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Luis Nassif: fim do monopólio do urânio fazia parte da fatura da Lava Jato


Desde a visita do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ao Departamento de Justiça dos EUA, o tema nuclear já estava na agenda da parceria DoJ-Lava Jato. Alertamos, na época, dando a Janot e à Lava Jato o benefício da dúvida: podia ser que fosse movido pela ignorância, não pela estratégia anti-nacional.
Com a intenção de se abrir a exploração do urânio ao setor privado, vai se confirmando cada vez mais a tese da conspiração antinacional da Lava Jato.
Com o devido cuidado para não embarcar em teorias conspiratórias, vamos a alguma coincidências ligadas ao suposto escândalo na Eletronuclear envolvendo o Almirante Othon Luiz Pereira da Silva.
Ao longo de sua carreira, Othon acumulou um conhecimento único sobre um mercado que, no comércio mundial, equivale a US$ 100 bilhões/ano. Como consultor, teria condições de levantar valores dezenas de vezes superiores aos R$ 4,5 milhões – que teria recebido ao longo de seis ano, conforme despacho do juiz Sérgio Moro, acolhendo denúncia dos procuradores do Ministério Público Federal.
É possível que seja culpado, é possível que não.  O fato objetivo é que sua detenção afeta profundamente o programa nuclear brasileiro, um dos maiores feitos tecnológicos do país.
A gravidade do fato chama mais a atenção sobre a maneira como a força tarefa da Lava Jato chegou a ele.
Seu nome surgiu em uma segunda delação do presidente da Andrade Gutierrez Dalton Avancini. Procuradores exigiram que Dalton apresentasse fatos novos, já que seu depoimento não acrescentava muito ao que já se sabia sobre a Petrobras. A partir da reformulação de sua delação, deflagrou-se a Operação Radioatividade, para investigar suspeitas na área nuclear.
Segundo o repórter Fausto Macedo, do Estadão, “Avancini disse que “ouviu dizer” que havia uma promessa de propina para o militar” (http://migre.me/qZRVL). Segundo o Jornal Nacional, Avancini disse “não saber de efetivamente houve algum repasse de propina a alguém” (http://migre.me/qZSdt).
No seu despacho, o juiz Moro relaciona uma série de pagamentos a empresas de propriedades das filhas de Othon.
Há enorme desproporção entre as supostas propinas e os contratos que teriam beneficiado as empreiteiras. Para contratos que ascendem a mais de um bilhão de reais, o inquérito apura R$ 109 mil pagos pela Camargo Corrêa, R$ 371 mil pela Techint, e R$ 504 mil pela OAS a um escritório de propriedade das filhas de Othon. E constata que a OAS não fez nenhum dos negócios apontados nas investigações (http://migre.me/qZSox).
Uma dos supostos benefícios teria sido a retomada das obras de Angra 3 – uma decisão exclusiva da Presidência da República, do Ministério da Defesa e do Estado Maior das Forças Armadas.
Moro reconhece que os pagamentos podem ter causa lícita, “pela prestação de serviços reais de assessoria ou consultoria ou por eventuais direitos de patentes, pelo menos considerando as conhecidas qualificações técnicas de Othon Luiz”.
Procuradores atestaram que o escritório presta serviços de tradução. Traduções técnicas, ainda mais em áreas da complexidade da nuclear, custam caro.
No entanto, alega “um possível conflito de interesses que coloca em suspeita esses pagamentos.” (http://migre.me/qZS64) Por conta desse possível conflito de interesses, coloca na cadeia o mais relevante cientista militar brasileiro, desde o Almirante Álvaro Alberto e compromete uma tecnologia crítica para o país.

Os caminhos que levaram a Othon

Como se chegou a Othon?
Há uma disputa histórica de autoridades norte-americanas contra o programa nuclear brasileiro. A tecnologia de enriquecimento de urânio foi uma conquista histórica, que envolveu muito sigilo, inclusive a existência de fundos secretos, para possibilitar adquirir equipamentos e peças passando ao pargo do controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Nos primeiros dias de fevereiro passado, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot seguiu para os Estados Unidos acompanhando procuradores da Lava Jato.

A ida de Janot e da força tarefa da Lava Jato causou estranheza, expressa por nosso articulista André Araújo, um profundo conhecedor do jogo político internacional e dos mecanismos internos da real politik norte-americana
“O que vai fazer nos EUA a Procuradoria-Geral da República do Brasil? Vai ajudar os americanos na acusação contra a Petrobras? Mas a Petrobras é parte do Estado que lhes paga os salários, está sendo atacada no estrangeiro, eles vão lá ajudar os autores das ações?
Quem deveria ir para os EUA é a Advocacia-Geral da União, orgão que funciona como defensora dos interesses do Estado brasileiro. A AGU poderia ir aos EUA para ser auxiliar da defesa dos advogados da Petrobras porque, salvo melhor juizo, um Estado não vai ao estrangeiro acusar a si mesmo ou ajudar outro Estado a lhe fazer acusações. Quem processa a Petrobras indiretamente está processando o Estado brasileiro.
Fora do Brasil só há um ente que representa o Brasil, o Estado brasileiro, representado pelo Poder Executivo (art.84 da Constituição). Só o Poder Executivo representa o Brasil no exterior, a PGR não é um Estado separado do Brasil.
Quem representa o Brasil em Washington é a Embaixada do Brasil, a quem cabe os contatos com o Governo americano e suas dependências, a Embaixada deveria estar atenta para proteger a Petrobras nos EUA” (http://migre.me/qZSB1).
Em resposta, a Secretaria de Comunicação Social da PGR informou que “o PGR Rodrigo Janot tem agenda separada, não relacionada a esse processo, e manterá encontros no FBI, no Banco Mundial e na OEA” (http://migre.me/qZSEG)
Apesar da nota da Secom, uma das pessoas visitadas foi Leslie Caldwell, procuradora-adjunta encarregada da Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (http://migre.me/qZSvO).

