Realizou-se na noite passada, na TV Record, o penúltimo debate presidencial antes do primeiro turno da eleição. Os contendores voltaram aos holofotes num instante em que a platéia se pergunta: Haverá segundo turno?
A julgar pelas últimas pesquisas, a resposta é “não”. Mas José Serra e, sobretudo, Marina Silva tentam modificar a cena. Marina chega à reta final com o discurso mais aprumado que o de Serra, eis o que ficou evidenciado no debate.
Serra é, hoje, um candidato na defensiva. Gasta mais tempo se explicando do que vendendo seu peixe. Curiosamente, dirigiu a maioria das perguntas que lhe coube formular não a Dilma, como seria lógico, mas ao lanterninha Plínio de Arruda Sampaio.
Só questionou Dilma quando as regras do debate o impediram de se desviar da rival. Dilma fez o mesmo. Inquiriu ora Marina ora Plínio. Em confrontos anteriores, Serra esfregara no nariz de Dilma o ‘Fiscogate’ e o ‘Erenicegate’. Na Record, absteve-se de repetir a tática. O caso da violação fiscal nem foi mencionado. O escândalo da Casa Civil foi cobrado, mas não por Serra.
Deu-se o seguinte: Serra e Dilma fizeram de Marina e Plínio escadas para explorar os temas que mais lhes convinham. Lançavam as perguntas e, ao replicar, desfiavam um lero-lero ensaiado. Não funcionou. Convertida em escada, Marina escalou sobre ambos.
Antes, Marina era ignorada. Serra e Dilma chegavam mesmo a poupá-la. Agora, até Plínio alveja Marina. Pingou dos lábios de Dilma o ataque mais incisivo. Em verdade, um contraataque. Evocando o mensalão, Marina recordou que o caso Erenice é uma reincidência. Fustigou: Que providências tomou para evitar?
Levada ao corner, Dilma subiu o tom: “As mesmas providências que você tomou”. Lembrou que, como ela, Marina é ex-ministra. E disse que, sob a ex-titular do Meio Ambiente, servidores de chefia foram pilhados vendendo madeira.
Mais incisivo, Plínio disse a Dilma que a nomeação de Erenice o conduzia a duas conclusões: ou a petista foi “conivente” ou mostrou-se “incompetente”. E ela: “Nem uma coisa nem outra". Disse que encrenca está sendo investigada, como convém.
Numa tentativa de espantar a tese de que a gestão Lula virou ninho de corrupção, Dilma disse que, valorizada, a PF trabalha a mais não poder. A Controladoria adotou um grau de transparência que não se vê em São Paulo. Sumiu a figura do “engavetador-geral”, como ficou conhecido Geraldo Brindeiro, o procurador-geral da República da era FHC.
Plínio não se deu por achado. Se a PF trabalha tanto é porque a corrupção viceja, disse. Noutro trecho do debate, Marina questionou o “promessômetro” de Serra. Aparentemente munida de dados, disse que, como governador de São Paulo, Serra gastara mais em publicidade do que em programas sociais.
Nas cordas, Serra disse que o “social” não se limita ao assistencial. Inclui saúde e educação. Religou o “promessômetro”: salário mínimo de R$ 600, mais Bolsa Família e aumento das aposentadorias. “As propostas não estão encontrando respaldo na realidade”, Marina replicou.
Serra costuma se jactar de sua passagem pela pasta da Saúde. Marina cuidou de iluminar a (in)ação de Serra noutro ministério. Disse que, no Meio Ambiente, defrontara-se com o flagelo da terceirização de mão-de-obra. Como ministro do Planejamento de FHC, como permitiu que o fenômeno se disseminasse?
Ao responder, Serra disse que nada tem a ver com a terceirização. Sua escala no Planejamento foi breve, alegou. Depois, numa das ocasiões em que as regras o compeliram a questionar Dilma, Serra mirou no “aparelhamento” das agências reguladoras e na acomodação de companheiros em 21 mil cargos de confiança.
Dilma respondeu que a gestão FHC criara as agências, mas não as dotara de estrutura. E pegou carona na pergunta de Marina. Ao chegar no Ministério de Minas e Energia, encontrei um engenheiro e mais de 20 motoristas, declarou.
Mais: no governo de São Paulo, Serra contratara professores que haviam sido reprovados em concurso. O tucano aconselhou a rival a checar os dados. A petista respondeu que se servia de informações públicas. E a coisa ficou por isso mesmo.
Num bloco em que coube a jornalistas formular perguntas, Serra foi empurrado, de novo, para a defensiva. Questionaram-no sobre: 1) O fato de ter levado Lula à TV e escondido FHC. 2) A reiteração da tática do medo, que usara contra Lula em 2002, servindo-se de depoimento dramático de Regina Duarte.
Serra disse que exibiu Lula por 30 segundos, em situação específica. Quanto a FHC, alegou que, ao propalar sua passagem pela Esplanada não está senão prestigiando o amigo, que sempre lhe deu apoio. Convidada a comentar a resposta, Dilma foi à jugular:
"Considero muito estranho que o Serra use a imagem do Lula à noite e de dia faça críticas ao governo”. Ao replicar, Serra disse que sua candidatura não tem patrocinador. E chamou Dilma de “ingrata”.
Recordou que o “medo” evocado na peça de 2002 só não se materializou porque o governo Lula manteve os avanços de FHC. Avanços que renegara -o Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo- foram depois reconhecidos por Antonio Palocci, lembrou.
Ao final, José ‘28%’ Serra e Marina ‘13%’ Silva convidaram o eleitor a levá-los a um segundo round contra Dilma ‘49%’ Rousseff. As pesquisas da semana trarão a resposta. Para azar de Marina, a briga inclui um terceiro adversário: o relógio.
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