Ao deixar claro que Luiz Antônio Pagot não volta ao Dnit a presidente Dilma Rousseff mostrou que quem manda é ela. Nem poderia ser diferente, sob pena de desmoralização de seu governo. O recado foi claro, apesar das tentativas do PR e do próprio Pagot de se aproveitarem da mudança no ministro dos Transportes para deixar tudo como estava. Não está nem estará. Se o já agora ex-diretor-geral do Dnit recolheu os flaps e desistiu de jogar barro no ventilador sobre o PT e o governo, foi por ter calculado mal os efeitos da intervenção do palácio do Planalto no carcomido sistema de transportes instalado no país desde o começo do governo Lula. Imaginou que depois das férias voltaria ao cargo.
Acontece que o novo ministro, Paulo Passos, tem carta branca para passar o rodo na sujeira anterior e, se necessário, substituir mais gente além dos quatro altos funcionários já arcabuzados pela presidente, inclusive Pagot. A cúpula e as bancadas do PR podem continuar fingindo que mantém o controle do ministério, mas em momento algum ousarão passar da portaria do prédio, onde certamente seus nomes, fotografias e perfís constam da lista de indesejáveis, em poder do guarda lá postado.
COMEÇOU A LIMPEZA
A impressão que se tem é de que começou a limpeza na banda podre da administração federal, aquela que foi entregue a ministros sem a menor ligação com Dilma, impostos a ela por contingências partidárias e pessoais. A saída de Antônio Palocci, por evento inesperado, não programado e infeliz, referente ao seu enriquecimento subito, propiciou à presidente dar início ao processo de depuração em seu governo. Porque logo depois foi a vez de Alfredo Nascimento.
É claro que não será divulgada nenhuma lista dos candidatos ao cadafalso. Essas coisas obedecem a uma estratégia meticulosa que o acaso muitas vezes comanda. Explica-se, assim, porque Dilma, dias atrás, elogiou nominalmente os ministros que a imprensa vem considerando descartáveis. Gesto que não afasta o fato de terem sido empurrados goela abaixo dela pelo PMDB, o PT e penduricalhos, ou deixados pelo ex-presidente Lula como herança indesejada. Especialmente agora que o Congresso está de recesso, mais uma peça poderá ser expulsa do tabuleiro, depois de Palocci e Nascimento.
“SOFRE, PERÚ DESAVERGONHADO!”
Flores da Cunha era interventor no Rio Grande do Sul e mandava no estado como um rei. Em volta dele pupulavam amigos, parentes, empresários, políticos e toda uma fauna de sabujos interessados em suas boas graças e nas graças do poder. Seguiam-no por onde ia, até mesmo às noites, quando participava de tradicional roda de poquer, nos salões do Grande Hotel. Às suas costas, ao redor da mesa, postavam-se com permanentes exclamações de júbilo e admiração toda vez que o general ganhava a mão ou praticava um blefe.
Certa feita Flores da Cunha recebeu quatro azes, na distribuição das cartas. Os sabujos viram, por trás, e entraram em delírio, não se contendo ao imaginar a vitória. Chateado com tanta subserviência, na hora de pedir cartas, em vez de uma só, como indicava a lógica, o interventor pediu três. Diante da surpresa geral, virou-se para trás e exclamou: “sofre, perú desavergonhado!” É verdade que o adjetivo foi outro, impublicável e referente à genitora do mais perplexo de seus acólitos…
A historinha se conta a propósito das surpresas capazes de sobrevir nesse fascinante jogo de poquer político em que se empenha a presidente Dilma. O PT que se cuide. E só para completar a rodada no Grande Hotel: o velho Flores desprezou um four de ases, guardou dois e recebeu três reis. Ganhou a mesa, assim mesmo, com full-hand.
PAGOT NÃO TOCA PIANO
A propósito das tentativas do Partido da República de emplacar Luiz Antônio Pagot em algum posto de importância no governo, mesmo não sendo mais a direção-geral do Dnit, vai outro episódio envolvendo o general Flores da Cunha. Feito interventor no Rio Grande do Sul, todo-poderoso representante da Revolução de Trinta, ele vivia atormentado pelas irmãs para nomear para algum cargo o Pedruca, um sobrinho indolente, preguiçoso, que jamais trabalhara, mesmo já entrado nos trinta anos. Flores regateava, empurrava os pedidos com a barriga, não sabia onde aproveitar e nem queria favorecer o malandrão.
O diabo é que não aguentou a pressão das irmãs e um belo dia chamou seu chefe de gabinete, mandando que lavrasse ato nomeando o Pedruca pianista do palácio Piratini. O auxiliar espantou-se e disse: “General, o palácio não tem piano”. Resposta: “Não tem importância. O Pedruca também não sabe tocar…”