Leslie tem ampla experiência em apurações criminais, tendo participado dos trabalhos que terminaram na denúncia da Enron e da Arthur Andersen. Debita-se a ela a destruição de 85 mil empregos por seu estilo implacável, de não saber punir pessoas preservando empresas.
Obama a indicou para o cargo no dia 15  de maio de 2014.
Ocorre que desde 2004 ela era sócia do escritório Morgan Lewis de Nova York, atuando na área de contenciosos (http://migre.me/qZT2S).
Uma das especialidades do escritório é justamente o setor de energia (http://migre.me/qZT62), especificamente nas relações entre setor privado e governo. O sócio Brad Fagg é apresentado como advogado principal para a maioria das instalações comerciais norte-americanas. Sob a liderança de Brad – diz o site do escritório – os clientes ganharam mais de US$ 2 bilhões em decisões na área pública.

O mercado nuclear experimentou um renascimento, a ponto do escritório ter aberto uma filial em Londres para orientar os investidores interessados no setor, depois da desregulamentação do setor de energia no Reino Unido em 2004 (http://migre.me/qZU4M).

O escritório se apresentava como representante de um grade número de empresas que ocupam praticamente todos os segmentos de combustível nuclear, desde a mineração de urânio e enriquecimento para a fabricação de combustíveis.
Não é crível supor que Janot tenha participado de uma conspiração internacional. É mais certo que o açodamento e a desinformação tenham feito Janot tornar-se inadvertidamente um instrumento de um jogo geopolítico internacional, no qual o interesse do país foi jogado para terceiro plano.
***
Por qual razão um país rico como o Brasil tem uma elite tão imunda, imoral e entreguista como esta nossa? O que o povo fez para merecer tão triste sina? A minha mente o que vem é nossa imensa covardia. Triste!
Vida que segue

Roberto Amaral: Desse governo nada se pode esperar em sã consciência.

A quadrilha de Curitiba pratica crime de lesa-pátria 

Confira abaixo, trechos de uma entrevista do ex-ministro da Ciência, Roberto Amaral:


RAO Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo e é um dos poucos detentores da tecnologia do seu enriquecimento. em Resende, com tecnologia nossa, que muito devemos à dedicação da Marinha de Guerra do Brasil, são criadas e fabricadas as mais modernas ultracentrífugas do mundo. Nossa produção de urânio enriquecido é fundamental para manter em funcionamento Angra I, Angra II e a futura Angra III, cuja construção está parada. É vital também para o futuro e sempre adiado programa de construção de novas usinas. Os Estados Unidos e seus aliados no monopólio nuclear, a antiga URSS, inclusive tudo fizeram para que não dominássemos essa tecnologia. Dominada, querem impedir que dela nos utilizemos para nosso progresso. O Brasil tem o projeto de equipar-se com submarinos nucleares, um já está em construção, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, em consórcio com a França. Como manter esse programa, vital para nossa segurança, especialmente para a segurança do pré-sal, se não tivermos o combustível nuclear? A conspiração antinacional de desmonte de nossos projetos estratégicos, principalmente nas áreas de energia e segurança, está exposta à luz do dia.

CC: Por que o programa nuclear é estratégico? 

RAPorque com a conclusão de Angra 3, o Brasil, que domina a tecnologia de produção do combustível, passará a produzi-lo em escala industrial, privilégio até hoje dos países que têm a bomba atômica, e com eles competirá no mercado mundial. Exatamente por isso é fundamental para eles retardarem a conclusão de Angra 3, e para tanto utilizam o mesmo argumento que levou Angra 2 a ser concluída com atraso de 20 anos: o combate à corrupção. Desta vez, procura-se enlamear a reputação do principal cientista do programa nuclear brasileiro, o almirante Othon (Luiz Pinheiro da Silva), que era o presidente da Eletronuclear, proprietária das usinas. Por conta desse ataque, as obras são paralisadas e não há previsão de recomeço, impondo insuperável prejuízo técnico e financeiro. Quem pagará por isso? O Ministério Público, o Tribunal de Contas ou o juiz Moro vão cobrar de alguém? O programa de construção do submarino de propulsão nuclear foi praticamente desativado, assim como o programa espacial. 

CC: O programa aeroespacial é importante para o Brasil por quais motivos? 

RA: O programa espacial tem como principal protagonista a Embraer, hoje a terceira produtora de aviões comerciais no mercado mundial. Para fragilizá-la, surgem denúncias de corrupção em vendas internacionais, que dão origem a processos milionários na Justiça norte-americana, com a omissão conivente do governo Temer. O programa espacial próprio foi desativado e já se fala em rediscutir a cessão aos EUA da base de lançamento de foguetes de Alcântara, cuja ótima localização, próxima ao Equador, só é rivalizada por Kourou, na Guiana Francesa. Caso se concretize, afastará o Brasil do lucrativo mercado de lançamento de satélites comerciais e deixará o lançamento e operação de nossos satélites estratégicos e militares, como os de comunicação e de rastreamento de nosso território para acompanhamento de safras, acidentes meteorológicos e riquezas do subsolo, entre outros, nas mãos de americanos, russos e chineses. 

