Em pleno século 21 o brazil ressuscitou o debate sobre a permissibilidade ou não do trabalho infantil. É incrível! Não é um debate sobre políticas de erradicação do trabalho infantil. Não: é um debate sobre se faz bem ou faz mal trabalhar na infância!
Francamente, é preciso ser uma anomalia cognitiva para tratar deste tema em termos tão equivocados. Vender brigadeiro na escola para pagar aulas de tênis, como uma deputada do psl disse que fazia aos 12 anos, não é trabalho infantil. Ir à empresa do papai - seja um armazém, uma padaria, uma papelaria ou um canal de televisão - BRINCAR DE TRABALHAR não é trabalho infantil.
Um tio meu, irmão da minha mãe, teve uma sorveteria em Santa Luzia/MG. Eu tinha de 11 para 12 anos e "trabalhei" lá. De vez em quando, aos sábados. Minha função principal era a de "degustador". Mas eu curtia trafegar por todas as etapas da produção. Gostava de ver o soverte "acontecer" magicamente.
É isso que alguns imbecis estão chamando de trabalho infantil para justificar que não é ruim que crianças trabalhem.
Canalhas! Crianças que trabalham não o fazem para pagar aulas de tênis em clubes elitistas, nem para gastar o tempo de tédio sem nada para fazer. Preparar um brigadeiro - podendo rapar a panela ao final e lamber os beiços - sob o monitoramento de um adulto zelando para que a criança não se machuque nem se queime não é trabalho infantil. Tomar sorvete e chupar picolé a pretexto de "controle de qualidade" não é trabalho infantil. Ao contrário, essas experiências contêm um componente LÚDICO absolutamente benfazejo à infância.
Quem viveu essas experiências não precisou abandonar os estudos, não deixou de fazer suas refeições adequadamente, não precisou sacrificar sua vida familiar e social, nem seus lazeres.
Trabalho infantil é insalubre, é perigoso, é penoso, é extenuante, é sacrificante, é doloroso. Maltrata, machuca, mutila e muitas vezes mata. E, quando não mata, CONDENA suas vítimas a uma escravidão perpétua.
Quando se fala em PROIBIR o trabalho infantil o que se quer é proteger as crianças mais vulneráveis a esse tipo de exploração desumana. Nenhuma criança que pode usar a empresa do papai ou da mamãe ou do titio como quintal de diversão será impedida de "trabalhar". Podem ficar sossegados.
Rafael Patto
