Fiquei pensando como se deu a mutação do Lobão cheirador, sarcástico, comedor de criancinha para o Lobão adulador da ditadura, escada do Rodrigo Constantino.
Mas estou aqui pra contar a minha experiência como colaborador do Lobão.
Ele resolveu fazer uma revista de música e comportamento, a Outra Coisa, que era em parte sustentada, veja só, com anúncios da Petrobras e da Caixa Econômica Federal. Tudo isso em pleno Governo Lula. Não estou inventando. É só pegar as edições antigas e folhear.
A profissão de jornalista é uma merda, mas a gente se diverte. E não tinha nada mais hilário do que as reuniões de pauta da revista “Outra Coisa”.
A gente sempre se reunia, eu, o Lobão e a mulher dele, num restaurante alemão do Leblon. Eu não sei se o Lobão já tinha parado de cheirar, ou se a troca de cocaína por rapé fez mal ao cara – experimente dar um pouco de Yakult para o Keith Richards para ver o que acontece –, mas ele foi o editor mais maluco e sem noção que eu já conheci.
O Lobão queria de qualquer jeito que eu entrevistasse o Osama Bin Laden. Juro. Eu tentava argumentar, dizendo que se a CIA não tinha pistas do cara, eu, um repórter preguiçoso, teria certa dificuldade. Ele insistia. E a mulher dele dava corda. Papo de maluco total.
Eu trabalhava, nessa época, na redação do jornal Valor. Toda tarde, o Lobão ligava:
– Tom, conseguiu achar o Osama?
Eu achava que era melhor não contrariar:
– Lobão, tô mexendo os pauzinhos, falando com as minhas fontes. Calma, a gente chega lá.
O Lobão nunca me pagou. Recebia a grana, mas não pagava os colaboradores.
A última vez que falei com o Lobão foi por telefone. Ele tinha feito a pergunta de sempre e eu, de saco cheio por não receber, com monte de conta pra pagar, respondi:
– Lobão, achei o homem.
– Você está brincando. Sério?
– Sim. Você me manda para o Afeganistão?
– Humm. Não consegue fazer por e-mail?
Pensei em dizer que nas montanhas de Tora Bora não tinha wi-fi, mas achei melhor acabar com aquela maluquice:
– Lobão, vai dar meia hora de cu, vai.
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