CC: Há quem considere a defesa do petróleo como anacrônica, dada a possibilidade de substitui-lo por outras fontes de energia. 

RAO petróleo continuará por muitas décadas fonte essencial para a produção de energia no mundo. A descoberta do pré-sal, a mais importante do planeta nos últimos 30 anos, além de propiciar nossa independência em termos de energia, nos colocaria no patamar dos produtores do Oriente Médio e a Rússia. A transformação da Petrobras, âncora do desenvolvimento industrial brasileiro, em mera produtora de óleo bruto, complementada pela entrega do pré-sal às petroleiras privadas estrangeiras, significará 70 anos de retrocesso em nossa política industrial. 

CC: Se acrescentarmos o impacto da Lava Jato na controladora da Odebrecht Defesa e Tecnologia, coordenadora do projeto de submarino nuclear, quais as probabilidades de sobrevivência deste? 

RAÉ importante esclarecer que a coordenação do programa de construção de submarinos não é da Odebrecht, e sim da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear, organização da Marinha criada com esta finalidade. Nesse programa, a Nuclep, empresa estatal, é a responsável pela fabricação dos cascos resistentes dos submarinos e de componentes da planta de propulsão do submarino nuclear. A Odebrecht participa como integrante da Itaguaí Construções Navais, que é uma Sociedade de Propósito Específico formada também pelo estaleiro francês DCNS e pela Marinha do Brasil, esta com poder de veto (golden share). A ICN está encarregada da montagem, conclusão da fabricação e entrega dos submarinos à Marinha. Com tantos parceiros estratégicos envolvidos, há motivos para acreditar na sua continuidade, sem interrupções, do ponto de vista técnico, mas isso de nada valerá se a decisão política do governo for pela sua desativação. 



Sanções contra o Irã: uma obsessão em cinco atos e um poema

Primeiro ato 
No início de seu primeiro mandato, FHC enfrentou um dilema. Para honrar a sua recente conversão ao Consenso de Washington, precisava vender empresas estatais e juntar dinheiro para pagar os juros sobre a dívida que iria acumular rapidamente com os bancos que pagavam o salário dos economistas que tinham inventado o seu novo credo. Queria começar por dar empresas lucrativas como a Petrobras aos brilhantes empresários que tinham ajudado a financiar a sua campanha presidencial, e sabia que nunca conseguiria vender a ideia aos brasileiros; mas também sabia que não cumprir a palavra dada aos financiadores de campanha era a melhor maneira de acabar com a sua carreira política. Precisava encontrar uma maneira de tornar a idéia de privatizar a Petrobras, a Vale e o Banco do Brasil palatável para os eleitores brasileiros, e para isso usou um dos truques mais velhos da história da trapaça política: chutar um cachorro morto, puxar briga com alguém de quem o público não gosta, criar um precedente e depois ir para o seu objetivo real. Assim, a venda das ineficientes, endividadas e impopulares empresas estatais de telecomunicações foi decidida e rapidamente executada. Criado o precedente, liquidar o resto deveria ter sido fácil, e de fato foi até venderem a Vale do Rio Doce por um décimo do seu valor de mercado, mas o plano foi interrompido pela sucessão de crises econômicas que reduziu o segundo mandato de FHC a um governo mendigo, ocupado em andar pelo mundo pedindo empréstimos.

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Os verdadeiros objetivos são mascarados

Quem se der ao trabalho de ler as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS-ONU) verá que ele enfraquece a economia iraniana e sua capacidade de defesa, ou seja, elas têm o único propósito de   alcançar os reais objetivos de Israel e dos EUA. Nada mais.

Tanto que na resolução aprovada não há nenhuma menção sobre a alternativa incluída no acordo patrocinado pelo Brasil e pela Turquia, e assinado pelo Irã, colocando o controle do enriquecimento de urânio por este país sob controle internacional.

Isso nos leva à outra questão de fundo além dessa tentativa de tolher o Irã: a de que as atuais potências globais querem congelar o status quo pós Guerra Fria, não permitindo, em hipótese alguma, o surgimento de novas nações no centro de decisão do mundo. Não tenhamos nenhuma ilusão.

Essa tentativa fica tão evidente neste episódio, que o alvo das sanções inclui não apenas o poder militar ou nuclear, defensivo ou ofensivo, mas sobretudo o poder econômico e político do Irã.

Daí essa recusa absoluta das Nações Unidas, de seu Conselho de Segurança e do sistema econômico multilateral controlado pelos EUA via OMC, FMI e Banco Mundial de permitirem, de todas as formas, que o Irã desenvolva um programa nuclear com fins pacíficos de poduzir energia, pesquisas científicas e avanços, por exemplo, na área da medicina.

O recado é claro: nações emergentes como o Brasil terão que lutar sim para ter um lugar ao Sol dentro do centro de decisão mundial. Para isso precisamos desenvolver tecnologia e apostar na Educação de nossos povos, sem o que, será impossível ter um papel de peso no mundo do século XXI.

