, da minha geração e das que vieram.
Com um detalhe:
Sou daquelas pessoas que assistiam à TV JUSTIÇA direto. Tinha orgulho do Supremo Tribunal Federal como se fosse uma conquista pessoal, fruto de uma luta pessoal. Quem viveu sob a tirania por tantos anos sabe o que é ter um judiciário democrático! Sei de cor as falas de juízes em algumas sessões históricas, como a que proibiu a briga de galo: posso dizer a fala do Celso de Mello inteirinha, contando o sofrimento do galo em nome de um prazer mórbido dos apostadores. É linda, é brilhante.
Mas fiquei muito decepcionada com a atuação do STF no julgamento da Ação Penal 470. E me causa uma perplexidade enorme e dolorida ver preso, e em condições legais discutíveis, o meu irmão José Dirceu.

Google passa a medir qualidade da internet e dar notas a operadoras

O Google lançou ontem terça-feira, 21, um serviço de medição que usa o YouTube para informar aos internautas sobre qual é a qualidade do pacote de internet que suas operadoras estão entregando.

Com o Google’s Video Quality Report, usuários do YouTube saberão se a rede em uso é capaz de transmitir vídeos em alta definição. Sempre que isso for possível o provedor receberá uma classificação “YouTube HD Verified”.

Existem outras duas notas: “standard definition”, para pacotes que permitem exibição em uma resolução comum (pelo menos 360p), e “lower definition”, para aqueles que oferecem internet lenta e com muitas interrupções.

Por enquanto o medidor só funciona no Canadá, onde as operadoras têm obtido resultados acima do esperado. Em entrevista ao Financial Post, Shiva Rajaraman, que dirige o gerenciamento de produtos do YouTube, declarou que o país pode se tornar o primeiro a receber uma classificação positiva geral.

O serviço será expandido a outros mercados em breve, possivelmente até para o Brasil. Será que por aqui a internet atingirá o “nível Canadá”?

do Olhar Digital

Agora chegou a vez do companheiro Delúbio Soares, contar com a colaboração da militância do PT

Ele que foi condenado a  seis anos e oito meses de reclusão e a pagar uma multa de  R$ 466.888,90 imposta pelo Supremo Tribunal Federal.
Delúbio possui biografia impecável:  professor, sindicalista, fundador do PT e da CUT e lutador das causas sociais,  jamais acumulou patrimônio pessoal.
Desejamos que da mesma forma que nos solidarizamos com o Genoíno, no pagamento de sua multa, também vamos aumentar esta rede de solidariedade e quitar seu débito com a justiça.
Por isso a familia de Delubio abriu nesta terça-feira (21) um site para receber doações de todos que queiram colaborar.  
Na página, Delúbio postou mensagem em que crítica o julgamento da AP470, conhecida como mensalão, atribuindo o resultado a reações  contra  as vitórias do PT ao eleger Lula e Dilma à Presidência.

Contamos com sua colaboração!
Acompanhe o site do MobilizaçãoBR. Curta, siga, compartilhe!
Twitter: @MobilizacaoBR

O único problema real do Brasil neste momento é

...a absoluta irresponsabilidade criminal dos jornalistas que ficam aterrorizando a população com análises econômicas deturpadas, tendenciosas e descaradamente mentirosas. 
Estes "traficantes de drogas econômicas" deveriam ser enjaulados junto com o Marcola em São Paulo ou com o Beira-Mar no Rio de Janeiro. 

Paulo de Olivei... 

Charge do dia

Frase do dia

Há momentos em que tudo mais
Devemos deixar de lado
Para vivermos o instante
Em que só cabem duas pessoas
Você e Eu!

Frase do dia

Há momentos em que tudo mais
Devemos deixar de lado
Para vivermos o instante
Em que só cabem duas pessoas
Você e Eu!

Conselho do dia

Se tem de fazer alguma coisa importante ainda hoje...
Faça!
Depois, acesse a internet.
Pois, se fizer o contrário?...