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Mamãe, por Neto Braga


Mamãe
“Há sentenças lavradas no céu para serem executadas na terra, e que os homens teimam em não querer ler”. 

Manhã de quinta-feira, 10 de maio, estou em frente ao portão de entrada da necrópole, onde foi erigido o jazigo da família Correia Braga, nesta terra que me serviu de berço, minha tão amada Iguatu. A corrente ainda entrelaça o portão, fechado a cadeado, esperando o senhor daqueles domínios, o amigo Zé Coveiro. Faço algumas orações, rezo por todas as almas que tiveram seus corpos enterrados naquele campo santo. Ao crepúsculo do dia anterior, eu havia me retirado dali, deixando a minha mãezinha, a senhora Terezinha Ferreira Braga no mesmo local, onde a trinta e dois anos, havia deixado o meu pai José Correia Braga Filho. As seis horas o Zé coveiro abre o portão, sigo angustiado aquele conhecido caminho, ao chegar diante da cova, tento pronunciar um nome que me saia tão fácil da boca nos meus 52 anos, nome tão amado, amantíssimo nome de mamãe, mas o que consigo proferir é um estrondoso urro de jaguar ferido pelas inflexíveis flechas do destino, urro que vem do mais profundo das minhas entranhas, acompanhado de lagrimas que prorrompem nos meus olhos, grossas, abundantes, como o Jaguaribe em suas grandes cheias. Logo, e mansamente me acalmo e começo a conversar com ela, como fazia sempre, nisto sou bem muçulmano, digo-lhe que já havia feito o café, as quatro e meia, tomado com umas bolachas mais o velho Paulo David, e que depois tinha vindo para lhe pedir a benção, e para lhe fazer companhia. Depois, o silencio, a contemplação, na tentativa de algum tipo de comunicação. Um Imbua passa por cima daquele monte de terra, como um trem, seguindo trilhos invisíveis, cujo rumo só ele conhecia, um besouro verde, chuviscado de amarelo, de uma polegada, sobrevoa aquela terra, descendo em alguns pontos, onde se põe a cavar como um peba. Vida, vida, vida em abundancia, mamãe tinha voltado aos braços da mãe terra, fechando um ciclo, somos pó e ao pó voltaremos. Levantei, adentrei o sepulcro, acendi duas velas, ofertei-lhe uma flor, rezei mais algumas orações e saí, prometendo-lhe voltar, como tinha sido o seu pedido a mim, quando a vi pela ultima vez, com saúde, em Acopiara: 
- Neto, tu vem me ver mais vezes. 
22 de janeiro, dia que morreu meu pai, 22 de Fevereiro, dia que nasceu minha mãe, o principio e o fim, o alfa e o ômega, a vida e a morte, duas faces de uma mesma moeda. 22 foram os dias que minha mãe esteve em um leito de UTI, no hospital Gênesis, em Fortaleza, lutando pela vida, durante este período, estive com ela alguns dias, minha irmã Marizinha precisava resolver algumas pendencias no Iguatu. Numa destas visitas, ao chegar, observei que ela estava de olhos abertos, atenta a tudo, disse-lhe então: A Roberta mandou uma carta para a senhora, o pastor Zezinho manda-lhe dizer que a igreja estar em oração pela sua saúde, que quando estiver no Iguatu, irão fazer um culto de ação de graças, pelo seu restabelecimento. Eu vou ter que ir ao Iguatu, a Teresinha minha filha estar em dias de pari, mas eu venho passar o dia das mães com a senhora. A senhora já vai estar de alta da UTI, num apartamento. A senhora estar me entendendo? Balançou a cabeça afirmativamente.
...
Ao sair:
- Mamãe, mil beijos!
Ela, me retribuindo o gesto, ficou a comprimir os lábios em forma de beijos.
- Mamãe, a benção.
Ela esforçou-se para me dizer alguma coisa.
- Doutor, mamãe estar querendo falar.
- Ela estar lhe abençoando, mas não saio som, por causa da traqueostomia.