Assim se desmoralizam as Nações Unidas

Por Emir Sader
A ONU aprovou sanções contra o Irã, depois de deixar impune todos os atos de agressão militar dos EUA, cujo arsenal de guerra não deixa de crescer. O que esperar de uma instituição assim, controlada pelas potências que protagonizaram as grandes guerras e seguem com seu papel imperialista, contra a grande maioria dos países do mundo?
Leia na íntegra >>

Brasil e Turquia tiram máscara da ONU

Voto contra sanções ao Irã expõe falência do Conselho de Segurança sob controle dos EUA

A decisão do Conselho de Segurança da ONU, que impôs novas sanções contra o Irã por 11 votos a 2, foi encarada pelo governo brasileiro como uma "vitória de Pirro" dos EUA e expôs o fracasso do organismo internacional como um fórum imune aos interesses hegemônicos. 



A vitória da pressão americana já era esperada por Brasil e Turquia, os únicos a votarem a favor do acordo com o país persa, que fora incentivado antes da assinatura em Teerã pelo próprio presidente Barack Obama. 


O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acusou: "O Brasil pode ser independente por não dever ao FMI”. Ele lamentou os prejuízos ao promissor comércio bilateral com Teerã. 

Ex- Prêmio Nobel da Paz critica ação dos EUA

Para o egípcio Mohamed El Baradei, último encarregado de zelar pelo cumprimento dos tratados e acordos que regem a energia nuclear no âmbito das Nações Unidas, a pressão das potências contra a negociação com o Irã continuará sendo contraproducente. 


Em entrevista exclusiva à editora de Internacional do JB, Joana Duarte, o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica e Prêmio Nobel da Paz (2005) é pessimista quanto à eficácia de novas sanções contra o país persa, apesar das reservas que seus próprios técnicos já manifestaram quanto à transparência dos irarianos nas verificações obrigatórias do programa nuclear. 


E faz um vaticínio: "Tais medidas é que podem acabar dividindo o mundo". 

Lula - Brasil não negocia de cabeça baixa

Ministro não troca pressão por vaga no Conselho de Segurança 

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, acha “infantil” a ideia de estremecimento entre Brasil e EUA por causa do Irã. Mas deixa clara a irritação com a ação americana contra o acordo de Teerã. 


“Eles têm o poder de veto, mas não podem violentar a nossa consciência”, afirmou o ministro, para quem a subserviência em troca de um assento no Conselho de Segurança da ONU é inaceitável. 


O presidente Lula também reagiu à secretária Hillary Clinton: para ele, armas nucleares é que deixam o mundo inseguro.

Lula reclama negociações para a paz e critica países ricos

O presidente Lula abriu ontem o 3º Fórum Mundial de Aliança de Civilizações, promovido pela ONU, criticando o comportamento dos países desenvolvidos durante e após a crise financeira internacional que eclodiu em 2008.
    “Incapazes de assumir seus próprios erros, alguns governantes buscam transferir o ônus da crise para os mais fracos. Adotam medidas protecionistas que oneram bens e serviços e, ao mesmo tempo, se mostram lenientes com os paraísos fiscais e responsabilizam imigrantes pela crise social”, afirmou o presidente.
     Lula também defendeu a busca de uma solução negociada para a crise nuclear iraniana e afirmou que o Brasil manterá seus esforços pela paz no Oriente Médio.
    “O mundo precisa de um Oriente Médio em paz. O Brasil não está alheio a essa necessidade. Defendemos um planeta livre de armas e o cumprimento do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares”.
    Aos representantes de 104 países presentes ao Fórum, no Rio, Lula lembrou a recente visita ao Irã, onde mediou um acordo de troca de combustível nuclear com Teerã, junto com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. O acordo não impediu que potências ocidentais, que suspeitam que o Irã busca armas atômicas, seguissem pressionando por novas sanções ao país. Lula considerou os arsenais nucleares “obsoletos e de um tempo já superado” e disse que o Brasil “é um dos poucos países que consagram o desarmamento em sua Constituição”.

EXEMPLO E SENSIBILIDADE
   O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também lembrou a reunião com Lula em Teerã e falou de paz entre as culturas, tema desse 3º Fórum de Aliança de Civilizações. Para Erdogan, os países que criticam as armas nucleares devem seguir o exemplo da Turquia e do Brasil – que não tem arsenal nuclear – e eliminar as armas de seus próprios países.
    “Nos reunimos em Teerã para conseguir a paz mundial. Não conseguiremos isso com a proliferação de armas nucleares”, afirmou o primeiro-ministro.
    Erdogan foi aplaudido ao dizer que “Islã e terrorismo são palavras opostas e não caracterizam a essência do povo islâmico”.  Para ele, a história da humanidade não pode ser lida como sucessões de guerras e paz, mas como troca de ideias a partir da riqueza da interação entre as diferentes culturas. O primeiro-ministro da Turquia defendeu a sensibilidade como fator de principal para a paz.
    “É errado ignorar a sensibilidade dos outros. Choramos pelas crianças que estão no meio dos conflitos do Afeganistão e do Iraque, assim como pelas crianças que perderam suas famílias no terremoto do Chile. Choramos pelas vítimas das torres gêmeas em Nova Iorque, assim como pelas vítimas dos metrôs de Londres, Istambul e Madri e também ouvimos as vozes que estão na região de Gaza”, disse ele.
    O 3º Fórum Mundial de Aliança de Civilizações pretende mobilizar a opinião pública em favor da superação de preconceitos e percepções equivocadas que, muitas vezes, levam a conflitos entre Estados e comunidades heterogêneas.

