O momento é especial e muitas startups começam a se destacar e chamam a atenção de grandes investidores. A própria Campus Party deste ano apostou e mostrou grande foco no empreendedorismo... A gente ficou sabendo de algumas iniciativas bem interessantes e resolveu conhecer duas promissoras startups brasileiras um pouquinho mais de perto.
Cinco estudantes da Universidade Federal de Pernambuco criaram a ProDeaf (“PRODÉF”) A ideia surgiu quando eles perceberam que a tecnologia poderia facilitar (e muito) a comunicação com um amigo surdo. Eles então desenvolveram um aplicativo de tradução de texto e voz em português para a Linguagem Brasileira de Sinais.
No Brasil, segundo o IBGE, temos 10 milhões de deficientes auditivos no país; destes, quase três milhões só entendem as Libras. Foi então que a solução começou a se tornar nacional. Lançada em abril de 2013, hoje o software já tem mais de 130 mil usuários ativos.
"Usuários como médicos que precisam atender pacientes surdos, dentistas e professores de escola do interior podem aproveitá-lo, apesar de o aplicativo não ser recomendado como substituto para o profissional intérprete de libras. Tem muito professor de escolas do interior, sem recurso, que acaba usando o app para interagir com uma criança surda até para socializar. Se você coloca uma criança surda numa sala cheia de outras ouvintes, isso gera exclusão e falta de socialização que afeta a capacidade de o aluno aprender e ter vontade de ir para a escola", diz João Paulo Oliveira, CEO / ProDeaf .
Além do dicionário – que funciona offline, o aplicativo transforma qualquer texto ou fala em uma representação virtual animada; mas para isso é preciso estar conectado.
A solução parece simples, mas além de muita pesquisa por trás do desenvolvimento, há também muita tecnologia...
"Hoje a gente tem uma equipe de 17 pessoas que trabalham integralmente no ProDeaf, incluindo o pessoal de TI - programadores e especialistas em inteligência artificial e pesquisadores -, pedagogos, intérpretes de libras e, claro, animadores 3D", completa Oliveira.
Mais recentemente, o pessoal da ProDeaf disponibilizou uma ferramenta online para que qualquer pessoa possa contribuir e cadastrar um novo sinal.
"A gente desenvolveu uma tecnologia pioneira que permite a surdos intérpretes criar animações de uma forma muito simplificada, sem conhecimento avançado em animação, focada no conhecimento no negócio - que no caso seria a língua de sinais", diz.
A solução oferece mais acessibilidade aos portadores de deficiência auditiva e, contribui assim, para uma maior integração social dessas pessoas. A partir de agora o desafio é criar uma nova aplicação para que o usuário possa filmar uma pessoa conversando em Libras e traduzir os gestos para voz e texto direto na tela do smartphone. A ideia é que a novidade esteja disponível em até dois anos...
Já a startup de outro grupo de brasileiros surgiu trocando figurinhas. Isso mesmo, mas virtualmente. Sem a possibilidade de conectar diferentes smartphones, de diferentes marcas e modelos, eles desenvolveram uma nova porta de comunicação offline. A NearBytes desenvolveu uma tecnologia que permite a transmissão de dados entre dois aparelhos através do som! E se o iPhone não tem NFC e os blutooths de iOS e Android não conversam entre si, a saída foi usar o microfone e o falante – isso, sim, todos dispositivos têm...
"Qualquer empresa que use a nossa solução vai atender a qualquer celular utilizado hoje em dia, sem precisar esperar a próxima onda tecnológica. Nós rodamos em PC, Mac, Linux, Windows Phone, Android...qualquer coisa que tenha um microfone", afirma Carlos Estigarribia, sócio-fundador da NearBytes.
A taxa de transferência é baixa: 100 megabytes por segundo, mas suficiente para o desenvolvimento de aplicativos para pagamentos, substituição de chaves de segurança e muito mais. O pessoal da NearBytes não desenvolve apps, mas fornece a tecnologia para que terceiros usem a criatividade e produzam soluções usando a transferência de dados através do som.
"A gente pega os dados, encripta, transforma-os numa sequência de bites e bytes e gera um som único em cima disso que eu transformei, como se fosse um ruído com todos os dados. Na verdade, para quem quer entender tecnicamente, o processo se chama modulação de fase da onda para saber o que se está falando. É similar ao dos modens antigos", explica Estigarribia.
O interessante é que mesmo em ambientes barulhentos, as informações são transmitidas sem problemas...
"A gente já testou em festas, shows e bares com música. Nós filtramos tudo o que não está na frequência e, com isso, o som já fica bem mais limpo. Depois disso, tem o nosso truque de trabalhar esse som e escutar o que está sendo dito", diz.
Durante a visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, o pessoal da startup lançou uma vela virtual para testar a tecnologia. Sem a necessidade de rede ou qualquer conexão, a chama virtual foi compartilhada por milhares de pessoas...
O método de segurança aplicado na solução também chama atenção. Para que o som não seja copiado ou usado indevidamente, toda informação em áudio se autodestrói imediatamente após ser utilizada. Daqui pra frente, a ideia é aprimorar a tecnologia; segundo eles, é possível deixar a transmissão de dados até quatro vezes mais rápida...
Estes são apenas dois exemplos que tivemos a oportunidade de conhecer de perto. As startups no Brasil, como dissemos no começo, vivem um momento único e oportuno. No nosso site – e o link está logo abaixo deste vídeo – você encontra uma lista com outras 10 startups brasileiras que ainda vão dar o que falar. E se você tiver ou conhecer alguma iniciativa interessante, participe.
do Olhar Digital