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Condomínio golpista em ruínas

Quem vencerá a eleição? Ainda não sabemos. Mas podemos afirmar que com certeza os grandes derrotados foram o Psdb e o Mdb

POR RICARDO KOTSCHO - As redes sociais deram o direito à palavra a uma legião de imbecis que antes falavam apenas em um bar” (Umberto Eco, escritor e filólogo italiano, em junho de 2015).
A 15 dias da eleição, só uma coisa já é certa: PSDB e MDB, os grandes partidos da aliança golpista de 2016, cevada pela Lava Jato e pela velha mídia, já estão fora do segundo turno, relegados ao bloco dos nanicos.
E o PT de Lula, o principal alvo da operação para derrubar Dilma, sobreviveu com Fernando Haddad, na bica para ir ao segundo turno contra Jair Bolsonaro.
A legião de imbecis que ocupou todos os espaços nos últimos anos, ao fazer das redes sociais nativas o campo de combate do antipetismo, não se deu conta de que gerou em seu ventre esta excrecência da extrema-direita ululante das viúvas da ditadura.

Ficaram pendurados na brocha e só lhes restou aderir ao capitão e ao general ensandecidos para impedir a quinta vitória consecutiva do PT nas eleições presidenciais.
Este é o resumo da ópera bufa lavajatense, que vai chegando ao seu clímax, depois de Lula comandar da sua cela solitária em Curitiba a derrocada de quem o condenou e prendeu.
O PT não morreu e agora assiste de camarote à agonia dos seus algozes.
Uma cena singela na madrugada de sexta-feira, retratada pela repórter Anna Virginia Balloussier, na Folha deste sábado, é emblemática desta reta final de campanha.
É a foto do tucano Geraldo Alckmin tomando café sozinho, acompanhado apenas de dona Lu, numa lanchonete deserta de beira de estrada, após o debate dos presidenciáveis na TV Aparecida.
Cercado de mesas e cadeiras vazias, sem nenhum militante, assessor, segurança ou mísero puxa-saco a seu lado, Alckmin era o símbolo de uma era que acabou.
A carta-desespero que FHC enviou aos eleitores na véspera, para tentar ressuscitar a candidatura tucana, pode agora ser colocada na lápide do partido que nos últimos 16 anos se dedicou apenas a destruir o adversário.
Para completar o clima de fim de feira da direita golpista, na mesma noite o patético bilionário Henrique Meirelles, candidato só dele mesmo e do que restou do MDB, jogou no ar seu último trunfo: prometeu liberar a maconha.
Ainda que não vá para o segundo turno, pois permanece aberta a disputa com Ciro Gomes pela segunda vaga, o PT sai desta campanha maior do que entrou, adiando mais uma vez o fim anunciado tantas vezes pela legião de imbecis preconizada por Umberto Eco.
Lula sozinho deu um xeque-mate na elite brasileira, no carcomido establishment, que entronizou Michel Temer no Palácio do Planalto, e agora junta os cacos de um país dilacerado, quebrado, de volta ao passado de fome, miséria e desemprego.
Por onde passa em suas viagens pelo Brasil, seu herdeiro Fernando Haddad é recebido com as mesmas festas que fariam para Lula, se ele pudesse ser candidato, em contraste com seus adversários.
Como ele mesmo anunciou na véspera de ser preso, a ideia sobreviveu ao homem Lula, condenado sem provas, realimentando a esperança de milhões de brasileiros destituídos de seus direitos básicos de cidadania.
Ainda não dá para saber quem vai ganhar, mas já se sabe quem perdeu esta eleição.
Entre a volta à ditadura militar de triste memória e o futuro das novas gerações, o país joga o seu destino nas urnas no próximo dia 7 de outubro.
Falta pouco agora.
Vida que segue.

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Temer é Alckmin e vice-versa


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Fato e Foto do dia

Michel Temer confessa que Geraldo Alckmin (Psdb) é candidato do governo, assim como Henrique Meirelles (Mdb) também é.