NOMEAR E DEMITIR


Lição de décadas atrás era ministrada por Tancredo Neves, Amaral Peixoto, Antônio Carlos Magalhães e outros catedráticos: “jamais nomear quem não se pode demitir”. Dá sempre confusão quando o chefe se vê envolto em  divergências com subordinados que se julgam intocáveis.  Aqui mesmo, lembram-se todos do  conflito quase  armado que envolveu o presidente Ernesto  Geisel e seu ministro do Exército, Silvio Frota.

Repete-se a situação nos Estados Unidos. O presidente Barack Obama nomeou sua ex-adversária Hillary Clinton para Secretária de Estado. Agora, divergem. Se foi Obama que sugeriu ao Lula celebrar acordo com os aiatolás, como Hillary sentiu-se  capaz de  desautorizar e  desmontar tudo, sobrando até desconsiderações para com o Brasil?

Teria o presidente dos Estados Unidos condições de admoestar e até demitir a candidata que derrotou na convenção do Partido Democrata? Seria atingido pelo desgaste? Pelo jeito, nomeou quem não pode demitir...

Diplomacia da Paz

É com orgulho e prazer que leio a declaração da dona Hillary - Secretária de Estado americana -: 


"Certamente nós temos discordâncias muito sérias com a diplomacia brasileira em relação ao Irã". 


Inda bem que temos discordâncias e sérias.


Os States ama e defende a guerra para sustentar sua economia combalida e belicosa.


O Brasil ama e defende a paz, aqui e no mundo todo.


É muito bom sermos adversários deles neste sentido. É bom não, é ótimo.


E o Brasil exercer uma diplomacia calçada na paz?... Maravilhoso.


O mundo na sua grande maioria concorda com nós.


Bay, bay falcões.

Rússia contra as sanções ao Irã

O chanceler russo Sergei Lavrov tornou oficial o que já era óbvio: a Rússia está fora da aventura das sanções e apoia o acordo trilateral Brasil-Irã-Turquia como caminho para a solução da questão do programa nuclear iraniano.

“Recebemos muito bem esse acordo. Se for implementado plenamente, ele criará pré-condições muito importantes não só para a a solução do probelma concreto… como também para melhorar a atmosfera para orecomeço das negociações”. [...] Se o Irã cumprir estritamente as suas obrigações, a Rússia apoiará ativamente o esquema proposto pelo Brasil e pela Turquia”, declarou o ministro russo em uma conferência de imprensa em Moscou esta manhã. Segundo ele, “o acordo cumpre os requisitos de uma solução pacífica da questão nuclear iraniana”.
Não deve demorar muito para que os chineses façam um anúncio mais ou menos no mesmo molde, e deve demorar menos ainda para que comecem os gritos de “traição” na imprensa pró-sanções do mundo todo. O fato é que nem os russos nem os chineses nunca prometeram que iriam apoiar a imposição de sanções a qualquer custo. O que prometeram, em troca de pesados favores dos EUA, foi permitir à Hillary Clinton mostrar ao mundo como “vitória” um papel com as sanções que a China e a Rússia *poderiam* aprovar, se não houvesse outra solução.
Como bem lembrou o Lavrov, se o Irã fizer a parte dele (o que não é garantido), o “Tratado de Teerã” entre o Brasil, o Irã e a Turquia será o começo do fim da ofensiva belicista contra o Irã. Terá sido uma vitória estrondosa da diplomacia brasileira, credenciando-nos como moderadores responsáveis e eficazes na arena internacional, obtida em grande parte graças ao empenho – a teimosia, quase – e a capacidade de negociação do presidente Lula.

por Tomás Rosa Bueno

Deu zebra (pra eles)

Quando Lula anunciou que tentaria articular um acordo no Irã, com o apoio da Turquia, Estados Unidos e aliados na defesa de sanções da ONU aos persas enalteceram a iniciativa do presidente brasileiro, porém fizeram pouco caso quanto ao sucesso do resultado. Em suma, demonstraram muito ceticismo quanto à reação iraniana. Na verdade, apostavam no que desejavam, quer dizer, entendimento zero.

Aconteceu que o Irã aceitou a proposta de Lula, concebida nos mesmos moldes do que haviam proposto os estadunidenses e a própria Comissão de ... 

Energia Nuclear da ONU. E o que fizeram os EUA, França, Alemanha, Rússia, China e Inglaterra? Pediram retaliações ao chamado país dos aiatolás. Lembra aquele sujeito "mala" que não está interessado no negócio e em vez de falar a verdade, opta por colocar várias cláusulas difíceis de serem aceitas e, quando a outra parte concorda, inventa novas exigências absurdas.

lula criticou setores elitistas da mídia brasileira (recado direto também a alguns colunistas), que agem na defesa dos imperialistas, não importando a nossa soberania e o papel que o País deve desempenhar no mundo, nem a necessidade de haver paz entre os povos. 

Ao fazer reparos à atuação da mídia brasileira no caso do acordo com o Irã, Lula acerta em cheio. Basta dizer que famoso telejornal, no dia seguinte ao anúncio, iniciou por aí: "Essa decisão foi muito boa para o Irã e para os que gostam... 


de tirar uma casquinha dos Estados Unidos", numa referência ao presidente brasileiro. O âncora fez direitinho o dever de casa. Da casa dele, bem entendido. Não da nossa.

Irã formaliza acordo e isola EUA

Carta reforça ação do Brasil e enfraquece sanções

O governo do Irã entregou ontem à Agência Internacional de Energia Atômica, conforme o combinado, uma carta na qual formalmente aceita os termos do acordo em torno de seu programa nuclear, costurado com a intermediação do Brasil e da Turquia, há pouco mais de uma semana. 



