O anti-Palocci
Mérito de Itamar Franco e Lula
Itamar Franco teve seu mérito, ao conseguir a estabilidade econômica. Mas Lula, que foi apresentado como um fantasma ameaçador, acabou zelando pela estabilidade mais ainda do que o governo de FHC.
Sabemos que os responsáveis pela consolidação da estabilidade e, portanto, por essa fase de prosperidade do País foram o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, José Dirceu e o atual deputado e médico sanitarista Antonio Palocci, que teve a inteligência de se cercar das pessoas certas, quando foi ministro da Fazenda, durante os quatro anos do primeiro mandato de Lula.
Palocci - Denuncia arquivada
Por 5 a 2, os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votaram no julgamento de hoje pela rejeição da denúncia contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) no caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Como dois ministros estão em licença, só nove devem votar na sessão de hoje. Com os cinco votos pelo arquivamento, a maioria rejeitou a denúncia contra Palocci. O julgamento continua.
A maioria dos ministros livrou o ex-assessor de imprensa de Palocci Marcelo Netto de responder a processo, mas aceitou a abertura de investigação contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso.
Palocci era acusado de ter participado da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. A decisão libera Palocci para definir seu futuro político para as eleições 2010.
A decisão favorável ao ex-ministro partiu do relator do caso e presidente do STF, ministro Gilmar Mendes --relator do caso. No entendimento de Mendes, não houve participação direta de Palocci para o acesso aos dados sigilosos.
"A análise dos autos permite concluir que não há elementos que indiquem uma ordem dele para consulta ou emissão dos dados da conta do Francenildo. Ser beneficiado de uma fraude não é suficiente para que alguém seja denunciado", afirmou.
21 denúncias arquivadas. Quanta Incompetência de quem acusa.
STF - MPF x Palocci - recortes de jornais
Palocci já foi absolvido em 20 dos 21 processos
Engolidores de sapo
Por Carlos Chagas
Lealdade costuma ser produto em falta nas prateleiras da política, mas, de vez em quando, registram-se exceções. Quais as duas maiores estacas de sustentação da candidatura Dilma Rousseff, fora, é claro, o pilar chamado Lula?
Não haverá quem deixe de referir José Dirceu e Antônio Palocci. Este, já escolhido para chefiar a campanha formal, quando ela começar, mas já atuando na informalidade, encarregado de convencer a nata do empresariado de que, se eleita, a candidata manterá as linhas-base da atual política econômica neoliberal. Aquele, costurando a intrincada e às vezes furada rede de sustentação do PT, viajando pelos estados como bombeiro a apagar incêndios verificados com a indignação de companheiros frustrados em pretensões eleitorais.
O singular nesse caso é que Dirceu e Palocci devem olhar com certa ironia a presença de Dilma na pole-position governista quando, tempos atrás, a corrida parecia indicar um deles para o pódio. Tanto o ex-ministro da Fazenda quanto o antigo chefe da Casa Civil despontavam como herdeiros do trono. Decidiriam mais tarde quem receberia a indicação de candidato e até se entendiam para adiar a disputa. Mas era um ou outro, sem dúvida alguma.
Como a realidade parece sempre mais surpreendente do que a ficção, foram ambos atingidos por corpos estranhos às suas carreiras. Um envolvido, justa ou injustamente, nas tramas do mensalão. Outro, desestabilizado por um humilde caseiro que teve devassada sua conta bancária.
Pois não é que o presidente Lula, depois de submetê-los a tortuosa e cruel quarentena, apela para os dois na hora de tentar a eleição de Dilma Rousseff? Antes atropelados, Palocci e Dirceu ressurgem como esperança de salvação para a escuderia. A vida, realmente, dá voltas que ninguém imagina. E a lealdade, de quando em quando, dá o ar de sua graça.
Os insaciáveis
Enquanto se espalha aos quatro ventos a versão (verdadeira ou não, não sei) de que José Serra está amarelando na disputa à Presidência, o PMDB avança na sua aproximação da candidatura Dilma Rousseff. E sobre os cargos do governo.
Primeiro, Lula subjugou o PT no Senado para salvar José Sarney na presidência. Agora, vai arregaçar as mangas para fazer o mesmo nos Estados, para que os candidatos petistas engulam suas pretensões e abram as vagas majoritárias para os pemedebistas. Que, como nós bem sabemos, são insaciáveis.
O lance da vez é do presidente da Câmara e presidente do PMDB nacional, Michel Temer, que defende a nomeação do super-aliado Henrique Eduardo Alves, líder do partido na Câmara, para a Articulação Política de Lula. O atual ministro, José Múcio (PTB), vai ser despachado para uma vaga no TCU (Tribunal de Contas da União). E Temer quer empurrar Henrique Eduardo para a vaga.
São vários os motivos de Temer:
1) ter um homem em tempo integral dentro do Planalto para trabalhar sua própria (a de Temer) candidatura a vice na chapa de Dilma à Presidência. Ela quer que ele seja o candidato a vice, para furar a aliança Quércia-Serra ou PMDB-PSDB em São Paulo. E ele está mesmo louco para ser;
2) ter alguém forte do PMDB para garantir mais e mais espaços, digamos, "verticais", do partido na administração federal em ano eleitoral;
3) mapear, em gabinete próximo ao de Lula, os votos dos Estados na convenção do PMDB que vai decidir o rumo do partido na sucessão presidencial. Neste momento, é mínima a possibilidade de o partido apoiar Serra ou um outro tucano; viável a do "liberou geral", em que cada Estado pode fazer o que quiser; e forte a tendência pró-Dilma. Para ser exata: pró-Lula.
4) ajudar o presidente no seu empenho pessoal, direto, de tirar o PT e botar o PMDB na cabeça de chapa das disputas para os governos estaduais.
Falta, evidentemente, acertar com os adversários. Um deles é o próprio Henrique Eduardo Alves, que resiste à ideia e tem demonstrado a intenção de concorrer à reeleição como deputado e, depois de uns 40 anos na Casa, virar seu presidente em 2011.
Os outros são o PT, que, depois de tão machucado no Senado, não vai engolir calado (ou será que vai?) Lula dar o sétimo ministério ao PMDB -- que já tem Agricultura, Integração, Defesa, Saúde, Minas e Energia e Comunicações. E logo a Articulação, um ministério essencialmente político e eleitoral.
Pelo PT, os dois candidatos mais fortes parecem ser o deputado Antonio Palocci, se conseguir se safar de todos aqueles rolos com a Justiça que o defenestraram da Fazenda, ou o personagem em ascensão na bancada parlamentar petista: o líder na Câmara, Cândido Vacarezza (SP).
Faça suas apostas. Depois que Lula humilhou o PT no Senado para ficar bem com o PMDB, tudo é possível. Inclusive a nomeação de um peemedebista para a Articulação e até mesmo o desempate pró-PMDB em Estados chaves, como Minas e Pará, onde PT e PMDB estão se matando. É Lula quem quer decretar qual dos dois morre e qual dos dois vive. Tudo, claro, pela candidatura Dilma, que nada mais é do que a manutenção do próprio Lula no poder.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília. E-mail: elianec@uol.com.br |