Está contente com o governo de Michel Temer? Se a reposta for positiva, então escolha um dos seus candidatos: Alckmin ou Meirelles, qual você prefere?

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Bumerangue do Michê



Com a operação Skala, deflagrada hoje quinta-feira 29/03 pela Polícia Federal, todos os principais operadores de Michel Temer estão presos. A lista inclui Henrique Eduardo Alves, o primeiro a trair a presidente Dilma Rousseff, Eduardo Cunha, que aceitou a farsa do golpe sem crime de responsabilidade, Geddel Vieira Lima, do bunker de R$ 51 milhões, José Yunes, parceiro de Temer em negócios imobiliários, o coronel Lima, tesoureiro informal da família, e Wagner Rossi, operador político do MDB. Depois desse verdadeiro strike, fica a pergunta: o que acontecerá com o chefe?
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Bumerangue: Arma de arremesso tradicional da Austrália e outros países da Oceania. Seu formato mais conhecido lembra um V. Tem como característica principal a de retornar ao ponto de partida.  
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por Alon Feuerwerker

Um caderninho precioso

Resgatei uma preciosidade da estante, a apostila “MDB em ação nos comícios de rádio e televisão”. Foi a cartilha distribuída aos candidatos do então Movimento Democrático Brasileiro na preparação da campanha eleitoral de 1974.

Já faz algum tempo, então é bom explicar. O Brasil vivia uma ditadura meio jabuticaba, com Parlamento aberto e eleições periódicas, mas com a esquerda proscrita. As regras eleitorais e partidárias eram rígidas e na prática só permitiam dois partidos.

O do governo era a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que havia vencido com folga a eleição de 1970. Fora beneficiada pelo milagre econômico, pela repressão e também por um detalhe: parte da esquerda votava nulo, ou branco, no auge das ilusões armadas.

A apostila tem a lista dos então dirigentes do MDB. Se cada um tem o direito de escolher seus herois, eu escolho aqueles homens e mulheres que, no meio da loucura geral, resolveram que o melhor mesmo para a volta da democracia era mobilizar pacificamente, aproximar-se da sociedade, construir diretórios partidários e disputar eleições.

Minha modesta homenagem a eles.

Olhei a lista e vi ali pelo menos dois que ainda estão na ativa.

Os deputados Henrique Alves (RN) e Waldomiro Teixeira (RJ), que depois virou “Miro” e hoje é do PDT. O atual líder do PMDB continua na Câmara dos Deputados ininterruptamente desde lá. O pedetista ficou quatro anos fora, foi candidato a governador do Rio pelo PMDB em 1982, perdeu para Leonel Brizola (PDT) e depois voltou ao Congresso para ficar.

Mas por que estou aqui escrevendo sobre uma apostila eleitoral de quase quatro décadas? Porque talvez nunca desde então uma oposição tenha aberto a legislatura tão enfraquecida.

Você lê a apostila e percebe o imenso esforço intelectual e organizativo que aqueles abnegados estavam dispostos a fazer para entrar em contato com os desejos mais profundos da sociedade, mesmo diante do apoio maciço que o regime recebia de um país que crescia e, para o senso comum, avançava.

A história subsequente é sabida. Vieram os problemas, como o primeiro choque do petróleo e a inflação. Mas mesmo assim o governo do presidente Ernesto Geisel confiava que venceria a eleição de 1974. Perdeu, e tão feio que deixou escapar o número necessário para promover legalmente reformas constitucionais.

Ali morreu o sonho situacionista de institucionalizar uma democracia manietada.

O governo acabou tendo que usar o AI-5 (Ato Institucional número 5) para fechar o Congresso Nacional em 1977, para mudar as regras e garantir mais sobrevida ao regime. Garantiu alguma prorrogação, mas só adiou o desfecho.

Platitudes

Quem ganha mais quando um governo é alvo de denúncias? Ele mesmo ou a oposição?