O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, saudou a decisão iraniana, que "abre caminho para uma solução negociada", e indicou que deveria ser avaliada pelo Conselho de Segurança. 


O documento é um gesto de boa vontade do regime de Ahmadinejad - a libertação do cineasta Jafar Panahi, em greve de fome desde sua prisão, sob acusação de prejudicar a imagem do país somados à reação do secretário-geral enfraquecem a pressão por novas sanções e deixam os EUA em crescente isolamento na gestão da crise. 

O IRÃ E O IMPÉRIO DECADENTE


BRESSER PEREIRA

“Há algum tempo, o establishment mundial recebeu com um misto de irritação e descrença a notícia de que o presidente Lula se dispunha a intermediar a questão do Irã.
Na semana passada a diplomacia brasileira alcançou um êxito histórico em Teerã ao lograr que o governo nacionalista islâmico do Irã aceitasse o acordo sobre a troca de urânio pouco enriquecido por urânio enriquecido a 20% nos mesmos termos que as grandes potências e a AIEA(agência atômica da ONU) haviam proposto há seis meses.
Não obstante, alegando que o acordo não assegura que o Irã não utilizará o restante do urânio em seu poder para se tornar potência nuclear, os EUA conseguiram convencer as demais grandes potências a levar ao Conselho de Segurança da ONU a proposta de novas sanções ao Irã. E adicionaram mais uma “razão”: assim, evitam que seu aliado Israel bombardeie o Irã. Significa isso que o acordo de Teerã fracassou?
As razões para ignorar o acordo bem pensado e realizado não se sustentam. A recusa dos EUA de continuar a negociação a partir dele deixou mais uma vez claro que seu objetivo principal não é evitar que o Irã tenha a bomba, mas é desestabilizar seu governo.
Desde a Revolução Islâmica de 1979, os EUA vêm procurando derrubar o governo nacionalista iraniano. Primeiro, porque o regime seria fundamentalista; depois, porque ameaçaria Israel.
Nesse sentido, suas ações não se limitaram ao “soft power” e à diplomacia, mas foram militares. Em 1981, financiaram uma guerra mortífera do Iraque de Saddam Hussein contra o Irã, que durou quase dez anos e terminou com a derrota da coligação americano-iraquiana.
Agora, depois de haver invadido e submetido seu antigo aliado, voltam- se de novo contra o regime dos aiatolás e de seu boquirroto e autoritário presidente, Mahmoud Ahmadinejad.
Mostram, assim, coerência em sua política imperial de controle político-militar do Oriente Médio. O fato de a China ter concordado em assinar o pedido de mais sanções significaria que não usará seu poder de veto no Conselho de Segurança? É possível, mas não é provável. A China assinou o pedido para, neste momento, não aumentar seu contencioso com os EUA, que já é grande.
Por isso, é bem possível que o acordo de Teerã e as reações que está provocando levem os chineses, que não têm interesse em que os EUA e a Europa aumentem ainda mais seu poder no Oriente Médio, afinal a recusar seu voto às sanções.
Os EUA são um império em decadência que tenta ser imperial em uma fase da história mundial na qual os impérios não fazem mais sentido.
Os dois últimos grandes impérios foram o britânico e o soviético. Fracassaram por diferentes razões, mas principalmente porque hoje mesmo países mais atrasados são membros plenos da ONU e não aceitam a dominação imperial.
Não obstante, os EUA insistem em terem bases militares espalhadas em todo o mundo para “legitimar” a imposição de sua vontade. Sabemos, porém, que não é com armas, mas com bons argumentos e com concessões mútuas que haverá paz entre as nações.”

Irã fala em "nova era" com acordo

Apesar da traição dos Estados Unidos - que avalizaram o acordo entre Brasil, Irã e Turquia, mas querem manter as sanções aos iranianos – o presidente Mahmoud Ahmadinejad ratificou que o Irã cumprirá o acordo. 


“É uma nova era nas relações internacionais. O Irã quer colaborar e interagir com os países amigos”, disse ele, por telefone, ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. 


O protagonismo brasileiro no tema fica claro no anúncio da inauguração, este ano, da usina de hexafluoreto de urânio, que dará ao país o domínio do ciclo nuclear em escala industrial.

