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Carnaval 2018

O desfile histórico da Escola Paraíso do Tuiuti, por Ion de Andrade

Paraíso de gigantes - Por muito que estejamos produzindo na criação de uma consciência crítica nacional e democrática através dos nossos artigos, entrevistas, conferências, abaixo assinados, ou o que seja, o desfile da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti popularizou de forma extraordinariamente maior aquilo que a história selará como conceito final do que está em curso. A diferença entre o efeito do desfile e a soma de tudo o que fizemos até aqui é, a meu ver, comparável ao que seria um copo d’água num tonel.
No cortejo todos os ingredientes estavam presentes, desde a nossa escravidão insepulta e sempre presente, até o capital financeiro, a manipulação da mídia e da Fiesp, e o Poder vampiresco que se nutre do sangue do povo.
Tudo numa linguagem onírica e simbólica, parábolas barrocas de forte impacto na formação da consciência crítica da nação em algo de profunda brasilidade.
Algumas coisas importantes emergem da história que o cortejo conta:
  1. A consciência crítica, embora ancorada em fatos concretos, é coisa difusa que tece uma coerência pela qual o vampirão, a escravidão e o pato da FIESP compõem um todo único perante o observador que é o povo. Donde podemos ver a natureza holística e multidimensional da consciência política, onde razão, afetos e esperanças tecem uma impressionante paisagem;
  2. O rio, o cortejo, verte de forma tão inarredável com o seu gigantesco caudal, que exprime uma espécie de força natural de grande magnitude, que não somente não precisa pedir licença a ninguém para passar, como, ao contrário, curva aliados e inimigos à sua incontestável majestade;
  3. A história libertária é também cantada com imensa beleza, há estética estudada ao detalhe nos arranjos, na música, nos carros alegóricos, nas fantasias, na escolha das cores, na seleção das ideias. Nada é sombrio ou cinzento no Paraíso do Tuiuti, ao contrário, a história de sofrimentos é a epopeia de um heroi: o povo;
  4. O samba e a batucada produzem espírito de corpo, unidade, convergência. Súbito todos estão cantando a plenos pulmões e o país junto.
Muito material para reflexão, pois certamente há ainda muito mais a identificar nesse sucesso muito útil para a formação de uma leitura comum da realidade e, sobretudo para que isso se converta em vontade coletiva.
Mas afinal, por que é que esse desfile de uma hora produziu tamanho terremoto no Brasil?
Porque diferentemente do copo que agregamos ao barril da Resistência Democrática, a Escola de Samba Paraíso do Tuiuti exprimiu o protagonismo de outro ator, o nosso povo, sobre quem repousa a única esperança de que venhamos a ter dias melhores, não somente de justiça social, como gostamos de falar, mas de beleza, entusiasmo, harmonia, cores, sonhos, movimento, coesão, intensidade, convergência e consciência histórica.
Na denúncia do que não pode continuar, a Paraíso do Tuiuti revelou num flash esse mundo vindouro, onde o sofrimento se sobrepõe ao heroísmo de um povo, num grande caldeirão de estética, afetos e consciência.
Esse barroco vivo e em movimento da Tuiuti é um sopro e já foi capaz de produzir um grande abalo sísmico.
O gigante adormecido sonha. Ele está vivo!

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