A resposta óbvia seria “o país”.

Como toda generalização, seria também inútil. Platitude. É preciso sempre analisar tais episódios à luz da luta política, da disputa pelo poder, vetor que em última instância comanda as ações dos personagens.

Mas será que não há, em todo caso, um “interesse geral” embutido em qualquer braço de ferro da política?

Há outra pergunta razoável: 
Como combater um governo popular, termo aqui usado como sinônimo de “detentor de grande popularidade”? Ou deve-se abdicar de combatê-lo por causa das remotas possibilidades imediatas de sucesso?

Bom exemplo pode ser buscado em tempos não tão distantes, nas circunstâncias enfrentadas pela oposição ao regime militar na passagem dos anos 60 para os 70 do século passado.

Foi um período maravilhosamente próspero, o do “milagre brasileiro”. Infelizmente, a produção de prosperidade convivia com a supressão das liberdades, com a tortura dos presos políticos e outras coisas tristes e condenáveis.

Fez bem a oposição na época MDB - Movimento Democrático Brasileiro - quando decidiu não esmorecer. Mesmo passando por vexames homéricos, como a surra que tomou na eleição de 1970.

Daria o troco quatro anos depois, na lavada que impediu a institucionalização do regime e abriu o caminho para a democracia.

Antes que os lunáticos de plantão comecem a espumar, esclareço não haver aqui qualquer paralelismo estrito entre aquela época e hoje. São situações diferentes. Uso aqueles episódios históricos como referência para os acontecimentos atuais.

Existir uma oposição, orgânica e difusa, é sempre bom para a democracia. Mais: 
É essencial. E é bom para o próprio governo. Governos são conglomerados de interesses e ambições, cujo controle é impossível fazer só “de dentro”. Pois o normal é os “de dentro” serem solidários entre si quando a pressão “de fora” ameaça o condomínio.

E importa menos aqui saber se a oposição e a fiscalização externas em cada caso são “justas” ou “injustas”. O importante é que existam. Funcionam como um sistema imunológico sadio a eliminar regularmente células estranhas, que de outro modo poderiam se transformar em focos de doenças capazes de levar o organismo à debilidade extrema e mesmo à morte.

A administração de Luiz Inácio Lula da Silva vai muito bem. A economia cresce, a confiança dos consumidores e das empresas anda em alta, alguns nós estruturais da injustiça social vão sendo enfrentados. O resultado é a força política do presidente, do partido dele e da candidata que apresentaram à sucessão.

Mas o governo tem também uma deficiência séria. Seu sistema imunológico deprime-se progressivamente . Um sintoma são as reações tíbias aos desarranjos. Estes sucedem-se, sem que se note incômodo ou constrangimento. Ou ação real. Nada parece tão grave que não possa ser tratado com um muxoxo.

É da natureza do poder. Quando se vê muito forte, dá-se ao luxo de (não) reagir assim. E sempre haverá nos palácios quem sopre nos ouvidos do príncipe que o exercício bruto da força é a solução para todos os problemas.

Por um tempo, pode até ser. Pode ser até por um bom tempo. Mas nunca é para sempre.

Esta coluna não terminará pessimista. Eis uma vantagem da democracia. Em janeiro haverá um novo governo. Hoje o cenário mais visível na neblina é a continuidade. Se houver a virada, e a oposição ganhar, a ruptura será natural.

Mas mesmo na hipótese de Dilma Rousseff chegar à Presidência a força política intrínseca das urnas talvez dê a ela o impulso necessário para reconstruir o sistema imunológico governamental, debilitado nos anos recentes.

Você pode achar que é só torcida. Mas quem disse que o analista político não tem o direito de torcer de vez em quando?

A alternativa é ruim. É o eventual futuro governo já nascer velho, já manietado pelas coisas que não podem mais ser corrigidas facilmente, pelos tumores inoperáveis, com suas metástases.

Desculpem a platitude, mas o Brasil não merece isso.

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