O que fazer agora?
Uma tragédia como o fuzilamento das crianças no Realengo desencadeia impulsos também violentos. É forma de dar vazão ao medo. Poderia ter acontecido com cada um de nós, com nossos filhos, netos, sobrinhos.
Então precisamos de explicações e culpados. Não nos basta a culpa do assassino. Afinal ele já morreu e o sofrimento dele acabou, pelo menos na visão de quem acredita na vida só aqui e agora.
A proibição total do comércio de armas e munições é uma proposta legítima, ainda que não tenha recebido apoio no último referendo.
Passou no Congresso Nacional mas os eleitores mandaram ao arquivo, apesar do quase unânime apoio da imprensa e da opinião pública.
Proibir completamente a venda legal de armas e munições evitaria a barbárie do Realengo? Improvável. Se o sujeito está disposto a realizar uma carnificina não é a falta de lojas de armas que o vai fazer desistir.
Se decidiu que morrer é um bom preço a pagar para poder matar, já ultrapassou os limites. Já atravessou a fronteira que contém as pessoas para não cometerem certos crimes. Já deixou para trás o medo das consequências.
Atenção. Não escrevi que a proibição é certa, nem que é errada. Só escrevi que dificilmente teria evitado o acontecido ontem no Rio.
O tráfico de armas costuma vir conectado com o das drogas. E há políticas para combater ambas. Mas não existe sociedade que tenha conseguido eliminar completamente qualquer uma das duas ilegalidades. Armas disponíveis sempre haverá.
Pode-se aumentar a punição para a venda ilegal de armas? É uma possibilidade. Mas não seria panaceia.
Outro impulso é instituir penas mais duras, duríssimas, para crimes como o de ontem. Vale aqui de novo a lógica já descrita. A pena de morte, para tomar a situação última, não será capaz de demover alguém já disposto a morrer para praticar um crime extremo.
Em frente. Casos como a matança do Realengo despertam o desejo de encarcerar todo mundo que tem problemas mentais. Uma brecha é imediata. Nem todo mundo com distúrbio mental está catalogado como doente.
Além disso, e por qualquer critério razoável, não é razoável achar que a loucura se resolve, em todos os casos, com a reclusão. Nem sequer na maioria deles. Seria uma violência extrema, e obviamente injusta. Medieval.
Então não há o que fazer? Estamos condenados à fatalidade? Claro que não. Claro que há.
É bom debater todas as dimensões do problema, e é ótimo que se busquem obstinadamente soluções para os diversos vetores, mas o espírito prático pede tentar buscar o que pode ser feito imediatamente.
A matança do Realengo é a primeira do tipo em nosso país. Seria politicamente injusto culpar as autoridades por não a terem prevenido.
Mas o Brasil não será o mesmo depois de 7 de abril de 2011. Quantos perturbados mentais não viram no espetáculo macabro de ontem uma janela para a fama?
E o comércio ilegal de armas e munições está aí para atender à demanda.
Agora, as autoridades precisarão mover-se das cadeiras e dizer como vão fazer para diminuir ao mínimo o risco de alguém entrar armado numa escola. Aliás, já era obrigação antes mesmo de ontem. Agora virou questão de honra. De vida ou morte políticas.
Que governador ou prefeito vai querer no seu estado ou cidade a repetição do acontecido no Rio? Então é bom mexerem-se.
Não se trata de culpar ninguém, além do assassino, pela tragédia do Realengo. Nunca tinha acontecido. Não estava no radar.
Mas aconteceu. Infelizmente pode acontecer de novo. Então é preciso prevenir. É hora de agir.
Para que a partir de ontem todas as milhares de escolas em todo o Brasil possam estar um pouco mais seguras.
Nem que se precise colocar revista na porta de cada uma delas.
Não é pedir muito. Um país que tem dinheiro para Copa do Mundo, Olimpíadas e Trem-Bala haverá de encontrar os recursos para fazer das nossas escolas um lugar mais seguro para nossas crianças.