Quando os jornais diziam que o Brasil não tinha petróleo


O verso da canção de Luiz Reis e Haroldo Barbosa, gravada pelo Chico, me socorre diante do elevadíssimo grau de anti-jornalismo a que alcança hoje a imprensa brasileira, merecendo certamente a crítica de Lula logo ao chegar de sua gira internacional. A mídia nativa torce abertamente pelo fracasso da iniciativa do Brasil junto ao Irã. Prefere novas sanções, a lógica do castigo, o que cria perigosos riscos de desdobrar-se em guerra, em destruição e morte como se vê agora mesmo no Iraque. A mídia americana torceu fervorosamente pela invasão militar aquele país. Chegou a mentir sobre a existência de armas de destruição em massa.. Depois, o jornal New York Times pediu desculpas aos leitores pela desinformação, mas aí já havia mais de um milhão de iraquianos mortos. A mídia brasileira vai pela mesma linha? Se as potências mundiais resolverem aplicar uma sanção contra o programa nuclear brasileiro a partir de pretexto de que aqui também se constrói uma bomba, o que já foi insinuado, a mídia brasileira ficará contra o Brasil e o seu povo?
Recuperemos alguns momentos na nossa história para saber como nossa imprensa, agora mídia, tem se colocado. Nos momentos de crise, episódios dramáticos, encruzilhadas históricas, momentos de decisão, vamos constatar que freqüentemente esta mídia, aquela que é majoritariamente representante dos interesses dominantes na sociedade, esteve divorciada de soluções nacionais, opondo-se raivosamente aos interesses populares, descumprindo descaradamente sua auto-proclamada vocação democrática, assumindo, repetidas vezes, o viés golpista, oligárquico e anti-nacional.
Ela se opôs quando o país conquistava uma legislação de defesa dos direitos trabalhistas e, coerente com esta vocação oligárquica, até hoje estes mesmos segmentos midiáticos, – agora modernizados pela eletrônica, mas não nos padrões civilizatórios – continuam a conspirar e a pretender a destruição da CLT implantada na Era Vargas. Antes da CLT era comum patrões espancarem seus empregados….Há pouco vimos o brutal assassinato de uma jovem jornalista cometido pelo diretor de um destes grandes jornais oligárquicos simplesmente porque ela.teve a “ousadia” de……terminar o namoro. Esta mentalidade desdobra-se muitas vezes em linha editorial eivada de ódio social contra o povo. E qual não deve ser a dose deste ódio contra um retirante Lula quando ele “ousa” cruzar não apenas os mares e os continentes – com a agilidade que o moderno avião permite – mas, também cruzar e questionar com coragem os padrões de uma diplomacia convencional, conservadora e hipócrita que não apenas se conforma mas também cultiva sanções e guerras, desprezando a priori o diálogo entre os povos?
Se lá atrás, estes barões da imprensa foram capazes de festejar, escondidos e amedrontados, a morte de Vargas porque ela significaria o fracasso de uma política de industrialização de um país agrário, do estabelecimento de direitos trabalhistas e previdenciários, como não estarão agora os herdeiros destes barões a torcer para a derrota generalizada das iniciativas de Lula? Sobretudo quando Lula já bradou em momentos mais complexos que não se suicidaria como Vargas, não renunciaria como Jânio e não sairia do País como Jango!
Noticiaram: o Brasil não tem petróleo!!!
Para se medir até onde poderá chegar este anti-jornalismo, basta citar apenas um exemplo histórico: praticamente toda a imprensa fez campanha contra Vargas quando ele criava a Petrobrás. Essa mesma imprensa noticiava reiteradamente que não havia petróleo no Brasil, conforme diziam os relatórios de espertíssimos técnicos norte-americanos. Pode-se medir o tamanho da desinformação, do anti-jornalismo, pelo tamanho dos trilionários poços de petróleo pré-sal recém descobertos!
Pelo grau de precariedade jornalística, pode-se medir também que as elites jornalistas criticadas na fala presidencial estariam engrossando ainda mais, com a vassalagem de sempre, o coro da mídia internacional que percebeu claramente que na sua dialética de retirante Lula contraria interesses da indústria bélica, patrocinadora da lógica das sanções pelo Conselho de Segurança da ONU, avesso ao diálogo. Provavelmente veremos que em certos segmentos da mídia internacional aquele espaço editorial que reconheceu em Lula um mandatário com iniciativas para enfrentar a fome e a miséria, para integrar os povos e também para promover soluções democráticas, poderá passar a ser ocupado, também, com críticas a um presidente que “afronta a segurança e a paz internacional”, tradução esperta que dão para os interesses imperialistas, sobretudo do comércio internacional de armas. No dia em que Lula desembarcava no Irã a manchete do Estadão era “Farc tem acampamento na Amazônia”. Ou seja, Lula “tolerante com o terrorismo” lá e cá, era a mensagem subliminar.
Armas: lucros em cheque
Quando a Princesa Diana libertou-se do ambiente arrogante e despótico da realeza britânica e passou a fazer campanha contra a instalação de minas terrestres instaladas em Angola e outros países – e que ainda matarão ou mutilarão inocentes por décadas – logo logo a grande mídia sustentada por anunciantes ligados à indústria bélica tratou de estampar como controvertidos alguns de seus aspectos pessoais, suas pretensões pacíficas “inconseqüentes” e ,inclusive, o ”inaceitável” namoro com um árabe, peça que compunha a novelinha midiática para a destruição de sua imagem.. Estes poderosos interesses bélicos poderão insinuar que Lula estaria “ passando dos limites”…..Mas, até o Obama, em carta a Lula recomendou o acordo com o Irã. Agora foi enquadrado. O fantasma de Kennedy, ronda…
Por isso mesmo, é preciso ver o outro lado da crítica de Lula à imprensa. E talvez isto signifique encorajar as forças progressistas a uma reflexão que está presente nos esforços para realizar a Conferência Nacional de Comunicação, para aplicar o que ali se decidiu, mas, nem sempre encontra a capacidade para organizar as forças sociais que podem preencher a lacuna gigantesca que fere de morte a cidadania brasileira: a inexistência de um grande jornal popular, de massas, capaz de um jornalismo que promova os interesses nacionais, que encontre o seu lugar como ferramenta criativa e necessária para a construção de um Brasil verdadeiramente Nação!