Aqui, acompanhei minha filha no exame de ultrassonografia, segundo o medico, a data prevista para o nascimento do meu neto, seria o dia 27 de maio. Decidi então, me preparar para voltar a Fortaleza, providenciei um banner para o dia das mães em sua homenagem, a Maria Lopes, do IFCE, iria publicar durante aquela semana, no jornal Tribuna do Iguatu, uma homenagem as 10 mães estrelas, dentre elas, minha mãe.
As 2:45 da madrugada, do dia 07 de maio, o telefone toca. Acordei sobressaltado, pensando que algo de grave poderia ter ocorrido com mamãe em Fortaleza. De minha filha, estava despreocupado, pois segundo as previsões clinicas, o parto só ocorreria, dali para mais de 20 dias. Era ela:
- Papai! A bolsa estourou, estou indo com mamãe e minha sogra para o hospital, o Alex vai passar ai na moto.
As 3:00 h. da madrugada, estava na casa de parto, acoplada ao hospital regional do Iguatu, as 8:30h. da manhã, minha filha, com 15 primaveras, havia dado a luz, um filho sadio, de parto normal. As 4:00h. da tarde do dia seguinte, 08 de maio, recebeu alta, juntamente com seu bebe, indo para casa para casa de sua sogra onde reside. As 19:40 da noite, depois de , em espirito, haver acompanhado e abençoado todo aquele tramite, num ultimo gesto de amor, mamãe partiu deste mundo físico, se entregando nos braços do celestial pai.
Na quarta-feira pela manhã, recebendo os pêsames de alguns mais próximos a família, ouvi de minha tia Almira Correia Braga, este relato:
- Neto, você passou ontem a noite lá na minha calçada, dizendo que ia viajar para acompanhar sua mãe na UTI, pois sua filha já estava de alta. Eu não quis lhe dizer, mas a minha neta Almirinha, tinha me dito: - Vovó eu sonhei com a tia Terezinha, conversando com vovô Edio, aqui na nossa calçada, estavam tão alegres, sorrindo. Eu sei meu filho, que quando uma pessoa que estar muito doente é vista em sonho com alguém que já morreu, dizem que é um aviso, que ela já se vai.
Ainda Na terça-feira, pela manhã, depois de palestra na escola Adauto Bezerra, na divulgação do troféu Anteu, segui para secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo, para prestar contas do trabalho e para avisar de minha viajem naquela noite a Fortaleza, depois passei na rodoviária e segui pela rua João Coelho, iria passar numa Lan rouse, localizada na rua Casimiro Pereira, para avisar de minha viajem a minha irmã. Quando passo em frente ao Centro Espirita, o Sr. Dede David, vem saindo pra calçada:
- Neto Braga.
- Bom dia Dede.
- Rapaz, que coincidência, você passar por aqui agora.
- Coincidência por quê?
- Eu passei a noite sonhando com teu pai, ele estava novo, o bigode preto, pintado. Ele disse:
- Dede, você demora vim por aqui.
- É Zé demoro.
Era um monte de gente, ele estava de brim branco, aquele chapéu de massa na cabeça. Ai pediu:
- Dede, cuida de minha menina.
- Minha menina!? Será que é meu neto que nasceu ontem?
- Ele disse minha menina.
- Há Dede, então, é mamãe que estar a mais de 20 dias numa UTI, em Fortaleza. Coloca o nome dela em tuas orações.
Eu já havia pedido isto a muita gente, entre eles o bispo Edson de Castro, o pastor Zezinho, e agora o Dede Davi.
Depois de tantas bênçãos, tantos recados, tantas provas de que a vida vence a morte. Só posso agradecer ao senhor onipotente Deus, pelos 52 anos que este ultimo dos filhos do meu pai teve a graça maior de ter na terra como mãe esta santa que o mundo conheceu pelo nome de Terezinha Ferreira Braga, o ultimo elo da família Ferreira Lima constituída pelo casal Cícero Ferreira Lima e Maria Dotiva de Jesus. 
Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.

Do seu filho, Neto Braga.