Última Hora
Voltemos nossos olhos novamente para nossa própria experiência histórica. Já tivemos o jornal Última Hora, popular, nacionalista, capaz de refletir os interesses das classes trabalhadoras diuturnamente atacados pelo conjunto da imprensa oligárquica. Era um respiro democrático! Havia a polarização, a diversidade opinativa e política. Hoje há uma asfixia midiática anti-democrática. Não há sequer a controvérsia! E aquele jornal, que chegou a ter duas edições diárias, circulação nacional massiva, foi uma iniciativa encorajada por Vargas. Quando em 1954 a mídia conservadora comemorou a morte de Vargas, o Última Hora chorou e resistiu ao lado do povo que saiu às ruas. Quando em 1964, esta mesma mídia oligárquica suplicou e colaborou com o golpe de estado, o Última Hora resistia e defendia a democracia.
Jornalismo estratégico
Dentro da visão estratégica de um país que pretende desempenhar legitimamente um papel importante e protagonista no jogo do poder internacional – e era assim na Era Vargas e é assim novamente agora com Lula – nós, como povo brasileiro e como Nação, não podemos deixar de lado esta questão que continua a nos desafiar. Vários passos importantes foram dados, entre eles a conquista simbolizada na criação da TV Brasil. E mais ainda agora quando na próxima segunda-feira será lançada a TV Brasil Internacional, inicialmente para dialogar com os quase três milhões de brasileiros espalhados mundo afora. A iniciativa, louvável, trará com mais realismo a necessidade do Brasil também dialogar com outros povos já que pretende atuar para que as relações internacionais sejam democratizadas, reequilibradas e marcadas pela cooperação.
Vale lembrar que a Rádio Nacional, também criada na Era Vargas, chegou a ser a quarta mais potente emissora do mundo, além de ter programação em 4 idiomas, alcançando vários continentes e tendo em seu corpo de redatores brasileiros como Nestor de Hollanda, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, Cecília Meirelles etc. A TV Brasil Internacional tem uma herança em que se apoiar e tem um caminho que pode recuperar para levar a mensagem de uma nação brasileira que se empenha por um mundo mais justo e baseado na cooperação, não nas sanções.
Será que as forças progressistas não deveriam encarar de fato esta tarefa da construção de um jornal popular, nacional, de ampla circulação, fazendo jornalismo na verdadeira acepção da palavra e recuperando para o jornalismo a missão de bem público e de ferramenta civilizatória hoje ignorada em boa medida pela mídia hegemônica no Brasil?
Será que estas forças que foram capazes de articular, se organizar, para resistir à ditadura, enfrentar o neoliberalismo e se fortalecer para chegar à presidência – um feito de proporções históricas numa sociedade com os arraigados esquemas dos donos do poder – não teria também a capacidade de construir um jornal e de praticar um jornalismo público, civilizador, humanista? Não se trata de estimular aqui nada contra as iniciativas para democratizar a informação no espaço digital. Trata-se de complementar, de articular, até porque com toda a importância e o grande efeito que comprovamos na internet, tuitar não esgota a necessidade de fazer jornalismo. Não se deve pretender apenas repercutir, contestar, confrontar a unanimidade conservadora da mídia hegemônica e seu anti-jornalismo em vias de deterioração acelerada.
Surra midiática diária
Há iniciativas importantes, a realização da Confecom é uma delas, a TV Brasil já citada, a recriação da Telebrás estatal, aliás, uma clara aplicação de decisão tomada na Confecom, são outras. Surgiram a Altercom, o Barão de Itararé, o Mídia Livre, todos os blogs e portais, os jornais e revistas alternativas, as TVs e rádios comunitárias etc mas, ainda assim, estamos em boa medida dispersos, desarmados no campo da comunicação e os interesses nacionais, populares, democráticos, levam várias surras por dia, todos os dias.
Vemos que algumas das forças que se articularam para levar Lula á presidência também poderiam coordenar-se para que milhões de brasileiros pudessem entrar também na Era de Guttemberg, ao mesmo tempo em que este seria, obviamente, um jornal também digital. Um jornal que permitisse chegar aos grotões, urbanos ou não, um instrumento para a discussão, a mobilização, a ação e a organização política nas mãos de uma militância carente de ações organizadas que já teve no passado.. Será que a união de certos fundos de pensão (tão lucrativos), centrais sindicais, empresários vinculados ao mercado interno não poderia enfrentar esta tarefa que sempre volta à baila?. Há dois anos foi aprovado num congresso do PT a prioridade para a criação de um jornal de massas, mas não se realizou. Hoje, na Argentina há um Página 12, no México, há o La Jornada, na Bolívia, o jornal Cambio, criado por Evo Morales e que já é o de maior tiragem no país, com apenas 7 meses de nascido, rivalizando com o jornal conservador La Razón, que tem 70 anos. Na Venezuela, nasceu o Correio do Orenoco, está em todas as bancas, ainda que o governo tenha fortalecido a mídia pública de rádio e TV, sem contar que Hugo Chávez tem mais de 300 mil seguidores no twiter, que usa com entusiasmo. Aqui, desde o desaparecimento do Última Hora, estamos sem um jornal de ampla circulação e com capacidade de sustentar uma visão jornalística dos interesses nacionais e populares. É uma grande lacuna.
E nós?
Assim, a bronca de Lula nesta elite de jornalistas que se posiciona claramente contra o sucesso das iniciativas que visam levar o Brasil a ter um papel construtivo no mundo, sendo correta, será que não deveria também servir para provocar uma reflexão, certamente autocrítica, nas forças populares? O jornalismo ou o anti-jornalismo das elites cumpre o triste papel que lhes reserva a subordinação a interesses anti-nacionais. Mas, onde está o jornal das forças progressistas?